Crônica
Por: Eduardo Guimarães
O título deste texto é um clichê porque a realidade também é. A vida imita a arte. Nada mais emocionante do que a realidade, hoje em dia.
A nova ordem mundial que se desenha vai pondo fim a séculos de imutabilidade nas relações humanas e de poder. Vivemos a era da liberdade, que aflui de todas as partes, sobretudo do ar, das ondas invisíveis de radiotransmissão que cobrem a Terra como uma teia, de ponta a ponta.
O homem comum adquiriu meios de fazer o que durante milênios só foi permitido aos muito, muito ricos e muito poderosos, a pouquíssimos, os quais, por força do poder de difundir o próprio discurso a muitos, tornaram-se como que donos do planeta.
Hoje, um cidadão qualquer pode aprimorar uma forma de se comunicar, colocá-la na internet e, dali, atrair o interesse e o apoio de milhares e até de milhões.
Desmandos que nunca vieram à luz, hoje podem ser denunciados com considerável eficiência.
Recentemente, em Honduras, vimos um clichê de filme de ação. O presidente de uma pequena república latina tentando pousar um avião numa pista bloqueada às pressas. Ao vivo e à cores, o mundo assistiu à violência dos usurpadores contra uma população indefesa.
Do outro lado do mundo, no Irã, num regime fechado e teocrático, imagens que há nem uma década jamais seriam vistas hoje puderam ser acompanhadas em tempo real. Fatos que mal tinham sucedido por ali já eram comentados nos quatro cantos da Terra.
Até os aparatos de comunicação dos grandes interesses constituídos estão sentindo que não falam mais sozinhos. Freqüentemente, estão tendo que se explicar e justificar, por mais que tentem agir como se desprezassem os novos comunicadores que lhes roubaram o monopólio da comunicação.
E as armações políticas grosseiras? O governador de São Paulo encomenda um prêmio fajuto para receber de uma ONG amiga e enrolada com dinheiro público, mente ao dizer que será premiado pela ONU tentando se contrapor ao seu principal adversário político e a farsa é desmascarada em minutos.
É claro que quem está perdendo poder desdenha da capacidade ainda relativa dos seus opostos de confrontá-lo à altura. Todavia, a mera comparação com o passado recentíssimo mostra quanto poder hegemônico de comunicação foi perdido e em quão pouco tempo.
Se há dez anos dissessem a qualquer um de nós que o Brasil seria governado por Lula e com ele se tornaria uma das economias mais sólidas do mundo, que os Estados Unidos seriam governados por um negro humanista ou que qualquer um poderia desafiar o secular poder da imprensa, o que diríamos?
Sei que o futuro ainda reserva muitas maravilhas ao homem, mas agradeço a Deus por me permitir estar vivendo em uma época na qual, ainda que não se veja a vitória do direito, da verdade e da justiça, ao menos se tem boas razões para ter esperança.
Fonte: Cidadania.com
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