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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O medo é uma prisão



 

Comento o post que o jornalista Rodrigo Vianna escreveu em seu blog sobre a manifestação que o Movimento dos Sem Mídia fará no próximo sábado diante da Folha de São Paulo. A posição dele, contrária à manifestação, já me havia sido comunicada em conversa que tivemos por telefone, mas não é exatamente essa posição que quero discutir.
A princípio, achei normal o ponto de vista. Depois, refletindo, e levando em conta as opiniões de alguns dos leitores que comentaram o post do Rodrigo, fiquei surpreso e preocupado. Não pelo temor manifestado de que em um ato público pudesse ocorrer alguma provocação, mas por conta de o jornalista e estes leitores indicarem que, diante dessa possibilidade, o caminho seria nos conformarmos e buscarmos uma tática mais “segura”.
Essa tática, para variar, é aquela surrada de cancelarmos assinaturas e convencermos outros a fazerem o mesmo. Bobagem. Quando o MSM fez a exitosa manifestação da Ditabranda, dizem que a Folha perdeu cerca de cinco mil assinantes. Na semana seguinte, sai a notícia de que o governo José Serra fez o dobro de assinaturas para o governo do Estado distribuir o jornal em escolas.
Faz muito tempo que Folhas, Globos, Vejas e Estadões deixaram de depender de assinaturas. Vivem de publicidade e de conchavos financeiros com os governos tucanos e pefelentos.
Mas quero tratar desse medo que me surpreende e deprime porque sou de uma geração que enfrentou de peito aberto aquela ditadura militar violenta e assassina que se abateu nos anos 1960, 1970 e 1980 sobre o Brasil e que trucidava gente que ousasse fazer um protesto público como o que estou propondo. Assim mesmo, a ditadura era enfrentada. E quem enfrentava sabia o risco que corria e assim mesmo enfrentava aquele risco imenso.
O Rodrigo é quase dez anos mais moço do que eu e não creio que viveu como adulto o auge da ditadura, ainda que, àquela época, eu não me envolvesse em política. Os leitores dele que, apavorados, disseram que desistiriam de ir ao protesto de sábado, não sei, mas o temor quase histérico que manifestaram diante da ameaça que o post do jornalista especulou que existiria, deixaram-me meio desanimado com o Brasil.
Que medo é esse, minha gente? Estamos em uma democracia e, se existe alguma ameaça de que um mero ato público, ordeiro e pacífico, gere retaliações como a que Rodrigo especulou que poderiam ocorrer, o que me espanta é que se proponha recuar, aceitar a ameaça quando o correto seria lutar para eliminá-la, pois um país em que um ato público pacífico, onde haverá mera leitura de um manifesto, representa riscos físicos, não é um país civilizado.
Todavia, não acho que é o caso do Brasil de hoje, e medo eu teria à época da ditadura. Medo hoje? Esse pessoal deve estar de gozação... Medo do quê? De violência? De provocações, com um monte de gente presente, com o local sendo filmado e com a Polícia bem ali?
Alguns manifestaram temor de que a Polícia tucana se acumpliciasse a provocadores. Houve um que especulou até que os manifestantes correriam o risco de ser escorraçados sob violência policial. Essas pessoas, ao recuarem diante de tal hipótese, aceitam uma barbaridade dessas, que, a meu juízo, é devaneio, pois só haveria violência se praticássemos violência, o que nunca aconteceu num ato público do MSM.
O medo, meus caros, é uma prisão. Se ele vencesse sempre, ainda viveríamos em cavernas. Desistir de defender ideais por medo de retaliação é cabível em ditaduras e o Brasil não é uma ditadura. Vivemos em uma democracia. Temos que combater esse pavor do nada que vige em nossa sociedade e que deixaria roxos de vergonha os que enfrentaram os militares.
Neste ponto, os latino-americanos hispânicos têm muito mais “aquilo roxo” do que nós. São destemidos e não hesitam em ir às ruas. Tenho visto isso na Bolívia, na Venezuela, no Equador e em tantos outros em minhas viagens.
Faz algum tempo que postei aqui as imagens de um ato público do qual participei no ano passado em Quito, no Equador, em apoio à nova Constituição proposta pelo presidente Rafael Correa. Digo a vocês que havia, naquele ato, no mínimo um milhão de pessoas. Uma coisa linda, impensável num país que, depois da ditadura, parece que se acovardou.
Respeito muito o Rodrigo. É um valente. Não hesitou em enfrentar a Globo. Sou fã dele, do Azenha, do Nassif e tantos outros jornalistas que romperam o círculo de fogo do PIG. E acho positiva a forma como Rodrigo manifestou sua discordância. O debate é sempre relevante sobre qualquer assunto.
O que me preocupou, todavia, foi esse medo exacerbado de boa parte dos leitores do Rodrigo que comentaram seu post em questão. Será que, diferentemente dos heróis que enfrentaram o regime assassino de 1964, tornamo-nos de fato um país de covardes?
Não nos deixemos aprisionar pelo medo. Para alguns, essa se torna uma prisão perpétua.
Até sábado, pessoal. E sem medo.


Por Eduardo Guimarães


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