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quinta-feira, 24 de abril de 2008

Mais uma vez o Paraguai

Não é "neura", mas os últimos acontecimentos no Paraguai me encheram de alegria e esperança. Quem acompanha este blog, quem leu os textos publicados na seção "Selecionadas" certamente poderá imaginar que guardo no mínimo uma certa nostalgia de um tempo em que a igreja da América Latina tinha outra ação pastoral. Era mais voltada para a divindade que existe na humanidade. Hoje percebe-se uma certa inversão, temos uma humanidade que se anula para abraçar o divino inatingível. No meu entender, bastante diferente do que fez o homem Deus, Jesus Cristo, que sendo Deus, assumiu a forma humana para manifestar a vontade do Pai que era trazer vida em abundância, conforme se verifica no evangelho narrado por João no capítulo 10, versículo 10. Este e outros preceitos bíblicos iluminaram a caminhada da Igreja Latino Americana por algumas décadas, até que o paradoxal pontificado de João Paulo II, marcado por grandes avanços e massacres ideológicos, sobretudo contra esta mesma igreja latino americana ao condenar na prática a teologia da libertação mesmo tendo declarado oficialmente que essa teologia é necessária e urgente. Enquanto reconhece oficialmente também e da mesma forma perseguiu os teólogos que a praticaram, difundiram e teologizaram segundo seu princípio. O pontificado de João Paulo II renovou em mais de 50% o colégio dos bispos e nesta renovação nomeava apenas bispos contrários àquela teologia.
Mas o que o Paraguai tem a ver com tudo isso que digo acima. É que daquele país, cuja depreciação e preconceito lhe são reservados para desqualificá-lo, veio uma esperança de redenção daquele país que até o início do século XIX era o único país latino americano que não devia um centavo a nenhuma outra nação.
Tal situação invejável fez com que a Inglaterra temendo que o Paraguai se tornasse um paradigma americano elaborou uma trama para que Brasil, Argentina e o Uruguai declarassem guerra contra o país vizinho.
O resultado desta guerra ainda persegue a todos os envolvidos, menos a Iglaterra que lucrou imensuravelmente emprestando dinheiro para os três países invasores cobrirem as despesas da guera fraticida que deixou os países aliados endividados, e ainda destruiu o Paraguai em sua economia, desenvolvimento, além de reduzir em três quartos a sua população. Os últimos combatentes paraguaios naquela terrível e vergonhosa guerra eram garotos de 14 anos de idade.
Outro motivo de alegria para mim, é o fato de que mesmo em número diminuto, ainda existem bispos no Brasil atuando na contramão da moda "espiritualista pentecostal", pouco espiritualizada, imposta à igreja atualmente. Tal imposição vem do Vaticano e conta com todo o apoio e auxílio dos meios de comunicação, os mesmos que integram o PIG (partido da imprensa golpista).
Com grande alegria li no site da agência Adital um artigo (clique aqui para ler) do incansável D. Demétrio Valentim, no qual ele aborda com profundo conhecimento a situação do Paraguai e o significado da eleição de um ex-bispo católico, adepto da teologia da libertação que enfrentou a desaprovação do Vaticano para dar ao povo paraguaio e esperança de dias esperançosos depois de 61 anos de (des)governo do partido Colorado, representante e agente da direita conservadora e colonizadora paraguaia.
Pelo extraordinário fato histórico ocorrido no último domingo no Paraguai, só me resta proclamar:
Salve o povo paraguaio, nossos "hermanos"!
Salve Fernando Lugo, presidente eleito do Paraguai!
Salve Dom Demétrio Valentim, que continua a transmitir, a mim e a tantos outros, o mesmo vigor que vi demonstrado pessoalmente durante o V Fórum Social Mundial em Porto Alegre no ano de 2005!

2 Comments:

Ricardo Thadeu (Gago) said...

Parece que o Paraguai está sendo re-encaminhado, já a questão religiosa ainda deixa muito a desejar, já que mesmo após com o fim do pontificado citado em sua postagem (João Paulo II) a perseguição aos adeptos da TL continua praticamente a mesma(ou com menor intensidade que outrora?).

vitaloliveira@gmail.com said...

Bem Ricardo, como disse no meu post, o pontificado de João Paulo II foi um grande paradoxo, teve seus méritos a exemplo do diálogo religioso, uma abertura às culturas diferentes da européia, mas teve muitos tropeços a exemplo da perseguição e punição a 19 teólogos. É neste particular que entra o papa atual. No pontificado de João Paulo II o cardeal Josef Ratzinger, que hoje é o para Bento XVI, era o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e tudo quanto existe de mais retrógrado no pontificado anterior, foi exatamente a atuação deste órgão do Vaticano, que foi renomeado. Antes este órgão chamava-se Santa Inquisição. Para mim, o maior pecado de João Paulo II foi ter nomeado e mantido no cargo por todo o seu pontificado, o cardeal Ratzinger como Prefeito da dita congregação.
Resumindo, se o retrocesso no pontificado anterior foi patrocinado pelo cardeal que hoje é papa, como esperar coisa diferente. Para melhorar, tenha certeza que ainda precisa piorar um pouco mais, se é que isso ainda é possível. Espero que o sucessor de Bento XIV não seja um membro do OPUS DEI. Isso já é assunto para outra conversa.

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