Bob Fernandes, editor da revista eletrônica Terra Magazine entrevistou o deputado federal Emiliano José (PT-BA), repercutindo o rompimento do chefe do PMDB baiano, Geddel Vieira Lima, com o Governo Wagner. O título da matéria é “O que era tragédia com ACM, é farsa com Geddel”. Emiliano critica Geddel pela grosseria política, copiando gestos da antiga oligarquia baiana, ecos do passado como o mandonismo político. Geddel tem feito um jogo de palavras comparando Wagner a Waldir Pires, como se fosse defeito e não mérito. Com ACM isso tudo era uma tragédia, com Geddel não passa de farsa.
LEIA NA ÍNTEGRA O PAU QUE EMILIANO DÁ EM GEDDEL
O que era tragédia com ACM é farsa com Geddel
Terra Magazine – Por Bob Fernandes
Emiliano José é deputado federal (PT-BA). Suplente, assumiu há pouco a vaga de Nelson Pellegrino. Jornalista, professor da Faculdade de Comunicação na Universidade Federal da Bahia, ex-preso político por 4 anos, Emiliano é autor de 8 livros, entre eles "Lamarca, Capitão da Guerrilha" (com Oldack Miranda) e "Imprensa & Poder, Ligações Perigosas". Amigo e de estreita ligação política com o ex-governador e ex-ministro Waldir Pires e com o governador da Bahia, Jaques Wagner, Emiliano rompe o silêncio tático nesta entrevista a Terra Magazine.
Como se viu aqui no sábado último, Geddel Viera Lima, ministro da Integração Nacional no governo Lula, um dos líderes de uma das facções do PMDB, anunciou rompimento com o governo Wagner, no qual tem, entre outras posições, duas secretarias. Geddel rompeu e tem, na paróquia, dito que Jaques Wagner é igual a Waldir Pires. Pretende o ministro que tanto seja uma crítica. O deputado Emiliano esquece o silêncio reinante, mais mineiro do que baiano, e bate:
- Geddel tem sido grosseiro com um aliado, com um governo no qual tem secretarias. O ministro copia gestos e reproduz ecos do passado,da antiga oligarquia baiana (...) Numa oligarquia lá atrás, com ACM, era tragédia, pela voz do Geddel é farsa.
O deputado Emiliano José ressalva que "não gostaria de citar quem já não está". Refere-se a ACM, com quem teve inúmeros entreveros, mas diz que agora o faz porque ao ser questionado sobre semelhanças com Antônio Carlos Magalhães o ministro Geddel tem respondido com críticas a Jaques Wagner e Waldir Pires:
- Ao comparar Wagner a Waldir ele não agride nem a um nem a outro, apenas pretende que isso seja uma agressão (...) e creio que ACM não gostaria dessa comparação com o ministro Geddel, creio por recordar tudo o que ele disse sobre Geddel quando era vivo.
TERRA MAGAZINE - Deputado, o que se passa na Bahia? O ministro Geddel Viera Lima anunciou no fim de semana o rompimento com o governo do petista Jaques Wagner, onde ele tem, entre outros cargos, duas secretarias muito fortes.
EMILIANO JOSÉ - Quem tenha me ouvido em diversas reuniões do PT se lembrará que eu dizia ser essa a crônica de um rompimento anunciado. Dizia porque percebia a movimentação do ministro no interior do próprio governo Wagner, desenvolvendo atividades nitidamente paralelas, nunca destacando as realizações do governo Wagner, sempre ressaltando apenas o trabalhos das secretarias sob seu domínio e com uma cultura, um linguajar político que lembra muito mais o passado oligárquico da Bahia do que os novos tempos, republicanos e democráticos, conduzidos pelo governador. Geddel prenunciava o rompimento...
TERRA MAGAZINE - E o rompimento se deu...
EMILIANO JOSÉ - Havia um esforço do governador em preservar a aliança, Wagner levou sempre em consideração o PMDB no quadro nacional, no governo Lula, enquanto Geddel foi esquentando a hipótese do rompimento, aparentemente como se vivesse um dilema hamletiano, mas foi sempre um dilema confortável porque amparado nas secretarias de Infraestrutura e Indústria e Comércio. Dois anos e meio depois ele rompe. É um direito dele sair, disputar o governo, mas o que me impressiona é a cultura política que ele revela, na verdade volta a revelar, porque ele é o que sempre foi.
TERRA MAGAZINE - A que "cultura" você se refere?
EMILIANO JOSÉ - Nitidamente a ecos do passado. Isso que estamos ouvindo são ecos do passado oligarca, de mandonismo. O ministro copia gestos e atitudes da oligarquia que governou a Bahia por muito tempo.
TERRA MAGAZINE - Deputado, sutilezas e eufemismos à parte, o sujeito presente mas ausente nas suas frases é Antônio Carlos Magalhães. Ou não?
EMILIANO JOSÉ - É, mas eu não gostaria de fazê-lo, tento não fazê-lo. Ele já não está - entre nós e eu que tive com ACM divergências públicas, explícitas, inclusive de natureza nacional, não gostaria de citá-lo, até por respeito à família...
TERRA MAGAZINE - Mas...
EMILIANO JOSÉ - Mas como eu soube que essa comparação entre ele e ACM tem sido eventualmente citada e ele responde com o que imagina serem ataques ao governador Wagner e ao ex-governador Waldir Pires, não posso deixar de notar que são evidentes as semelhanças entre as atitudes do ministro e antigas atitudes e práticas do ex-governador Antônio Carlos.
TERRA MAGAZINE - O que foi dito que o incomodou?
EMILIANO JOSÉ - Nos últimos dias, perguntado se gostava ou se incomodava-se ao ser comparado a ACM, Geddel disse que não se incomodava e não se incomodava porque havia também quem comparasse Wagner a Waldir. Ora, isso de um lado reflete a cultura da grosseria, a falta de civilidade política de quem é aliado do governo, está dentro do governo, e ainda assim pretende agredir duas figuras do porte do governador e de Waldir, essa figura extraordinária da vida brasileira. Não agride nem a um nem a outro, apenas pretende, e ao fazê-lo cada vez mais se parece com o que havia de pior em quem já não está entre nós.
TERRA MAGAZINE - ACM?
EMILIANO JOSÉ - ...E creio que ACM não gostaria dessa comparação com o ministro Geddel, creio por recordar tudo o que disse sobre Geddel quando era vivo. Mesmo que eu não entre no mérito do que era dito, não tenho como esquecer que tudo aquilo foi dito e repetido inúmeras vezes. O que não se contesta, nem se pode contestar, é uma candidatura dele ao governo; isso é da vida política, é um direito, mas é necessário contestar os métodos e os meios: estando dentro do governo, sendo teoricamente um aliado, passar a agredir ao governador e a Waldir não tem sentido, não educa politicamente. Não revela respeito algum por nada, é o poder pelo poder. Não pretendemos e não vamos ouvir ecos das vozes do passado. Numa oligarquia lá atrás, com ACM, era tragédia, pela voz do Geddel é farsa.
Fonte: Bahia de Fato
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