FALANDO DO IBOPE
Em 26 de agosto de 2009 foi publicado no site da Veja.com (http://veja.abril.com.br/260809/lula-nao-fara-sucessor-p-072.shtml) uma entrevista com Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, na qual este faz um prognóstico acerca da eleição de 2010, afirmando categoricamente que Lula não fará sua sucessora. As razões apontadas por Montenegro são as seguintes:
a) O PT estaria em processo de decomposição: com o mensalão, o PT teria perdido a marca de partido que impunha o estandarte da moral;
b) Não teria surgido novas lideranças no PT e a apresentação de Dilma, como candidata, seria muito artificial: ela não teria carisma, jogo de cintura, nem simpatia. Ademais, as pessoas não entenderiam o significado do que é ser “mãe do PAC”, não seria uma boa sacada;
c) Dilma, “talvez”, teria atingido o seu teto eleitoral, 20%. A transferência de votos de Lula para Dilma não seria suficiente para fazê-la vencedora, sendo certo que esta estaria ocorrendo somente entre os mais pobres.
d) Serra seria o provável vencedor em 2010, por que estaria contando ao fim do ano com 40% das intenções eleitorais o que já ocorrera com FHC e Lula no passado, confirmando a vitória de ambos;
e) Marina Silva poderia ter grande votação, em razão de ter uma trajetória pessoal parecida com a de Lula: humilde, agricultora, empregada doméstica, carismática, e por já ter enfrentado as urnas.
Contestação
Apesar do prestígio do entrevistado, parece que quanto a suas posições há algumas impropriedades passíveis de crítica que apontamos a seguir:
A análise de Montenegro tem como foco o fator de imagem de Dilma a quem considera pouco prestigiada e com baixo carisma.
Também, aponta o PT como um partido em ruínas, sem quadros de expressão, o que nesse caso toma como equivalente a quadros com projeção nacional.
Aposta que Dilma, que mal começou a ativar o eleitorado nacional, já teria atingido seu ápice eleitoral e que não sairia do índice dos 20% de intenções.
E como contra ponto, talvez sugerido pelo entrevistador, apresenta Marina como aquela que detém o que Dilma não teria: prestígio, carisma e trajetória de vida simples.
Reflexos ainda de 2006
A leitura do presidente do Ibope parece desprezar alguns fatores que se fizeram evidentes com Lula em 2006 e que parecem sugerir uma tomada de postura diferenciada de leitura eleitoral do brasileiro.
Lula em 2005 e 2006 foi atacado pelos meios de comunicação e com a ampla divulgação do incidente midiático do mensalão pensava-se improvável sua reeleição. Ocorre que já em meados de novembro e dezembro de 2005, segundo institutos de pesquisa como o DataFolha, Lula já ostentava uma média que se confirmaria durante todo o ano de 2006, e que se converteria em vitória nas urnas.
Esse eleitorado, conforme confirmaram pesquisas acerca da compreensão do que teria sido o “mensalão” demonstrou que não havia alienação por parte do eleitorado, mas uma interpretação diversa daquela sugerida pela imprensa.
Esse padrão comportamental, contra as mídias foi sustentado, majoritariamente, por eleitores na faixa salarial de até 5 salários mínimos. Negros e mulatos. E com maior concentração eleitoral no Norte e Nordeste do país.
A questão que deve ser observada é que Lula ativou o eleitorado a revelia de uma ampla influência midiática negativa, isso ocorreu por que o eleitorado brasileiro em sua maioria votou em políticas públicas de fruição direta, portanto percebida com forte base de realidade. Quer dizer Lula promoveu políticas públicas que saíram do papel e que não se materializaram somente em discursos de publicidade governamental.
A par disso, as pesquisas acerca da preferência partidária no Brasil demonstraram, ao contrário do que sugeriu Montenegro, a superação dos maiores índices por parte do PT, depois de 2006. O PT continua sendo o partido com maior preferência partidária segundo as pesquisas.
Se por um lado ocorreram dissidências que levaram a alguns membros e apoiadores a deixarem o partido ou então a não indicarem preferência partidária para o PT, também, em contra-partida, o partido dos trabalhadores recebeu apoio e adesão de novos contingentes sociais, o que demonstra um fortalecimento partidário a partir de novas bases e de uma leitura mais realista e madura do contexto nacional por parte desses apoiadores.
O fator imagem do candidato
Montenegro ao apontar como base negativa de Dilma, sua imagem de pessoa inflexível e sem carisma, não o faz com rigor científico.
O fator de imagem, que normalmente é ativado pela publicidade ou pela ampla veiculação pelos meios de comunicação, trata-se de um fator cujo efeito possível de produzir no eleitorado é de curto prazo, ou seja, efêmero, e cujo resultado duradouro, em longo tempo, necessita de reiteração nos meios de comunicação.
Não é por acaso que ainda Dilma não ficou conhecida totalmente pelo eleitorado, sobretudo, no que diz respeito a sua ligação direta com o perfil do governo Lula. Mas isso estará ocorrendo processualmente, a medida que for mais percebida nos meios de comunicação.
Tanto mais isso vem ocorrendo, o impacto imediato tem sido o seu crescimento nas intenções de voto. Dilma não vencerá pelo fator de imagem, este também irá contar, mas sua vitória será o resultado do reconhecimento dos mais pobres e da classe média brasileira de que Lula iniciou um processo sólido de estabilização econômica somado à materialização de políticas públicas que favorecem diretamente milhões de pessoas.
Ademais, não é verdade que Dilma não seja carismática. Ao contrário do que afirma Montenegro, Dilma tem se mostrado conciliadora, simpática, muito prática e realista. Basta observar as entrevistas que a ministra tem oferecido aos veículos de comunicação que se dispõe a entrevistá-la.
Contudo, a fala de Montenegro revela um sintoma - que por vezes tem contaminado os indivíduos que fazem parte da faixa mais privilegiada economicamente da sociedade – do entendimento de que os mais pobres não têm capacidade de análise acerca de seus interesses, ou ainda, da realidade política nacional. Essa leitura elitista tanto é verdade que quando os mais pobres se afirmaram favoráveis à Lula, no passado, foram e continuaram sendo tratados como sujeitos alienados que se submetem a um processo de assistencialismo e populismo.
Esse tipo de leitura, porém, poderá facilitar mais ainda a vitória de Dilma. Se Montenegro entende que o eleitorado não reconhecerá Dilma como sucessora de Lula, por que não detém bom slogan e carisma, está tomando bases de análise equivocadas. O eleitorado, em sua maioria, está subordinado ao reconhecimento de um projeto em andamento. Mas isso parece algo que não se pode esperar de um povo “pobre e intelectualmente limitado”.
Sobre Serra e Marina
A superioridade de Serra nas indicações eleitorais é que, em verdade, tem se mostrado limitadas a um teto. Serra tem ao seu favor a lembrança no eleitorado – já que foi candidato em 2002 – que tomam o mesmo como uma referência possível de votos. Mas esse fator de imagem poderá se mostrar frágil diante de condições estruturais (políticas públicas) do governo Lula. Isso, não por que se trata da opinião pessoal de quem escreve o presente texto, mas em razão do que a tradição dos estudos eleitorais em todo o mundo tem demonstrado como fator superior para a definição eleitoral.
É por essa mesma razão que a figura de Marina não produzirá grande impacto. Esta deverá ser muito menos votada do que fora Luiza Helena, no passado. A razão para isso é que a candidata do PSOL (que não disputará novamente a presidência) obteve grande votação tomando o apoio de uma parte do eleitorado que não se dispunha a votar no PT – dada a publicidade negativa do “mensalão” – mas ainda assim não votaria em opções de direita. Ainda assim, esse eleitorado votou em Lula no segundo turno.
Sobre o fator 40%
Se, é verdade que Lula no final do ano de 2005 contava com índices superiores a 40%, também é verdade que FHC obteve sua reeleição, mesmo sendo mal avaliado pela maior parte da população. Isso ocorreu por causa do fator de maior peso naquela eleição, que foi uma questão estrutural de primeira ordem e constituída em longo prazo, a questão da estabilidade econômica e o combate à inflação.
Mas, mesmo naquele período histórico, as medidas privatizantes e o arrocho social tucano já não eram bem quistos. Lula provou ser possível submeter à estabilidade econômica, um regime governamental de ampla ação social. Por isso atinge hoje índices nunca antes obtidos por nenhum presidente. E esta leitura que leva a sua boa avaliação é uma leitura do eleitorado em geral acerca da realidade nacional e não acerca da imagem de Lula - carismático, de origem humilde - tão somente.
Não devemos analisar a conjuntura somente por números, mas entender a conjuntura da mesma. Se por um lado Lula venceu em 2006, mesmo sob forte cobertura midiática desfavorável, George Bush (o pai) era muito bem avaliado (por mais de 80% do eleitorado) e mesmo assim perdeu de Clinton (um candidato que desde sua campanha já era acusado de escândalos sexuais).
Dilma continuará crescendo nas indicações eleitorais. Devemos ficar atentos ao trabalho de pesquisa dos diferentes institutos.
Por isso diferentemente de Montenegro afirmo, Lula fará seu sucessor, que será uma mulher, Dilma Roussef.
Fonte: Adicional contradicción
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