Pesquisar neste blog

terça-feira, 8 de abril de 2008

Causos ou casos do Ceará

Este causo ou caso, foi enviado por uma amiga que jura que foi verdade e "assucedeu" lá naquela terra que é a Fortaleza do Estado do Ceará.

CONTO DA BOA COZINHEIRA

Minha mãe, mulher prendada, que de tudo sabia fazer um pouco (bordava, costurava, fazia tricô, crochê, pintava em tela, tecido e porcelana, dançava e tocava piano), era uma pessoa, como ela mesmo dizia, de “mil e um instrumentos”, mas para cozinhar...

Ela contava, que quando solteira, não sabia nem onde se localizava a cozinha de sua casa. Foi criada cheia de mimos: a primeira filha, a primeira sobrinha, primeira neta... aí sempre achou quem fizesse tudo por ela, inclusive meu pai, que diga-se de passagem, sabia cozinhar muito bem e já tinha lutado bastante para lhe ensinar, o que nunca conseguira.

Certa vez a deixou “olhando” uma panela de feijão e foi trabalhar. Quando retornou, de longe já sentia o cheiro de queimado. Perguntando o que havia acontecido, ela simplesmente respondeu:

- Você me disse para eu olhar a panela com o feijão. Eu obedeci. Coloquei uma cadeira perto do fogão e assim o fiz. Não tenho culpa se a panela que você comprou não presta... deve estar furada... secou toda a água que você colocou e acabou queimando a comida. Com certeza meu pai desistiu do seu intento de professor de culinária da minha mãe.

Desse dia em diante, para felicidade minha e de meus irmãos, veio morar com meus pais, uma tia dela, nossa querida Dadá.

Passado muitos anos, minha mãe já viúva e sem mais a Dadá para lhe socorrer, apenas com três dos seus sete filhos em casa (os outros ou já tinham casado, ou moravam fora), querendo dar uma de “agora” boa dona de casa, resolveu fazer um “almoço” para a família.

Meu Deus! Talvez ninguém seja capaz de imaginar o que poderia sair com a misturada de ingredientes que ela fez. Só sei dizer, que naquele dia o final foi muito divertido.

Chegou o primeiro filho da escola e ela logo falou da novidade que tinha feito.

- Hoje, eu mesma preparei a comida, venha ver que delícia!

Como de costume, ele foi ao banheiro, lavou as mãos e pegou seu prato para se deliciar com a novidade, mas, para surpresa de minha mãe, quando ele levantou as tampas das panelas, de súbito, sua fome passou e disse para ela:

- Mãe, não tô com tanta fome assim pra um almoço... a senhora se importa se eu apenas tomar uma vitamina de bananas?

Minha mãe, que gostava de dar liberdade aos seus filhos, disse:

- Tudo bem, filho, à noite, quem sabe, você come um pouquinho.

Nesse instante, ainda quando meu irmão estava a preparar a sua refeição, cheguei também do colégio. E minha mãe repetiu a mesma coisa, no que de pronto obteve igual desculpa, com o pedido que meu irmão acrescentasse ao seu “almoço”, mais um pouquinho para mim.

Quando estávamos nos deliciando da nossa opção, chegou mais uma irmã, desta vez a mais nova, dona de um cachorrinho lindo, peludinho que era muito bem cuidado.

E aqui, para melhor entender essa história, abro um parêntese para falar do xodó de toda família, dado a sabedoria e rotinas do animal, pois, além de fazer todas as refeições, como um humano, desde o café da manhã, acompanhado de leite, pão e manteiga (pois se não tivesse manteiga, cheirava e não comia), gostava também de sobremesas, sorvetes e todas as maravilhas que fazem abrir nosso apetite. O danado era muito sabido!

Minha mãe dizia, que ele só não falava para não dar recados.

Mas vamos voltar à história, porque se der vazão as do Nick, nome do cãozinho, vamos parar em outro conto.

Pois então, como não poderia deixar de ser, minha irmã também nos acompanhou na mesma refeição.

Nesse dia foi uma verdadeira “bananada” o almoço de nossa casa.

A essa altura minha mãe já estava ficando aborrecida e disse:

- Pois então eu vou comer sozinha “meu almoço”.

E partiu para o fogão. Fez o seu prato, e também não conseguiu sequer, provar do tal “engruluado”.

Daí, só restava mesmo o coitado do Nick.

- Venha Nick, comer um pouco do almoço que fiz, que ninguém quis ao menos provar. Eu sei que você não vai fazer uma desfeita dessa comigo.

O cachorro, que antes desse acontecido era uma beleza de cãozinho, passou para outra classificação.

Pois bem, minha mãe colocou a comida no pratinho do Nick e este veio, cheirou, cheirou, cheirou e saiu sem ao menos provar um pouco.

Ah, meus amigos, minha mãe partiu pra cima desse coitado, xingando-o de mal agradecido, cachorro luxento, vira-lata metido....

E, no final, aquele famigerado almoço foi mesmo parar todo na lata do lixo.

Para nossa felicidade, graças a Deus, nunca mais ela inventou de cozinhar.


0 Comments:

Acessos