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quinta-feira, 27 de março de 2008

Para refletir

Mais um texto do banco de dados.


Devoção ou Comércio?


Quem nunca ouviu falar no “milagreiro” Santo Expedito ou nas igualmente extraordinárias Santa Edwirgem, Santa Rita de Cássia...?
Certamente será difícil encontrar alguém que nunca tenha recebido ou se surpreendido ao entrar numa igreja “católica” qualquer e encontrado um o santinho de Santo Expedito ou Santa Edwirgem. Tão difícil quanto nunca ter encontrado tais objetos devocionais é encontrar quem perceba a ideologia perversa com a qual se faz o gigantesco e escandaloso estelionato religioso.
De tanto ver esses santinhos que banalizam os referidos santos e ridicularizam a Igreja Católica, com o maior e mais colaborador silêncio da hierarquia da mesma igreja, chego à conclusão do quanto a formação dos presbíteros tornou-se deficiente e/ou ideológica. Do quanto o clero está descuidado de seu múnus sacerdotal.
A formação do rebanho e até mesmo dos candidatos ao clero dificilmente saem do papel e raramente deixa de ser letra morta.
É verdade que nesta arquidiocese de Feira de Santana, como em outras, criou-se uma escola de formação para leigos, conheço-a, defendo-a e orgulho-me em ter passado por lá e enriquecido minha experiência de vida laical comprometida. No entanto, é flagrante o desinteresse de diversos membros do clero para que os seus paroquianos conheçam mais e melhor à Doutrina Social da Igreja. A julgar pelo que tem ocorrido comigo, parece ser inconveniente que os leigos sejam conhecedores de determinados assuntos da Doutrina da Igreja, pois isto pode ameaçar o controle inquestionável das paróquias pelo clero.
O silêncio guardado ante o comércio da fé, por parte da esmagadora maioria dos padres, reflete que estes não estão preocupados com o crescimento humano-espiritual dos seus rebanhos. Muitos desses padres ou não percebem o malefício que certas devoções causam aviltando e reduzindo a racionalidade das pessoas ou muitas vezes tiram proveito disso.
A exploração comercial da fé através de objetos devocionais e ainda a proliferação absurda de todo tipo de devoção criadas por beatos e por oportunistas é crescente. O exercício do raciocínio lógico está “tão em baixa” que impede que se chegue ao tão urgente desmascaramento do verdadeiro interesse que está por trás de tais devoções.
Os santos da Igreja Católica deveriam ser um sacramento da Doutrina Cristã. Ou seja, Canoniza-se uma pessoa a fim de que sua vida seja reconhecida como exemplar. Que sua história seja um vivo sinal da prática da justiça, da caridade, da verdade, enfim das virtudes indispensáveis ao cristianismo. Resumindo, o único sentido da canonização de uma pessoa é oferecer a oportunidade para que os cristãos percebam que aquela pessoa canonizada conseguiu testemunhar a Doutrina de Jesus Cristo e que também os cristãos de hoje têm as mesmas condições humanas de cumprir os mandamentos do amor (Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo - Lc 10,27).
Não é necessário ser grande observador para perceber nos santinhos que o verdadeiro interesse nesta devoção não é aquele orientado pela Doutrina Cristã, e sim o interesse comercial. Isto fica muito claro em pelo menos quatro aspectos. 1. Os tais santinhos não oferecem qualquer informação sobre as virtudes praticadas pelos santos enquanto viveram aqui na terra a fim de provocar nos cristãos o desejo de imitar seu heroísmo; 2. O escandaloso flagrante do objetivo comercial. Antes mesmo da “pseudo-oração ao santo” vem uma rubrica onde se informa o dia em que se celebra a festa do santo (no caso do santinho de Santo expedito, 19 de abril). Para ampliar as oportunidades comerciais, diz-se que se pode celebrar no dia 19 de qualquer mês. O texto considerado “oração” apenas reforça, ideologicamente, a força intercessora do santo junto a Deus; não as virtudes que o santo praticou; 3. Outra ideologia é a indicação da utilidade da devoção “se você está passando por algum problema...” como se existisse alguma pessoa isenta disto; 4. O apelo para que a pessoa que recebeu o tal santinho faça a encomenda do objeto devocional, sugerindo explicitamente a quantidade, o valor do milheiro, o telefone da editora responsável pela edição dos santinho, e a propaganda de programas “religiosos” na mídia que estão afinados e provavelmente são patrocinados pelo que talvez possamos chamar de “estelionatária/exploradora da fé”, a Editora Santo Expedito. Todas essas informações estão contidas no roda-pé do santinho. Tal estratégia livrou a referida editora da falência e a colocou em invejável situação econômica.
Para grande parte do clero, essa e outras devoções reforçam nas pessoas a necessidade de freqüentar as igrejas dando a falsa impressão de crescimento do interesse pela religião. Isso muitas vezes cria grandes oportunidades de arrecadação. Muitas paróquias na verdade, são umas espécies de microempresas e por isso temem diminuir sua clientela ao tratar de assuntos polêmicos que redirecionem para as origens do cristianismo a orientação da prática religiosa que ao longo dos séculos foi se descaracterizando em virtude do teocentrismo medieval que, na contramão do crescimento científico-social-tecnológico, vem ganhando cada vez mais força.
Aos temerários pelo esvaziamento das igrejas é oportuno lembrar as palavras de Jesus Cristo: Não temas, ó pequeno rebanho! Porque ao vosso Pai agradou dar-vos o reino (Lc 12,32).

Vital Martinho Carneiro de Oliveira
(leigo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição – Riachão do Jacuípe – Bahia).
19.02.2004

2 Comments:

Anônimo said...

Todos os dias leio o blog de Vital. Hoje li esse artigo sobre a comecializaçao das devoçoes. Na verdade eu nem vejo que procede fazer hoje nenhum escrita sobre essa imundice chamada religiao.Quando vejo aparecida do norte, bom jesus da lapa, canindé, bonfim, roma Lourdes fatima isso tudo me enoja e vejo que sem iginorancia e sem corrupçao nao pode haver religiao. O clero novo é tao imbecil como era corrupto o clero da idade media. So nos resta agora o lixo da tv ser um pouco mais eficiente para poder atrair mais que a religiao e, em breve conter esse mal tao sutil

Anônimo said...

Excelente o seu artigo sobre esta tal devoção.Parabéns!!!

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