O Conversa Afiada sempre defendeu a tese de que o Zé Pedágio tem menos chance de ser Presidente em 2010 do que o Vesgo do Pânico.
Porque o Zé Pedágio e os tucanos de São Paulo são a barriga de aluguel da elite branca, racista e separatista de São Paulo.
E o Brasil sabe disso.
Por trás do choque de “jestão”, do “avanço”, do “restaure-se a moralidade” dos udenistas de São Paulo está a questão da Federação.
E o resto do Brasil não quer mais saber desse tipo de paulista.
De paulistismo.
Porque, como diz o notável pernambucano Fernando Lyra, “São Paulo não pensa o Brasil”.
Neste domingo, fiz para o “Domingo Espetacular” da Record uma reportagem sobre o ataque da Polícia de Zé Pedágio à comunidade de Heliópolis, a maior favela da São Paulo.
É o décimo ataque da polícia de São Paulo ao que Zé Pedágio chama de “vândalos” das favelas de São Paulo, nos nove meses deste ano.
É um padrão de comportamento.
Um estilo de governar.
Em Heliópolis, 91% dos habitantes são nordestinos.
E, segundo calculo da UNAS, a associação dos moradores, desses 91% só 10% votam em São Paulo.
A reportagem teve 17 pontos na leitura preliminar do IBOPE.
Eu já me referi aqui – clique aqui – ao “homo sacer” de Giorgio Agamben e ao “Estado de Exceção” que “o nosso Putin” fundou em São Paulo.
Talvez fosse importante também voltar à experiência americana, para sustentar essa tese de que o racismo, o preconceito contra o nordestino é a agenda subterrânea da eleição de 2010.
Abraham Lincoln foi o primeiro presidente do Partido Republicano dos Estados Unidos.
Também por isso, o Sul escravista e derrotado na Guerra da Secessão sempre votou democrata.
Até que o presidente Lyndon Johnson, aquele que se atolou no Vietnã, mas realizou o que John Kennedy não conseguiu, até que Johnson assinasse, em 1964, a Lei dos Direitos Civis, que garante direitos iguais aos negros americanos.
Um ano antes, Martin Luther King Jr. tinha feito o famoso discurso do “I have a dream”.
Quando assinou a Lei dos Direitos Civis, Johnson teria dito: nunca mais teremos (nós, democratas) os votos do Sul.
Dito e feito.
O Sul só votou Democrata, agora, com Obama.
E como os Republicanos usam a carta racial, ou dão a senha de que adotarão políticas segregacionistas e escravistas, agora que é politicamente incorreto ser racista (explicitamente) ?
Como é que Nixon, Reagan e Bush avisaram ao Sul que não se preocupasse: que podia contar com eles, na hora de botar os negros na cadeia, porque ameaçavam as moças brancas ?
Há duas senhas que todo sulista americano capta rapidamente.
Uma é dizer que os republicanos passaram a adotar uma “estratégia para o Sul,” “a Southern estrategy”.
Ou seja, uma política racista, velada, mas racista.
A outra é dizer que “isso cabe aos Estados decidir”.
Ou seja, reacender a imagem da Secessão, em que os Estados do Sul não queriam se submeter à abolição proposta pelo Norte de Lincoln.
É o mesmo que dizer que o Estado sulista da Georgia pode continuar a usar a bandeira Confederada, a bandeira das forças escravistas, até hoje.
O Estado é quem decide.
Até se quiser mostrar que ainda é escravista …
Aqui em São Paulo, há várias maneiras de segregar os pobres nordestinos, especialmente os que não votam em São Paulo.
A mais eficaz é não gastar dinheiro em serviços sociais: escola, creche, hospital, transporte, esgoto.
Não usar dinheiro de imposto dos outros com os “homo sacer” da periferia.
E há várias maneiras de passar a senha secreta, sub-liminar ao eleitorado.
A senha do “não se preocupe, porque não vou gastar seu dinheiro com eles”.
Uma, é chamar os que protestam contra a violência da Polícia de “vândalos”.
Ou seja, criminalizar o protesto.
Quem protesta é bandido, traficante.
Gente boa não protesta.
Quando era Ministro do Interior, Sarkozy chamou os estudantes africanos (ou descendentes de africanos) de “racaille”, “ralé”, “escuma da Terra”.
Elegeu-se presidente com a bandeira do racismo (velado).
Como Nixon, depois de Johnson, elegeu-se presidente com a bandeira da “Lei e da Ordem”, ou seja, pau neles !
Outra senha que os brancos elitistas de São Paulo captam nas entrelinhas é oferecer passagem só de ida ao nordestino que não se deixar internar num campo de Auschwitz.
Nenhum tucano precisa dizer ao morador da rua Rio de Janeiro, em Higienópolis, que é racista.
Basta usar a palavra “vândalo”.
Basta mandar eles embora, assim, em surdina, aos sussurros, para o PiG (*) não ouvir .
Os nordestinos de São Paulo não vivem em guetos nem em Soweto.
É diferente.
Não é o apartheid físico, geográfico.
Eles, apenas, são inferiores.
Não importa onde estejam.
Se ao lado do Palácio do Governo, dentro do Morumbi, na fronteira com São Caetano do Sul, ou na Avenida Jornalista Roberto Marinho, Nas costas da Daslu, embaixo do Minhocão.
Em qualquer lugar, eles são inferiores.
Para Hitler, os judeus cometeram muitos crimes.
Mas, para Hitler, como os eslavos, os judeus tinham um defeito central: eram inferiores.
Os nordestinos são inferiores.
Se os tucanos paulistas disserem isso, em código, os moradores de Higienópolis percebem.
O problema é que há o risco de os nordestinos e os outros brasileiros perceberem também.
Paulo Henrique Amorim
Em tempo: Devo essas reflexões a uma amiga navegante muito especial, a jornalista Geórgia Pinheiro.
Fonte: Conversa Afiada
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