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segunda-feira, 5 de maio de 2008

Fraude em Santa Cruz

Por Eduardo Guimarães, Blog Cidadania. com

Neste domingo à tarde, depois do almoço, fui ao meu escritório para telefonar aos meus clientes na Bolívia em busca de notícias sobre o que está acontecendo por lá.
Tenho clientes em Santa Cruz de la Sierra, em La Paz e em Cochabamba, mas telefonei só para os de Santa Cruz, por razões óbvias. Todos eles fizeram questão de reafirmar a "tranqüilidade" do processo eleitoral em curso, com exceção de um. Sobre ele, falarei mais adiante.
Como vocês já devem saber, não é verdade o que me foi dito. Está sendo amplamente divulgado que estão ocorrendo choques entre os autonomistas e os legalistas de Santa Cruz.
Meus clientes cambas são ricos, pertencem à elite local, àquela que quer se separar do resto da Bolívia, ainda que o discurso camba seja o de que não é isso o que querem.
O único de meus clientes bolivianos que não tentou me enganar foi o engenheiro Juan Carlos, um descendente de alemães que nasceu na Bolívia e que, por incrível que pareça, vê no governo de Evo Morales a possibilidade de redenção de um povo quase que totalmente indígena subjugado desde sempre pelos brancos cruzenhos.
O engenheiro Juan Carlos foi o único que me aconselhou a postergar a viagem de negócios que, em princípio, farei à Bolívia do dia 11 ao dia 23 deste mês. Segundo ele, a tendência é de os choques entre cambas e colhas aumentarem nos próximos dias.
Não é interesse dos importadores bolivianos com quem falei reconhecerem que estão pondo fogo no país. Por duas razões. A primeira, é porque sou fornecedor deles e, assim, não lhes interessa me dizerem que há qualquer instabilidade por lá, pois poderia comprometer nossos negócios. E a segunda, é que os cambas separatistas querem vender ao mundo uma suposta unanimidade em torno da sedição que os opositores de Morales estão promovendo.
Nas conversas que tive na tarde de hoje, ouvi "informações" ridículas, como a de que "96% dos cruzenhos optarão pela autonomia".
Juan Carlos, que não tem razão nenhuma para mentir, disse que o estado de Santa Cruz está dividido. A capital, que leva o nome do estado, é mais tendente à separação, mas o interior seria majoritariamente contrário ao processo insurrecional.
Mais: meu cliente que apóia Morales diz que as fraudes são escandalosas. As autoridades cruzenhas, segundo ele, prepararam uma gigantesca farsa, com urnas que chegam às seções eleitorais recheadas de votos já preenchidos com o sim.
Foi-me citado, inclusive, notícia do jornal de linha oposicionista "El Nuevo Día" que achei por bem confirmar e descobri ser verdadeira: os únicos quatro "observadores internacionais" do pleito são apoiadores ferrenhos dos separatistas.
Vejam só as declarações que deram ao jornal supra mencionado:

Thor hal­vors­sen

" 'Sou presidente da Human Rights Foundation' e considero que o que se vai viver em Santa Cruz é um momento de júbilo que fortalecerá a democracia. Estamos acompanhando a Bolívia há anos e por isso decidimos vir como observadores".

Ca­ye­ta­no Llobet

"Estou absolutamente convencido de que algum incidente pode haver, mas não haverá o bloqueio violento que buscava o governo, porque está convencido de que este é um processo irreversível".

Cora jackson

"Para mim é uma honra ser parte deste feito histórico que se realizará. Parece-me muito boa a organização [do referendo] e vi que as pessoas têm predisposição para votar. Nos Estados Unidos estou envolvida com o partido democrata".

Ar­man­do va­lla­da­res

"Sou escritor cubano e membro do Human Rights Foundation. Fui preso político durante 22 anos em Cuba. Creio que o ato de votar é um dos direitos que tem o cidadão e estou aqui para ver se essa votação será realizada de maneira limpa".

SuelÍ López

"Até agora vi um ambiente tranqüilo. Estou surpresa por ver que a maioria do comércio de bebidas está fechada. Isso é um bom sinal de que o referendo ocorrerá normalmente".

Nenhuma organização de relevo enviou observadores. A OEA, que deveria ser a principal observadora internacional, não reconhece o tal "referendo" separatista. Mas, pior do que ter "observadores" tendenciosos como os que você leu acima, é que sejam quatro para um estado com mais de dois milhões de habitantes. Grande observação a do plebiscito ilegal da elite cruzenha.

Sabendo dos choques entre separatistas e legalistas que estão havendo em Santa Cruz, é bem provável que eu postergue minha viagem. Eu gostaria muito de estar no centro dos acontecimentos, mas certamente não há clima para negócios por lá.

O que me enoja, no entanto, é que um processo criminoso está sendo perpetrado na Bolívia por obra de uma elite diminuta, comandada pela ínfima minoria branca que conseguiu amealhar uma certa massa de manobra entre os índios cruzenhos, e a mídia brasileira se omite de condenar esse absurdo e de denunciar as fraudes que Juan Carlos me relatou.

A mídia brasileira comprova, a cada dia, sua natureza golpista e antidemocrática. Folhas, Vejas, Estadões, Globos são a grande vergonha deste país. Eu tenho nojo da imprensa brasileira.

Da Agência Boliviana de Informações
"Presidente garante que consulta fracassou e dividiu o povo de Santa Cruz
La Paz, 4 de maio - Em uma mensagem à Nação, o presidente boliviano, Evo Morales Ayma, garantiu, na noite de domingo, que a ilegal consulta promovida pelo prefeito [de Santa Cruz] Rubén Costa e pelo presidente do Comitê Cívico, Branco Marinkovic, fracassou e dividiu Santa Cruz.
'O estatuto autonômico fracassou retumbantemente. Essa consulta ilegal e anticonstitucional não teve o êxito que esperavam algumas famílias ou grupos de poder do estado de Santa Cruz', garantiu o primeiro mandatário nas instalações do Salão dos Espelhos do Palácio Quemado.
Os primeiros resultados da consulta cruzenha divulgados por meios de comunicação parecem respaldar as afirmações do chefe de estado, que dão conta de que quatro de cada dez cruzenhos não votaram na consulta e tomaram essa atitude como um repúdio a um estatuto que não foi consensuado com os setores populares.
Segundo as previsões da Corte Departamental Eleitoral de Santa Cruz, 935.527 cruzenhos estavam habilitados a votar na consulta sobre o estatuto autonômico, o que quer dizer que 374.210 pessoas não foram depositar seus votos e somaram seu repúdio a um documento que o governo declarou ilegal.
[O presidente Evo] Morales Ayma, nesse contexto, garantiu que a principal causa do fracasso se deve à violência e ao enfrentamento entre as famílias que vivem no estado de Santa Cruz.
A esse panorama somou-se a fraude que foi evidenciada no bairro 'Plan Tres Mil', da capital cruzenha, quando os habitantes do bairro abriram dezenas de urnas eleitorais e descobriram em seu interior cédulas marcada com a opção 'Sim', num bairro que repudiou a consulta por considerá-la ilegal.
Além disso, o governante lamentou a presença de jovens de outros estados em Santa Cruz, os quais se somaram à denominada União Juvenil Cruzenhista para fortalecer a violência e a agressão.
Nesse panorama, Morales refletiu que os promotores da consulta ilegal deveriam estar muito preocupados, porque os resultados mostrados por vários meios de comunicação, em que pesem as irregularidas encontradas, indicam uma abstenção de 39%, e a rejeição, os votos pelo 'Não', nulos e brancos sentenciaram que mais de 505 dos cruzenhos repudiou o projeto do estatuto autonômico.
Inclusive, o chefe de estado garantiu que se realmente foram mostrados os resultados reais, com transparência, ficou evidente que a abastenção, o não e os votos nulos e brancos superaram os 50%.
'Por isso, digo que não se pode enganar o povo boliviano dizendo que há um ganhador com mais de 80% por cento', disse o presidente Morales aos bolivianos em sua mensagem na televisão.
'Se compararmos os dados da abstenção sobre os dos anos passados, praticamente triplicou a abstenão do povo, porque no estão de acordo com a ilegalidade, a inconstitucionalidade e ainda menos o separatismo', disse o chefe de estado."

Fonte:http://edu.guim.blog.uol.com.br/

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