Antes de tudo, é preciso explicar do que se trata a crise financeira internacional. Tudo começou como uma crise de “subprime”, termo que significa ativos podres, ou seja, títulos de crédito emitidos contra pessoas físicas e jurídicas incapazes de honrá-los.
No entanto, com a decisão do governo Bush de deixar quebrar o banco Lehman Brothers em setembro do ano passado, estabeleceu-se como que um efeito dominó de desconfiança entre os agentes econômicos, pois um não sabia se o outro tinha comprado aqueles títulos podres - e em que medida, que a partir de determinada grandeza poderia levar aquele agente a não ter como honrar seus compromissos.
Estabeleceu-se, pois, uma crise de confiança que paralisou o crédito no mundo rico e em uma parcela do Terceiro Mundo.
A paralisação generalizada do crédito em economias baseadas tão significativamente e justamente em... crédito, como são as economias americana e européia, esse fenômeno empurrou aqueles países a processos de depressão econômica, gerando ondas de demissões e de quebradeiras que, inclusive, continuam se propagando e até aumentando.
A gravidade dessa crise, como eu já disse, é a de que se trata de uma crise de confiança, em boa medida psicológica. Não é por outra razão que os governos das grandes economias já despejaram trilhões de dólares em seus mercados internos: é para tentar retirá-los de um processo literalmente autofágico, inclusive tentando aumentar-lhes o nível de confiança interna.
Esse processo de desconfiança demolidor atingiu o Brasil da seguinte forma: apesar de não termos nosso sistema financeiro metido com títulos podres nem nos EUA nem em lugar nenhum, principalmente aqui, e de atualmente dependermos pouco do comércio com americanos e europeus, havia muitas linhas de crédito em nossa economia baseadas em crédito no exterior, e essa fonte parou de jorrar de repente.
O sistema bancário brasileiro também entrou em pânico e contraiu suas linhas de crédito, sem dizer do fato de que também perdeu acesso a crédito externo.
Entra o governo federal em cena oferecendo dinheiro a rodo, na mesma medida do crédito externo extinto, mas os bancos sentam em cima do dinheiro e não repassam aos tomadores desse crédito, já em fila querendo tomá-lo efetivamente. Estão com problemas psicológicos: medo de a crise aumentar.
O governo federal entra em cena de novo e pressiona o sistema financeiro para que empreste, e o crédito começa a aparecer. Porém, lá se foram dois meses, tempo suficiente para o pânico econômico acirrar a crise, pois medidas como demissões preventivas paralisam o consumidor, que pára de consumir e esvazia a carteira de pedidos do atacado, que, por sua vez, suspende encomendas à indústria.
Mais uma vez o governo federal entra em cena. O presidente da República, em pronunciamento à nação, pede ao brasileiro que compre a fim de “fazer a roda da economia girar”. É dezembro. A população, em grande parte, atende. Mas ainda é insuficiente para apagar os efeitos do auge da crise de confiança importada nos dois meses anteriores e em parte daquele.
O resultado disso tudo ainda será sabido. Posso dizer, no entanto, que, devido à boa arrumação da economia, ao nível de confiança do brasileiro diante da crise (o segundo mais alto do mundo) e à literal montanha de dinheiro e de instrumentos para estimular a economia que o governo tem à disposição, é muito provável que consigamos resistir às ondas que partem do Norte do mundo.
A coisa toda se resume a confiança. Quanto menor ela for entre os agentes econômicos no Brasil, pior para todos. O mesmo efeito dominó que se abateu sobre os EUA, abater-se-ia sobre nós.
Imaginem uma fortaleza muitíssimo bem armada, sólida, mas sendo alvejada incessantemente. É a economia brasileira. Apesar de a OCDE, o FMI, o Banco Mundial, entre outros, dizerem que a nossa economia é a mais sólida do mundo diante da crise, a mais sólida das fortalezas pode cair, em algum momento.
Detalhe: uma peça de artilharia que ataca a fortaleza acima e que está causando grandes estragos, são as más notícias e as más notícias exageradas ou deformadas. Há variedade de casos de agentes econômicos que tomaram decisões pró estagnação econômica com base em notícias, sem realmente necessitarem daquela decisão.
Tanto pior, portanto, se os ocupantes da fortaleza entrarem em pânico e, assim, descuidarem da própria defesa. Como dizem por aí, “Deus ajuda a quem ajuda a si mesmo”.
Posso ser “louco”, mas não sou bobo
Do portal G1, em São Paulo
Marcelo Cabral
17/01/09 - 10h00
"Em ambiente mundial de recessão, Brasil pode ser ilha [de prosperidade], avaliam OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento), FMI e Banco Mundial"
Fonte: Cidadania.com
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