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domingo, 20 de abril de 2008

Sensacionalismo

Há dias que não consigo assistir aos telejornais. Além de o Casa Isabella ser revoltante pelo fato em si, para mim tornou-se ainda mais pela cobertura sensacionalista e pouco cidadã feita pela mídia. Desejei comentar e apresentar minhas críticas à exagerada cobertura dada ao caso, mas como não suportei assisti-la e todas as vezes que começava um telejornal e a primeira manchete era sobre este lamentável episódio, imediatamente eu me afastava do recinto. Confesso que esse tipo de fato não atrai a minha atenção, então não me senti suficientemente preparado para fazer a crítica fundamentada. Deste modo encontrei mais uma vez o socorro no blog do Eduardo Guimarães que presenteia aos leitores com uma excelente análise, não do fato, mas sobre a cobertura espetacularmente sensacionalista feita pela mídia brasileira. Creio que até que se descubra/produza outro escândalo no Planalto, o assunto ainda pautará os jornais e telejornais da república do PIG.
O 'circo romano' midiático


O prazer mórbido das massas de degustar o sofrimento alheio remonta aos primórdios da história. No Coliseu romano, por exemplo, as turbas sádicas nem precisavam de desculpas para consumir sofrimento com um deleite quase lascivo. Essa necessidade obscura do homem de assistir semelhantes sofrendo era perfeitamente compreendida e aceita na antiguidade. Em Roma, por exemplo, essas turbas sádicas se deleitavam no Coliseu com homens, mulheres, velhos e crianças cristãos sendo estraçalhados por leões famintos.

Com o passar do tempo, porém, o processo civilizatório passou a exigir "motivos" para oferecer sofrimento humano à sanha das turbas. Foi aí que surgiu a idéia de usar criminosos - ou supostos criminosos - para saciarem esse prazer corrupto de ver pessoas sofrendo.

Mas que ninguém se engane: seja nos esportes, seja no noticiário policial, seja na política ou até no conforto de seu lar, o homem contemporâneo ainda desfruta do mesmo prazer, moderado ou imoderado, pelo sofrimento de seus semelhantes. E não só pelo sofrimento físico, mas também pelo sofrimento moral.

As famosas fofoqueiras de bairro deliciam-se com a desconstrução da moral alheia tanto quanto a imprensa deleita extensos grupos sociais com toda sorte de escândalos, desde sexuais até os de "corrupção", existindo ou não. Os moralistas extremados nada mais são do que sádicos extremados numa espécie biológica que tem no sadismo uma das características básicas que a diferem das outras espécies.

A mídia contemporânea, tanto quanto os imperadores romanos, sabe desse lado obscuro da alma humana e o manipula da mesma forma que era manipulado há séculos e séculos. Os imperadores usavam o Circo para distrair as massas da vida dura que levavam; a mídia usa a agonia moral alheia para lucrar, ganhar atenção e, com isso, poder. Exatamente como faziam os Césares romanos.

A audiência dos telejornais cresceu até 46% com o caso Isabella Nardoni. O jornal sensacionalista "Balanço Geral", da Record, cresceu 25%; o "Jornal da Band" cresceu 24% e atingiu sua melhor média no ano, 7,5 pontos percentuais; o Jornal "Nacional" saltou de 31,4 para 34,2 pontos.

A Globo mobilizou 18 repórteres, 8 produtores e 20 cinegrafistas que fazem plantões permanentes, até de madrugada, em casas de parentes de Isabella Nardoni e em delegacias. O "SP TV - 1ª Edição" chegou a dedicar mais de meia hora à história. No "Jornal Nacional", a cobertura chegou a ocupar 15 minutos e 20 segundos na edição da última terça, o equivalente a 37% do telejornal.
A Record informa ter deslocado 30 repórteres e produtores e 20 cinegrafistas. O "Balanço Geral", por exemplo, pôs em seu cenário uma cama, como se fosse a de Isabella. O apresentador manchava roupas com tinta vermelha e depois as lavava, para mostrar como age um produto usado por peritos para descobrir sangue. Já o "Fala que Eu Te Escuto", da Igreja Universal, "reconstituiu" o crime com atores.

Na Band, entre três e dez equipes (repórter mais cinegrafista) cobrem o caso, dependendo do noticiário, além de cinco produtores. Até o SBT priorizou Isabella. Mobilizou quatro repórteres e sete cinegrafistas. Parece pouco, mas é quase metade do time da emissora. O SBT tem apenas nove repórteres em São Paulo.

A imprensa escrita, por sua vez, não deixa passar um único dia sem dar manchetes sensacionalistas de primeira página que fazem crer, a cada dia, que surgiu um fato novo nas investigações, apesar de que, até agora, pouco foi acrescentado ao que já se sabia sobre o caso.

Além de ser impossível afirmar com cem por cento de certeza que o pai e a madrasta de Isabella são culpados da morte da menina, se fôssemos civilizados de verdade deveríamos nos indignar com as agressões que as turbas sádicas têm promovido contra a família de Alexandre Nardoni. As casas dos parentes dele, que não são acusados de crime nenhum, têm sido apedrejadas e pichadas e esses parentes têm sido agredidos de todas as formas, sofrido acusações difusas e sem qualquer lógica. Isso sem falar que perderam o direito de sequer saírem à rua.

O caso Isabella mostra que a humanidade, em termos de ética comportamental, evoluiu muito pouco no decorrer da história. A ética contemporânea é tão flexível, dissimulada e hipócrita quanto era no tempo em que Jesus Cristo caminhou sobre a Terra.
postado na fonte em 19/04/2008

1 Comment:

Ricardo Thadeu (Gago) said...

Concordo com esse cara. A mídia sempre procura algo pra manter o foco e enganar os bestas. O apagão aereo e os supostos casos de corrupção não estavam dando + taaanta audiencia, resolveram inventar outra coisa.

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