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quinta-feira, 10 de abril de 2008

Comparando

Postei ontem uma reportagem do Repórter Brasil (programa jornalístico da TV BRASIL), indicando ser aquele tipo de jornalismo que considero sério e necessário para que possamos afirmar sem falsidade que somos uma nação democrática.
Há dois modelos de jornalismo vigentes hoje.
Nos EUA, cada veículo de comunicação tem sua posição política, apóia e trabalha com objetivos de eleger os seus partidários, omitem, mentem e deturpam qualquer notícia que prejudique aqueles a quem apóiam.
No Brasil, o pseudo jornalismo se diz independente, sem partidos, imparcial. Entretanto, a prática não condiz com o discurso. Atua da mesma forma como os de lá, seus mestres, porém com maior falsidade porque se declaram independentes e seu único compromisso é com a informação.
A teoria da imparcialidade, há muito, já caiu por terra. O conceito de Emile Durkaen sobre a imparcialidade do objeto estudado, não vale há muito tempo, pois nada, nem ninguém é imparcial. O que não quer dizer que mesmo tomando partido, alguém deixa de ser ético ou desautorizado moral ou juridicamente para emitir seu julgamento. O juiz, por exemplo não pode ser imparcial, ele tem que ter partido e seu partido não pode ser outro senão a "justiça" e no seu entendimento do é que justo, legal e moral ele declara como aplica sua justa posição partidária sobre fato ou ato que está julgando.

Voltando a falar da reportagem postada ontem, posto abaixo, uma análise de Eduardo Guimarães na qual ele detecta fatos flagrantes do comportamento ideológico, portanto, falso, do antijornalismo praticado pela Folha de São Paulo e repetido à exaustão pelos outros gigantescos (em tamanho e nanicos em ética) meios de comunicação no Brasil.

Folha exige de outros
o que não pratica
A última notícia do caderno Brasil da Folha de São Paulo de hoje permite uma discussão instigante sobre o conceito de liberdade de imprensa dos grandes meios de comunicação privados e sobre que contribuição eles dão para que tal conceito seja válido para todos, inclusive para eles mesmos.

Primeiro, a nota da Folha:

"MÍDIA

Petista critica cobertura da Folha sobre o caso do dossiê
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O deputado Fernando Ferro (PT-PE) criticou na tribuna da Câmara a cobertura jornalística da Folha sobre o dossiê com gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Segundo ele, há confusão de 'liberdade de imprensa com liberdade de empresa'.
O pretexto para a crítica foi uma reportagem da Folha relatando acusação de um ex-funcionário da TV Brasil de que foi demitido por pressão do governo. 'Não se tratou de perseguição política, mas inapetência para o trabalho', disse ele, emendando: 'É curioso que a mesma Folha traz a notícia de que o ombudsman, o jornalista Mário Magalhães, foi demitido por não concordar com o procedimento que a Folha exige, para
que ele não seja muito crítico com o que o jornal escreve.'
Magalhães não foi demitido. Em coluna na Folha, o jornalista afirmou que o contrato não foi renovado por discordância em relação ao fim da publicação na internet da crítica diária do ombudsman à edição. Ele escreveu que teve "liberdade para escrever o que quis'."
Para você que está chegando agora ao planeta Terra e não tomou conhecimento da polêmica ampla contida nessa nota, rememoro alguns fatos.
Fato 1 - No último dia 3 de abril, foi publicada a última "crítica interna" do agora ex-ombudsman da Folha de São Paulo Mário Magalhães. Segundo informações do próprio jornalista, ele não foi demitido, deixou o cargo de ombudsman, mas continuará trabalhando na sucursal do Rio de Janeiro do jornal. Magalhães informa que a condição da Folha para que ele continuasse no cargo era a de parar de publicar sua crítica diária na internet. Essa exigência foi feita pelo jornal no dia seguinte à publicação, no site do ombudsman, de coluna em que teceu fortes críticas à cobertura da Folha na crise do suposto "dossiê", que teria sido feito na Casa Civil da Presidência da República, sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Fato 2 - O ex-editor do jornal Repórter Brasil, da TV Brasil, controlada pelo governo federal, Luiz Lobo, foi demitido. Segundo a emissora, ele foi demitido por se recusar a assinar contrato de trabalho e por chegar às 16 horas, quando seu cargo pedia que chegasse antes. Lobo argumenta que foi demitido por não se submeter a censura prévia de seus chefes diretos, que o estariam pressionando sobre seus textos, por exemplo querendo impedir que usasse o termo "dossiê" para se referir aos dados sigilosos da Casa Civil que foram "vazados" para a revista Veja e para a Folha de São Paulo.
O interessante na nota da Folha é que ela não contém nenhuma mentira, mas mente descaradamente. De fato, Magalhães não foi demitido, mas, para continuar ombudsman, teria que parar de divulgar críticas ao jornalismo da Folha na internet, ficando apenas com a coluna na edição impressa do jornal no domingo, na qual jamais conseguiria expor ao público nem sequer uma fração do que expunha. E isso acontece justamente no momento em que o jornal vem travando uma "guerra santa" no caso do que afirma ser um "dossiê" criminoso preparado pelo governo, um momento no qual Magalhães tinha acabado de dar tremenda munição para esse governo ao qualificar a cobertura do jornal, nesse caso, de "unilateral" e "desprovida de fundamentos".
O caso do jornalista da TV Brasil que supostamente (no dizer do demitido) estaria sendo coagido a escrever suas matérias de acordo com orientação política da emissora, pois estaria sendo impedido de chamar os dados sigilosos furtados da Casa Civil de "dossiê", produz uma situação meio esquizofrênica.
Onde é que está escrita a lei que manda chamar os dados sigilosos de "dossiê"? Por que critério pode-se chamar dados que, até prova em contrário, foram FURTADOS da sede do governo brasileiro como sendo compilação de dados desse governo da exata forma como foram divulgados pela imprensa, na forma de um "dossiê"? Não existe, nessa visão, uma interpretação particular da imprensa de que o governo mandou reunir aqueles dados da forma como a revista Veja e a Folha divulgaram? Aliás, onde é que estão as provas de que o governo mandou reunir os dados daquela forma? Ah, não foram conseguidas "ainda", não é? Bem, então não se pode chamar, "ainda", o produto das reportagens da Veja e da Folha de "dossiê".
Mas o mais interessante em tudo isso, é o seguinte: será que há na Folha, que "denunciou" que o jornalista da TV Brasil foi coagido a chamar o "dossiê" de "banco de dados" - ou coisa que o valha -, a ordem aos seus repórteres, colunistas e articulistas de chamarem os dados furtados da Casa Civil de "dossiê"? Alguém consegue localizar na Folha outra referência do jornal aos documentos furtados que não seja a um ainda não caracterizado "dossiê"?
A Folha argumentará que é uma empresa privada e que, por isso, pode escrever o que quiser, pode chamar os dados furtados da Casa Civil como quiser, mas que a TV Brasil é pública, sustentada com dinheiro público, e, por isso, não pode obrigar seus jornalistas a seguirem a visão do comando do veículo de comunicação. Ou seja: a Folha, por ser privada, pode impor ao seu público a sua visão dos fatos, independentemente de estar comprovada ou não essa visão, mas a TV pública tem que... falar a verdade? E o pior, é que "a verdade" é a da Folha, mesmo não estando "ainda" sustentada por provas.
Pelo que entendo de tudo isso, se realmente o jornalista Luiz Lobo foi pressionado a não usar o termo "dossiê" - e não há prova de que isso ocorreu, há apenas a versão do demitido contra quem o demitiu - e, sim, "banco de dados", ou coisa que o valha, tal pressão foi por um jornalismo apartidário, restrito aos fatos. Chamar de "dossiê" o que não se tem prova de que seja isso e não apenas dados pinçados dos arquivos do Palácio do Planalto e retirados de lá criminosamente é que é injunção política. O jornalista que faz isso está tomando partido de uma versão dos fatos que carece de comprovação probatória.
Não se pode dizer, no entanto, que a Folha não saiba o que é um jornalismo isento e atido aos fatos e não a opiniões sectárias. Seu ombudsman a vinha pressionando para que retomasse esse caminho. Ela prefere dizer que Lobo foi demitido porque não seguiu a orientação da TV pública, mas o ombudsman não foi demitido, apenas foi colocado diante da escolha de mutilar seu trabalho em sua quase totalidade.
O que a Folha não explica, é o seguinte: apesar de Magalhães ter dito, em sua coluna de despedida na Folha, que teve "liberdade para escrever o que quis", ele mesmo está enganado. Se tivesse liberdade, o jornal não extinguiria sua crítica diária na internet por estar insatisfeito com o que escrevia, empurrando-o para a demissão. Magalhães teve liberdade até o momento que quis exercê-la. Daí perdeu a liberdade. E o cargo.

Fonte: http://edu.guim.blog.uol.com.br/

Postado na fonte citada em 09/04/2008

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