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sábado, 19 de abril de 2008

Formação sócioeducacional

O texto abaixo é um dos conteúdos produzidos para estudo durante encontros de formação catequética, social, política e humana que a paróquia realizara outrora. É bastante simplório e busca atingir pessoas de todas as classes sociais que se juntavam para tanto. Por isso, utilizava de uma pedagogia que fosse acessível aos menos esclarecidos, entretanto o mais fiéis e interessados.
ENCONTRO DE FORMAÇÃO HUMANA-SÓCIO-POLÍTICA


A cultura ocidental (da qual fazemos parte) adotou a política de referir-se às etapas da trajetória histórica da humanidade colocando um parâmetro, ou seja, um marco zero. Este marco zero, é o nascimento de Jesus Cristo. Assim, a cultura ocidental, também chamada de cultura dos cristãos, marca a contagem do tempo com os termos: “tantos anos antes de Cristo” (a.C.) ou “tantos anos depois de Cristo” (d.C.).
A escolha deste marco, nada mais é do que uma política voltada a demonstrar a importância da pessoa de Jesus Cristo na trajetória histórica desta cultura (que, aliás, nem sempre está plenamente coerente com os ensinamentos do Mestre).
O grande filósofo grego, Sócrates, que viveu há alguns séculos a.C., afirmou que o homem (a espécie humana) é um ser político e social, pois o homem não sobreviveria isoladamente. Cada homem e cada mulher necessitam, ao longo de sua vida, da ação de muitos outros homens e mulheres para sobreviver. Daí porque a afirmação de que “o homem é um ser social”. É também um ser político pois todas as pessoas querem viver de maneira semelhante às outras. Seu modo de vestir, de comer, sua casa, seus móveis, utensílios domésticos, sua escola, sua religião, suas festas, seu esforço em seguir os estilos do seu tempo, a moda, enfim sua cultura constitui o caráter político do homem que busca igualar-se aos outros em direitos e deveres para sentir-se incluído na sociedade do seu tempo. Se isto era uma verdade nos tempos socráticos, hoje então, esta afirmação está cada vez mais reforçada devido ao desenvolvimento científico e tecnológico da humanidade.
Durante toda a Idade Média, período da história da humanidade que vai do ano 476 a 1453, foi adotada pelos governos, uma política ideológica chamada teocentrismo (Crença ou doutrina que vê em Deus o centro do universo, de todas as coisas). Essa política justificava tudo o que acontecia na vida das pessoas, como sendo a vontade de Deus. Os escravos nasciam ou se tornavam escravos, porque esta era a vontade de Deus, os pobres nasciam e morriam pobres, porque esta era a vontade de Deus, os latifundiários (senhores feudais) enriqueciam cada vez mais explorando o escravo, o servo lavrador, o artesão, porque esta era a vontade de Deus, os reis e a Igreja faziam guerras para impor a fé cristã aos pagãos que, se resistissem a esta fé, morreriam assassinados pelos exércitos das chamadas guerras santas, das Cruzadas, da “Santa” Inquisição, etc., porque tudo isso era a vontade de Deus. O homem nada podia fazer para mudar a situação de miséria e de tantas outras injustiças que ocorriam naquela época, porque tudo isso era a vontade de Deus.
Finalizada a Idade Média, inicia-se outro período da história, chamado Idade Moderna. É neste período que surge um movimento chamado “Iluminismo” que tentava direcionar um foco de luz no chamado “período das trevas”, ou seja, aquele período de quase mil anos, que compreende a “Idade Média” no qual o teocentrismo explicava todos as ações, pensamentos, palavras e omissões da humanidade como se tudo fosse predestinado por Deus. O Iluminismo, traz uma outra política, a política do antropocentrismo (doutrina que considera o homem como o centro ou a medida do Universo, sendo-lhe por isso destinadas todas as coisas; Concebe o Universo em termos de experiências ou valores humanos; Doutrina finalística que admitem que todas as coisas foram criadas por Deus para propiciar a vida humana). O antropocentrismo é o contrário do teocentrismo. O homem é senhor, é responsável pelos acontecimentos da história, faz a sua história, e tem plena possibilidade de transformar a realidade em uma sociedade justa, solidária, igualitária, fraterna.
Durante um grande período da nossa história recente, nossa paróquia, adotou a política da boa convivência, ou até mesmo a política da conveniência, ou ainda da conivência com os acontecimentos louváveis e também com os condenáveis em nosso município. Adotou-se a política do comodismo, do silêncio, da indiferença.
Até aqui, utilizou-se, explicitamente, nove vezes a palavra política em diversos contextos histórico-culturais. Se esse texto fosse submetido a uma criteriosa correção de redação, certamente seria penalisado por repetir tantas vezes uma mesma palavra. No entanto, é preciso deixar claro que até aqui foi tudo proposital. Pretende-se dar um amplo emprego a esta palavra para enfatizar sua importância. Após defini-la, pode-se utilizar sinônimos para ela. Vamos então ver o que é política, como e quando ela nasceu?
O Dicionário Aurélio, apresenta 10 significados para esta palavra. Vejamos:
1. Ciência dos fenômenos referentes ao Estado; ciência política.
2. Sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos.
3. Arte de bem governar os povos.
4. Conjunto de objetivos que enformam (dão forma[1]) determinado programa de ação governamental e condicionam a sua execução.
5. Princípio doutrinário que caracteriza a estrutura constitucional do Estado.
6. Posição ideológica a respeito dos fins do Estado.
7. Atividade exercida na disputa dos cargos de governo ou no proselitismo partidário.
8. Habilidade no trato das relações humanas, com vista à obtenção dos resultados desejados.
9. (Por extensão) Civilidade, cortesia.
10. (Figurativo) Astúcia, ardil, artifício, esperteza.
Consta ainda o verbo politicar.
Além de apresentar vários tipos de política a exemplo de:
Política comercial. (Economia). Conjunto de ações do governo relativas ao comércio, e em especial ao comércio exterior do país.
Política de rendas. (Economia). Conjunto de ações do governo no sentido de influir no processo de fixação de salários e preços, em geral com o propósito de prevenir ou combater a inflação.
Política econômica. (Economia). Conjunto de ações do governo destinadas a influir nas decisões dos agentes econômicos, visando à consecução de determinados objetivos.
Política fiscal. (Economia). Conjunto de ações do governo referentes a seu orçamento, e que inclui a fixação de impostos e a do nível dos gastos públicos.
Política monetária. (Economia). Conjunto de ações do governo sobre o sistema monetário, que inclui o controle da oferta de moeda e a regulamentação da atividade dos bancos.
Como vimos, toda e qualquer ação ou conjunto de ações programadas com um objetivo definido e pré-estabelecido é política.
Assim sendo, quando nasceu a política e quem é o autor da política?
Retomando a afirmação socrática de que o homem é um ser político e seguindo a doutrina que diz que o homem é criatura de Deus, feito segundo a imagem e a semelhança de Deus, podemos concluir que a política nasceu juntamente como o homem, para o homem e pelo homem; e seu autor intelectual é Deus.
Ao colocar o homem e a mulher no jardim do Édem e dar-lhes a liberdade de decidir comer ou não comer do fruto da árvore proibida, Deus adotou a política do livre arbítrio. Os habitantes do paraíso puderam escolher entre o bem e o mal.
Para a Igreja, o conceito de política é muito bem entendido na expressão do Papa Paulo VI que disse: “A Política é a mais perfeita forma de caridade”.
No entanto, vimos que existem muitas formas de políticas. Diz um ditado espanhol que tudo é política, mesmo que a política não seja tudo.
Desta forma, todas as nossas atitudes assumem uma posição política.
Se aceitamos as coisas do jeito que elas são, estamos fazendo a política da acomodação, da aprovação, do está tudo certo; se reclamamos ou cobramos alguma coisa, estamos fazendo a política do questionamento, da reivindicação; se ficamos quietos e calados diante dos baixos salários, do atraso do pagamento destes mesmos salários, se não aceitamos que a Igreja ou qualquer outro segmento da sociedade manifeste sua opinião ou apresente sua reivindicação perante as diversas situações do quotidiano, estamos fazendo a política da apatia, da indiferença, do não é comigo, do deixa pra lá, do “e eu com isso?”, do “cada um por si e Deus por todos”.
Já que é impossível ao ser social e político que é o homem, viver isolado ou não fazer política, cabe então a cada um, a cada cristão em especial, decidir que tipo de política irá fazer.
Se política é o trato das ações planejadas para alcançar um objetivo, podemos verificar que o apóstolo Paulo é enfático quando diz aos romanos: “Não vos amoldem às estruturas deste mundo, mas transformem-se pela renovação da mente, a fim de distinguir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que é agradável a ele, o que é perfeito (Rm 12,2)”. Estas palavras do apóstolo Paulo, nos dão uma luz sobre que tipo de política, nós cristãos, devemos fazer. Aliás, o próprio Jesus já tinha feito esta observação quando nos ensinou a oração que os cristãos rezam (ou deveriam rezar) todos os dias. Na oração do Pai Nosso, rezamos: “seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”. Qual é então a vontade de Deus? O Pai Nosso responde mais uma vez: “Santificado seja o nome de Deus, venha a nós o Reino de Deus (Reino de justiça, de paz, de fraternidade, de amor) (...) O pão nosso de cada dia nos dai hoje...”
Embora seja muito comum ver padres, bispos, freiras, animadores de comunidade, coordenadores de pastorais, etc. substituírem a política pela politicagem, ou pela política da omissão, da indiferença, a Igreja possui vários documentos que falam, exortam e orientam os cristãos na prática da política. Em quase sua totalidade, os documentos de orientação pastoral da CNBB abordam a questão da militância política dos cristãos. Nominalmente podemos citar: Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil (este documento é atualizado a cada cinco anos), Por uma nova ordem constitucional,Exigências Éticas da Orem Democrática, Ética Pessoa e Sociedade. O Papa João Paulo II, escreveu de próprio punho a Encíclica Christifideles Laici (Fidelidade dos fieis leigos) que entre outras orientações, contém a seguinte: “A política é destinada a promover orgânica e institucionalmente o bem comum (...) todos e cada um têm o direito e dever de participar da política, embora em diversidade e complementaridade de formas, níveis, funções e responsabilidades”. Além dos documentos oficiais da Igreja, diversos teólogos escreveram e escrevem livros e mais livros clareando os documentos oficiais da Igreja sobre este assunto. Não poderia deixar de citar um autor teólogo bastante conhecido de todos nós, e pelo menos um de seus livros com linguagem de muito fácil compreensão, recomendado para toda e qualquer pessoa que queira iniciar uma leitura de formação humana, social e cristã. Este autor chama-se JOSÉ LISBOA MOREIRA DE OLIVEIRA, e o livro é VOCAÇÃO E CARISMA.

ALGUNS PASSOS INDISPENSÁVEIS PARA O EXERCÍCIO DA DIMENSÃO POLÍTICA DA VOCAÇÃO CRISTÃ

1. Conscientização Política
2. Conhecimento dos candidatos
3. Escolha dos candidatos
4. Preparação dos candidatos
5. Acompanhar e fiscalizar os políticos
6. Testemunho




11/06/2003.
[1] Grifo meu, não do dicionário

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