Toda vez que começo a escrever tento me convencer de que, daquela vez, conseguirei contornar um fenômeno que vem se mostrando inexorável e que venho tentando entender e contornar no decorrer destes anos em que me tornei blogueiro. Como evitar, em temas polêmicos, que uma parcela dos leitores leia o que não escrevi?
Por exemplo: se eu disser que o julgamento dos Nardoni está sendo injusto haverá quem diga que os estou defendendo, apesar de que simplesmente estou manifestando meu inconformismo com a forma como o casal está sendo julgado.
É óbvio que as evidências são muito fortes e que os réus não conseguiram oferecer uma única versão minimamente crível para o que aconteceu com uma criança que estava sob sua guarda. Só esse fato já seria suficiente para colocá-los em um nível de desvantagem difícil de ser revertido. Não existe, pois, a menor necessidade desse massacre.
Há pouco, enquanto começava a escrever, assistia, pela Globo News, a entrevista coletiva do defensor dos Nardoni, o advogado Roberto Podval. Uma multidão de jornalistas o bombardeava não só com perguntas, mas com agressões verbais. E ressaltemos que não estamos falando da massa histérica que cerca o local do julgamento e que chegou a agredir o advogado fisicamente.
Nessa entrevista, os jornalistas debatiam com Podval de uma forma inacreditável. Não consegui entender o que pretendiam tirar dele, que suava e se exasperava e dizia uma grande verdade que venho dizendo aqui, de que essas pessoas que estão pedindo condenação sumária dos Nardoni se arriscam a um dia serem vítimas de uma Justiça que pode ser coagida a julgar desta ou daquela forma.
Não importa se os Nardoni são culpados ou inocentes. O que importa é que, mesmo sendo culpados, têm direito a um julgamento justo, o que não é possível quando o público só falta levar pipoca e refrigerante ao “espetáculo” do seu linchamento.
Esse julgamento está sendo perda de tempo. Os Nardoni já estão condenados. Inclusive devem merecer a condenação da qual é certo que não conseguirão escapar, mas não serão só eles as vítimas desse processo legal farsesco. A Justiça será a principal vítima.
Da forma como esse julgamento está transcorrendo, tenho a impressão de que haverá boas chances de ser anulado posteriormente, talvez até favorecendo os réus e lhes facultando impunidade.
O julgamento deveria, obrigatoriamente, transcorrer em serenidade, mas se converteu em linchamento. E não será linchando que se fará justiça. Um processo como esse tem que ser livre de pressões aleatórias, midiáticas e de turbas, pois julgamentos justos são a base de um Estado Democrático de Direito que está sendo pisoteado.
Fanatismo e irracionalidade
Do portal IG
26/03 - 15h42m
Pelo terceiro dia seguido os manifestantes que estão de plantão em frente ao Fórum de Santana, em São Paulo, pedindo a condenação do casal Nardoni, protagonizaram cenas de violência e intolerância. A polícia havia prometido reforçar o policiamento no local, mas nada fez até o momento.
Apenas nesta sexta-feira, três casos de agressão foram registrados ao fórum, onde é realizado o julgamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusados da morte de Isabella. No último deles, o tenente coronel Ricardo de Souza orientou que o estudante Igor Silva fosse embora, pois "não tem condições de garantir a segurança dele". Igor foi agredido com socos e pontapés por ter defendido a inocência do casal Nardoni.
Assim como o estudante, minutos antes, o microempresário Marco Antonio de Souza, que foi ao fórum para acompanhar a mulher, também foi agredido. Ao comentar que ninguém ainda provou que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá são culpados, também levou socos e pontapés, inclusive de mulheres. Uma senhora, aparentando 50 anos, deu um soco no rosto do microempresário.
Souza tentou se refugiar dentro do fórum. O tenente coronel Ricardo de Souza quis colocá-lo para fora e só mudou de ideia ao ser avisado por jornalistas que o microempresário estava sendo agredido. Um dos agressores, o estudante Robson da Silva de Moraes, chegou a ameaçá-lo na frente do comandante da PM. "Se vier tumultuar aqui, o bagulho vai ficar ruim."
Um pastor evangélico, identificado apenas como Adenildo, também sofreu agressões nesta sexta-feira. Expulso a tapas e empurrões da frente do fórum por defender o perdão aos réus, precisou de escolta policial para escapar de dezenas de pessoas que o agrediam e o ameaçavam física e verbalmente.
São cinco os casos de agressão até agora em frente ao fórum. Na quarta-feira, um manifestante tentou dar um chute no advogado de defesa do casal, Roberto Podval. Na quinta, Rodolfo Gouveia Lima, operador de telemarketing, precisou de escolta policial após ser agredido.
Adenildo chegou ao fórum por volta do meio-dia. Com um evangelho na mão, iniciou sua pregação. "Quem nunca errou? Apontem aqui quem nunca cometeu um erro na vida. Pode ter até algum ladrão aqui nessa multidão pedindo justiça."
No início, os manifestantes apenas observavam espantados a coragem do pastor de defender o casal, mas aos poucos passaram do espanto para hostilidade e agressões físicas.
Ster Silvano Filante, que trabalha como acompanhante de idosos, mas está na porta do fórum desde segunda-feira, grudou com as duas mãos na lapela do terno do pastor e passou a ameaçá-lo. O gesto dela desencadeou uma onda de agressões por parte de outros manifestantes. O carroceiro Evanderson dos Santos jogou um copo de água em Adenildo.
Uma turma de cerca de 20 pessoas começou a empurrá-lo e persegui-lo para longe do fórum. A polícia demorou agir e, quando chegou ao local, se limitou a tentar tirar Adenildo daquela situação. Em momento algum tomou qualquer atitude contra os agressores – a exemplo do que já tinha feito com advogado e o operador de telemarketing. As hostilidades só pararam quando o pastor foi levado para dentro do quartel da PM que fica atrás do fórum.
"Eu não queria agredir. Só queria que ele me ouvisse, mas ele se recusava a me ouvir", justificou Ster. "Esse cara vem aqui dizer que Deus perdoa, ninguém aqui quer o perdão de Deus. A gente quer cadeia para os assassinos. Para mim, ele deve ter recebido alguma coisa dos Nardoni", acusou Evanderson.
Além de pedir a punição do casal Nardoni, os manifestantes aproveitam o julgamento para defender causas como redução da maioridade penal, adoção da prisão perpétua e a pena de morte.
O artista plástico Israel de Jesus, conhecido como Tesourinha e autor de inúmeros grafites no centro da cidade, passou mal e foi levado para o hospital da Vila Nova Cachoeirinha com quadro de desidratação. Tesourinha estava na porta do fórum desde segunda-feira. Ele passou as noites na calçada e, segundo policiais que o atenderam, não comia nada desde quinta-feira à tarde.
Eduardo Guimarães
Fonte: Cidadania.com
1 Comment:
Sem dúvida que sempre que seguimos um blog ou somos seguidos, formamos uma verdadeira teia, capaz de ter um alcance quantitativo e qualitativo para matérias formativas e informativas, que mídia alguma consegue ter. POR ISSO PARABÉNS PELO BLOG.
Doutra feita, CONVIDO VOCÊ, seus seguidores e quem você segue, para lerem matéria sobre o espetáculo SAGRADO E PROFANO, que ocorrerá na cidade de Senador Pompeu, interior do Ceará, no pequeno Distrito de Engenheiro José Lopes. Experiência artística que mobiliza toda a população, que além de encenar a Paixão de Cristo ainda tem os caretas, que há cerca de 70 anos, saem pelas ruas. Experiência artística, social, política, folclórica, econômica..... que merece ser relatada, imitada e, sendo possível, vista e visitada ao vivo. Boa leitura em:
www.valdecyalves.blogspot.com
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