Durante a campanha presidencial de 2002, a popularidade de Fernando Henrique Cardoso vivia um processo de franca erosão. A inflação ameaçava sair de controle, a economia havia mergulhado num mar de incertezas, amplificadas pela desconfiança dos mercados em relação ao PT.
José Serra não soube como lidar com aquela situação. Era o herdeiro de um governo desgastado, a que pertencia sem nunca ter se identificado com suas opções econômicas. A fórmula "continuidade sem continuísmo", esdrúxula como slogan de campanha, resumia o nó e a dificuldade de uma candidatura que não se definiu entre ser a favor ou contra e vice-versa. Lula venceu, sem medo de ser feliz.
Estamos agora a dez meses da sucessão. É o caso de perguntar se os tucanos não estão hoje numa enrascada simétrica à de 2002, com sinais trocados. Isto é, se não parecem condenados à defesa de algo tão esdrúxulo como o "continuísmo sem continuidade".
Na última quinta, o PSDB levou ao ar o seu programa de TV. O PT fará o mesmo na próxima quinta. Mas os comerciais dos petistas começaram a ser veiculados no sábado. O contraste não poderia ser mais revelador.
Lula e Dilma contracenam numa das peças. As imagens exploram a cumplicidade entre eles. "O presidente Lula nos ensinou o caminho", diz a ministra. A comparação entre o país de FHC e o de Lula ancora o lema da continuidade. O PT tem candidata, tem discurso, tem o maior cabo eleitoral deste país.
No programa do PSDB, Serra fala de um lado, Aécio fala de outro. Trocam elogios, mas à distância -o paulista menciona a competência do mineiro, este retribui com menção aos avanços na saúde obtidos pelo ex-ministro. O jogral soa artificial e escolar. As referências parecem antigas. Os tucanos querem sinalizar o pós-Lula, mas estão presos ao pré-Lula. Não sabem como enfrentar o sapo que virou príncipe. Aliás, quem será o candidato?
Por Fernando de Barros e Silva
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