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terça-feira, 29 de abril de 2008

A rebelião e o vento

O texto abaixo é o resultado de uma tentativa de produção de um ensaio, solicitado pelo professor de Oficina Literária da Uneb, José Plínio de Oliveira. O referido professor revelou-me o talento, o trabalho e a heróica história do grande jacuipense Olney Alberto São Paulo, tão desconhecido em sua terra natal.
Tanto para mim quanto para minha esposa, que divide comigo o trabalho de ensaiar um conto da obra "A Antevéspera e o Canto do sol: contos e novelas," foi uma enorme alegria ver o resultado final. Certamente merece muito remendo, mas para dois iniciantes no estudo da literatura foi bastante recompensador.
Com os merecidos agradecimentos ao professor José Plínio, apresento abaixo o primeiro ensaio literário produzido por mim e por minha esposa Rita Janice.

Os Sertões de Riachão na ótica de Olney São Paulo

*Vital Martinho Carneiro de Oliveira

*Rita Janice Ferreira Guimarães Oliveira

Riachão do Jacuípe é um dos municípios que compõem a região sisaleira, região do semi-árido baiano. É também a terra natal do contista, jornalista e cineasta que fez da história do seu povo e de sua terra um roteiro de trabalho artístico-profético.

Os contos, roteiros e filmes de Alberto Olney São Paulo são marcados pelo jeito simples e sofrido do sertanejo inconformado com a injustiça que alimenta tal situação. Sob muitos aspectos, pode-se enfocar de forma bastante heróica e expressiva a obra de Olney. Neste breve ensaio, pretendemos nos ater à questão da miséria no campo e suas causas. O conto “A Rebelião e o vento” provoca uma forte interação autor/leitor quando aquele impõe a este, através da narrativa, uma reflexão sócio-política acerca da situação de miséria a que o povo sertanejo está submetido.

O conto começa com uma sutil denúncia das políticas agrárias implementadas para gerar – melhor seria dizer, concentrar – riqueza no sertão. Políticas oligárquicas, coronelistas.

“Outrora, onde a caatinga de porco, a malva-branca e a macambira se balançavam com o vento quente, vindo de um fim de mundo, surge agora o sisal, (feio, ponteagudo, de um verde esmaecido de esperança) em um montão de covas rasas, mais parecendo o cemitério do Sertão.”

As características apresentadas do lugar, dão uma certa idéia de desolação e de abandono. Tem-se a impressão de que a vida ali chegou de forma incompleta, sem a cor da esperança. Cor esta, aliás, cobrada nos parênteses abertos no texto.

O sisal, como salvação do nordeste, é apregoado euforicamente pelo Coronel Tibúrcio, único beneficiado pela tal salvação.

“É a salvação do nordeste! Agüenta tempo ruim e não precisa de chuva pra nascer. Daqui há mais uns anos estaremos ricos. Todos ricos!”

Para o Coronel, o único mal que existe na região é a escassez de chuva. Esta sim seria a única responsável pela miséria. Tal pensamento, no entanto, não é compartilhado pelos demais.

“Ricos, os ricos. Pobres e eternamente pobres, os pobres, pois deste é a desgraça de esperar três ou quatro anos até que chegue a safra do sisal. E a barriga? Fome não tem prazo de chegar, nem prazo de sair. Prazo de fome é barriga cheia.”

A tal salvação é restrita aos ricos, pois estes podem esperar o prazo da safra, enquanto que aos pobres é demasiado o prazo da fome. A desigualdade social, nem de longe, parece ao Coronel Tibúrcio, um problema de justiça social e muito menos algo que se lhe diz respeito. O valor da diária que o coronel paga aos lavradores é insuficiente para comprar um quilo de carne (que, aliás, é praticamente o indexador econômico determinante do valor da diária do lavrador macaqueiro[1], na região).

“O Coronel Tibúrcio paga cento e vinte mil réis por dia de serviço, lá na "Aroeira” e a carne de sol já anda em mais de cento e cinqüenta o quilo. O miserável do trabalhador tem que agüentar a vida toda, de sol a sol, destocando roçado, se quiser comprar a comida para os meninos. Ou então, o jeito mesmo é roubar.”

O Coronel Tibúrcio sabe que o sertanejo não pratica roubo. Nem isso o empobreceria, caso fosse vítima de um furto de uma ovelha. No entanto este não admite que tal fato lhe ocorra, talvez considerando ser antes, mais um desrespeito inadmissível que uma expropriação.

“E roubo é coisa que sertanejo não faz. Nem mesmo estando com a faca na garganta. Coronel Tibúrcio sabia disso, mas Coronel Tibúrcio é desgraçado, é ruim. O homem tem um lajedo no lugar do coração.

- Você me roubou, Pedro Macário. Você é ladrão!

- Não sou, coronel. Vosmicê sabe bem. Juro pelo Bom Jesus da Lapa. Ia lhe dizer. Ia lhe contar. Contar à comadre também.

- Depois do roubo? Não adiantava, compadre. Você pegou no alheio. Você é ladrão.”

De nada adianta ao Coronel, a argumentação de Pedro Macário de que a comadre do coronel, bem como o afilhado, Tonhinho, estavam com fome. O coronel continua acusando de roubo o pobre Pedro Macário que matara uma das muitas ovelhas velhas do coronel. Mesmo tendo, Pedro Macário, matado a ovelha na beirada do curral, como que numa atitude de quem assim o fazia por confiar na compreensão do coronel e que por isso não precisaria fazer às escondidas. E ainda o coronel sabia que aquela ovelha já tinha a carne velha e dura. O coronel não aceita as explicações do compadre e continua a discussão e a terrível acusação.

“- Ladrão! Ladrão! Ladrão!

(...)

- Era minha! Tinha o meu sinal: “um buraco de bala” e uma “forquilha” na orelha esquerda.

- Sua comadre, Coronel, os meninos... Tonhinho... os meninos Coronel, estavam com fome...

(...)

- Vosmecê não conhece fome, Coronel!

- Me pedisse. Lhe dava. Está parecendo o Chico Ventura? Você apanhou sem minha ordem, compadre. Roubou. É ladrão!”

A discussão faz Pedro Macário questionar, diante do infortúnio da tão dolorosa acusação, se quem paga cento e vinte mil réis por uma diária não seria ladrão, uma quantia insuficiente para comprar um quilo de carne.

Lembra do “tempo” em que sertanejo não levava desaforo pra casa. O Tempo de Lampião, cabra bom.

Lamenta a conformidade, a passividade do sertanejo diante da sua triste sorte, a falta de resistência à situação.

“Foi-se aquele tempo bom. Sertanejo, hoje, não tem mais sangue de sertão. Agora, o sertanejo, em vez de chuva e de forças, pede a Deus a morte e só pensa nos filhos se acabando de fome e de miséria.” (...) A fome continua, continua, quando se faz uma forcinha para acabar com ela, é cuspido no rosto e chamado de ladrão.”

Mesmo diante de tal situação, o único revolucionário de agora é um homem frágil, magro, feio e tuberculoso. Alguém que já não tem o que perder na vida. Um quase defunto ambulante. É este homem, Chico Ventura, quem faz vislumbrar aos olhos dos demais miseráveis o sonho de libertação. Provoca a reação e a cobrança por políticas que visem à erradicação da miséria, ao invés da salvação das lavouras dos coronéis latifundiários.

“- Por isso digo a vocês! Governo nenhum quer nada com sertanejo. A gente tem é que lutar. A gente é que tem que fazer a reforma agrária. REFORMA AGRÁRIA – dizia bem alto!”

Pedro Macário, a caminho de casa, continua refletindo a situação e as palavras do revolucionário vão aos poucos lapidando sua consciência. Já não dava total credibilidade ao juízo da igreja a respeito de Chico Ventura.

Às vezes, Pedro Macário matutava sem saber se Chico Ventura era mesmo o Santo Conselheiro ou se era o diabo em figura de gente, como dizia o vigário de Riachão.”

Chico Ventura, considerado o desgraçado do nordeste, era o único entre os famintos miseráveis, o que tinha razão. Pois Deus não deixou terra pra ninguém, não marcou rumo para o Coronel Tibúrcio nem para o Coronel Eulâmpio, pai do Coronel Tibúrcio. O mundo é bem grande e deve ser dos filhos de Deus.

Ao que parece, tais pensamentos e questionamentos foram amadurecendo e ganhando adesão. Quem sabe, uma profecia, feita em 1962 (quando o conto foi escrito), quando existia no país um grande anseio por uma reforma agrária, retardada até os dias atuais, tenha dado origem ao MST.

“A gente vai organizar um bando, Pedro! Não um bando de cangaceiros, como o de Lampião, nem um bando de jagunços. Mas, um bando de sertanejos fortes, um bando de homens, para exigir do governo, o meu, o seu, o direito de todos. Se não derem por bem, a gente recebe à força.”

Pedro Macário chega a imaginar como seria bom cada qual com seu pedaço de terra, plantando sem precisar pegar no alheio. Ele também ia ter seu pedaço de terra, plantar o seu sisal e desfibrá-lo com um farracho[2] bem grande, na malhada. A mulher e os meninos iam ajudar-lhe a ganhar a vida.

Ouve mais uma vez os planos do Ventura, uma reação contra a especulação do alimento mais acessível à mesa dos miseráveis.

“Amanhã será o grande dia, Pedro Macário. A turma toda está pronta pra invadir o armazém de do Coronel Tibúrcio. A gente vai ter comida de graça. A farinha que ele está guardando p’ra esperar a alta, vai encher a barriga desse mundão de gente aqui.”

A farinha faz Pedro Macário repensar as palavras do Ventura. O coronel não é tão ruim assim, na hora da raiva, solta o que tem na boca.

Lembra que apesar de toda a discussão e tão amarga acusação que sofrera do coronel, este ainda lhe deu a farinha para comer com a carne da ovelha roubada. A essa altura, sua mulher e seus filhos devem estar enchendo a barriga.

“- Farinha de primeira, seu Ventura. Farinha de mandioca, da boa!

- Mas seu povo está com fome, Pedro! A gente tem que invadir a “Aroeira”.

Vão só. O tempo do cangaço já passou.”

Ao chegar em casa, animado, antes mesmo de amarrar o cavalo ao mourão, Pedro quer compartilhar com a mulher e os filhos a ceia sonhada (a farinha de mandioca, da boa, que o coronel lhe tinha dado para comer com a carne da ovelha que havia matado sem a ordem do patrão). Tamanha é a ingenuidade, que não lhe ocorreu o dito popular: “quando a esmola é grande, o santo desconfia”.

Só após constatar que toda a sua família tinha morrido por causa do veneno que o coronel e a comadre colocaram na farinha, é que percebeu que a esmola era realmente grandiosa demais para ser oferecida por tão mesquinhas criaturas.

“Pedro compreendeu tudo: a bondade do Coronel Tibúrcio, o riso da comadre Eduvirgens, como quem dava esmola a retirantes.

- Está aqui compadre! Não faça mais aquilo não.

- Deus me livre comadre! Deus me livre!

- Deus o livre, compadre! Deus o livre!”

Meditando a falsidade do coronel e da comadre Eduvirgens, como o havia enganado a ponto de levar toda a sua família ao extermínio, Pedro Macário vê justificada toda a revolta do Conselheiro, como seus homens matavam os soldados como se mata um porco ou um carneiro, compreende a revolta de Lampião ao ver seus familiares, seus jagunços e companheiro de cangaço mortos. A revolta do Conselheiro e de Lampião, era também a sua. Por isso, tenta agir da mesma forma e vai vingar-se do compadre.

Porém antes que consiga concretizar sua ação, é definitivamente vencido pela esperteza sarcástica do coronel que sabe que pode contar com a cumplicidade do estado.

“Nem bem chegara à cancela da “Aroeira”, um tiro de espingarda, - algum caçador descuidado, como diria o Coronel Tibúrcio – jogara-o em cima das ponteagudas moitas de sisal.

- Pobre compadre! Assassinado em cima do ouro branco!

- Isto vai acabar vai acabar com a miséria do sertão, delegado! Nordestino, agora, vai deixar de dar ouvidos a esses desgraçados que só pensam em invadir nossas propriedades (...)

- Conseguidas, sabe Deus, como, hem coronel?!”

Embora tudo aparente que o caso está resolvido, o assassinato esclarecido, a ameaça inexistindo, o conto termina expressando a idéia de que mesmo fazendo-se de cegos e surdos diante dos reclamos dos miseráveis, existirá sempre algum tuberculoso, ou seja, alguém levantando a voz profética contra os opulentos.

“- Mentira, gritava bem alto, Chico Ventura.

E o vento tentava, inútil e insistentemente, sufocar sua voz.”

A Justiça não se dá por vencida e a esperança é a última que morre. Talvez, desejem os poderosos, que a esperança seja a única que morre. Dessa maneira não existiriam os rebelados e o seu legado, o tão terrível sonho de liberdade.


BIBLIOGRAFIA

SÃO PAULO, Alberto Olney. A Antevéspera e o Canto do sol: contos e novelas. Editora Fon-Fon e Seleta; Rio de Janeiro; 1969.




[1] Lavrador que vive de vender diária de serviço a um fazendeiro.

[2] Instrumento utilizado para desfibrar manualmente o sisal.



Qual a posição do Brasil no mundo atual?

Com grande sabedoria, Flávio Aguiar, editor chefe da agência de notícias Carta Maior, descreve as transformações pelas quais o Brasil passou e vem passando nos últimos tempos. Sem paixões políticas, sem deixar de criticar e sem desmerecer quem tem algum algum merecimento ele discorre sobre a posição que o Brasil ocupa atualmente no mundo.
Deixar de ler o texto é prejudicial a quem gosta de estar bem informado e aprecia uma boa e lúcida crítica.
Para ler o artigo, clique aqui.

sábado, 26 de abril de 2008

MSM, vale a pena conhecer

História e novidades do MSM
Antes de comunicar a vocês uma novidade, quero explicar àqueles que começaram a ler este blog há pouco tempo alguma coisa sobre a ONG Movimento dos Sem Mídia.
O Movimento nasceu informalmente neste blog no início de setembro do ano passado. O país vivia um momento de grande tensão. Na semana em que propus aqui um ato público que originaria o MSM, repórteres fotográficos da Globo tinham conseguido perscrutar os lep tops dos ministros do Supremo Tribunal Federal reunidos em sessão no plenário daquela instituição para julgarem os que foram denunciados à Justiça por conta do escândalo do mensalão, entre os quais figurava o ex-ministro José Dirceu.
A gota d'água para que eu e os leitores deste blog consensuássemos que alguma coisa precisava ser feita para manifestar publicamente quantos setores da sociedade não suportavam mais a verdadeira chacota que a grande mídia estava fazendo do país, foi a declaração do ministro da Suprema Corte Ricardo Lewandovsky de que a instituição que integrava tinha votado com "faca no pescoço" pela aceitação de boa parte das denúncias do procurador-geral da República.

Clique aqui para ler o post na íntegra

Júri anulado

O Tribunal de Justiça da Bahia anulou a Sessão do Tribunal do Júri de Riachão do Jacuípe, que absolveu o acusado Renivaldo Bispo, vulgo Moreno, acusado de ter praticado o homicídio do policial militar conhecido por "Lima". O crime ocorreu na madrugado do dia 05 de outubro de 2004, no Posto Carreteiro, e segundo apontou o inquérito policial o crime foi de autoria de Moreno.
Logo após o crime, a cidade praticamente entrou em estado de sítio e por cerca de uma semana a polícia deu toque de recolher. As ruas restaram vazias após às 19:30 horas e poucos se arriscavam a sair de casa.
Aos 07 de agosto do ano passado, sob um fortíssimo esquema de segurança nunca antes visto na cidade, o indiciado foi levado a Julgamento pelo Tribunal do Júri Popular de Riachão do Jacuípe e causando surpresa a alguns, principalmente ao Ministério Público, que recorreu do julgamento que absolveu o réu, ao Tribunal de Justiça da Bahia. Na última quarta-feira, o TJBA acolheu o recurso do Promotor de Justiça José Vicente dos Santos Lima, anulando a sessão do júri, por entender que o Tribunal do Júri Popular de Riachão do Jacuípe decidiu contrário às provas dos autos.
Assim sendo, o acusado volta à condição de réu e passará por um outro julgamento. Poucos dias antes, o mesmo Tribunal de Justiça concedeu Habeas Corpus ao mesmo réu que estava preso, respondendo a outro processo.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Mais uma vez o Paraguai

Não é "neura", mas os últimos acontecimentos no Paraguai me encheram de alegria e esperança. Quem acompanha este blog, quem leu os textos publicados na seção "Selecionadas" certamente poderá imaginar que guardo no mínimo uma certa nostalgia de um tempo em que a igreja da América Latina tinha outra ação pastoral. Era mais voltada para a divindade que existe na humanidade. Hoje percebe-se uma certa inversão, temos uma humanidade que se anula para abraçar o divino inatingível. No meu entender, bastante diferente do que fez o homem Deus, Jesus Cristo, que sendo Deus, assumiu a forma humana para manifestar a vontade do Pai que era trazer vida em abundância, conforme se verifica no evangelho narrado por João no capítulo 10, versículo 10. Este e outros preceitos bíblicos iluminaram a caminhada da Igreja Latino Americana por algumas décadas, até que o paradoxal pontificado de João Paulo II, marcado por grandes avanços e massacres ideológicos, sobretudo contra esta mesma igreja latino americana ao condenar na prática a teologia da libertação mesmo tendo declarado oficialmente que essa teologia é necessária e urgente. Enquanto reconhece oficialmente também e da mesma forma perseguiu os teólogos que a praticaram, difundiram e teologizaram segundo seu princípio. O pontificado de João Paulo II renovou em mais de 50% o colégio dos bispos e nesta renovação nomeava apenas bispos contrários àquela teologia.
Mas o que o Paraguai tem a ver com tudo isso que digo acima. É que daquele país, cuja depreciação e preconceito lhe são reservados para desqualificá-lo, veio uma esperança de redenção daquele país que até o início do século XIX era o único país latino americano que não devia um centavo a nenhuma outra nação.
Tal situação invejável fez com que a Inglaterra temendo que o Paraguai se tornasse um paradigma americano elaborou uma trama para que Brasil, Argentina e o Uruguai declarassem guerra contra o país vizinho.
O resultado desta guerra ainda persegue a todos os envolvidos, menos a Iglaterra que lucrou imensuravelmente emprestando dinheiro para os três países invasores cobrirem as despesas da guera fraticida que deixou os países aliados endividados, e ainda destruiu o Paraguai em sua economia, desenvolvimento, além de reduzir em três quartos a sua população. Os últimos combatentes paraguaios naquela terrível e vergonhosa guerra eram garotos de 14 anos de idade.
Outro motivo de alegria para mim, é o fato de que mesmo em número diminuto, ainda existem bispos no Brasil atuando na contramão da moda "espiritualista pentecostal", pouco espiritualizada, imposta à igreja atualmente. Tal imposição vem do Vaticano e conta com todo o apoio e auxílio dos meios de comunicação, os mesmos que integram o PIG (partido da imprensa golpista).
Com grande alegria li no site da agência Adital um artigo (clique aqui para ler) do incansável D. Demétrio Valentim, no qual ele aborda com profundo conhecimento a situação do Paraguai e o significado da eleição de um ex-bispo católico, adepto da teologia da libertação que enfrentou a desaprovação do Vaticano para dar ao povo paraguaio e esperança de dias esperançosos depois de 61 anos de (des)governo do partido Colorado, representante e agente da direita conservadora e colonizadora paraguaia.
Pelo extraordinário fato histórico ocorrido no último domingo no Paraguai, só me resta proclamar:
Salve o povo paraguaio, nossos "hermanos"!
Salve Fernando Lugo, presidente eleito do Paraguai!
Salve Dom Demétrio Valentim, que continua a transmitir, a mim e a tantos outros, o mesmo vigor que vi demonstrado pessoalmente durante o V Fórum Social Mundial em Porto Alegre no ano de 2005!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Não deixe de ver

Por duas vezes, postei aqui alguns comentários (clique aqui e aqui para ler os post's anteriores) sobre a eleição paraguaia ocorrida no último domingo. Depois de confirmada a previsão das pesquisas eleitorais e contrariados os interesses do Partido da Imprensa Internacional Golpista, agora facção brasileira, o PIG põe palavras na boca do governo brasileiro a fim de provocar uma intriga com o país vizinho e/ou impor ao presidente Lula o rótulo de incompetente e descuidado do interesse brasileiro. Clique aqui e veja o que diz Paulo Henrique Amorim sobre o fato.

Os Direitos da Mãe Natureza

A natureza não é muda

O Equador está discutindo uma nova Constituição. Entre as propostas, abre-se a possibilidade de reconhecer, pela primeira vez na história, os direitos da natureza. Parece loucura querer que a natureza tenha direitos. Em compensação, parece normal que as grandes empresas dos EUA desfrutem de direitos humanos, conforme foi aprovado pela Suprema Corte, em 1886.

O mundo pinta naturezas mortas, sucumbem os bosques naturais, derretem os pólos, o ar torna-se irrespirável e a água imprestável, plastificam-se as flores e a comida, e o céu e a terra ficam completamente loucos.

E, enquanto tudo isto acontece, um país latino-americano, o Equador, está discutindo uma nova Constituição. E nessa Constituição abre-se a possibilidade de reconhecer, pela primeira vez na história universal, os direitos da natureza.

A natureza tem muito a dizer, e já vai sendo hora de que nós, seus filhos, paremos de nos fingir de surdos. E talvez até Deus escute o chamado que soa saindo deste país andino, e acrescente o décimo primeiro mandamento, que ele esqueceu nas instruções que nos deu lá do monte Sinai: "Amarás a natureza, da qual fazes parte".

Um objeto que quer ser sujeito
Durante milhares de anos, quase todo o mundo teve direito de não ter direitos.

Nos fatos, não são poucos os que continuam sem direitos, mas pelo menos se reconhece, agora, o direito a tê-los; e isso é bastante mais do que um gesto de caridade dos senhores do mundo para consolo dos seus servos.

E a natureza? De certo modo, pode-se dizer que os direitos humanos abrangem a natureza, porque ela não é um cartão postal para ser olhado desde fora; mas bem sabe a natureza que até as melhores leis humanas tratam-na como objeto de propriedade, e nunca como sujeito de direito.

Reduzida a uma mera fonte de recursos naturais e bons negócios, ela pode ser legalmente maltratada, e até exterminada, sem que suas queixas sejam escutadas e sem que as normas jurídicas impeçam a impunidade dos criminosos. No máximo, no melhor dos casos, são as vítimas humanas que podem exigir uma indenização mais ou menos simbólica, e isso sempre depois que o mal já foi feito, mas as leis não evitam nem detêm os atentados contra a terra, a água ou o ar.

Parece estranho, não é? Isto de que a natureza tenha direitos... Uma loucura. Como se a natureza fosse pessoa! Em compensação, parece muito normal que as grandes empresas dos Estados Unidos desfrutem de direitos humanos. Em 1886, a Suprema Corte dos Estados Unidos, modelo da justiça universal, estendeu os direitos humanos às corporações privadas. A lei reconheceu para elas os mesmos direitos das pessoas: direito à vida, à livre expressão, à privacidade e a todo o resto, como se as empresas respirassem. Mais de 120 anos já se passaram e assim continua sendo. Ninguém fica estranhado com isso.

Gritos e sussurros
Nada há de estranho, nem de anormal, o projeto que quer incorporar os direitos da natureza à nova Constituição do Equador.

Este país sofreu numerosas devastações ao longo da sua história. Para citar apenas um exemplo, durante mais de um quarto de século, até 1992, a empresa petroleira Texaco vomitou impunemente 18 bilhões de galões de veneno sobre terras, rios e pessoas. Uma vez cumprida esta obra de beneficência na Amazônia equatoriana, a empresa nascida no Texas celebrou seu casamento com a Standard Oil. Nessa época, a Standard Oil, de Rockefeller, havia passado a se chamar Chevron e era dirigida por Condoleezza Rice. Depois, um oleoduto transportou Condoleezza até a Casa Branca, enquanto a família Chevron-Texaco continuava contaminando o mundo.

Mas as feridas abertas no corpo do Equador pela Texaco e outras empresas não são a única fonte de inspiração desta grande novidade jurídica que se tenta levar adiante. Além disso, e não é o menos importante, a reivindicação da natureza faz parte de um processo de recuperação das mais antigas tradições do Equador e de toda a América. Visa a que o Estado reconheça e garanta o direito de manter e regenerar os ciclos vitais naturais, e não é por acaso que a Assembléia Constituinte começou por identificar seus objetivos de renascimento nacional com o ideal de vida do sumak kausai. Isso significa, em língua quechua, vida harmoniosa: harmonia entre nós e harmonia com a natureza, que nos gera, nos alimenta e nos abriga e que tem vida própria, e valores próprios, para além de nós.

Essas tradições continuam miraculosamente vivas, apesar da pesada herança do racismo, que no Equador, como em toda a América, continua mutilando a realidade e a memória. E não são patrimônio apenas da sua numerosa população indígena, que soube perpetuá-las ao longo de cinco séculos de proibição e desprezo. Pertencem a todo o país, e ao mundo inteiro, estas vozes do passado que ajudam a adivinhar outro futuro possível.

Desde que a espada e a cruz desembarcaram em terras americanas, a conquista européia castigou a adoração da natureza, que era pecado de idolatria, com penas de açoite, forca ou fogo. A comunhão entre a natureza e o povo, costume pagão, foi abolida em nome de Deus e depois em nome da civilização. Em toda a América, e no mundo, continuamos pagando as conseqüências desse divorcio obrigatório.
Por Eduardo Galeano.

Publicado originalmente no semanário Brecha, do Uruguai.

Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores

Fonte: Agência Carta Maior

O que a mídia não mostra, passa a não existe

Li recentemente no blog do admirável Eduardo Guimarães uma abordagem feita pelo mesmo, na qual tenta explicar porque o Estado de São Paulo não melhora.
Que aquele estado é o mais rico e o que mais arrecada dentre os 26 estados federados, todos sabem. O que não se divulga é que o estado mais rico tem um dos piores índices educacionais do país, e ainda que de 1995 a 2007 o índice de crimes contra a pessoa humana (homicídio e lesões corporais) aumentaram em 66%. Ninguém ousou observar que durante todo esse período aquele estado foi governado e como continua sendo, pelo PSDB.
Além dos índices citados acima, outros escândalos ocorreram e continuam ocorrendo no "principal" estado brasileiro, o de São Paulo, mas a grande mídia que na sua maioria é sediada lá não consegue enxergá-los pois seus olhos e ouvidos estão concentrados em Brasília, a fiscalizar, vigiar, julgar e condenar a corrupção no governo federal.
Nenhum escândalo ocorrido nas esferas governamentais de São Paulo persiste mais que três dias ou no máximo uma semana na pauta da mídia brasileira que, repito, tem suas maiores instalações e é sediada lá.
Quem quiser fazer um esforço, tente lembrar quando foi a última vez que ouviu falar sobre a catástrofe da irresponsabilidade que causou a cratera na linha 04 do metrô e tente lembrar que desfecho ou que seguimento tem as investigações ou ações reparadoras dos danos causados á população diretamente atingida, bem como, aos danos aos cofres públicos.
O escândalo do PCC que por anos deixou(?) o estado paulistano refém, matando policiais, alvejando presídios, delegacias, postos postos policiais e quartéis até do Corpo de Bombeiros, fato este que chamou a atenção da imprensa internacional, no Brasil isso logo foi esquecido. Este comportamento não deixa dúvidas de que a grande mídia, chamada por jornalistas respeitados de PIG (partido da imprensa golpista) não tem interesse em dar destaque aos desmandos que ocorrem nos governos tucanos.
Outro fato bastante recente é o caso dos cartões corporativos do estado de São Paulo que, sozinho, superou os gastos do governo federal e sem transparência alguma de como os gastos foram feitos. Alguém se lembra quantas vezes nas últimas semanas a mídia falou desses cartões? Entretanto para apurar os "escândalos" dos cartões corporativos do governo federal já foram criadas duas CPI's em Brasília e até agora nenhuma em São Paulo.
Comportamento como este faz com que o povo paulistano acredite que o governo Lula é o mais corrupto da história. Isso apesar de falso, é compreensível visto que apenas os atos de corrupção ligados ao governo federal são noticiados com rigor e vigor.
Desta forma, fica comprovada a tese do sociólogo Pedrinho Alcides Guareschi que diz que o não aparece na mídia deixa de existir.
No final da década de 90, a PUC-RS realizou um estudo e constatou que mais de 80% de tudo que as pessoas falam no dia-a-dia em casa, no trabalho, na rua, no lazer ou em qualquer outra situação ou ocasião é pautado pela mídia.
Assim sendo, quando a mídia se cala diante de um fato, ele não mais existe. Por isso é que a cratera do metrô já não existe, as ações do PCC, já deixou de existir, os escândalos dos cartões corporativos do governo paulistano deixou de existir, as propagandas irregulares do governo paulistano em revistas de pessoas ligadas ao PSDB não existem, os rombos aos cofres da Nossa Caixa para pagar tais propagandas também não existem, etc...
Oxalá chegue o dia em que a mídia deixe de ser o PIG e não selecione apenas notícias que interessem ao PSDB, mas ao povo brasileiro que quer simplesmente honestidade, também ou principalmente no jornalismo que deveria formar e informar as consciências e não manipulá-las e deformá-las.
Oxalá mais uma vez, chegue ao conhecimento da população paulistana principalmente, mas também à brasileira na sua integralidade, de que os maiores combatentes do governo federal nos princiapais jornais do país, a exemplo de Eliane Cantanhede da folha de São Paulo, é casada com o marqueteiro das campanhas políticas e publicitárias do PSDB.

domingo, 20 de abril de 2008

Sensacionalismo

Há dias que não consigo assistir aos telejornais. Além de o Casa Isabella ser revoltante pelo fato em si, para mim tornou-se ainda mais pela cobertura sensacionalista e pouco cidadã feita pela mídia. Desejei comentar e apresentar minhas críticas à exagerada cobertura dada ao caso, mas como não suportei assisti-la e todas as vezes que começava um telejornal e a primeira manchete era sobre este lamentável episódio, imediatamente eu me afastava do recinto. Confesso que esse tipo de fato não atrai a minha atenção, então não me senti suficientemente preparado para fazer a crítica fundamentada. Deste modo encontrei mais uma vez o socorro no blog do Eduardo Guimarães que presenteia aos leitores com uma excelente análise, não do fato, mas sobre a cobertura espetacularmente sensacionalista feita pela mídia brasileira. Creio que até que se descubra/produza outro escândalo no Planalto, o assunto ainda pautará os jornais e telejornais da república do PIG.
O 'circo romano' midiático


O prazer mórbido das massas de degustar o sofrimento alheio remonta aos primórdios da história. No Coliseu romano, por exemplo, as turbas sádicas nem precisavam de desculpas para consumir sofrimento com um deleite quase lascivo. Essa necessidade obscura do homem de assistir semelhantes sofrendo era perfeitamente compreendida e aceita na antiguidade. Em Roma, por exemplo, essas turbas sádicas se deleitavam no Coliseu com homens, mulheres, velhos e crianças cristãos sendo estraçalhados por leões famintos.

Com o passar do tempo, porém, o processo civilizatório passou a exigir "motivos" para oferecer sofrimento humano à sanha das turbas. Foi aí que surgiu a idéia de usar criminosos - ou supostos criminosos - para saciarem esse prazer corrupto de ver pessoas sofrendo.

Mas que ninguém se engane: seja nos esportes, seja no noticiário policial, seja na política ou até no conforto de seu lar, o homem contemporâneo ainda desfruta do mesmo prazer, moderado ou imoderado, pelo sofrimento de seus semelhantes. E não só pelo sofrimento físico, mas também pelo sofrimento moral.

As famosas fofoqueiras de bairro deliciam-se com a desconstrução da moral alheia tanto quanto a imprensa deleita extensos grupos sociais com toda sorte de escândalos, desde sexuais até os de "corrupção", existindo ou não. Os moralistas extremados nada mais são do que sádicos extremados numa espécie biológica que tem no sadismo uma das características básicas que a diferem das outras espécies.

A mídia contemporânea, tanto quanto os imperadores romanos, sabe desse lado obscuro da alma humana e o manipula da mesma forma que era manipulado há séculos e séculos. Os imperadores usavam o Circo para distrair as massas da vida dura que levavam; a mídia usa a agonia moral alheia para lucrar, ganhar atenção e, com isso, poder. Exatamente como faziam os Césares romanos.

A audiência dos telejornais cresceu até 46% com o caso Isabella Nardoni. O jornal sensacionalista "Balanço Geral", da Record, cresceu 25%; o "Jornal da Band" cresceu 24% e atingiu sua melhor média no ano, 7,5 pontos percentuais; o Jornal "Nacional" saltou de 31,4 para 34,2 pontos.

A Globo mobilizou 18 repórteres, 8 produtores e 20 cinegrafistas que fazem plantões permanentes, até de madrugada, em casas de parentes de Isabella Nardoni e em delegacias. O "SP TV - 1ª Edição" chegou a dedicar mais de meia hora à história. No "Jornal Nacional", a cobertura chegou a ocupar 15 minutos e 20 segundos na edição da última terça, o equivalente a 37% do telejornal.
A Record informa ter deslocado 30 repórteres e produtores e 20 cinegrafistas. O "Balanço Geral", por exemplo, pôs em seu cenário uma cama, como se fosse a de Isabella. O apresentador manchava roupas com tinta vermelha e depois as lavava, para mostrar como age um produto usado por peritos para descobrir sangue. Já o "Fala que Eu Te Escuto", da Igreja Universal, "reconstituiu" o crime com atores.

Na Band, entre três e dez equipes (repórter mais cinegrafista) cobrem o caso, dependendo do noticiário, além de cinco produtores. Até o SBT priorizou Isabella. Mobilizou quatro repórteres e sete cinegrafistas. Parece pouco, mas é quase metade do time da emissora. O SBT tem apenas nove repórteres em São Paulo.

A imprensa escrita, por sua vez, não deixa passar um único dia sem dar manchetes sensacionalistas de primeira página que fazem crer, a cada dia, que surgiu um fato novo nas investigações, apesar de que, até agora, pouco foi acrescentado ao que já se sabia sobre o caso.

Além de ser impossível afirmar com cem por cento de certeza que o pai e a madrasta de Isabella são culpados da morte da menina, se fôssemos civilizados de verdade deveríamos nos indignar com as agressões que as turbas sádicas têm promovido contra a família de Alexandre Nardoni. As casas dos parentes dele, que não são acusados de crime nenhum, têm sido apedrejadas e pichadas e esses parentes têm sido agredidos de todas as formas, sofrido acusações difusas e sem qualquer lógica. Isso sem falar que perderam o direito de sequer saírem à rua.

O caso Isabella mostra que a humanidade, em termos de ética comportamental, evoluiu muito pouco no decorrer da história. A ética contemporânea é tão flexível, dissimulada e hipócrita quanto era no tempo em que Jesus Cristo caminhou sobre a Terra.
postado na fonte em 19/04/2008

sábado, 19 de abril de 2008

Formação sócioeducacional

O texto abaixo é um dos conteúdos produzidos para estudo durante encontros de formação catequética, social, política e humana que a paróquia realizara outrora. É bastante simplório e busca atingir pessoas de todas as classes sociais que se juntavam para tanto. Por isso, utilizava de uma pedagogia que fosse acessível aos menos esclarecidos, entretanto o mais fiéis e interessados.
ENCONTRO DE FORMAÇÃO HUMANA-SÓCIO-POLÍTICA


A cultura ocidental (da qual fazemos parte) adotou a política de referir-se às etapas da trajetória histórica da humanidade colocando um parâmetro, ou seja, um marco zero. Este marco zero, é o nascimento de Jesus Cristo. Assim, a cultura ocidental, também chamada de cultura dos cristãos, marca a contagem do tempo com os termos: “tantos anos antes de Cristo” (a.C.) ou “tantos anos depois de Cristo” (d.C.).
A escolha deste marco, nada mais é do que uma política voltada a demonstrar a importância da pessoa de Jesus Cristo na trajetória histórica desta cultura (que, aliás, nem sempre está plenamente coerente com os ensinamentos do Mestre).
O grande filósofo grego, Sócrates, que viveu há alguns séculos a.C., afirmou que o homem (a espécie humana) é um ser político e social, pois o homem não sobreviveria isoladamente. Cada homem e cada mulher necessitam, ao longo de sua vida, da ação de muitos outros homens e mulheres para sobreviver. Daí porque a afirmação de que “o homem é um ser social”. É também um ser político pois todas as pessoas querem viver de maneira semelhante às outras. Seu modo de vestir, de comer, sua casa, seus móveis, utensílios domésticos, sua escola, sua religião, suas festas, seu esforço em seguir os estilos do seu tempo, a moda, enfim sua cultura constitui o caráter político do homem que busca igualar-se aos outros em direitos e deveres para sentir-se incluído na sociedade do seu tempo. Se isto era uma verdade nos tempos socráticos, hoje então, esta afirmação está cada vez mais reforçada devido ao desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade.
Durante toda a Idade Média, período da história da humanidade que vai do ano 476 a 1453, foi adotada pelos governos, uma política ideológica chamada teocentrismo (Crença ou doutrina que vê em Deus o centro do universo, de todas as coisas). Essa política justificava tudo o que acontecia na vida das pessoas, como sendo a vontade de Deus. Os escravos nasciam ou se tornavam escravos, porque esta era a vontade de Deus, os pobres nasciam e morriam pobres, porque esta era a vontade de Deus, os latifundiários (senhores feudais) enriqueciam cada vez mais explorando o escravo, o servo lavrador, o artesão, porque esta era a vontade de Deus, os reis e a Igreja faziam guerras para impor a fé cristã aos pagãos que, se resistissem a esta fé, morreriam assassinados pelos exércitos das chamadas guerras santas, das Cruzadas, da “Santa” Inquisição, etc., porque tudo isso era a vontade de Deus. O homem nada podia fazer para mudar a situação de miséria e de tantas outras injustiças que ocorriam naquela época, porque tudo isso era a vontade de Deus.
Finalizada a Idade Média, inicia-se outro período da história, chamado Idade Moderna. É neste período que surge um movimento chamado “Iluminismo” que tentava direcionar um foco de luz no chamado “período das trevas”, ou seja, aquele período de quase mil anos, que compreende a “Idade Média” no qual o teocentrismo explicava todos as ações, pensamentos, palavras e omissões da humanidade como se tudo fosse predestinado por Deus. O Iluminismo, traz uma outra política, a política do antropocentrismo (doutrina que considera o homem como o centro ou a medida do Universo, sendo-lhe por isso destinadas todas as coisas; Concebe o Universo em termos de experiências ou valores humanos; Doutrina finalística que admitem que todas as coisas foram criadas por Deus para propiciar a vida humana). O antropocentrismo é o contrário do teocentrismo. O homem é senhor, é responsável pelos acontecimentos da história, faz a sua história, e tem plena possibilidade de transformar a realidade em uma sociedade justa, solidária, igualitária, fraterna.
Durante um grande período da nossa história recente, nossa paróquia, adotou a política da boa convivência, ou até mesmo a política da conveniência, ou ainda da conivência com os acontecimentos louváveis e também com os condenáveis em nosso município. Adotou-se a política do comodismo, do silêncio, da indiferença.
Até aqui, utilizou-se, explicitamente, nove vezes a palavra política em diversos contextos histórico-culturais. Se esse texto fosse submetido a uma criteriosa correção de redação, certamente seria penalisado por repetir tantas vezes uma mesma palavra. No entanto, é preciso deixar claro que até aqui foi tudo proposital. Pretende-se dar um amplo emprego a esta palavra para enfatizar sua importância. Após defini-la, pode-se utilizar sinônimos para ela. Vamos então ver o que é política, como e quando ela nasceu?
O Dicionário Aurélio, apresenta 10 significados para esta palavra. Vejamos:
1. Ciência dos fenômenos referentes ao Estado; ciência política.
2. Sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos.
3. Arte de bem governar os povos.
4. Conjunto de objetivos que enformam (dão forma[1]) determinado programa de ação governamental e condicionam a sua execução.
5. Princípio doutrinário que caracteriza a estrutura constitucional do Estado.
6. Posição ideológica a respeito dos fins do Estado.
7. Atividade exercida na disputa dos cargos de governo ou no proselitismo partidário.
8. Habilidade no trato das relações humanas, com vista à obtenção dos resultados desejados.
9. (Por extensão) Civilidade, cortesia.
10. (Figurativo) Astúcia, ardil, artifício, esperteza.
Consta ainda o verbo politicar.
Além de apresentar vários tipos de política a exemplo de:
Política comercial. (Economia). Conjunto de ações do governo relativas ao comércio, e em especial ao comércio exterior do país.
Política de rendas. (Economia). Conjunto de ações do governo no sentido de influir no processo de fixação de salários e preços, em geral com o propósito de prevenir ou combater a inflação.
Política econômica. (Economia). Conjunto de ações do governo destinadas a influir nas decisões dos agentes econômicos, visando à consecução de determinados objetivos.
Política fiscal. (Economia). Conjunto de ações do governo referentes a seu orçamento, e que inclui a fixação de impostos e a do nível dos gastos públicos.
Política monetária. (Economia). Conjunto de ações do governo sobre o sistema monetário, que inclui o controle da oferta de moeda e a regulamentação da atividade dos bancos.
Como vimos, toda e qualquer ação ou conjunto de ações programadas com um objetivo definido e pré-estabelecido é política.
Assim sendo, quando nasceu a política e quem é o autor da política?
Retomando a afirmação socrática de que o homem é um ser político e seguindo a doutrina que diz que o homem é criatura de Deus, feito segundo a imagem e a semelhança de Deus, podemos concluir que a política nasceu juntamente como o homem, para o homem e pelo homem; e seu autor intelectual é Deus.
Ao colocar o homem e a mulher no jardim do Édem e dar-lhes a liberdade de decidir comer ou não comer do fruto da árvore proibida, Deus adotou a política do livre arbítrio. Os habitantes do paraíso puderam escolher entre o bem e o mal.
Para a Igreja, o conceito de política é muito bem entendido na expressão do Papa Paulo VI que disse: “A Política é a mais perfeita forma de caridade”.
No entanto, vimos que existem muitas formas de políticas. Diz um ditado espanhol que tudo é política, mesmo que a política não seja tudo.
Desta forma, todas as nossas atitudes assumem uma posição política.
Se aceitamos as coisas do jeito que elas são, estamos fazendo a política da acomodação, da aprovação, do está tudo certo; se reclamamos ou cobramos alguma coisa, estamos fazendo a política do questionamento, da reivindicação; se ficamos quietos e calados diante dos baixos salários, do atraso do pagamento destes mesmos salários, se não aceitamos que a Igreja ou qualquer outro segmento da sociedade manifeste sua opinião ou apresente sua reivindicação perante as diversas situações do quotidiano, estamos fazendo a política da apatia, da indiferença, do não é comigo, do deixa pra lá, do “e eu com isso?”, do “cada um por si e Deus por todos”.
Já que é impossível ao ser social e político que é o homem, viver isolado ou não fazer política, cabe então a cada um, a cada cristão em especial, decidir que tipo de política irá fazer.
Se política é o trato das ações planejadas para alcançar um objetivo, podemos verificar que o apóstolo Paulo é enfático quando diz aos romanos: “Não vos amoldem às estruturas deste mundo, mas transformem-se pela renovação da mente, a fim de distinguir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que é agradável a ele, o que é perfeito (Rm 12,2)”. Estas palavras do apóstolo Paulo, nos dão uma luz sobre que tipo de política, nós cristãos, devemos fazer. Aliás, o próprio Jesus já tinha feito esta observação quando nos ensinou a oração que os cristãos rezam (ou deveriam rezar) todos os dias. Na oração do Pai Nosso, rezamos: “seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”. Qual é então a vontade de Deus? O Pai Nosso responde mais uma vez: “Santificado seja o nome de Deus, venha a nós o Reino de Deus (Reino de justiça, de paz, de fraternidade, de amor) (...) O pão nosso de cada dia nos dai hoje...”
Embora seja muito comum ver padres, bispos, freiras, animadores de comunidade, coordenadores de pastorais, etc. substituírem a política pela politicagem, ou pela política da omissão, da indiferença, a Igreja possui vários documentos que falam, exortam e orientam os cristãos na prática da política. Em quase sua totalidade, os documentos de orientação pastoral da CNBB abordam a questão da militância política dos cristãos. Nominalmente podemos citar: Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil (este documento é atualizado a cada cinco anos), Por uma nova ordem constitucional,Exigências Éticas da Orem Democrática, Ética Pessoa e Sociedade. O Papa João Paulo II, escreveu de próprio punho a Encíclica Christifideles Laici (Fidelidade dos fieis leigos) que entre outras orientações, contém a seguinte: “A política é destinada a promover orgânica e institucionalmente o bem comum (...) todos e cada um têm o direito e dever de participar da política, embora em diversidade e complementaridade de formas, níveis, funções e responsabilidades”. Além dos documentos oficiais da Igreja, diversos teólogos escreveram e escrevem livros e mais livros clareando os documentos oficiais da Igreja sobre este assunto. Não poderia deixar de citar um autor teólogo bastante conhecido de todos nós, e pelo menos um de seus livros com linguagem de muito fácil compreensão, recomendado para toda e qualquer pessoa que queira iniciar uma leitura de formação humana, social e cristã. Este autor chama-se JOSÉ LISBOA MOREIRA DE OLIVEIRA, e o livro é VOCAÇÃO E CARISMA.

ALGUNS PASSOS INDISPENSÁVEIS PARA O EXERCÍCIO DA DIMENSÃO POLÍTICA DA VOCAÇÃO CRISTÃ

1. Conscientização Política
2. Conhecimento dos candidatos
3. Escolha dos candidatos
4. Preparação dos candidatos
5. Acompanhar e fiscalizar os políticos
6. Testemunho




11/06/2003.
[1] Grifo meu, não do dicionário

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Imperdível

Quem não deseja ser manipulado(a) pelo PIG, não deve deixar de ler as explicações de Aroldo Lima sobre o suposto "crime" que ele cometeu ao trazer esperanças de boas notícias para o Brasil. Clique aqui para ler

Brasil - PT e PSDB de mãos dadas

Nunca vi cabeça de bacalhau, mendigo careca, santo de óculos, ex-corrupto, nem filho de prostituta chamado Júnior. Nunca imaginei que, fora dos grotões, onde o compadrio prevalece sobre princípios ideológicos, veria uma aliança entre PT e PSDB. Mas o impossível acontece em Belo Horizonte, com ampla aprovação das bases petistas.

Mudei eu ou mudou o Natal? Sim, sei que Minas, onde nasci, é terra estranha, o inusitado campeia à solta: mula-sem-cabeça, lobisomem, chupa-cabra, discos voadores... Criança, vi na Praça Sete, na capital mineira, uma enorme baleia exposta à visitação pública na carroceria de uma jamanta. A Moby Dicky embalsamada exalava um forte mau cheiro que obrigou as esculturas indígenas do Edifício Acaiaca a tapar o nariz.

O que foi feito da grita do PT belo-horizontino sob oito anos de governo FHC? Em que bases programáticas a aliança se estabeleceu? Quem cedeu a quem? Quem traiu seus princípios políticos e históricos?

Lembro dos anos 50/60, quando o conservador PSD, de JK, fez aliança com o progressista PTB, de Jango. O primeiro neutralizou o segundo. E o sindicalismo, até então combativo, ingressou na era do peleguismo. No cenário internacional, o Partido Trabalhista inglês aceitou aliar-se ao Partido Republicano dos EUA. Nunca mais o inglês foi o mesmo, a ponto de apoiar a invasão do Iraque.

Só uma razão é capaz de explicar essa aproximação de pólos opostos: a lógica do poder pelo poder. Quando um partido decide que sua prioridade é assegurar a seus quadros funções de poder, e não mais representar os anseios dos pobres e promover mudanças num país de estruturas arcaicas como o Brasil, é sinal de que se deixou vencer pelas forças conservadoras. E não me surpreende que nisso conte com amplo apoio das bases, sobretudo quando se observa que a antiga militância, impregnada de utopia, cede lugar a filiados obcecados por cargos públicos.

Tenho visto, em cinco décadas de militância, como síndrome de Jó ameaça certos políticos de esquerda. Enquanto estão fora do poder e são oposição, nutrem-se de uma coerência capaz de fazer corar são Francisco de Assis. Alçados ao poder, inicia-se o lento processo de metamorfose ambulante: princípios cedem lugar a interesses; companheiros a aliados; lutas por ideais a vitórias eleitorais.

Jó, submetido às mais duras provas, perdeu tudo, exceto a fé, suas convicções. Tais políticos, diante de um fracasso eleitoral ou perda de função pública, esquecem os princípios e valores em que acreditaram, defenderam, discursaram, escreveram e assinaram, para salvar a própria pele. Horroriza-os a perspectiva de voltarem a ser cidadãos comuns, desprovidos de mordomias e olhares bajuladores. Ainda vão à periferia, desde que como autoridades, jamais como militantes.

Talvez eu tenha ficado antigo, dinossáurico, incapaz de entender como um partido que sempre se aliou ao PFL, agora DEM, pode, de repente, sentir-se à vontade de mãos dadas com o PT. Não que tenha preconceito a peessedebistas. Sou amigos de muitos, incluído o governador José Serra. Mas quem viver verá: se o candidato da aliança PT-PSDB for eleito prefeito de Belo Horizonte, o palanque de Minas, nas eleições presidenciais de 2010, vai ser aquela saia-justa.

Minas é uma terra de mistérios: tem ouro preto, dores de indaiá, mar de Espanha, juiz de fora, rio acima e lagoa santa. E fora de Minas tenho visto coisas que já nem me espantam: Sarney e Delfim Netto apóiam Lula; o governo do PT aprova os transgênicos e a transposição do Rio São Francisco; o Planalto petista revela gastos da gestão FHC e esconde os seus...

Os tempos e os costumes mudam, já diziam os latinos; as pessoas e os partidos também. Eu é que deveria ficar mudo, já que teimo em acreditar que fora da ética e dos pobres a política não tem salvação. Deve ser culpa de minha dificuldade de entender por que às vésperas de eleições todos debatem nomes de candidatos. E não propostas, programas e prioridades de governo.

Frei Betto.
[Autor de "A mosca azul - reflexão sobre o poder" (Rocco), entre outros livros].

Fonte: http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=32559

O preço do privilégio

O texto postado hoje foi escrito no ano 2000. Foi resultado de uma mistura de acontecimentos, conspirações e oportunidades que vivi. Embora possa parecer, não há qualquer rancor ou amargura, apenas um desabafo, quando na faculdade fui solicitado a produzir um texto baseado numa das gravuras apresentadas pela professora. O que ocorrera comigo a caminho da faculdade naquele dia, influenciou bastante o texto.
O preço do privilégio é a liberdade

Ao observar as gravuras apresentadas como fonte inspiradora do texto que deverei desenvolver, talvez pelo estado emotivo em que me encontro, escolhi a de um boi que não fora disputada por nenhuma outra pessoa. Com certeza, somente eu experimento um sentimento muito particular. Se o leitor ou leitora não se importa, gostaria de tentar descrevê-lo. Perdoe-me se for demasiado desinteressante. Confesso que tenho o costume de falar de sentimentos particulares que nem sempre agradam, mas se me proponho a escrever não consigo esconder as emoções vividas. Não sou criativo na arte de inventar histórias.

As circunstâncias me fizeram bastante questionador e trouxe-me muitos benefícios, como também me ensinou que é preciso pagar um preço por esta atitude.
Embora isso não me envaideça, sempre fui atuante no questionamento das coisas que dizem respeito ao comportamento da sociedade organizada, seja religiosa ou sócio-politicamente. Por diversas vezes denunciei publicamente desmandos na minha igreja, escola, na gestão pública do meu município, estado e país. Até os que me odeiam reconheciam que muitíssimas vezes falei com bastante propriedade de determinados comportamentos, sobretudo dos nossos políticos.
Fui ferrenho crítico do grupo que governara a minha cidade por trinta e seis anos consecutivos. Finalmente, na eleição municipal de 1996, um dissidente deste grupo interrompeu aquela dinastia.
De certa forma, senti-me um tanto responsável pela mudança, embora soubesse que não era a adequada.
Fui então convidado a integrar a equipe do novo governo. Aceitei, mesmo desconfiado de que aquele convite fosse uma tentativa de manter-me calado, caso o novo governo fosse tentado a manter certos vícios políticos-administrativos já bastante conhecidos em administrações passadas.
Não deu outra. Muitas vezes, minha consciência me exigira atitudes de coerência obrigando-me a tomar as mesmas atitudes de antes ante o novo governo. Mesmo fazendo parte da equipe, fiz a população conhecer diversas arbitrariedades cometidas pelo novo governo, de modo que de nada valera ao prefeito a minha nomeação. Aliás, o tiro saiu mesmo pela culatra. Pois fiz todos conhecerem que meu objetivo era contribuir e zelar para que aquele governo fosse caracterizado pela diferença e não pela semelhança aos anteriores. Que minha postura baseia-se em critérios e não em afinidades pessoais, de parentesco, interesses próprios ou de grupos isolados.
No setor onde trabalhei por dezenove meses, tive uma colega que, de forma mais expressiva, comungava com meus ideais. Só não fiquei triste com a sua saída daquele setor, porque ela havia sido aprovada no vestibular e fora estudar em outra cidade.
Sempre que possível, conversávamos sobre as dificuldades que ela começava a enfrentar ao deixar o emprego e mudar-se de Riachão do Jacuípe.
Logo apareceu um “amigo” bastante ligado ao gabinete do prefeito e intercedeu mantê-la em folha de pagamento sob a alegação de estar oferecendo uma ajuda de custo para aquela estudante universitária, o que fora facilmente aceito pelo prefeito.
Não vejo nesta atitude nenhuma desonra ou desonestidade. Apenas um privilégio que os demais estudantes universitários do município jamais tiveram.
A partir de então, comecei a perceber como os privilégios concedidos são carregados de intenções e forças maléficas. Aquela companheira tão solidária às minhas atitudes e questionamentos nunca mais fora a mesma. Nunca mais tivera a liberdade de comentar com quem quer que fosse o que pensa ou do que discorda. Por uma quantia vergonhosa de dinheiro – um pouco abaixo do valor do salário mínimo – que recebia mensalmente sem trabalhar, fechou seus olhos para todos os absurdos cometidos por aquela administração que, em termos de ética, é a mais desastrosa que o município conhecera.
Também eu, juntamente com mais sete outros jacuipenses, dentre eles minha esposa, fomos aprovados no último vestibular em Conceição do Coité e enfrentamos muitas dificuldades para estudarmos. Algumas colegas, cobertas de razões e direitos, requereram do atual gestor municipal uma ajuda de custo no transporte de nossa cidade até a faculdade e foram atendidas. No entanto, avisadas por pessoas achegadas ao prefeito, não puderam pronunciar o meu nome no gabinete, sob grave risco de não receberem o benefício solicitado.
Apesar do sacrifício a que me submeto, tendo que trabalhar das sete às onze horas da manhã e novamente das sete às onze da noite, e ao meio dia vir de motocicleta enfrentando o vento, os tombos, os buracos, o sol e/ou a chuva e ainda, por vezes, a lama que hoje me foi arremessada ao cruzar com um veículo pesado na estrada, sujando toda a minha roupa, óculos, cabelo e o rosto. Apesar disto, sinto-me feliz e pago com satisfação o preço da minha dignidade. Certamente, se tivesse eu o mesmo comportamento da minha ex-colega não estaria enfrentado os sacrifícios de ordem econômica (já que tenho as despesas dobradas pois além de mim, também minha esposa faz a mesma faculdade que eu) e os obstáculos que a natureza e a ação desonrosa dos gestores públicos que dificultam e fatigam o meu deslocamento até aqui.
Mas volto a falar da gravura.
Aquele boi tão robusto fotografado, certamente, com o orgulho do seu proprietário por sua exuberante robustez, me fez perceber que ao contrário das vaquinhas magras e famintas que eu ajudava a cuidar na minha infância ajudando a minha família a salvá-las das tantas secas, apesar do sofrimento tinham um futuro menos traiçoeiro. Elas mantinham-nos, e eram por nós mantidas num amável cuidado mútuo. Sofria a fome e a sede, mas de certa forma parece que percebiam que sofríamos juntos a mesma escassez. Ao contrário, aquele pobre boi tão robusto, nunca experimentara a fome e a sede, sempre socorrido antes mesmo que tivesse qualquer necessidade, cheio de tatos privilégios, não podia imaginar que todo aquele cuidado a ele dispensado tinha a única intenção de engordá-lo, preparando-o para o abate, o que recompensaria ao seu dono todo o privilegiado cuidado a ele concedido.
Isto me fez refletir que todo e qualquer privilégio nos fragiliza, nos deixa impotentes, presos e obrigado a cerrar os olhos, os ouvidos e principalmente a boca. Torna-nos cúmplices e coniventes das mais vergonhosas situações de injustiça. Os privilégios, não raramente, nos conduzem ao mesmo destino do boi, cuidadosa e orgulhosamente preparado para ser conduzido ao matadouro.

Vital Martinho Carneiro de Oliveira.

03/04/2000.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Imperdível

O Conversa Afiada, site do jornalista Paulo Henrique Amorim, aquele que incomodou demasiadamente o PIG e por isso foi mandado embora do Portal IG, continua imbatível.

Não consigo chegar ao um pc conectado à internet sem fazer uma visita ao Conversa Afiada.
Veja o que foi publicado hoje sobre a nova "bomba" inventada pelo PIG para derrubar o governo Lula. Clique aqui para ler como o PIG tapa o mega poço da Petrobrás.

Mais um texto do meu banco de dados

Por falta de tempo e por conta do cansaço depois de um dia laborioso, embora cheio de graça, que prenuncia nova jornada cansativa para o dia seguinte, postarei hoje mais um texto do meu banco de dados. Ele fala sobre meu olhar sobre a minha caminhada pastoral militante, bem como, meu olhar sobre os últimos anos da caminhada paroquial. Quando digo "últimos anos", refiro-me aos que eu pude militar. Inclusive o texto a seguir praticamente foi o último cartão amarelo que levei de membros de conselhos paroquiais.
Chamo a atenção para a data em que o texto foi escrito. Ele não reflete hoje a mesma situação. Como logo depois que escrevi deixei a militância, acho prudente não emitir minha opinião sobre os tempos atuais, vez que não acho justo analisar o que já não conheço, pois tudo não passará de suposições, ainda que baseadas em fatos históricos.

ANÁLISE DA AÇÃO PASTORAL PAROQUIAL

Há algum tempo venho me perguntando por qual razão nossa paróquia, de repente, ficou tão descaracterizada, ou seja, para onde foi o protagonismo dos leigos? O que consumiu seu entusiasmo? Onde foi parar o profetismo? O que ficou de todo aquele trabalho iniciado em 1992 e que se estendeu até 199...? Será que ainda somos os mesmos? Será que mudamos? Se mudamos, mudamos para melhor ou para pior? Se mudamos, mudamos porque amadurecemos ou porque nos conformamos ou nos tornamos indiferentes com a (des)ordem estabelecida sobre a miséria por nós consentida? O que está faltando na nossa Igreja: espiritualidade/oração, testemunho, pastores capazes de encorajar, despertar, e provocar seu rebanho? Faltam leigos comprometidos o suficiente para animar seu(s) pastor(es), ajudá-lo(s) a perceber com clareza a realidade que o(s) rodeia? Quem está mais preparado para entender claramente tal realidade: o padre que estudou em escola de nível superior mas não foi preparado para ser agente de transformação social, ou o leigo que não estudou o suficiente e está atônito, perdido neste mundo de valores e modelos sociais tão efêmeros?

Após muitas noites mal dormidas dedicadas a tais questionamentos, estou certo de que não cheguei a nenhuma conclusão incontestável mas creio que, em parte, percebo algumas razões que nos ajudam a abrir uma discussão racional a respeito das questões levantadas.

Penso que a primeira causa foi as constantes mudanças de párocos e/ou vigários paroquiais nos últimos dez anos. Nem sempre os que nos assistiram tiveram uma prévia e exata noção da realidade pastoral, religiosa, social e política da paróquia antes de desembarcarem para a difícil missão que lhes fora incumbida. Logo ao descer do “barco”, o recém chegado está obrigado a resolver uma série de “picuinhas” de paroquianos, ouvir reclamações contra seu antecessor, sofre assédios dos insatisfeitos com o ex-pároco e estes insatisfeitos, por sua vez, tentam conquistar a simpatia e a amizade do novo pároco a fim de convencê-lo a não adotar o modelo do seu antecessor. Desta forma, o novo pároco não consegue fazer outra coisa além de ministrar sacramentos. No que tange o vigário paroquial, quase sempre houve uma evidente diferença de concepção social e de atuação pastoral em relação ao pároco. A exceção a isso foi o período em que a comunidade religiosa era composta por: Pe. Silvino, Pe. José Carlos Nascimento, Pe. Ionilton e Pe. José Carlos Lima. Esta equipe sempre esteve afinada pastoralmente. Ao vigário paroquial, sobretudo ao menos afinado e menos conhecedor da realidade social e da caminhada pastoral paroquial, coube a maior responsabilidade em celebrar as missas nas CEB’s, a fim de deixar o pároco mais livre para as atividades de coordenação pastoral e burocráticas. Alguns dos vigários paroquiais, parecem ter maior dificuldade em entender os desafios da comunidade paroquial, a realidade social brasileira, etc.

Nas CEB’s rurais está a melhor massa a ser fermentada na construção do Reino. Elas são mais receptivas aos apelos da Igreja, porém estão mais bem assistidas administrativa que pastoralmente por esta paróquia.

Parece também que, infelizmente, durante o processo de formação do clérigo não há nenhuma, ou pelo menos, suficiente preocupação por parte dos institutos teológicos, em fazer do futuro padre um agente de transformação social. Assim sendo, as dificuldades encontradas por eles para diagnosticar as causas do sofrimento do povo que compõe seu rebanho não são poucas e nem pequenas. A crença que a oração resolve todos os problemas humanos ainda é excessivamente difusa entre o povo que crê que os problemas sociais e sofrimentos de cada um são conseqüências do pecado particular, e ainda, que somente a confissão, a eucaristia e a oração regularmente resolverá os problemas de cada pessoa individualmente. Assim todas as carências de ordem afetiva, psicológica, social e econômica são supridas ou afogadas nas práticas devocionais religiosas que fazem da religiosidade a única coisa capaz de integrar os condenados pela sociedade ao anonimato e ao ostracismo excludente nesta mesma sociedade. A organização popular em defesa dos direitos dos cidadãos parece não ter nenhum elo com a prática religiosa. Esta, funciona como anestésico para os sofrimentos do fiel. O povo não sabe distinguir o pecado social do pecado pessoal. As celebrações dos sacramentos são praticamente 99% da ocupação dos presbíteros e como parecem terem sido muito pouco preparados para atuarem fora delas e da competência da burocrática administração paroquial, fica muito difícil detectar os problemas sociais da comunidade local e, à luz do Evangelho, apontar possíveis saídas para combater os males sociais que aflige o rebanho. Desta forma, não se consegue fermentar esta massa a ponto de fazê-la protagonizar as mudanças tão urgentes na sociedade dando o novo sabor inerente ao cristão que como disse Jesus Cristo, deve ser o sal da terra, o fermento na massa e a luz do mundo. Na atual conjuntura paroquial da igreja em todo o país (ou talvez no mundo), podemos ainda questionar: Como os padres poderão saber concretamente o que representa as grandes questões do cotidiano que afetam tão amplamente a qualidade de vida do povo, como por exemplo: o neoliberalismo - (tão condenado pelo Papa)? A globalização neoliberal, a ALCA? O que conhecem de Políticas Públicas? O que sabem sobre a atual conjuntura do país? O que tudo isso tem a ver com Reino de Deus? Estão capacitados para ajudar os leigos a adotarem critérios coerentes e maduros na escolha dos candidatos aos cargos públicos? Conhecem as histórias, projetos e objetivos dos mais variados partidos políticos? Como se dá o relacionamento e/ou colaboração das paróquias com as mais diversas ONGs?

Com seu tempo sendo ocupado quase que exclusivamente nas celebrações sacramentais e serviços burocráticos paroquiais, terá o padre, tempo e/ou disposição para buscar estas informações a fim de poder entender quais implicações isto traz para o desafio da Nova Evangelização tão exortada pelo Sumo Pontífice? Saberá fazer uma ponte entre o Evangelho e estas terríveis ameaças e entraves no processo de instauração do Reino de Deus? Sem este tempo e sem as condições humanas, psicológicas, etc., os padres terão condições de orientar o povo a combater este anti-reino? Se os que exercem cargos de maior responsabilidade pastoral são tão vítimas da ignorância sobre estes assuntos quanto o povão sem escolaridade, sem acesso a informação imparcial, responsável, livre da censura imposta pelo monopólio da mídia elitista; estarão estes irmãos padres, capacitados para perceber a contribuição que o neoliberalismo, a globalização imperialista e a ALCA, por exemplo, deram ou darão para ampliar o número dos desempregados, dos explorados, da violência, do encaminhamento da juventude para as drogas, a aceitação passiva dos excluídos à miséria imposta pelos países do norte a nações inteiras? Como poderão despertar os leigos para reagirem contra tudo isso se faltam, aos próprios pastores, condições humanas e a devida formação especializada para perceber qual é o verdadeiro desafio na pluralidade de situações circunstanciais?

É certo que nem tudo está perdido. Existem alguns padres e leigos que têm uma certa noção de tudo isso. A CNBB sem nenhuma dúvida conta com os mais qualificados assessores para estas e para outras questões.

No nosso contexto paroquial, alguns leigos percebem que a paróquia não é mais a mesma, sente que houve um retrocesso pastoral e que falta um certo respaldo ao trabalho desenvolvido há bem pouco tempo atrás na comunidade e que esse respaldo só acontecerá se eles obtiverem um grande apoio moral por parte dos padres, sobretudo o pároco, que precisará acompanhar, conhecer melhor e cada vez mais estes leigos para poder depositar neles sua confiança e confirmá-los perante a comunidade paroquial.

Esta falta de apoio moral ao leigo razoavelmente consciente das questões de ordem social, políticas e econômicas, faz com que os poucos leigos que podem contribuir para amenizar tal deficiência, se sintam esvaziados na ação pastoral paroquial que pouco ou insuficiente e imaturamente são levadas em conta na ação dos agentes de pastoral paroquial e também nas celebrações sacramentais. Assim é necessário pautar certas discussões e questionamentos embasados bíblico-teologicamente, sobre os problemas do quotidiano humano nas celebrações. Estas celebrações pois, têm sido mais uma simples preparação do católico para a morte, para o encontro definitivo com Deus, que para a instauração do projeto do Reino de Jesus Cristo na terra. Os poucos leigos que entendem que o espiritual não tem sentido sem a dimensão do social, não conseguem sentirem-se preenchidos espiritualmente com o atual modelo celebrativo e acabam desanimados, frustrados. É claro que o padre devido a sua tamanha ocupação, não pode sozinho saber o que se passa na sociedade local, conhecer os desmandos político-sociais, as artimanhas dos poderes públicos a serviço dos interesses dos que os exercem em nome do povo, mas não a serviço do povo etc. Assim, talvez seja uma saída razoável estimular, provocar, desafiar estes leigos para contar com a participação em todas as atividades e eventos paroquiais, desde as celebrações eucarísticas aos trabalhos pastorais. Retomar o esforço de voltar os momentos fortes das festas de padroeiro para evangelização ao invés de dar mais destaque a arrecadação monetária durante tais festas.

Particularmente, penso que uma segunda causa da perda do protagonismo laical nesta paróquia foi a falta do apoio moral por parte dos pastores para com os leigos que abraçaram a causa da desalienação e da cegueira paroquial e seu conseqüente atrelamento aos inescrupulosos poderes públicos. Esta falta de apoio é justificável, visto que com as constantes mudanças de padres, os sucessores, na sua maioria, não conheciam os motivos pelos quais alguns leigos se rebelaram contra a antiga aliança (paróquia e poder público) e também por terem constatado que alguns dos rebeldes utilizaram esta luta para obter proveito próprio, dificultando então ao pároco e/ou vigários paroquiais, separar dentre estes, joio e trigo.

Aos leigos desprovidos do senso crítico – que infelizmente são maioria – não soa bem ouvir de um outro leigo em par de igualdades de condições na estrutura eclesial, conclamar a comunidade paroquial a rever sua caminhada, romper com velhos costumes incoerentes ao cristianismo, aplainando os vales, pondo o machado na árvore improdutiva, preparando e abrindo caminhos para Justiça, a Verdade, o Bem Comum, enfim o Reino de Deus. Portanto se o padre, sobretudo o pároco, não endossar e realçar constantemente com bastante equilíbrio e maturidade as palavras questionadoras e as atitudes dos leigos que se puseram a caminho na tormentada estrada do profetismo, do anúncio e da denúncia, certamente estes leigos não conseguirão ser agentes de transformação social e logo serão engolidos pela indiferença dos irmãos paroquianos pouco catequizados e informados e serão vistos por estes como separatistas, briguentos, subversivos, vazios de espiritualidade... Assim os leigos conscientes e comprometidos não conseguirão, como pretendem, enquadrar-se naquilo que diz o documento de PUEBLA: “o leigo é um homem da igreja no coração do mundo e um homem do mundo no coração da igreja”.

Lembro aqui um fato vivido e provocado por mim, que chocou bastante esta comunidade paroquial. Embora tenha eu a convicção de que nada fiz contrariamente a minha missão e que era necessário que se fizesse tudo o que fiz, percebo que o profetismo laical foi abalado após uma palestra que proferi na Igreja Matriz, no dia 14 de agosto de 1999, data em que se comemorava a emancipação política da cidade e que coincide com os festejos do co-padroeiro São Roque. Naquela oportunidade, na presença de toda a comunidade, do prefeito municipal e do presidente da Câmara de Vereadores, questionei a passividade e a omissão dos católicos quanto às várias irregularidades, perseguições e inverdades cometidas e proclamadas pelos poderes executivo e legislativo municipais. Fui então interrompido e agredido pelo prefeito, presidente da Câmara de Vereadores e alguns católicos que os seguiram na tentativa de calar-me, tirando o microfone das minhas mãos, e de condenar-me naquele instante. Naquele momento difícil – menos para mim e mais para os padres que estavam no altar e para o restante da comunidade – a palestra foi finalizada sem ser concluída. O padre, meio atônito, zelando pela minha segurança, pediu-me para não continuar a reflexão. Em consideração a este pedido aceitei não continuar a reflexão, porém hoje estou ainda mais convicto de que deveríamos tê-lo enfrentado e mostrado que a igreja não pode servir aos interesses daqueles opulentos que exigiram e obtiveram da igreja naquele momento, mediante a intimidação covarde, a omissão da verdade que certamente os enfraqueceria. Os agressores indefensáveis e inimigos da verdade sentiram-se tão vitorioso que no dia seguinte foram com um número ampliado de seguidores (toda a bancada dos vereadores fiéis ao prefeito e mais os secretários municipais) para a residência do pároco a fim de exigir deste que nunca mais me deixasse proferir palestra na Igreja Matriz. Estes fatos, deixaram claro no inconsciente coletivo que o mal venceu e que tais questionamentos não competem aos cristãos e não competem principalmente, levantá-los dentro da igreja na presença da assembléia. As perseguições políticas contra minha família, nunca pararam até a presente data. Também até hoje, nunca mais me senti membro da comunidade paroquial. Sinto-me um freqüentador indesejável pela maioria das ovelhas do rebanho assíduo na igreja matriz da paróquia.

O fato de ter sido agredido pelos poderosos em nada me abalou, pelo contrário, me deu a certeza de que estava cumprindo com ardor e fidelidade a uma missão divina que me foi confiada naquele exato momento. Acho que senti o mesmo que Jesus sentiu quando estava na sinagoga e deram-lhe para ler um trecho do livro do profeta Isaías e ao terminar de fazer a leitura Ele disse aos presentes que naquele momento se cumpria aquela profecia que eles havia acabado de ouvir. Todas as citações bíblicas que utilizei para embasar os questionamentos e a postura da igreja e dos poderosos que ali se encontravam, também se repetiram naquele momento. Na verdade o que realmente me abalou foi a constatação de que uma boa parte dos paroquianos estavam preocupados com o prejuízo econômico que o fato poderia causar ao bom êxito da festa, pois as pessoas poderiam não mais fazer doações para o bingo realizado pelas comissões de festas de padroeiro, nem freqüentar a barraca de comidas e bebidas que angariava dinheiro para a festa. Para estes paroquianos, “bom êxito” numa festa de padroeiro, significa uma boa arrecadação financeira. A evangelização, portanto, vem num segundo plano.

A maior decepção, no entanto, foi quando levei pessoalmente ao bispo diocesano a referida palestra escrita e acompanhada do relato de tudo o que ocorrera. Na oportunidade eu participava, a convite do Sr. bispo, de um de seus programas na Rádio Sociedade de Feira de Santana abordando a vocação laical. Foi quando então lhe pedi, no ar, que lesse em casa com calma a referida palestra e o relato, analisasse e me respondesse corrigindo-me se houvesse cometido algum erro ou me confirmasse se agi corretamente. No dia seguinte estivemos juntos na Escola Diocesana para Leigos por cerca de duas horas e ele sequer tocou no assunto. Até hoje nunca recebi um único comentário seu a esse respeito.

Embora tenha falado bastante ou excessivamente da minha experiência, acho que ainda é necessário falar como este fato repercutiu nos outros leigos que atuavam como eu. Quando fui indicado para desenvolver um dos temas da Festa de São Roque no ano de 1999, alguns membros da comissão logo hostilizaram a proposta que mesmo assim foi acatada ou pela maioria ou pela autoridade do pároco que aprovou e defendeu a idéia. Depois daquela palestra, no entanto, com uma única exceção, nenhuma outra comissão subseqüente aceitou a hipótese de um leigo fazer reflexão de temas das festas de padroeiros em seus respectivos tríduos ou novenários. Meu nome foi tão hostilizado que outros leigos temeram sofrer a mesma hostilidade. Assim, cada nova comissão de festa foi pedindo ao pároco sucessor que trouxesse o padre fulano tal noite, um outro padre fulano na noite seguinte, aquele outro que o povo tinha saudade, um outro que se queria conhecer, argumenta-se que o povo quer novidades, que estas novidades enchem a igreja de fiéis, etc., etc. Isto no entanto, é a garantia que os padres que não são daqui, não conhecem a realidade nem as causas dos problemas e as corrupções dos opulentos locais, não incluirão na reflexão os problemas locais que só serão resolvidos se trazidos à luz perante o povo vitimado e desinformado sobre e pelos mesmos crimes sociais. Falta-lhes a coragem e o compromisso para realizar o que disse Jesus Cristo: “Não há nada de oculto que não venha a ser revelado. O que vos digo em segredo, gritai sobre os telhados...” Assim a paróquia imperceptivelmente foi ficando cada vez mais clericalizada e o protagonismo laical adormecido, abolido ou ainda, combatido. É bem verdade que ainda sou requisitado para trabalhos pastorais. Mas isso tem ocorrido quase que só para um público pequeno e seleto, que já tem uma caminhada mais consciente, como é o caso das turmas da Escola Paroquial de Leigos da qual sou um dos criadores. No entanto para a maioria dos freqüentadores de missas, rezas, dos mais carentes de formação catequético-social-política, etc, – que é a grande maioria dos paroquianos – eu fui exilado para um canto da minha própria paróquia e represento um perigo social, político, econômico e principalmente religioso pois a minha maneira de ver e de viver a religião católica pode afastar os “católicos” da igreja.

Vital Martinho Carneiro de Oliveira.

02/12/2002.



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