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terça-feira, 30 de março de 2010

Eu acredito em pesquisas

Muitos não acreditam em pesquisas, mas eu acredito. Afinal, o homem demorou milhões de anos para desenvolver a ciência estatística e não serei eu a negar que ela tem como analisar a freqüência de eventos de forma a estimar a ocorrência de fenômenos futuros como, por exemplo, o voto majoritário de grandes contingentes populacionais.

Os exemplos de acertos de pesquisas de intenção de voto são vastos, o que prova que é possível, a cada momento de uma campanha eleitoral, saber, quando se quer mesmo, o que sente e pretende o eleitor e entender as suas variações de humor e de disposição, bem como seu nível de conhecimento dos elementos que, em conjunto, levam-no para este ou para aquele lado.

Contudo, além de acreditar em pesquisas também acredito que elas podem – e que costumam – ser fraudadas, sobretudo quando quem o faz acredita que aqueles que pretende enganar não têm cérebro suficiente para perceber a manipulação. Ou seja: fraudar pesquisas é aposta na burrice, no comportamento de manada, enfim, na mediocridade humana.

Neste momento em particular, pois, vivemos uma situação bastante curiosa em relação às pesquisas. Só no que se fala é que são manipuladas. Nenhuma consegue passar incólume à metralhadora dos dois lados da grande disputa deste ano. Provavelmente, porque todos esses que as acusam estão certos.

Pelo menos é o que parece quando os diretores de dois famosos institutos de pesquisa fazem previsões sobre números que ainda não foram pesquisados, como é o caso de Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, ou de Marcos Coimbra, do Vox Populi.

Montenegro é o campeão dos tucanos por ter dito que Serra ia papar essa de lavada e que seus adversários estavam todos mortos. Já Coimbra, é o campeão dos petistas porque, apesar de não dizer o resultado da eleição, ao menos não diz que ela já acabou e que Dilma perdeu, chegando à ousadia de dizer que ela pode até vencer.

Antes que os petistas fiquem zangados comigo – no que teriam toda razão –, revelo que acho que um dos dois (Montenegro ou Coimbra) tem razão simplesmente porque um dos lados terá que vencer. E, em minha opinião, o dizer do diretor do Vox Populi é muito mais ponderado.

Tem-se, então, o seguinte quadro entre os institutos de pesquisa disponíveis:

Ibope – Ninguém mais acredita nele, nem os tucanos que o instituto pensa que pode beneficiar

Vox Populi – Petistas acreditam nele em peso e os tucanos não acreditam na mesma medida.

Sensus – Visto com desconfiança generalizada por ser ligado a políticos dos dois lados

Datafolha – Longo histórico de manipulações e ligado ao jornal mais serrista do Brasil

Coincidentemente, esses institutos vêm apresentando todos os mesmos números com pequenas variações, com exceção das recentes desafinadas do Ibope e com a considerável desafinada que imagino que nos próximos dias ficará demonstrado que o Datafolha deu.

Com esses institutos que estão aí, acho que fica um pouco mais difícil acreditar em pesquisas. Mas sabe-se que não podem subverter totalmente os princípios básicos da Estatística, os quais se prendem a nada mais, nada menos do que tendências. Estas, mais do que os números em si, podem ser observadas para entender o que se quer.

Olhar pesquisas isoladamente, dar credibilidade a um único instituto num momento em que um deles se presta a produzir pesquisa para embalar o lançamento de uma candidatura, é perder tempo. Mas, em meio às fraudes, sempre escapará um fio de verdade. Só que não necessariamente no ponto que aquela sondagem pretendeu focalizar.

No caso do último Datafolha, há contradições flagrantes no voto espontâneo e na saída de Ciro Gomes da disputa presidencial, saída que, no instituto de pesquisa da família Frias, praticamente não provoca oscilações.

O fato, enfim, é que quase toda a grande indústria estatística privada está caindo na tentação de se deixar usar como arma eleitoral, o que promete tornar a campanha à Presidência da República a mais confusa da história. Em 2010, portanto, o brasileiro enfrentará seu maior teste cívico.

Mas posso garantir uma coisa: mesmo estando tão difícil acreditar em pesquisas ultimamente, acredito gostosamente nelas. De uma forma ou de outra.

Eduardo Guimarães

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