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sábado, 27 de junho de 2009

Os Amigos Sumiram

Senadores, agora, querem omitir relação com Agaciel Maia, mas ex-diretor ameaça contar tudo em delação premiada

roberto castro/ag. istoé; felipe barra
AJUDINHA Em Paris, Virgílio contou com Agaciel (acima) para desbloquear cartão de crédito
roberto castro/ag. istoé; felipe barra

Na segunda-feira 22, o senador Arthur Virgílio (PMDB-AM) preparava-se para iniciar um discurso na tribuna do Senado, em que acusaria de chantagista o exdiretor- geral Agaciel da Silva Maia. Agitado como sempre, convocou o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), para ouvi-lo. Ele soubera, dias antes, que Agaciel tinha em seu poder munição suficiente para bombardear senadores maculados pelos atos secretos. Numa tentativa de se antecipar a futuras revelações que poderiam constrangê-lo, Virgílio levou ao plenário duas histórias nas quais houve participação direta de Agaciel em seu benefício. Só que acabou dando um tiro ainda mais certeiro no próprio pé. Conforme apurou ISTOÉ com altos funcionários da Casa, Virgílio abusou do gestual, mas escamoteou a verdade.

Da tribuna, o senador contou que, durante uma viagem a Paris, em 2003, com a família, ao tentar fazer uma compra identificou um problema com seu cartão de crédito. Ele foi rejeitado. De acordo com sua versão, um amigo conterrâneo e funcionário do Senado foi acionado para resolver o problema. Mas não foi bem o que aconteceu. Quem Virgílio procurou pedindo socorro foi o próprio Agaciel. Para isso, fez o contato por intermédio do amigo Carlos Homero Vieira Nina, hoje lotado em seu gabinete.

Homero telefonou para Agaciel numa manhã de domingo e pediu encarecidamente que o ajudasse. Foi taxativo: era um pedido urgente de Arthur Virgílio. Na conversa, Agaciel ponderou que seria impossível, pois era um domingo. Mas, diante da insistência do assessor de Virgílio, o ex-diretor telefonou para o gerente do banco e pediu que fizesse uma transferência de sua própria conta poupança no valor de US$ 10 mil para a conta do senador. Assim o cartão de crédito foi liberado. O fato foi confirmado à ISTOÉ por pessoas próximas ao exdiretor- geral. Com amigos, Agaciel comentou que esse dinheiro até hoje não lhe foi ressarcido.

Principal personagem da operação que salvou a passagem de Virgílio por Paris, Homero é um dileto amigo do senador. Prova disso é que empregou no gabinete parlamentar de Virgílio seus filhos Guarani Alves Nina, Tomas Alves Nina e Carlos Alberto Nina Neto. O último mora no Exterior, mas não deixa de receber salário. Há quem diga que a súbita fúria de Virgílio contra Agaciel estaria relacionada a outro fato que ele preferiu não contar em público: a exoneração do Instituto Legislativo Brasileiro (ILB) de Vânia Maione, esposa de Homero. Ela foi substituída por Carlos Roberto Stuckert, a mando de Agaciel.

Outro episódio que o senador tentou justificar como uma possível chantagem de Agaciel se refere ao tratamento de saúde de sua mãe, Isabel Vitória de Matos Pereira, falecida em 2006. Como esposa de ex-senador, ela teria direito pelo regimento do Senado a ressarcimento de até R$ 30 mil por ano. Mas, segundo levantamento feito por servidores do Senado, ao qual ISTOÉ teve acesso, foram gastos R$ 723 mil com as despesas médicas. O pagamento foi autorizado a contragosto pelo então presidente da Casa, senador Antônio Carlos Magalhães, também graças a um pedido de Agaciel. Por várias ocasiões, ACM chegou a questionar com diretores do Senado o gasto muito acima do permitido pelo regimento interno.

Segundo um ex-assessor da presidência e amigo de Agaciel, o "DG", como ele era chamado, tinha o costume de ajudar grande parte dos senadores e dos servidores da Casa. Não por acaso, Agaciel, que dirigiu a Casa desde o primeiro governo de Fernando Henrique até este ano, conseguiu amealhar documentos que comprometeriam a imagem de senadores e servidores do alto escalão. Mas, para a alegria de Virgílio e outros parlamentares, Agaciel saiu temporariamente de cena. Na manhã da quinta-feira 25, numa reunião com o presidente José Sarney (PMDB-AP) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o ex-todo-poderoso do Senado foi convencido a pedir licença-prêmio remunerada por três meses. Mas ele admite a amigos que se for jogado aos leões poderá fazer uma proposta de delação premiada. Agaciel confidencia que não há provas que o incriminem. Durante a licença, o "DG" deve examinar uma possível candidatura a deputado federal por Brasília.

Fonte: IstoE Independente

Lula vice da Dilma. A possibilidade jurídica


A tese embasando a permissão da candidatura de Lula à Vice-Presidência na chapa de Dilma é a seguinte:

"Tem sido objeto de discussões apaixonadas a possibilidade da candidatura do Presidente da República ao próximo pleito ao cargo máximo do País. Como está posta a lei, não se é permitida a reeleição para um terceiro mandato e isso é ponto pacífico, tanto que foi considerado inconstitucional pelo próprio relator para a análise da emenda no Parlamento Federal. No entanto o que não se tem considerado amplamente é que, salvo melhor e mais abalizado juízo, é permitida a candidatura do atual Primeiro mandatário ao cargo de Vice-Presidente para o próximo pleito. Isso sem ferir qualquer preceito constitucional ou requerer emenda de qualquer espécie.

Tal possibilidade se encontra embasada na leitura conjugada da Constituição Federal em seus arts. 14, inciso 5° e 6°; e arts. 79 e 80 e da resolução 20.889 de 09 de outubro de 2001 da lavra do TSE.

Em primeiro lugar, vejamos os textos legais:

Art. 14, § 5º (CF): O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.

§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

Também, vejamos a primeira parte do contido na Resolução 20.889 do TSE

Consulta. Vice candidato ao cargo do titular.

1. Vice-presidente da República, vice-governador de Estado ou do Distrito Federai ou vice-prefeito, reeleito ou não, pode se candidatar ao cargo do titular, mesmo tendo substituído aquele no curso do mandato.

O primeiro texto, por óbvio é da Constituição Federal do Estado Nacional. O segundo é uma interpretação do texto desta mesma Constituição, por parte de nossa mais alta côrte eleitoral. O que se analisou e chancelou foi justamente, a possibilidade da candidatura de um vice-governador ao posto de governador no pleito seguinte, coisa que pelos dizeres da Carta Magna, seria proibida.

É sobre esta análise que embasamos nosso pensamento. São diversos aspectos de pequena monta, mas de grande importância, que dão suporte a toda a linha de raciocínio.

Notemos que pelo texto constitucional, a segunda reeleição para o mesmo cargo, é terminantemente proibida. Prendendo-nos exclusivamente ao descrito na lei, verificamos que também seria proibida a candidatura do Vice-Presidente ao cargo do Presidente, da mesma forma que do vice-governador ao cargo de governador.

Mas de acordo com o decidido pelo TSE em sua interpretação que nos foi trazida anteriormente, tal possibilidade passou a ser permitida. Tratou-se, como já visto, de questão proposta no ano de 2001 sobre fato concreto e levado ao cabo nas eleições então vindouras. Bom frisar, não se tratou de análise de hipótese apenas em tese. Foi situação factual.

Porém, antes de nos apegarmos às permissões da lei, convém um breve pensamento sobre a individualização dos cargos. É de muita valia diferenciar a função da Presidência com a da Vice-Presidência, já que esta foi a questão fulcral da decisão expelida pelo TSE.

Queremos crer que não haja a possibilidade da extensão por analogia de um cargo com o outro e vice-versa. Ou seja, não há que se interpretar como sendo “a mesma coisa” a Presidência e a Vice-Presidência já que a própria Constituição Federal os descreve como distintos. Havendo dúvida, vejamos o art. 79 de nossa lei máxima:

Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder- lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente.

Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele convocado para missões especiais.

Especificamente vemos que no Parágrafo único acima descrito, a figura do Vice-Presidente conta com atribuições próprias, e uma delas é a de substituir o Presidente. Se assim o é, por conseguinte se pode concluir que se tratam de cargos e funções distintas. Isso sem mencionar o óbvio. Se existe a previsão para um cargo e outro, é porque são de distintas naturezas ainda que venham a se materializar como iguais, hora ou outra.

No caput do art. 79, outra demonstração de que os dois cargos são tratados de maneira individualizada. Ao falar do impedimento, cita a um, depois ao outro. Assim, vejamos mais uma vez:

Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder- lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente.

Caso se tratassem do mesmo cargo, ou se um fosse apêndice do outro, o impedimento do primeiro necessariamente acarretaria o impedimento do segundo, coisa que aliás, foi amplamente levantada na ocasião da retirada do poder do ex-Presidente Fernando Collor. Na época se entendeu, corretamente, que um não estava diretamente ligado ao outro. Se o entendimento tivesse sido diferente, Itamar Franco jamais poderia ter assumido o mais alto cargo do País.

Apesar de serem eleitos pela mesma chapa ou coligação, as vezes até pelo mesmo partido, não estão visceralmente ligados entre si o Presidente e o Vice-Presidente.

Na mesma esteira da individualização dos cargos, notamos no art. 80 também da Constituição Federal, as outras figuras aptas a assumirem a Presidência da República, em caso de vacância. Vejamos:

Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.

Ora, antes de tudo, se reforça a característica independente de cada cargo do executivo pois a Constituição cita nominalmente o Presidente e depois, o Vice-Presidente. Em seguida, se verifica que tanto o Deputado como o Senador que eventualmente assumissem a Presidência da República, foram previamente escolhidos pelo voto popular para seus respectivos cargos e funções. Exceção aplicada somente ao Ministro do Supremo Tribunal Federal, já que sua escolha não se dá através do conclamo da população.

É dizer que nenhuma ligação tem a figura do Presidente com os demais que possam vir a substituí-lo

Ademais, bom é aclarear que o fato de nas eleições não se votar especificamente na figura do Vice-Presidente da República para o preenchimento do cargo, se dá por mera lógica e tecnicismo legal, mas com muita razão, ao meu ver. Do contrário poderiam ocorrer casos de se ter o Presidente de uma corrente administrativa, e o Vice-Presidente de outra contrária, um tentando desfazer o que o outro construiu, ou no mínimo, lhe obstruindo os trabalhos tanto quanto pudesse.

Portanto, pacificado está que se tratam de cargos e funções distintas. E isso, em total consonância com o expedido pelo TSE.

Com efeito, voltando ao cerne do já citado art. 14 da Constituição Federal, ao tratar da reeleição para um chamado terceiro mandato, concluímos com segurança que ela é vedada ao ocupante do cargo, para a mesma função, ou de uma função “subalterna” que viesse ocupar a superior, por exemplo. Observemos novamente o artigo:

O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.

Se percebe com clareza pelo descrito na lei, que o Presidente da República não pode se candidatar mais de uma vez ao mesmo posto. Nem tampouco, poderia o Vice-Presidente ou qualquer outro que viesse a substituir o Presidente, pleitear a eleição para o cargo máximo da nação.

Mas notemos que a lei não veda, aliás, sequer menciona, a possibilidade de o Presidente da República se candidatar à Vice-Presidência no próximo pleito. O texto legal diz apenas que aquelas figuras lá citadas podem ser reeleitas apenas uma vez. Ora, reeleitas para quais cargos? A lei não diz. A tomar o dito legal como taxativo, após o exercício da Presidência ou da governança em segundo mandato, não poderia a pessoa em questão se candidatar a nenhum outro cargo eletivo na corrida eleitoral imediatamente seguinte.

Assim fosse, um ex-Presidente ou um ex-Governador, não poderiam se candidatar ao Senado, por exemplo, após deixarem seus cargos.

Afinal, notemos que o termo “reeleitos” não significa necessariamente nova condução ao mesmo cargo. Este entendimento é derivado da interpretação teleológica de nossos juristas mas não sobrevive ao crivo hermenêutico. Afinal de contas, a pessoa está sendo novamente eleita. Mesmo que para cargo distinto.


A permissão para a candidatura do Presidente a outro cargo, como por exemplo, ao Senado ou ao cargo de Deputado vem logo em seguida, no inciso 6° do mesmo art. 14. Vejamos:

§ 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

Desta forma, a primeira conclusão aqui elencada é que ao Presidente é vedada nova candidatura à Presidência, mas se trata de conceito interpretativo, já que a lei não menciona textualmente o cargo objeto da reeleição. De toda forma, já temos assumido tal aspecto como incontroverso. E caso queira concorrer a outro cargo, resta ao Presidente promover sua renúncia em tempo hábil.

Do mesmo modo, pela leitura da lei é vedado ao Vice-Presidente da República pretender concorrer ao terceiro mandato consecutivo como segundo mandatário do País. Quer dizer, o Vice-Presidente não poderia novamente concorrer à Vice-Presidência em seguinte eleição, ainda que em outro partido ou outra chapa. Também é proibido a ele, pela mera leitura da letra da lei, pretender ser eleito como Presidente neste suposto pleito seguinte. Aliás, novamente se ressalta, exclusivamente pela leitura legal, ao Vice-Presidente não seria permitida nenhuma candidatura ao pleito seguinte já que a “reeleição” só é permitida uma única vez. Mas não menciona a qual cargo já que uma nova candidatura bem sucedida, enseja sem dúvida alguma, uma outra eleição. Ou seja, em tese, uma reeleição. Porém, como já dito, se trata de entendimento pacificado e não seria de bom tom mergulhar em tal controvérsia.

Prova desta permissividade de entendimento, sepultando uma eventual lacuna da lei, foi a eleição do ex-Vice Presidente Marco Maciel. Assim que deixou a Vice-Presidência, assumiu o cargo de Senador da República. Campanha aliás, feita sem a necessidade da renúncia prévia que a lei estabelece exclusivamente ao Presidente da República.

O entendimento de que o cargo de Vice não tem maiores ligações com o seu superior, nem se prende a determinados aspectos legais se deu também pela leitura da já citada resolução 20.889 de 2001 do TSE.

Assim diz o texto:

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

RESOLUÇÃO N° 20.889 (9.10.01)

CONSULTA N° 689 - CLASSE 5* • DISTRITO FEDERAL (Brasilia).

Relator: Ministro Fernando Neves.

Consulente: Anivaldo Vale, deputado federal.

Consulta. Vice candidato ao cargo do titular.

1. Vice-presidente da República, vice-govemador de Estado ou do Distrito Federai ou vice-prefeito, reeleito ou nao, pode se candidatar ao cargo do titular, mesmo tendo substituído aquele no curso do mandato.

2. Se a substituição ocorrer nos seis meses anteriores ao pleito, o vice, caso eleito para o cargo do titular, não poderá concorrer à reeleição.

3. O mesmo ocorrerá se houver sucessão, em qualquer tempo do mandato.

4. Na hipótese de o vice pretender disputar outro cargo que não o do titular, incidirá a regra do art. 1°, § 2°, da Lei Complementar n° 64, de 1990.

5. Caso o sucessor postule concorrer a cargo diverso, deverá obedecer ao disposto no art. 14, § 6o, da Constituição da República


A presente consulta, acima trazida, se deveu ao caso concreto onde o então Vice-Governador de São Paulo, sr. Geraldo Alckmin, pretendia concorrer ao cargo maior daquele estado, após a morte do então Governador Mário Covas.

Ressalte-se que naquela ocasião, Alckmin já havia servido como Governador anteriormente, na vacância do titular, o que em tese, o tornaria inelegível para o tal terceiro mandato. Ocorre que pelo entendimento exarado pelo TSE, como já explicado, os cargos não se confundiam.

Acertada visão pois daquele modo, o TSE corrigiu a discrepância presente na lei. Ainda que levantando questões de moral casuística.

Alckmin quando se elegeu pela primeira vez, havia sido votado, segundo se observou, para o cargo de Vice-Governador de Mário Covas, e esta função ocupou por duas gestões. Mas na visão de nossos magistrados, o pleito para a governança seria plenamente cabível já que se postulava função distinta, com atribuição própria. Em uma gestão fora Vice, na outra seria Governador. Assim, não se trataria de terceiro mandato.

Se assim não fosse, deveria ter sido aplicado o disposto na última parte do inciso 5° do art. 14 da Constituição Federal, o que obviamente, não ocorreu, com plena concordância da máxima instância eleitoral do País. Vejamos o referido texto legal:

(...) e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.

Textualmente se verifica a proibição de qualquer pessoa que tivesse assumido o principal cargo executivo, pretender lograr nova disputa, afinal, a Constituição Federal não fala em prazos ou condicionamentos. O texto legal simplesmente proíbe alguém que tenha exercido a função de titular, pleitear nova candidatura. Foi tal proibição que a resolução do TSE veio a esclarecer.

Em outras palavras, o TSE assumiu que Presidência e Vice-Presidência são cargos distintos em sua essência. Por isso deu a permissão da candidatura de um vice-Governador ao cargo de Governador, sepultando aquilo que poderia ser considerado uma segunda reeleição, ou um terceiro mandato.


Eis pois, que é fechado o entendimento de que não há confusão de cargos e funções. Esta visão subsiste também porque a Constituição Federal demonstra a Presidência e a Vice-Presidência como funções distintas. A resolução do TSE só veio a sedimentar tal conceito.

Assim, pelo exame literal da lei brasileira no art. 14 da Constituição Federal, em seu inciso 6°, onde se diz que o PRESIDENTE DA REPÚBLICA se quiser disputar outro cargo deverá renunciar com determinada antecedência, permite, com todas as letras, que haja a candidatura ao cargo da vice-Presidência. Afinal, são cargos distintos. Novamente ressaltando, se não fossem considerados cargos distintos, a Resolução do TSE não poderia ter permitido a candidatura do então Vice-Governador Geraldo Alckmin à governança de seu estado. Pois se trataria claramente de terceiro mandato.

Bem descrito está. Para concorrer a outros cargos, o Presidente da República terá tão somente que renunciar ao seu mandato no máximo, com 6 meses de anterioridade do pleito subsequente. Neste caso, a Vice-Presidência, sem a menor margem de dúvida, se trataria de OUTRO cargo. Afinal, a lei e os entendimentos resolutivos e sumulares, não podem variar de acordo com a conveniência de quem os interpreta, nem tampouco, com a intenção de favorecer este ou aquele candidato.

Marcelo W. Marcengo é advogado em Curitiba.

Fonte: Blog os amigos do presidente Lula.

Programa tucano tratou eleitor como idiota

Longe de mim querer ajudar o PSDB a encontrar um discurso para enfrentar o PT na eleição presidencial do ano que vem, mas o programa do partido ontem à noite na tevê foi de lascar. Eu esperava muito mais. Uma estratégia inovadora, criativa, uma tentativa real de começar uma virada no jogo.

Gosto de brincar de marqueteiro. Quando assisto a um desses programas partidários tento imaginar o que faria de diferente nele – ou se faria igual – se tivesse sido eu a produzi-lo.

Não peço a um tucano ou assemelhado que acredite no que direi agora porque eu também não acreditaria se ouvisse algum deles criticar o programa do adversário dizendo ser uma crítica isenta. Mas peço a vocês que me acreditem quando digo que, falando honestamente, do programa partidário tucano que vi ontem à noite, não se salvou um único fotograma.

Espantou-me a opção de insistir com os oitenta por cento da população que apóiam o presidente Lula que o governo dele é totalmente incompetente, que por culpa dele persistem problemas históricos de infra-estrutura no país e que o PAC não existe.

Desta vez, deixaram a “ética” de fora. Parece que não acreditam mais na possibilidade de vender o presidente e seu governo como “corruptos”. Preferiram passar o programa quase inteirinho vendendo a tal história de que o PAC “não existe”.

Para amparar a tese, mostraram obras inacabadas e problemas de infra-estrutura como de estradas ou de saneamento básico. Ao fim, disseram-se os pais do controle da inflação, dos genéricos e do “Bolsa Escola”. Um discurso “novinho em folha”.

A parte dessa massa esmagadoramente majoritária de brasileiros que apóia Lula e teve interesse em ver o programa – e que, presumivelmente, é reduzida, mas não porque o programa é do PSDB e sim porque é um programa político –, certamente não entendeu a estratégia tucana.

Vejam bem: o sujeito acha que o governo do país é bom, que a crise não pegou o Brasil de jeito, que ele está mais sólido economicamente, que os programas sociais funcionam bem etc. De repente, alguém diz a ele que é tudo uma droga, que nada presta. Ou seja: que ele é uma besta por acreditar que o governo é bom.

Quando as pessoas compram idéias e depois alguém chega desqualificando-as de cima a baixo sem maiores explicações, elas se sentem ofendidas. A menos que aquela idéia que compraram se mostre prejudicial a elas, claro.

O PSDB continua acreditando, pelo visto, que Lula só é popular porque faz propaganda. Seria como se hipnotizasse o eleitorado. Não reconhece mérito nenhum nele ou em seu governo. Esse pessoal deve estar cheirando ou fumando alguma coisa muito forte...

Os tucanos parecem acreditar, quando fazem críticas que contrariam a maioria esmagadora dos brasileiros e a parte mais relevante da opinião pública internacional, que é possível fazer com que o cidadão esqueça os motivos concretos que o levaram a apoiar Lula. E querem fazer isso com base na lembrança de como estava o país quando eram governo.

Isso acontece no PSDB porque é um partido que está centrado em um único projeto personalista e regional, o projeto de Fernando Henrique Cardoso, que nem é Serra, mas o resgate de sua combalida imagem diante da sociedade brasileira.

Se não fosse o peso de FHC no partido, seria muito mais fácil a missão de retomar o poder. Serra se apresentaria dizendo que seu partido não repetiria o que fez quando foi governo. Não dá para fazer isso tendo que resgatar a imagem do governo de um período de muito sofrimento para o país.

Não se pode negar que o mesmo personalismo acontece no PT, dependente de Lula ao extremo. Mas há uma diferença gritante, aí. Enquanto Lula é um descomunal ativo para o seu partido, FHC é um peso para o dele.

É claro que Serra tem imagem muito melhor do que a de FHC e isso poderia ser explorado, mas o programa tucano de ontem à noite optou por deixar de fora seu candidato inexorável a presidente. Outro erro.

O PSDB não quis falar ao país que São Paulo é essa maravilha toda e exaltar os feitos de seu governador; preferiu falar mal do governo Lula. O PSDB não optou por apresentar sua proposta; achou melhor dizer que a proposta do adversário não funciona a pessoas que, em maioria massacrante, acham que funciona.

O tom do programa foi o de estar pisoteando um cachorro morto (o governo Lula). Era como se a teoria de que esse governo é um desastre fosse facilmente assimilável por qualquer um, apesar de que em todas as pesquisas feitas nos últimos vários anos uma consistente e crescente maioria tem dito exatamente o contrário.

O ataque tucano ainda tratou de tentar criar uma realidade virtual. O país estaria paralisado, e não se recuperando como as pesquisas mostram que as pessoas acham que está. E a crise mostrada pelos tucanos seria do Brasil, não do mundo. O país estaria em crise devido à incompetência do governo.

É aí que a propaganda do PSDB mais trata o eleitor como idiota – e eu sempre digo que essa é a base da estratégia da direita e de seus jornais, revistas e tevês: eles tratam o eleitor como uma ameba intelectual.

Vejam aquele recente programa partidário do PPS na tevê que alardeou que Lula pretenderia confiscar a poupança “como fez o Collor”. Pelo menos o discurso era mais sofisticado, mas partia do mesmo princípio de que a população é composta de panacas.

No fim, mesmo uns poucos que deram ouvidos àquela sandice acabaram percebendo que não haveria confisco nenhum e voltaram à caderneta de poupança. Mesmo tendo sido um golpe melhor engendrado, golpes tendem a ser descobertos.

Querem saber? Eu estava sintonizado no Jornal Nacional quando começou o programa tucano. Quando terminou, entrou o Willian Bonner. Para mim, por sua sempre eloqüente expressão facial, ele não gostou nada, nada do que viu.

Fonte: Cidadania.com

Blog da Petrobras desmascara Correio Braziliense

A Petrobras, através de carta publicada em seu vitorioso blog, repudia a sensacionalista, irresponsável e desrespeitosa matéria intitulada “Os xeiques da Petrobras”, publicada no jornalão Correio Braziliense (25/06/2009). A Petrobras considera que a matéria cometeu quebra do sigilo fiscal de diretores da Petrobras. É importante saber como foi que o jornal conseguiu informações confidenciais sobre bens patrimoniais de seus diretores. A quebra do sigilo é crime e não “liberdade” de imprensa.

O blog Fatos e Dados informa que “o aumento da remuneração da Diretoria Executiva e dos conselheiros no período de 2003 a 2007 foi de 55% e não de 90%, como insistiu o jornal, apesar de ter os dados corretos repassados pela Petrobras. Os salários da Alta Administração da Petrobras estão congelados desde 2008 e até 2010. Essa informação, repassada ao Correio, foi inescrupulosamente omitida pelo jornal. O Correio omite também que na Assembléia Geral de Acionistas, realizada em 8 de abril de 2009, a remuneração global da Diretoria Executiva e dos conselheiros foi reduzida para R$ 8,2 milhões”.

O blog prossegue: “A manipulação de informações e erros de apuração continuam na matéria “Salário alto em duas versões”, publicada no dia 26. Não há divergências entre as declarações do presidente José Sergio Gabrielli à rádio CBN, no dia 25, e as informações do blog “Fatos e Dados”, da Petrobras. Como já dito, a Assembléia Geral realizada em abril de 2009, ratificou o congelamento dos salários que estavam sendo pagos desde setembro de 2008, conforme afirmou o presidente Gabrielli, sem que haja contradição com as informações divulgadas pela Petrobras”.

O blog esclarece ainda: “Por fim, comparações entre a remuneração de diretores e conselheiros das maiores empresas do país, feitas pela própria imprensa, mostram que a remuneração da diretoria e conselheiros da Petrobras é a menor, chegando a ser 30 vezes inferior em alguns casos”.

Observação do blog BAHIA DE FATO – Continua em marcha a campanha contra a Petrobras. A grande imprensa não vacila em manipular e omitir informações desde que gere uma manchete contra a estatal.

CONFIRA NO BLOG DA PETROBRAS

Fonte: Blog Bahia de Fato

domingo, 21 de junho de 2009

Reflexões pertinentes à atualidade

A mensagem transcrita abaixo foi-me enviada por e-mail por um dos meus contatos (minha querida sobrinha France). A autoria é atribuída ao Frei Betto. Realmente parece ser dele. Mas seja de quem for, merece todo louvor pela sensibilidade e sabedoria.
Homens inteligentes + poucos sábios = Sociedade desequilibrada
Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas, como a companhia aérea oferecia outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade?”
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: - “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não, tenho aula à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde”. “Não”, retrucou ela, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, perguntei. “Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”

Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a inteligência emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem
aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem 60 academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?” “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega Aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também
eticamente virtuais…

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil — com raras e honrosas exceções — é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! *O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista.* Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis:
amizades, auto-estima, falta de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade – a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer da lanchonete de luxo…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático”. Diante dos olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
*“Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz”.

sábado, 20 de junho de 2009

Na Bahia, Jaques Wagner do PT é o cara

O governo da Bahia encomendou a pesquisa. O Instituto Campus acaba de divulgar os resultados. Na modalidade estimulada, a pesquisa deu 43,1% de intenção de voto para o governador Jaques Wagner (PT), seguido pelo ex-governador Paulo Souto (DEM) com 31,9% e depois Geddel Vieira Lima (PMDB) com 13,3%. Na modalidade espontânea, sem o estímulo da cartela, Wagner obteve 25% das referências, Paulo Souto obteve 9,7%, seguido por ACM Neto (DEM) com 5,3%, depois Geddel Vieira Lima com 4,4% e na rabada o prefeito João Henrique (PMDB) com 1,2%.

Num eventual segundo turno Wagner (48,2%) venceria Paulo Souto (38,7%). Se o adversário fosse Geddel a margem da vitória de Wagner aumentaria para 56,9% e Geddel ficaria com apenas 24,9%.

Se a eleição fosse hoje...

Fonte: Bahia de Fato

Crônica Política

Tenham medo de mim

Faz tempo que estou para escrever isto. E, ao começar a escrever, sinto que deveria ter escrito muito antes. Aliás, alguém já escreveu sobre este blogueiro o que ele (eu) mesmo agora escreve e que, ao contrário do que parece, não é um texto personalista, mas previsão de aumento do ritmo da materialização de um fenômeno sociológico inexorável.

O jornalista Luiz Carlos Azenha escreveu faz tempo – e até publicou em seu site – um texto que serve à minha tese de que a mídia e a classe política deveriam ter muito medo de um eminente desconhecido chamado Eduardo Guimarães. Azenha notou o evento sociológico que é o surgimento de um blogueiro que não veio das escolas de Jornalismo, de Sociologia, de Direito, seja do que for em termos de profissões que têm que ver com o jogo do poder, e principalmente das classes política ou sindical.

Vim de um setor de atividade que nada tem que ver com o que comecei a fazer antes mesmo de criar este blog, há muitos anos. E é esta a história que quero lhes contar.

Da omissão à participação

Sou alguém que começou a ter consciência política em 1989, durante o retorno de fato do Brasil à democracia com a primeira eleição direta para presidente em mais de duas décadas. Eu tinha 30 anos. Até então, sempre me omitira das questões cidadãs. Sobretudo porque o começo de minha vida conjugal foi difícil, pois me casei antes de me estruturar minimamente na vida.

O fato é que, no primeiro turno da eleição presidencial de 1989, votei em Mario Covas. Achava Lula muito “radical” – e achava que Collor era um picareta. Com a derrota de Covas para Lula na passagem para o segundo turno, não me restou opção: fui para o segundo turno com Lula, certo de que a eleição de Collor seria um duro golpe para a democracia que se reinstalava no país.

Foi aí que comecei a achar que Lula era tudo, menos “radical”, porque vi, com estes olhos que a terra há de comer, o que fizeram para impedi-lo de vencer a eleição – e o que fizeram foi coisa de bandidos. Mas Lula não perdeu a linha diante das safadezas que praticavam contra ele. Nunca perdeu a linha.

Já eu que havia formado, através da mídia – e, sobretudo, através do Estadão, jornal que comecei a ler aos 13 anos –, a opinião que me fez votar em Covas no primeiro turno em 1989, a opinião de que Lula era “radical”, percebi então, pela primeira vez, que a mídia mentia.

Vi sabotarem Lula de todas as formas desonestas possíveis e imagináveis. No ápice daquilo tudo, vi a mídia coonestar o ataque sujo de Collor contra o petista usando o nome da filha dele e um depoimento comprado de sua ex-namorada, mãe da garota.

Nos primeiros anos depois daquela campanha eleitoral imunda, percebi que, se fizeram tanto para impedir Lula de vencer a eleição – e se usaram aqueles métodos –, certamente que boa coisa não eram, e certamente que Lula poderia, sim, ter intenção de melhorar a vida dos brasileiros, entre os quais estava eu mesmo.

Durante os cinco anos seguintes, vi que minha percepção sobre Collor era verdadeira e vi o que custou ao Brasil ter seguido a orientação midiática e votado no “Caçador de Marajás”, aquela enorme fraude construída pela Globo, pela Folha, pela Veja e pelo Estadão, entre outros.

Mas foi em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso aliou-se ao que então havia de mais podre na política brasileira para vencer Lula (o PFL), e ainda com o mesmo apoio da mesma mídia que elegeu Collor com calúnias e enganações como a de que seria o petista que confiscaria a poupança se se elegesse, foi ali que me dei conta de que a mídia era uma ameaça ao país.

Quando FHC ganhou a eleição de Lula em 1994 valendo-se de uma quase censura da mídia a Lula e aos seus eleitores, decidi que não continuaria calado. Comecei a enviar cartas por fax ao Estadão. Uma por dia.

Eu era um moderado – e cansei de sê-lo, nos anos seguintes. Escrevia textos concisos, educados e forrados de argumentos oriundos da maior boa fé. Talvez por isso o Estadão, apesar de sua linha editorial conservadora, um belo dia publicou uma de minhas cartas, naquele mesmo 1994.

Fiquei maravilhado. Poderia participar do debate público, meu Deus! Havia deixado de ser apenas um inconformado. Se argumentasse corretamente, por escrito, não teria que ver as coisas acontecerem sem poder fazer nada. Havia que aprimorar meus textos e que ser persistente, pois.

Daquele ano em diante, fui me tornando um dos colaboradores mais presentes nas redações de jornais paulistas e cariocas. Cheguei a ter carta publicada até na Veja – apenas uma. E tanto no Estadão quanto na Folha cheguei a estar entre os leitores mais publicados.

Até que um dia, depois de muitos anos, percebi que eu fazia concessões àqueles jornais para ser publicado por eles. Não conseguia ser publicado quando dizia certo tipo de coisas. Em 1998, por exemplo, o Brasil já estava quebrado. Todos sabiam disso. Sobretudo os jornais.

Eu trocava e-mails com colunistas de jornais como José Neumanne Pinto (Estadão) ou Clóvis Rossi (Folha). Todos sabiam que o Brasil estava quebrado e que teria que desvalorizar o real urgentemente, mas a mídia ajudava FHC a mentir dizendo que Lula é que desvalorizaria o real se ganhasse a eleição.

Ao ajudar FHC a postergar a urgentíssima desvalorização do real só para se eleger, a mídia cometeu o primeiro grande crime de lesa-pátria de que havia tomado conhecimento até então. Nos anos seguintes, mergulhando de cabeça nos livros para conhecer a fundo a história política do Brasil, descobri que aquilo acontecia desde muito antes.

O advento político da internet

A partir do segundo mandato de FHC, fui vendo alguma coisa que eu jamais pensei que existisse. Através das seções de cartas dos jornais, fui descobrindo que eram manipuladas para fazerem vencer pontos de vista dos conservadores.

Descobri, em seguida, que não eram só as minhas cartas que começaram a ser rejeitadas talvez por eu ter passado a escrevê-las mal ou por ter perdido meu poder de argumentação. Percebi que poderiam não publicar a mim por ter escrito mal ou de forma prolixa, mas que deveriam publicar aquele meu ponto de vista através da carta de outro, como representação do necessário contraditório. Mas não publicavam.

A censura da imprensa a certas opiniões foi mitigada com a chegada da internet ao Brasil e com a disseminação de seu uso no fim dos anos 1990. Ali começaram a surgir as listas de e-mails. Era possível atingir centenas, milhares de pessoas enviando a elas textos por correio eletrônico.

Estabeleci um dos primeiros grandes fóruns de debate pela internet em uma lista com centenas e centenas de destinatários de todas as tendências. Ia colhendo e-mails publicados pelos jornais e por outras correntes de e-mail que recebia.

Fazia tudo isso paralelamente à minha atividade de comerciante de autopeças. Era autônomo, desde então, e passei a dedicar uma parcela de meu tempo a essa atividade, que fazia com que me sentisse um verdadeiro cidadão. Eu estava, finalmente, podendo contribuir com o interesse público.

Por que temer Eduardo Guimarães

Por que a mídia deveria ter medo de mim? Ora, primeiro que não é de mim, especificamente, que a mídia deveria ter medo, mas de todos os Eduardos que deve haver por aí.

Muitos deles – talvez a quase totalidade – provavelmente não escrevem. Todavia, no mínimo todos eles falam, opinam, convencem, sem saber, ainda, que poderiam falar muito mais alto.

São pessoas comuns, sem ligações com o jornalismo, com partidos, com sindicatos ou com a academia. São pessoas que lutam para pagar as contas através de profissões que nada têm que ver com o jogo do poder. São pessoas que fazem o que fazem sem ganhar nada em troca.

A mídia deveria ter medo de Eduardo Guimarães porque ele faz o que faz só porque acha que é sua obrigação fazer. Ele não é candidato a nada, não ganha absolutamente nada para fazer o que faz, sabe que jamais ganhará nada com isso, mas continua fazendo. E, segundo diz muita gente, com boa dose de sucesso.

Em minha opinião, a geração espontânea de Eduardos Guimarães continua acontecendo. Seremos muitos, algum dia, como acontece nos países desenvolvidos, nos quais as pessoas sabem que não podem se omitir e que não devem aceitar informações de um lado só.

Por isso tudo, reitero à mídia o convite para que tenha medo, para que tenha muito medo de mim, pois eu sou o futuro de uma sociedade que um dia entenderá que é possível – e imperativo – que todos participem dos grandes debates nacionais e que denunciem os vigaristas que tentam nos enganar usando carapaças de “jornalistas”.

Eduardo Guimarães.

Fonte: cidadania.com


quarta-feira, 17 de junho de 2009

Lula assinará uma coluna em jornais a partir de 7 de julho

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá, a partir de 7 de julho, uma coluna de perguntas e respostas chamada "O presidente responde" em jornais cadastrados no Palácio do Planalto.Ontem foi aberto credenciamento para jornais interessados e foram divulgados os critérios para ter a coluna semanal. Os interessados em aderir deverão ser os responsáveis pela coleta de perguntas, divulgar as respostas na íntegra e se comprometer a publicá-la todas as terças.Os jornais que não quiserem enviar perguntas de leitores também poderão publicar as colunas de Lula, desde que se credenciem.A princípio, a coluna seria voltada para jornais regionais, mas a Secretaria de Imprensa permitiu que todos tenham acesso aos textos.Caberá ao Departamento de Relacionamento com a Mídia Regional, ligado à Presidência, selecionar semanalmente as três perguntas a que Lula responderá, obedecendo a um rodízio de jornais e de regiões do país.Além do "Pergunte ao Presidente" serão lançados nos próximos meses um blog, um canal no YouTube e uma página no Twitter. Não há prazo definido ainda para o início porque a Presidência estuda formato que seja mais descontraído, mas que tenha informações importantes sobre as atividades de Lula.Uma das estratégias já usadas por Lula é, sempre que tem viagem para alguma cidade fora do eixo Rio-São Paulo, conceder uma entrevista na véspera a um jornal regional. A publicação ocorre na chegada do presidente.
Fonte Folha de São Paulo

A cota de sucesso da turma do ProUni

ELIO GASPARI

Os pobres que entraram nas universidades privadas deram uma aula aos demófobos do andar de cimaA DEMOFOBIA pedagógica perdeu mais uma para a teimosa insubordinação dos jovens pobres e negros. Ao longo dos últimos anos o elitismo convencional ensinou que, se um sistema de cotas levasse estudantes negros para as universidades públicas, eles não seriam capazes de acompanhar as aulas e acabariam fugindo das escolas. Lorota. Cinco anos de vigência das cotas na UFRJ e na Federal da Bahia ensinaram que os cotistas conseguem um desempenho médio equivalente ao dos demais estudantes, com menor taxa de evasão. Quando Nosso Guia criou o ProUni, abrindo o sistema de bolsas em faculdades privadas para jovens de baixa renda (põe baixa nisso, 1,5 salário mínimo per capita de renda familiar para a bolsa integral), com cotas para negros, foi acusado de nivelar por baixo o acesso ao ensino superior. De novo, especulou-se que os pobres, por serem pobres, teriam dificuldade para se manter nas escolas.Os repórteres Denise Menchen e Antonio Gois contaram que, pela segunda vez em dois anos, o desempenho dos bolsistas do ProUni ficou acima da média dos demais estudantes que prestaram o Provão. Em 2004, os beneficiados foram cerca de 130 mil jovens que dificilmente chegariam ao ensino superior (45% dos bolsistas do ProUni são afrodescendentes, ou descendentes de escravos, para quem não gosta da expressão).O DEM (ex-PFL) e a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino foram ao Supremo Tribunal Federal, arguindo a inconstitucionalidade dos mecanismos do ProUni. Sustentam que a preferência pelos estudantes pobres e as cotas para negros (igualmente pobres) ofendiam a noção segundo a qual todos são iguais perante a lei. O caso ainda não foi julgado pelo tribunal, mas já foi relatado pelo ministro Carlos Ayres Britto, em voto memorável. Ele lembrou um trecho da Oração aos Moços de Rui Barbosa: "Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real".A "Oração aos Moços" é de 1921, quando Rui já prevalecera com sua contribuição abolicionista. A discussão em torno do sistema de acesso dos afrodescendentes às universidades teve a virtude de chamar a atenção para o passado e para a esplêndida produção historiográfica sobre a situação do negro brasileiro no final do século 19. Acaba de sair um livro exemplar dessa qualidade, é "O jogo da Dissimulação - Abolição e Cidadania Negra no Brasil", da professora Wlamyra de Albuquerque, da Federal da Bahia. Ela mostra o que foi o peso da cor. Dezesseis negros africanos que chegaram à Bahia em 1877 para comerciar foram deportados, apesar de serem súditos britânicos. Negros ingleses negros eram, e o Brasil não seria o lugar deles.A professora Albuquerque transcreve em seu livro uma carta de escravos libertos endereçada a Rui Barbosa em 1889, um ano depois da Abolição. Nela havia um pleito, que demorou para começar a ser atendido, mas que o DEM e os donos de faculdades ainda lutam para derrubar:"Nossos filhos jazem imersos em profundas trevas. É preciso esclarecê-los e guiá-los por meio da instrução".A comissão pedia o cumprimento de uma lei de 1871 que prometia educação para os libertos. Mais de cem anos depois, iniciativas como o ProUni mostraram não só que isso era possível mas que, surgindo a oportunidade, a garotada faria bonito.

Lula parece ter razão...

Nos primeiros sete dias úteis de junho, a poupança somou média diária de R$ 288,4 milhões em novos depósitos, segundo o Banco Central. O volume é maior que toda a captação líquida de maio, quando os depósitos líquidos somaram R$ 94 milhões diários.
Segundo informações do mesmo Banco Central, naquele mês os saques na poupança superaram os depósitos em 941,55 milhões de reais.
A diferença brusca de comportamento dos poupadores certamente guarda relação com a campanha televisiva do PPS denunciando, por vias tortas, que Lula pretenderia confiscar a poupança “como fez o Collor” , campanha esta endossada pelo PSDB e pelo PFL por conta de declarações de caciques dos partidos.
A volta massiva do poupador às cadernetas de poupança denota o fracasso da estratégia da direita para desacreditar o governo Lula. Aliás, a própria popularidade ascendente dele já denota que aquela estratégia do PPS não surtiu o menor efeito.
O que é digno de nota, porém, é que fica claro que os poupadores – os quais, por terem evidentemente mais recursos financeiros do que a maioria, em grande parte não devem integrar os 80% que apóiam o presidente da República – concluíram que as “denúncias” do PPS, do PSDB e do PFL sobre confisco de poupança eram mentirosas.
Lula disse hoje (quarta-feira) que, de tanto a imprensa publicar campanhas com denúncias e críticas que depois não se confirmam, o povo acaba percebendo e passa a desconfiar também dela, imprensa.
Disseram, por exemplo, que as cotas e o Prouni rebaixariam o “nível acadêmico” das universidades. Entretanto, depois vem a público que os cotistas e bolsistas do Prouni têm apresentado desempenho acadêmico igual ou até superior ao desempenho dos universitários não-cotistas e não-bolsistas.
Disseram, no ano passado, que a inflação iria explodir, mas não explodiu; disseram que haveria epidemia de febre amarela, e não houve; disseram que o desemprego ia explodir por causa da crise, e nos últimos três meses o desemprego vem caindo...
Ao mesmo tempo, comportamentos como esse dos poupadores e as pesquisas sobre a aprovação do presidente da República mostram que ele parece saber o que diz quando afirma que o povo “percebe” e que passa a desconfiar de cada ataque, denúncia ou crítica da imprensa ao seu governo.
Eduargo Guimarães.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Amar não é pecado

José Lisboa Moreira de Oliveira*


Está circulando a notícia de que o papa João Paulo II, falecido em 2005, tinha uma amiga íntima com a qual se correspondia com freqüência e com a qual se encontrava com certa constância. A correspondência de Karol Wojtyla com essa mulher, cujo nome é Wanda Poltawska, teria durado 55 anos. Wojtyla a chamava de “Dusia”, isto é, “irmãzinha”. Segundo a notícia publicada no sítio do Instituto Humanitas da Unisinos (IHU), citando outras fontes como o jornal italiano La Stampa, são cartas “extremamente pessoais” que eram trocadas com “inflexível regularidade” pelo correio ou através de amigos comuns. O volume é tão grande que daria para “encher uma mala”. Segundo a descrição das fontes da notícia, as cartas são “envolventes” e o tom de confiança definido como “embaraçoso”.
Dizem ainda que Wanda, “estretíssima amiga” do pontífice, criava embaraços e maus-humores na Cúria Romana com seus comportamentos de grande proximidade com o papa. Chegava a ir de pantufas à missa na Capela privada do pontífice. Quando o papa esteve internado num hospital de Roma, após o atentado, ela não teve receio de aparecer nas janelas do apartamento onde se encontrava o papa convalescente. Os dois costumavam irem juntos a passeios pelas montanhas, atividade que tanto fascinava Wojtyla. Era comum Wanda ir passar o verão em Castel Gandolfo, a residência estiva dos papas, nas proximidades de Roma.
De acordo com as notícias divulgadas esse relacionamento em tons afetuosos entre um papa e uma leiga estaria sendo motivo de objeção, de dificuldade, de desaceleração do processo de canonização de Wojtyla. Acredito que a ala conservadora e fundamentalista da Igreja deva estar decepcionada e irritada com a circulação dessa notícia. De fato, ela vinha fazendo um esforço enorme para canonizar esse papa, tido como paradigma da Igreja que ela quer que prevaleça daqui por diante. A notícia caiu como uma bomba e foi uma ducha fria para as pretensões dessa gente. Mas o que dizer sobre isso?
Antes de tudo é preciso dizer que a opção pelo celibato não significa castração de toda e qualquer forma de relacionamento com as pessoas. O celibato não exclui a relação de amizade, não exclui a intimidade, não exclui o amor. A relação afetiva pode estar presente na vida de uma pessoa celibatária, sem que isso signifique comportamentos típicos da vida de um casal. Infelizmente nossa cabeça está poluída pela mentalidade pornográfica e não conseguimos ver a possibilidade de um encontro íntimo entre duas pessoas, sem que esse encontro chegue a genitalidade. A maioria das pessoas – incluindo nessa maioria, padres, frades e freiras – está afetada pela erotização da relação. Por essa razão reduz o encontro entre duas pessoas ao ato genital. Não conseguem pensar a intimidade de outra forma.
Estudos feitos por pesquisadores sérios, como, por exemplo, Rovira, Gentile, Rinser e Müller, provaram que grandes santos celibatários cultivaram amizades profundas com outras pessoas, sem com isso violar o compromisso do celibato. São conhecidos alguns exemplos dessa amizade: São Francisco com Santa Clara, São Francisco de Sales com Santa Joana de Chantal, a grande Teresa d’Ávila com João da Cruz. Aliás, dizem que Teresa d’Ávila, a santa do “só Deus basta”, tinha um grupo seleto de amigos íntimos com os quais trocava correspondências íntimas. Chegava, inclusive, a usar pseudônimos para evitar a ingerência dos bisbilhoteiros da vida alheia. Viajava sozinha com João da Cruz para visitar os Carmelos. Li certa vez em algum lugar que quando as más línguas começaram a coçar, João da Cruz partilhou a sua preocupação com Teresa. Essa não ligou muito. E em tom de brincadeira teria dito: “Quem sabe, para não escandalizarmos, a partir de agora, ao invés de andar cada um num cavalo, vamos os dois juntos num só cavalo”. Francisco de Sales, num escrito íntimo a Joana de Chantal, teria afirmado que quando pensava nela durante a celebração da missa entrava em êxtase.
Conheço ainda hoje muitos presbíteros, muitas mulheres e homens de vida consagrada que cultivam amizades profundas, numa intimidade singular, sem, por isso, violarem o compromisso do voto de castidade e do celibato. É claro que essa experiência exige uma maturidade maior, uma clareza precisa da vocação cristã e da vocação específica. Mas não é impossível. Por isso essas pessoas celibatárias são, a meu ver, as mais comprometidas e extremamente doadas à causa do próximo, particularmente dos pobres e excluídos. Porque amam e são amadas de verdade, podem amar sem medo e sem rodeios. Estou convencido de que a relação de João Paulo II com Wanda entra nessa categoria. O papa, como tantos santos e santas, soube amar uma mulher concreta e de modo concreto, sem com isso quebrar o seu compromisso de homem celibatário.
Em segundo lugar é preciso dizer que esse episódio, mais uma vez, confirma a urgência de se rever a lei do celibato obrigatório. O celibato é um dom do Espírito, destinado apenas a algumas pessoas. Alguém pode ser chamado por Deus a viver celibatariamente tanto por um período de tempo, como por toda vida. Disso não existem dúvidas (cf. 1Cor 7,25-40). Porém, ligar obrigatoriamente o recebimento de um ministério ordenado ao celibato é um absurdo teológico que está pondo sérios obstáculos ao chamado divino.
O próprio Criador colocou, no DNA do ser humano, a tendência natural para o encontro entre o macho e a fêmea. Não somos imagem e semelhança divinas isoladamente, mas no encontro do masculino com o feminino (Gn 1,27). O próprio Deus reconheceu que o homem não poderia ficar sozinho. Por isso lhe deu uma companheira (Gn 2,18-24). Portanto, ao negar pelo celibato obrigatório essa possibilidade, a hierarquia da Igreja se coloca frontalmente contra um dos princípios mais fundamentais da antropologia bíblica. O fato de que João Paulo II, durante 55 anos, não quisesse “ficar sozinho” e buscasse uma “companheira” com a qual partilhar sua vida, inclusive sua vida afetiva, deveria convencer a hierarquia da Igreja a abolir para sempre o absurdo do celibato obrigatório.
Estou convencido de que ainda hoje, como durante os primeiros doze séculos do cristianismo, muitos homens são chamados ao mesmo tempo por Deus ao ministério presbiteral e ao matrimônio. A Igreja Católica Romana, com a sua teimosia, está impedindo a realização desse chamado divino. Não se deve insistir na ordenação de padres casados apenas em razão da escassez de presbíteros. Deve-se insistir também, e muito mais, por uma razão teológica, por uma razão vocacional. Não há impedimentos teológicos para a ordenação de homens casados. O que existe é uma disciplina, nascida num contexto maniqueísta de desprezo pelo sexo, pela sexualidade e pelo matrimônio. Hoje se procura justificar por todos os meios essa obrigatoriedade. Mas pesquisas sérias, como aquelas realizadas por Edward Schillebeeckx, conseguem provar que a razão principal da proibição do casamento para os padres foi uma visão altamente negativa do sexo. Começou-se proibindo aos padres de ter relação sexual com a esposa na noite anterior à celebração eucarística. E quando os padres foram obrigados a celebrar missa todos os dias, passou-se à imposição do celibato e à sua conseqüente vinculação com o ministério presbiteral.
Por fim, o episódio serve como emblema para denunciar uma prática reinante em certos setores da hierarquia católica romana. Segundo a notícia publicada no sítio do IHU o cardeal Stanislao Dziwisz, atual arcebispo de Cracóvia e durante 40 anos assessor direto de Wojtyla, acusa Wanda de querer “se tornar importante”, relatando o seu relacionamento com o papa. Para o purpurado a correspondência pessoal do papa “não deveria ser publicada e colocada diante dos olhos de todos”. Concordo plenamente com o direito à privacidade, mas, a meu ver, na fala do cardeal se esconde uma prática bastante comum entre muitos da hierarquia. O sujeito pode fazer tudo, desde que isso permaneça oculto. Pode até violar seus compromissos, como aquele do voto do celibato, mas desde que isso permaneça “por baixo dos panos”. Não estou afirmando que o cardeal concorde com esse tipo de prática. Mas, talvez sem querer, ele terminou por expressá-la.
É preciso acabar com essa hipocrisia que tolera e encoberta certos comportamentos, desde que eles não se tornem públicos. É preciso cultivar a transparência e a verdade que liberta. Não acredito que Wanda, hoje no final da vida, esteja atrás de notoriedade. Certamente ela quis relevar ao mundo que foi possível, santo, normal e bonito o amor entre um celibatário famoso e uma mulher. João Paulo II deveria ser canonizado exatamente por isso: por ter cultivado algo tão natural. De fato, a santidade é viver segundo o projeto de Deus, que não quis que o homem ficasse sozinho, mas tivesse uma companheira para lhe ajudar.
Amar não é pecado, porque Deus é amor. Quem ama permanece em Deus. Pecado é não amar. Quem não ama ainda não fez experiência de Deus (1Jo 4,7-21). João Paulo II foi personalidade pública, figura marcante na Igreja e no cenário mundial. O que aconteceu com ele serve de referência para muita gente. Que a hierarquia da Igreja Católica aprenda com a experiência de amor de João Paulo II. Que ela passe a ser formada por pessoas que amam de verdade. E que amando alguém concretamente os membros da hierarquia sejam menos rigorosos com os outros, menos hipócritas e mais transparentes. Wanda está de parabéns por ter tornado público a sua relação com o pontífice.
“Não há temor no amor; mas o perfeito amor lança fora o temor, pois o temor implica castigo; e o que teme não é perfeito no amor” (1Jo 4,18). O cardeal Stanislao Dziwisz defende o papa em sua entrevista, afirmando que ele tinha um modo natural de se relacionar com todas as pessoas. Costumava quebrar protocolos e cultivar hábitos, como aquele de, em público, beijar mulheres no rosto. Portanto, a meu ver, não há nada a temer com essa notícia. Pelo contrário, devemos nos alegrar com ela, pois, se for verdade, tivemos um papa que foi, sob esse ponto de vista, humano e santo. Pena que se queira esconder algo tão natural.
Vamos esperar que, mais uma vez, não prevaleçam as máscaras da hipocrisia e da falsidade. “Conhecereis a verdade e a verdade fará de vós homens livres” (Jo 8,32). Por que permanecer escravo da mentira e da ambigüidade? Se João Paulo II amou de verdade uma mulher e permaneceu fiel ao seu compromisso de homem celibatário, por que não colocar isso como referencial para os celibatários e celibatárias de hoje? Não seria isso uma expressão fantástica de santidade? Estou convencido de que o papa amou sendo fiel, mas, se por acaso ficasse provado que ele violou seu voto, isso também deveria ser dito, pois “aquele que comete o pecado é escravo do pecado” (Jo 8,34). E um escravo do pecado não pode ser referencial para os outros. Um papa que defendeu tanto o celibato obrigatório, não poderia ser canonizado se ficasse provado que não cumpriu fielmente esse compromisso. Seria consagrar exatamente o contrário da santidade. Eu pessoalmente estou convencido de que Wojtyla, nesse ponto, foi íntegro. O seu amor por uma mulher foi, ao mesmo tempo, plenamente humano e profundamente fiel. De fato, como afirma Gialdi, “não se pode viver por si mesmo, sozinho. Precisa-se de alguém que compreenda e acolha os segredos do coração e os mistérios da alma”. Agora é esperar para ver, se os burocratas eclesiásticos da Cúria Romana mais uma vez não impuserem o famoso “silêncio sagrado” (Cozzens).


* José Lisboa Moreira de Oliveira, licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília, graduado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, Mestre em Teologia pela Pontifícia Faculdade Teológica da Itália Meridional (Nápoles – Itália), Doutor em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma. Autor de 13 livros e dezenas de artigos sobre o tema da vocação e da animação vocacional. Foi assessor do Setor Vocações e Ministérios da CNBB (1999-2003) e Presidente do Instituto de Pastoral Vocacional (2002-2006). Atualmente é gestor do Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião (CREAR) da Universidade Católica de Brasília, onde também é professor de Antropologia da Religião e Ética.

Dilma diz que Brasil começa processo de saída da crise


Agencia Estado -BRASÍLIA - A ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse hoje que o Brasil, ainda com cautela, começou o processo de saída da crise econômica. Ao afirmar que o governo brasileiro não pode ser responsabilizado pela crise mundial, ela disse, entretanto, que "foi por responsabilidade do governo Lula que temos os efeitos da crise minorados", afirmou, no Palácio do Buriti, durante divulgação do balanço das obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) no Distrito Federal e no entorno.Ao comentar a redução da taxa básica de juros (Selic) para apenas um dígito (9,25% ao ano), Dilma afirmou que atualmente o Brasil pode reduzir seus juros sem comprometer a estabilidade. "É possível para o Brasil crescer com estabilidade e ainda com distribuição de renda", disse ela, citando algumas medidas tomadas pelo governo contra a crise, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de alguns setores, como o automobilístico, e o aumento do salário mínimo."Radicalizamos quando a crise veio, aumentamos os investimentos em infraestrutura para o desenvolvimento econômico e social", afirmou a ministra.Ao falar do Produto Interno Bruto (PIB), que recuou 0,8% no primeiro trimestre do ano na comparação com os três últimos meses de 2008, Dilma comentou que o consumo das famílias voltou a crescer e que, para 2010, o governo espera taxas de crescimento do PIB "bem mais positivas". Dilma, que é potencial candidata do PT à Presidência da República em 2010, trocou elogios no início do evento com o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, filiado ao DEM. Dilma classificou Arruda como "grande parceiro" de execução do PAC, enquanto o governador ressaltou o modo "republicano e apartidário" do governo federal ao tratar dos pleitos do Distrito Federal.

Fonte: Blog Dilma Presidente

ESCLARECIMENTO AOS NOSSOS LEITORES, E AOS JORNALISTAS

A mídia está inconformada com a militância blogueira.
A mídia detesta pessoas que que têm um ideal e o defendem escrevendo, informando, divulgando informações que ela propositalmente omite, esconde de seus leitores. A mídia e seus muitos jornalistas inescrupulosos detestam quem os contraria, quem defende o governo Lula, o presidente Lula e os ideais do governo do PT. Um governo voltado para povo mais pobre, mais necessitado, para os excluídos da sociedade. A mídia não consegue derrubar a popularidade do presidente Lula, e por isso volta-se contra os ideais da esquerda, os ideais de um governo popular, e tenta impedir que o presidente Lula faça seu sucessor. A mídia está inconformada com o fato de que pessoas dediquem seu tempo, gratuitamente, para defender um governo, um presidente que ela detesta. Um presidente nordestino, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, que salvou a economia do país, que promoveu a geração de milhões de empregos e é reconhecido em todo o mundo como o melhor presidente que o Brasil já teve. Ensandecida de frustração, a mídia decidiu atacar os blogs, os blogueiros, que apóiam o presidente Lula e o governo Lula, que apóiam a candidatura da ministra Dilma Rousseff, com ilações, invencionices e mentiras para prejudicar os blogueiros defensores do presidente Lula, do governo Lula: acusam-nos de receber dinheiro do governo, de partidos ou de políticos para manter seus blogs.Todas as entrevistas feitas com os editores do blog Dilma escondem só um interesse: tentar descobrir se recebemos, de quem recebemos, descobrir se a ministra Dilma ou alguém do governo está pautando os blogs.Vou esclarecer novamente a mídia, os jornalões, os jornalistas inescrupulosos: os editores e colaboradores do blog da Dilma, que já mantinham anteriormente – e ainda mantêm – seus blogs Desabafo o Brasil e Por Um Novo Brasil, não recebem e nunca receberam nem um centavo do governo, de políticos, de partidos, ONGs, centrais sindicais ou de quem quer que seja para manter seus blogs. Nunca pedimos e não recebemos nenhum tipo de doação financeira ou de qualquer outro tipo. Como eu, o Daniel também não é filiado ao PT, apesar de sermos petistas de longa data. Nunca recebemos nenhum tipo de pauta ou de orientação de quem quer seja do governo, muito menos da ministra Dilma ou de sua assessoria. A nossa intenção, o nosso ideal, é não permitir que o Brasil cai novamente nas mãos da oposição feroz e virulenta, o PSDB/DEM, que já afundou o país, destruiu a economia, e deixou milhões de pessoas desempregadas, muitas das quais vivendo abaixo da linha da pobreza. Defendemos o melhor governo, o PT, e o melhor presidente que o Brasil já teve, Lula.O blog da Dilma existe para se contrapor à poderosa mídia demo-tucana, que está fazendo campanha antecipada para eleger seu eterno candidato do PSDB, José Serra, desde 2001. O blog da Dilma está incomodando muito a mídia e muitos jornalistas. Entendo porque mídia e os jornalistas inescrupulosos tentam eleger Serra, afinal ele está pagando um ótimo mensalão para a mídia, este sim o verdadeiro mensalão: as escolas do Estado de SP estão recebendo diariamente os jornais e semanalmente as revistas Veja, Época e Isto É para divulgar a ideologia e garantir o império midiático e o empregos de alguns jornalistas. Só a aquisição de 220.000 assinaturas da Revista Nova Escola, da editora Abril, custou aos cofres públicos de SP R$ 3.740.000,00. Isso sem falar no gasto com propagandas da SABESP veiculadas na Globo em várias capitais do Brasil, inclusive onde a SABESP nunca prestou e nem vai prestar nenhum serviço.É óbvio que a mídia e os jornalistas, sendo tão bem remunerados com o mensalão do Serra, vão tentar elegê-lo, e vão cair de pau nos blogs contrários à eleição de Serra para presidente. Já sabemos que Serra, se – por uma imensa desgraça – for eleito, vai afundar o país novamente: Serra é discípulo de FHC, é um FHC piorado. Mas isso não importa para mídia e para os jornalistas inescrupulosos, desde que os deles esteja garantido, mesmo às custa do sofrimento, do desemprego, da fome de milhões de pessoas. Como cidadãos conscientes, temos o dever de escolher quem queremos para governar o país, e temos o direito, garantido na Constituição, de nos expressarmos, e de tornar pública a nossa opinião. Temos o direito e a obrigação de alertar os leitores para o perigo que ronda o Brasil se votarem na oposição feroz e virulenta, no PSDB/DEM, defendida por jornalistas tão inescrupulosos.

Jussara Seixas

Publicado originalmente no blog da Dilma.
http://dilma13.blogspot.com/

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