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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Morra Eloá. Viva Serra/Kassab!

Após um mês e quatro dias, volto a postar neste espaço.
Quis fazê-lo antes, porém achei melhor me conter um pouco. Julguei que estava muito exaltado após ter de suportar uma campanha eleitoral local pautada no discurso corrente do "eu sou melhor porque porque fulano(a) deu mais cheques sem fundo do que eu" além de outros argumentos e esforços para ver demonstrar quem roubou mais. Ver uma eleição municipal ser resolvida com argumentos como estes, quando se tinha outros simultaneamente, mas sem espaço por conta do barulho das torcidas do eterno BaVi da política jacuipense me convenceu de que não havia possibilidade de uma discussão racional num momento em que só a paixão tem lugar e poucos me levariam a sério. Passada a euforia da insana eleição municipal, vieram fatos de abrangência nacional tratados de forma semelhante, e como tal, não encontrei razão para comentar de imediato.
Após perceber que embora minoria, já existe alguém menos covarde que eu, que começou a opinar contrariamente à bíblia midiática, ou seja, o Código de Processo Tucano Paulistano. Aqui vou eu mais uma vez.


Eu poderia abordar com destaque nesta postagem, as vidas que foram salvas pelo gesto solidário da família da menina Eloá, ao autorizar a doação de órgãos daquela que foi sacrificada por uma tragédia, mas que por um gesto de solidariedade consegue manter pulsando seu coração, oxigenando e filtrando outro sangue, dando luz a outras pessoas, enfim possibilitando que outras sete vidas tenham prosseguimento em perfeitas condições de saúde.
Não sem reconhecer a grandeza deste gesto, devo também falar de algo que na contramão da ética e do exemplo dado pela família de Eloá, fez e continua a fazer a imprensa brasileira.
Enquanto o país chora e exporta mais uma vez para o mundo a imagem de um país que se destaca também pelo despreparo da polícia, o gesto insano de Lindemberg caiu como providencial para cobrir outro fato escandaloso ocorrido em São Paulo um dia antes da tragédia "protagonizada" por uma pessoa fora de si.
Com a ajuda da mídia, o governador José Serra, dá ao país o "veredicto" irrecorrível sobre fatos absurdos provocados e alimentados pela incompetência, indiferença e arrogância.
O fato ao qual me refiro, ocorrido um dia antes da tragédia anunciada que sacrificou Eloá, foi o incidente do enfrentamento entre policiais civis e militares em frente ao Palácio Bandeirantes. Por total irresponsabilidade, incompetência e indiferença no trato da segurança pública do Estado de São Paulo, o governador José Serra, dá prosseguimento à política de arrocho salarial e opressão ao funcionalismo público paulistano. Há 14 anos que a polícia de São Paulo não tem aumento salarial. Com tal situação, torna-se totalmente desnecessário buscar outra razão para o nascimento e o "cultivo" de grupos criminosos como o PCC que nasceu dentro dos presídios paulistanos no período em que o estado é (des)governado pelo PSDB.
Na quinta-feira passada, quando o país assistiu estupefato à guerra entre as duas polícias de São Paulo, a mídia foi de uma competência "serrenha". Logo foi buscar do governador José Serra o "veredicto" para anunciar ao país a causa daquele vergonhoso incidente. E a culpa, claro, era do PT, do PDT, da CUT e da Força Sindical. Enfim, daqueles que apóiam a candidatura de Marta Suplicy à prefeitura da capital paulistana.
Motivação política. Eis o veredicto do tribunal de um homem só, José Serra. A autoridade suprema, irrecorrível em seus veredictos aos quais a mídia interpreta como lei e lhe dá efeitos efeito de lei. Após a sentença serrana, a imprensa completa o texto da peça jurídica e já sabe quais termos finais de uma sentença e os cumpre sem penstanejar, afinal é sentença do juiz, portanto, Intime-se. Registre-se. Publique-se. Cumpra-se. Após, Arquive-se.
E como fiel cumpridora da "lei serrana" a imprensa brasileira, após o ritual de praxe, encerrou o caso.
Foi um julgamento em tribunal de um homem só. Não teve defesa, não teve testemunhas, não teve advogado ou promotor nem conselho de senteça (jurados). Bastou o entendimento monocrático do Serra e dispensou-se todas as demais vozes. Nem réu, nem vítima, nem sociedade teveram direito à palavra.
Divulgou-se a sentença e o assunto morreu, ou seja, deu-se o arquivamento do feito transitado em julgado com resolução do demérito na forma do artigo da melhor conveniência do Código de Processo Tucano Paulistano.
E como a morte de Eloá beneficiou a dupla Serra/Kassab nesta história?
Ora, com a dimensão que o caso tomou e com a comoção que causou, além de contribuir para que o povo paulistano não perceba o caos que o PSDB criou em São Paulo, não somente, mas sobretudo, na segurança pública, e principalmente não saiba quem são os principais culpados por tudo isso, ficou muito fácil distorcer tudo, ignorar o que não interessa aos interesses de José Serra (neste momento, eleger Kassab para a prefeitura Paulista, para fortalecer a candidatura de Serra à Presiencia da República em 2010) e colocar toda a culpa da incompetência de uma polícia abandonada, sem material técnico e humano adequado, atribuindo tudo isso ao acaso e principalmente ao descontrole de um criminoso inconseqüente que por ciúmes matou a ex-namorada.
Mais uma vez, uma pessoa morreu para salvar a "ordem", os status quo da elite paulistana, tal qual ocorreu com a cruxifição de Cristo, que serviu à manutenção do domínio do povo pela elite sacerdotal judaica, a única classe que tirava vantagem da dominação romana na Palestina, há 2000 anos atrás.
Poderia ainda falar dos inúmeros erros cometidos pela incompetente polícia paulistana. Mas, tentei fazer isto oralmente com quem ía encontrando, porém quase que a totalidade das pessoas com quem tratei do assunto, já havia sido intimada da sentença "serrana" pela mídia e não pude mais falar nisso, visto que o caso já transita em julgado, portanto, sem recurso.
Nem mesmo o fato de um dos maiores especialistas em segurança pública do mundo, um brasileiro que treinou a SWAT estadunidense, os seguranças do Vaticano e agentes de segurança de Israel ter declarado no Fantástico, ontem à noite, que a incompetência da polícia neste episódio o fazia sentir vergonha de ser brasileiro, teve repercussão na imprensa. Como a opinião de uma pessoa tão gabaritada como este especialista, compromete por demais o veredicto serrano, o assunto parou ali e contrariando a praxe e a lógica, não foi mais exibido em nenhum outro telejornal da Globo, a menos que eu não tenha prestado a atenção necessária, apesar dos meus esforços para tanto.
A partir daí, todas as reportagens feitas pelas TVs, enfocam apenas a frieza e o grau de periculosidade do marginal descontrolado. Os "supostos" erros da polícia que devolveu uma ex-refém menor de idade ao seqüestrador, além dos outros erros e total ausência de meios técnicos e profissionais indispensáveis à solução deste caso, deixaram de ser questionados. Afinal, repito: o processo transitou em julgado e arquivado com resolução do demérito na forma do artigo da melhor conveniência do Código de Processo Tucano Paulistano. Irrecorrível, portanto.

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