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sábado, 24 de outubro de 2009

Vejam o que fizeram

Crônica

Por Eduardo Guimarães

Vejam o que fizeram
Este texto, dirijo àqueles que, à diferença de pessoas como eu, semearam o que agora toda esta sociedade colhe, mas que, hipócritas, tentam fazer crer que o que acontece hoje da Rocinha a Heliópolis, da Barra da Tijuca aos Jardins, começou agora.

Eu vos acuso de não terem sensibilidade social, de quererem se locupletar à custa da miséria de legiões de brasileiros que mal e porcamente sobrevivem nos guetos onde vós os segregastes, à custa dos que não têm escolas para que seus filhos tenham uma chance na vida, porque, quando governantes fazem boas escolas para o povo, dizeis que são “caras”.

Eu vos acuso de exigirem dos governantes que, em vez de prisões que recuperem essa meninada perdida, mandem os infratores, ainda imberbes, para masmorras onde se tornarão profissionais do crime, feras enlouquecidas, e vos acuso de só prenderem os pobres, sobretudo os pobres e os pretos, e, mais ainda, os pobres, pretos e nordestinos.

Eu vos acuso de sustentarem o tráfico de drogas deixando, por omissão, que vossos filhos e filhas, mimados e sem valores, passem pelas bordas das favelas e comprem o veneno que os levará até a agredir trabalhadoras pobres, a queimarem mendigos vivos, a desembestarem pelas ruas com as máquinas infernais que lhes foram doadas por seus papais e mamães tão amorosos.

Eu vos acuso de combaterem com unhas e dentes cada mínima tentativa de direcionar uma fração irrisória de vossas fortunas para o sustento (físico e espiritual) dos miseráveis, e de fazerem isso em um dos dez países de maior concentração de renda do mundo.

Eu vos acuso de pregarem o ódio racial chamando os nordestinos de “baianos” em São Paulo e de “paraíbas” no Rio, mesmo esse indivíduo não sendo da Bahia ou da Paraíba, contanto que tenha traços de negro mais acentuados. Eu vos acuso, pois, de racismo.

E eu vos acuso de negarem o racismo ao escreverem livros dizendo que vós não sois racistas, pois, como sabem, são raros os negros e mestiços que admitem em vossos palácios e festas.

E vos acuso, por fim, de quererem calar os que vos acusam ao monopolizarem a comunicação de massas, e de terem conseguido fazê-lo completamente por toda a história até que surgisse a internet e não pudessem mais impor censura total.

Por todas essas acusações é que vos digo: vejam só o que fizeram com o Rio, com São Paulo, com Porto Alegre, com Recife, com o país todo ao negarem aos mais pobres a mais tênue esperança de vencer na vida apesar de condição social, cor da pele e região do país. Agora, colheis o que plantastes. Não reclamai, portanto.

Fonte: Cidadania.com

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