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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

DEM-DF reafirma apoio a Arruda

Em reunião do diretório regional do DEM do Distrito Federal, os ex-correligionários de José Roberto Arruda anunciaram apoio do partido ao governador do DF. No encontro, os democratas afirmaram que terão candidato próprio ao governo nas eleições distritais e pretendem lançar nomes para todos os cargos. De acordo com o secretário-geral do DEM no DF, Flávio Couri, os principais nomes do partido, atualmente, são o secretário de Transportes Alberto Fraga e a deputada distrital Eliane Pedrosa.

- Enquanto o plano de governo estiver sendo cumprido, o partido apóia esse plano. O partido também reafirmou a confiança no presidente do DEM, Paulo Octávio.

O vice-governador Paulo Octávio, que também é presidente do DEM do DF, afirmou na reunião que não concorrerá ao governo. Paulo Octávio, no entanto, não descartou a possibilidade de concorrer em 2010. No partido, comenta-se que o vice pode se lançar ao Senado.

O destino de Paulo Octávio, segundo participantes da reunião, ainda é indefinido. Nem mesmo o partido sabe o que o vice de Arruda planeja para o futuro. A convenção do partido está marcada para o dia 13 de junho.

Colegas de partido acreditam que se Paulo Octávio não se descompatibilizar do governo até o dia 2 de abril é grande a possibilidade de o presidente do DEM ser o candidato da sigla na disputa majoritária ou sair como vice de outro nome da legenda.

Fonte: Os Amigos do Presidente Lula

Mensalão do DEM: PPS-PSDB e DEMos fazem CPI do panetone acabar em pizza

O presidente da CPI da Codeplan na Câmara Distrital, deputado Alírio Neto (PPS), fez uma manobra para encerrar as investigações.

O PPS está envolvido no mensalão do DEM através da secretaria de saúde, que era comandada ppelo deputado Augusto Carvalho (PPS~DF).

A manobra do deputado do PPS foi dizer que a criação da CPI foi assinada justamente pelos deputados afastados pela Justiça, por isso não teria valor.

DEM e PSDB, envolvidos no mensalão, participaram da manobra

Ele teve o apoio de outros três membros da CPI, todos da base de apoio de Arruda:
- Eliana Pedrosa (DEMos)
- Raimundo Ribeiro (PSDB)
- Batista das Cooperativas (PRP)

A voz dissonante foi a de Paulo Tadeu (PT), único oposicionista na CPI.

O Haiti é aqui – em SP










Não, a foto acima não é do Haiti. O que você vê é a população de uma das cidades mais ricas do mundo revoltada com uma tragédia humanitária que emula em vários aspectos a do país caribenho.
Dá medo viver hoje em São Paulo. A cidade mais rica do país é, também, a que se tornou uma selva desconhecida onde tudo pode acontecer. Até você morrer afogado, ser soterrado, ter seus bens destruídos em questão de minutos, adoecer por contaminação de enxurradas de água infectada com excrementos e todo tipo de material infeccioso...
Nos jornais e tevês, o prefeito da cidade, Gilberto Kassab, culpa São Pedro e a população vitimada pelo descaso não só da Prefeitura, mas do governo do Estado. A cada tragédia, mídia, prefeito e governador de São Paulo citam novos recordes de precipitação pluviométrica e de lixo atirado nas ruas pela população atingida.
Todavia, a principal causa dessa tragédia foi desnudada por reportagem da jornalista Conceição Lemes no site Viomundo. Conceição mostra que o que aumentou não foi nem o lixo na rua nem o mau humor de São Pedro, mas o descaso das autoridades municipais e estaduais.
As obras de desassoreamento do rio Tietê não estão sendo feitas como deveriam e a coleta de lixo foi reduzida no âmbito do “choque de gestão” tucano-pefelê. Essa compulsão por interromper obras e acumular recursos em caixa fez com São Paulo o que poderá fazer com o Brasil se essa gente vencer a eleição presidencial deste ano.
Nos bairros de classe média que ainda não foram atingidos, boa parte da população paulistana ainda compra as desculpas do prefeito e do governador, mas a foto acima dá uma boa dimensão do que começa a acontecer nas periferias.
As conseqüências da tragédia humanitária que está se abatendo sobre enormes contingentes de paulistanos ainda não foram totalmente mensuradas. Problemas de saúde pública, aumento da criminalidade, destruição de patrimônio público e privado são apenas alguns dos efeitos colaterais do caos paulistano.
A população está cada vez mais desesperada e começa, na marra, a entender o erro que cometeu em 2004 e repetiu em 2008. A popularidade de Kassab despencou. Na periferia paulistana, é cada vez mais comum ouvir a população dizer que tem saudade de Marta Suplicy.
Na verdade, o que no Haiti precisou de um terremoto para ganhar visibilidade, em São Paulo precisa apenas de uma chuva mais forte. E a causa das tragédias é a mesma tanto no país caribenho quanto na capital paulista: o descaso e a ausência do Estado. Sem falar na corrupção.

PS: O título de eleitor de cada cidadão na foto acima vale tanto quanto o da madame do bairro dos Jardins em São Paulo que diz, com expressão de asco no rosto, que "A culpa é desse povo porco".
 Eduardo Guimarães

A resposta do PT


O Partido dos Trabalhadores, em nota publicada nesta quinta-feira ao fim da manhã, respondeu ao ataque do senador tucano por Pernambuco, Sergio Guerra, à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
À diferença do que a mídia fez com a nota de ataque a Dilma, a do PT, que ataca o governador José Serra, foi escondida pelos portais de internet. Só nesta sexta-feira saberemos se os jornais farão o mesmo.
Já a nota tucana atacando Dilma ficou quase a tarde inteira e a noite de quarta-feira em evidência nos portais de internet e foi reproduzida em todos os jornais desta quinta-feira.
De qualquer forma, como também na blogosfera a resposta assinada pelo presidente em exercício do PT, Ricardo Berzoini, e pelo presidente eleito da legenda, José Eduardo Dutra, não ganhou destaque, reproduzo-a neste post.
O interessante da nota é que ela denuncia a elementar estratégia de Serra de mandar seus comandados atacarem Dilma, chamando o governador para a mesma briga que nem ele nem Dilma comprarão.
Leiam a nota oficial do PT em resposta à nota do PSDB que atacou Dilma.

Nota oficial do PT

“Em nota publicada na noite da última terça-feira (19), dizíamos que ‘torcemos para que o PSDB se encontre e produza um programa de governo, para que possamos ter um debate de alto nível neste ano eleitoral'”.

“A nota divulgada ontem (20) pelo presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, mostrou que nossas esperanças eram infundadas. De forma desqualificada, vil, caluniosa e grosseira para com a Ministra Dilma Rousseff, o que merece repúdio de todos, a nota revela o desespero por que passa a oposição brasileira, incapaz de produzir um programa de governo que sensibilize os corações e as mentes dos brasileiros”.

“Até entendemos o desequilíbrio do senador Sérgio Guerra, que, recentemente, em entrevista à revista Veja, descuidou-se e revelou as verdadeiras intenções de seu partido em acabar com o PAC, o que deve ter lhe rendido severas reprimendas de seus pares”.

“No entanto, o que mais salta aos olhos é a hipocrisia do candidato de PSDB, José Serra, que ao mesmo tempo em que afirma estar ‘concentrado no trabalho’ e que ‘não vai entrar nenhum bate-boca eleitoral de baixaria’, usa o presidente do seu partido como um verdadeiro jagunço da política para divulgar uma nota daquele teor”.

“O PT reafirma que pretende fazer um debate de propostas e projetos, em alto nível, que permita ao povo brasileiro escolher o caminho mais adequado ao nosso país”.

Ricardo Berzoini – presidente nacional do PT

José Eduardo Dutra – presidente nacional eleito do PT

21 de janeiro de 2010

Os pecados do Haiti

A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental. Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações aos estrangeiros. O artigo é de Eduardo Galeano.
Eduardo Galeano
A democracia haitiana nasceu há um instante. No seu breve tempo de vida, esta criatura faminta e doentia não recebeu senão bofetadas. Era uma recém-nascida, nos dias de festa de 1991, quando foi assassinada pela quartelada do general Raoul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou. Depois de haver posto e retirado tantos ditadores militares, os Estados Unidos retiraram e puseram o presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que tivera a louca idéia de querer um país menos injusto.
O voto e o veto
Para apagar as pegadas da participação estadunidense na ditadura sangrenta do general Cedras, os fuzileiros navais levaram 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado. Deram-lhe permissão para recuperar o governo, mas proibiram-lhe o poder. O seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos, mas mais poder do que Préval tem qualquer chefete de quarta categoria do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não o tenha eleito com um voto sequer.
Mais do que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez que Préval, ou algum dos seus ministros, pede créditos internacionais para dar pão aos famintos, letras aos analfabetos ou terra aos camponeses, não recebe resposta, ou respondem ordenando-lhe:
– Recite a lição. E como o governo haitiano não acaba de aprender que é preciso desmantelar os poucos serviços públicos que restam, últimos pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os professores dão o exame por perdido.
O álibi demográfico

Em fins do ano passado, quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Mal chegaram, a miséria do povo feriu-lhes os olhos. Então o embaixador da Alemanha explicou-lhe, em Port-au-Prince, qual é o problema:
– Este é um país superpovoado, disse ele. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.
E riu. Os deputados calaram-se. Nessa noite, um deles, Winfried Wolf, consultou os números. E comprovou que o Haiti é, com El Salvador, o país mais superpovoado das Américas, mas está tão superpovoado quanto a Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilômetro quadrado.
Durante os seus dias no Haiti, o deputado Wolf não só foi golpeado pela miséria como também foi deslumbrado pela capacidade de beleza dos pintores populares. E chegou à conclusão de que o Haiti está superpovoado... de artistas.
Na realidade, o álibi demográfico é mais ou menos recente. Até há alguns anos, as potências ocidentais falavam mais claro.
A tradição racista

Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações aos estrangeiros. Então Robert Lansing, secretário de Estado, justificou a longa e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de governar-se a si própria, que tem "uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização". Um dos responsáveis da invasão, William Philips, havia incubado tempos antes a ideia sagaz: "Este é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que haviam deixado os franceses".
O Haiti fora a pérola da coroa, a colónia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com mão-de-obra escrava. No Espírito das Leis, Montesquieu havia explicado sem papas na língua: "O açúcar seria demasiado caro se os escravos não trabalhassem na sua produção. Os referidos escravos são negros desde os pés até à cabeça e têm o nariz tão achatado que é quase impossível deles ter pena. Torna-se impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, num corpo inteiramente negro".
Em contrapartida, Deus havia posto um açoite na mão do capataz. Os escravos não se distinguiam pela sua vontade de trabalhar. Os negros eram escravos por natureza e vagos também por natureza, e a natureza, cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir o amo e o amo devia castigar o escravo, que não mostrava o menor entusiasmo na hora de cumprir com o desígnio divino. Karl von Linneo, contemporâneo de Montesquieu, havia retratado o negro com precisão científica: "Vagabundo, preguiçoso, negligente, indolente e de costumes dissolutos". Mais generosamente, outro contemporâneo, David Hume, havia comprovado que o negro "pode desenvolver certas habilidades humanas, tal como o papagaio que fala algumas palavras".
A humilhação imperdoável

Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos tinham conquistado antes a sua independência, mas meio milhão de escravos trabalhavam nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era dono de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores.
A bandeira dos homens livres levantou-se sobre as ruínas. A terra haitiana fora devastada pela monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França, e um terço da população havia caído no combate. Então começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém comprava do Haiti, ninguém vendia, ninguém reconhecia a nova nação.
O delito da dignidade

Nem sequer Simón Bolívar, que tão valente soube ser, teve a coragem de firmar o reconhecimento diplomático do país negro. Bolívar conseguiu reiniciar a sua luta pela independência americana, quando a Espanha já o havia derrotado, graças ao apoio do Haiti. O governo haitiano havia-lhe entregue sete naves e muitas armas e soldados, com a única condição de que Bolívar libertasse os escravos, uma idéia que não havia ocorrido ao Libertador. Bolívar cumpriu com este compromisso, mas depois da sua vitória, quando já governava a Grande Colômbia, deu as costas ao país que o havia salvo. E quando convocou as nações americanas à reunião do Panamá, não convidou o Haiti mas convidou a Inglaterra.
Os Estados Unidos reconheceram o Haiti apenas sessenta anos depois do fim da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um gênio francês da anatomia, descobria em Paris que os negros são primitivos porque têm pouca distância entre o umbigo e o pênis. A essa altura, o Haiti já estava em mãos de ditaduras militares carniceiras, que destinavam os famélicos recursos do país ao pagamento da dívida francesa. A Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França uma indemnização gigantesca, a modo de perda por haver cometido o delito da dignidade.
A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental. 
Enviado por David Machado.
 
 

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O que significa recon$truir o Haiti?


Do blog de Juliano Keller


Comentaristas esportivos dizem que o craque no futebol é aquele jogador que já sabe o que fazer mesmo antes de ter a bola nos pés. Como eles dizem, é aquele que "antevê" a jogada.
Pois é, enquanto parte do mundo se solidariza com a tragédia do Haiti e outra parte já pensa nos lucros com a reconstrução do país, o jovem professor Juliano Keller "antevê" a jogada e nos lembra que para o capital o que interessa é o lucro, seja na paz ou na tragédia.
Leia o comentário do Juliano logo abaixo, depois assista ao vídeo sobre o livro mencionado (Klein, Naomi. A doutrina do choque - Ascensão do capitalismo do desastre. Editora Nova Fronteira) clicando na imagem de vídeo do YouTube e fique estarrecido com a lógica do capitalismo neoliberal.


O Haiti é um dos países mais pobres do mundo. Isso todo mundo sabe. Cerca de 70% do povo do Haiti vive abaixo da linha da pobreza. Isso todo mundo sabe. O que boa parte dos ingênuos habitante deste planeta - e estou incluído nesse seleto grupo - não sabe é o que farão com aquele pobre país? A indagação foi criada justamente como gancho no post anterior: o livro "Doutrina do Choque - Capitalismo de Desastre". Volto a dizer que quem tiver a oportunidade de adquirir o livro o faça. Nele, tem-se a narrativa cruel de como um certo país situado na América do Norte, influenciado por políticos e economistas sem quaisquer escrúpulos, se aproveitam, por exemplo, de desastres climáticos (furacões, enchentes, etc.), guerras, ou até de ataques terroristas para encontrarem uma excelente oportunidade de verem o Mercado tomar conta daquilo que já foi Público. No mantra do Mercado Global, não existe país, não existe cultura, não existem fronteiras. Tudo é volatilizado. Uma coca-cola aqui, um big mac ali, quem sabe um wall-mart acolá. Com a total destruição do Haiti, seja pelo terremoto, seja pela total degradação humana (saques e explosão de violência generalizada), fica aqui a minha pergunta: será que vão reconstruir o país ou transformá-lo, de vez, num imenso resort para os endinheirados? Fico com a segunda hipótese.

Visite o blog de Juliano Keller: http://direitoforadolugarcomum.blogspot.com/


Pescado do Blog Gerivaldo Neiva

BORIS C. E AS PULSÕES REPRIMIDAS: UM CAÇADOR DE COMUNISTAS À LUZ DA PSICANÁLISE














Este é um caso real, relatado com maestria pelo Dr. Julius Sodemberg.
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Boris C.: os Garis como Bodes Expiatórios das Pulsões Reprimidas
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O caso de Boris C. tem como chave de compreensão o preconceito e a agressividade. Pesquisando a vida desse personagem observa-se que esses dois comportamentos já se manifestavam em sua juventude, seguramente como reflexos de processos anteriores que construíram uma mente fragilizada e sujeita à sublimação constante de seus desejos. Veja-se a reportagem de 1968 revela sua filiação a organizações criminosas na juventude (1), em um tipo de gangsterismo pseudo-politizado e com forte componente de tentativa de afirmação da masculinidade. Para mim, está evidente que o recurso à violência é uma forma de construir uma imagem que oculte os verdadeiros desejos mantidos prisioneiros pelo superego.
Para entender melhor, é preciso pensar nas raízes do preconceito e da agressividade. Vamos entender como cada um desses se manifesta no caso em questão.
O preconceito e a resposta à frustração
A psicanálise não tem uma explicação única para o preconceito. É preciso saber que tipo de preconceito é apresentado pela pessoa analisada, para daí identificar os processos que levaram à construção do preconceito.
O preconceito pode surgir como imitação do comportamento de familiares, especialmente na tentativa de imitar a figura paterna para aproximar-se da mãe. Também pode surgir como resultado de processos mais complexos, normalmente baseados em alguma experiência de frustração ou sofrimento extremo. No caso em estudo, não foi possível obter informações sobre a forma como seus pais e outros familiares se referiam aos garis (ou “lixeiros” como se dizia antigamente e ainda se usa hoje de maneira preconceituosa e depreciativa). Pode ser que o menino Boris, em sua infância nos anos 1940-1950, ouvisse referências negativas aos profissionais da limpeza pública. Mas isso, aconteceu com milhões de outras pessoas, e sozinho não é um fato que justifique o tipo de comentário que gerou a recente execração pública do indivíduo aqui estudado. Assim, é recomendável procurar outros processos que, pelo menos, complementem a explicação.
O preconceito pode se originar do medo. É comum, por exemplo, que o preconceito contra imigrantes acirre-se em momentos de crise econômica, quando as pessoas têm medo de perder seus empregos. Medos atávicos são retomados, muitas vezes recorrendo a estereótipos que correspondem a figuras arquetípicas. Talvez o medo de Boris C. surja ao compreender que sua decadência como jornalista é inexorável, e que simboliza, de certa forma, a decadência de um tipo de jornalismo e de sociedade e dominação a que ele tem servido por décadas. Em reação, Boris C. mira aqueles que para ele representam melhor seu grande e odiado inimigo, o presidente Lula: os trabalhadores manuais menos qualificados.
Em um belo texto que se refere coincidentemente ao preconceito contra os ancestrais de Boris C., os judeus, Mauricio Waldman mostra como o preconceito está ligado às pulsões e aos sentimentos reprimidos (2):
Neste âmago, convivem todos os sentimentos reprimidos, formando uma reserva pulsante do irracional (…) tais pulsões se atiram decididamente na tarefa de conspurcar, violentar e profanar, macular o belo, o gentil, o virtuoso, o piedoso e o maravilhoso. Em especial, elas encontram o seu alvo nas formas que foram eliminadas do espaço, desqualificadas pelo tempo, atiradas para fora da História e da Geografia.

Se formos olhar para os “lixeiros” de Boris C., eles são exatamente aqueles que estão fora da História, ignorados pela cidade enquanto trabalhadores invisibilizados pelo preconceito; e também expulsos da Geografia, moradores das áreas periféricas, dos cortiços e das favelas, expulsos da cidade da elite Esse medo não pode ser buscado apenas em sentimentos objetivos. Não sem motivo, Waldman nos fala sobre a reserva pulsante do irracional. E o que está instalado nesse irracional? Que pulsões serão essas? A psicanálise nos ensina que “existem essencialmente duas classes diferentes de pulsões: as pulsões sexuais, percebidos no mais amplo sentido – (Eros) e pulsões agressivas, cuja finalidade é a destruição” (3). A Pulsão de Morte, central entre as pulsões agressivas, muitas vezes tem sua gênese ligada às pulsões sexuais. Assim, devemos buscar as origens das pulsões na repressão sexual.
Lendo-se atentamente a reportagem sobre ele e seus amigos de juventude, acima citada, é fácil identificar, apesar da reserva com a qual o repórter trata o tema, que se trata de um ambiente de extrema repressão de pulsões sexuais. O que é a choperia onde se reuniam, senão o espaço de sublimação das pulsões recalcadas por meio da construção de uma camaradagem de rapazes que tentam provar sua masculinidade uns aos outros? E a presença da violência como código e valor básico de conduta do grupo de criminosos com o qual Boris C. convivia, segundo o repórter? Novamente, é preciso recorrer às pulsões reprimidas para entender como aqueles rapazes associam-se, na verdade, não para caçar comunistas, mas para caçar os fantasmas das fantasias sexuais que recalcavam dentro de si.
A agressividade como expressão da negação do eu
E, assim, identificando a violência como peça central no mecanismo de recalque de fantasias associadas a pulsões de ordem sexual, chegamos à agressividade.
Freud aborda a agressividade já ao tratar das experiências analíticas de Dora (1905) e de Hans (1909). A partir do estudo desses casos, Freud associou agressividade ao sintoma, responsabilizando-a pela sua produção e reprodução (3). A agressividade muitas vezes é manifestação e válvula de escape do medo, da frustração ou do recalque.
Ao assumir a agressividade como modus operandi da sublimação, o indivíduo muitas vezes toma o caminho da construção do fetiche. Busca, assim, associar a prática da violência com objetos que, de alguma maneira, ofereçam-lhe a segurança que seu eu fragilizado não é capaz de oferecer a si próprio. Não é sem motivo, portanto, que a reportagem de sua juventude menciona que Boris C. gostava de andar armado. Se hoje não tem mais esse hábito, muniu-se de outra arma, o microfone, um outro objeto fálico que evoca o mesmo poder masculino que uma pistola.
Ao desviar a garantia de sua segurança emocional para um objeto que evoque esse poder, o indivíduo normalmente projeta para o exterior um eu que não sente como o seu, mas que vê-se obrigado a projetar. Ao agarrar-se à agressividade baseada em um instrumento e postura arquetipicamente masculinizante, pode fantasiar que é capaz de esconder dos outros o Eu doloroso e frágil com o qual convive, mas não consegue aceitar.
Nem sempre é possível, no entanto, manter isso. Não é sem motivo que seus colegas do tempo de militância na organização criminosa CCC – Comando de Caça aos Comunistas diziam que ele era “mole” com os comunistas. Esse tipo de desvio comportamental tem essa característica: por trás dessa agressividade normalmente esconde-se um grande covarde, que apenas consegue atacar os fracos, mas costuma abaixar-se para os mais fortes e poderosos.
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Referências
(1) CCC ou o Comando do Terror. Reportagem de Pedro Medeiros. Revista O Cruzeiro, 9 de novembro de 1968.
(2) WALDMAN, M. Arquétipos, Fantasmas e Espelhos. GEOUSP – Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 23, pp. 44 – 64, 2008.
(3) PAULON, W. Agressividade e psicanálise (2009). Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/26980/1/agressividade-e-psicanlise/pagina1.html

Fonte: Cloaca News

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Mídia agourenta se inspira no Chile

Ainda é cedo para prever o resultado do segundo turno da eleição presidencial no Chile, marcada para 17 de janeiro. O postulante da direita, o megaempresário Sebastián Piñera, está à frente das pesquisas. Diante do risco de retrocesso, colunistas da mídia e intelectuais demo-tucanos já põem as suas garrinhas de fora para analisar os motivos da sonhada derrota do candidato da presidente Michele Bachelet e para tirar conclusões precipitadas sobre a sucessão presidencial no Brasil.

Eles comemoram o fato de que a popularidade não se transfere mecanicamente – nem Chile nem no Brasil. Bachelet tem o apoio de mais de 75% da população e não conseguiu emplacar a vitória da sua aliança, a Concertación. Lula, que bate recordes de popularidade, também teria as mesmas dificuldades, apostam os neoliberais de plantão. Outra comparação saudada é que no país vizinho a esquerda saiu rachada e a direita uniu suas forças. Por isso, os demo-tucanos sonham tanto com as candidaturas de Ciro Gomes, Marina Silva e Heloisa Helena. Querem repetir a tática chilena.

Particularidades de cada país

O estrategista chinês Sun Tzu, no livro “A arte da guerra”, já ensinou que “se você não conhece nem o inimigo nem a si próprio, perderá todas as batalhas”. Neste sentido, é bom prestar atenção à tática do bloco brasileiro conversador-neoliberal. Ela tem certa consistência. De fato, não é tão simples transferir votos. Isto não se dá automaticamente. Depende do carisma da candidata, das alianças forjadas, da plataforma eleitoral, entre outros quesitos. Além disso, a tendência é que as forças de esquerda e centro-esquerda saiam divididas na batalha sucessória de outubro próximo.

Mas apenas isto não justifica o otimismo agourento dos demo-tucanos. Para a sua tristeza, cada país tem suas peculiaridades. No Chile, a Concertación já está no poder desde 1989, desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet. No geral, ela manteve o programa econômico neoliberal e não promoveu maiores mudanças políticas e sociais. A aliança centrista sofre, portanto, um natural desgaste. No Brasil, a situação é diferente. O bloco popular-democrático que sustenta Lula está há pouco tempo no governo e não é visto, pela maioria do povo, como força conservadora. Além disso, a oposição de direita não está tão unida assim – que o digam Aécio Neves e José Serra.

“Expressão maior do pinochetismo”

De toda forma, qualquer que seja o resultado das eleições no Chile, ele dará muito que falar. O susto da presidente Michele Bachelet é evidente. No primeiro turno, em 13 de dezembro, o seu candidato, Eduardo Frei, obteve 29,6% dos votos, contra 44,05% do direitista Sebastián Piñera – uma distância folgada. Já o jovem Marco Enríquez-Ominami, de centro esquerda, teve 20,13%, e o candidato apoiado pelo Partido Comunista ficou com 6,21% dos votos. O PC e outras forças já anunciaram apoio critico a Eduardo Frei, mas o risco de retrocesso no Chile é preocupante.

O que incomoda na cobertura da mídia e no otimismo dos tucanos, alguns que inclusive viveram o terror do regime de Augusto Pinochet, é o silêncio sobre o que significaria a vitória de Piñera. Como alerta Gustavo de Mello, num excelente texto na Carta Maior, ele é a maior “expressão do pinochetismo”; freqüentou os porões da ditadura. O seu irmão, José Piñera, ministro de Pinochet, foi o criador da Administração dos Fundos de Pensões (AFP), que entregou ao capital privado os recursos dos chilenos; bancou a Lei Mineira, que isentou de impostos as multinacionais; e, como ministro do Trabalho, foi autor do Plano Laboral, que precarizou os direitos trabalhistas no país.

Fortuna nas sombras da ditadura

Na sombra do regime sanguinário, Sebastián Piñera fez fortuna. Hoje é dono de várias empresas, inclusive no ramo das comunicações. Boa parte desta riqueza foi construída com base em fraudes no sistema financeiro, segundo denúncias de autoridades da própria ditadura. Monica Madariaga, ex-ministra da Justiça, confirmou recentemente que Piñera teve ordem de prisão decretada pelas fraudes cometidas no Banco de Talca e por crimes contra a Lei Geral de Bancos.

Num artigo bastante equilibrado, Manuel Cabieses, editor da revista chilena Punto Final, adverte para os riscos da eleição de Sebastián Piñera em 17 de janeiro. Ele é taxativo na sua conclusão: “A perigosa situação interna e regional que se criaria com a vitória da direita no Chile legitima a necessidade de se bloquear esta manobra das oligarquias. A realidade indica que não há outro caminho que votar em Eduardo Frei... E pôr-se a trabalhar por uma alternativa de esquerda que permita a libertação da arapuca do ‘mal menor’”. Reproduzo abaixo trechos da sua análise:

Aliado do narcoterrorista Uribe

É certo que, no plano da economia, salvo terminar de privatizar o que ainda não privatizaram a ditadura e a Concertación, um governo de Piñera não se diferenciaria muito de um de Frei. Mas haveria mudanças regressivas em outros âmbitos. Por exemplo, em direitos humanos. Ele ditaria uma anistia para os militares já condenados ou interromperia os processos de outros criminosos e torturadores. No terreno sindical, ele imporia a flexibilização trabalhista e outras medidas para debilitar o movimento dos trabalhadores. A repressão à luta social seria ainda mais dura. Por trás de uma pretensa defesa da “segurança cidadã”, se levantaria um Estado policial.

Piñera se declara admirador do governo da Colômbia e de seus métodos. Visitou a Colômbia em julho de 2008 e percorreu esse país no avião presidencial, acompanhando Álvaro Uribe e do então ministro da Defesa, José Manuel Santos, hoje candidato presidencial. Em outubro passado, Santos enviou ao Chile três membros de seu comando de campanha, Juan Carlos Echeverry, Tomás González e Santiago Rojas, para estudar a campanha e o estilo de Piñera. “Os problemas no Chile e na Colômbia não são tão distintos. Ambos os países estão preocupados com a segurança cidadã e o gasto social em saúde e educação”, declarou um dos assessores de Santos.

O governo de Uribe gerou o mais delicado problema que hoje enfrenta a América Latina ao firmar com os EUA um acordo que submete a soberania colombiana para permitir a instalação de sete bases militares norte-americanas. Se Piñera for eleito presidente, alinhará o Chile com a Colômbia e outros países da região que arriaram a bandeira da dignidade latino-americana. Uma perigosa tendência que vem ganhando força a partir do golpe de Estado em Honduras e que busca configurar um bloco contra Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador e Nicarágua, os países da Aliança Bolivariana dos Povos da América (ALBA).

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Golpe “hondurenho” ronda o Paraguai

Desde o final do ano passado, crescem os rumores de que um golpe ronda o vizinho Paraguai. O presidente Fernando Lugo, adepto da “teologia da libertação” e batizado pelo povo de “bispo dos pobres”, enfrenta intensa resistência no Legislativo, onde seus aliados estão em franca minoria, e assiste sucessivas crises entres os poderes. No início de 2010, nova crise institucional se instalou com a recondução aos seus cargos de dois ex-ministros do Supremo Tribunal. Aproveitando-se da briga entre o Legislativo e Judiciário, as forças direitistas tentam retornar ao governo central.

A ofensiva lembra muito o golpe de junho passado em Honduras. Para depor o presidente eleito democraticamente, que encerrou décadas de domínio oligárquico no Paraguai, a direita procura dar uma fachada de “legalidade” ao golpe de estado. As suas lideranças nem escondem mais este objetivo. Falam abertamente em promover um “hondurazo”. Em recente entrevista à Rádio Nacional, da Argentina, o senador Alfredo Luís Jaeggli, do Partido Liberal, defendeu a abertura do processo de impeachment contra Lugo. Vale conferir trechos desta descarada entrevista golpista:

Defesa declarada do “hondurazo”

RN: Por que a necessidade de forçar uma situação para impedir que um presidente termine o mandato?

ALJ: Olhe, o Paraguai é o único país, junto com Haiti e Cuba, que não fez uma reforma modernizadora. Vocês tiveram sua modernização, vocês sabem, com o governo de Menem. O Brasil teve também. O Uruguai também. A Bolívia também, mas desgraçadamente teve uma involução. Já o Paraguai permanece como nos anos 50. As instituições estão totalmente obsoletas. Necessitamos de reformas modernas e este é um dos problemas que apresenta o presidente Lugo...

RN: E o presidente Lugo é um obstáculo para esta modernização?

ALJ: Sim, sim, sim, assim como estou te dizendo...

RN: Então o melhor é afastá-lo e colocar no lugar dele o vice-presidente [Federico] Franco, que poderia impulsionar a modernização?

ALJ: Pelo menos é isso que eu penso e a idéia de muitos outros. Nós não podemos andar para trás, nós temos que impulsionar uma revolução. Nós tivemos 60 anos de ditadura, de castigo, de vandalismo. Nós temos que democratizar, tornar esse país atraente para investidores externos...

RN: Algo similar ao que ocorreu em Honduras: afastar Zelaya para o capital se sentir mais seguro para investir?

ALJ: Olhe, eu também tenho minhas idéias que são diferentes das de vocês a respeito do que aconteceu em Honduras. Eu sou parte da Fundação Liberdade, e essa fundação é parte da Fundação Naumann. O presidente hondurenho assumiu a presidência com um modelo liberal e logo o traiu indo para o caminho do socialismo do século XXI. Desculpem-me, mas, para mim, o que ocorreu em Honduras foi totalmente legal.

RN: Mas tem que haver uma razão. Você poderia enunciar quais são as razões?

ALJ: A primeira razão é que este pobre país não tem nenhuma mudança e com este senhor possivelmente vamos andar para trás ao invés de termos uma revolução. O que este senhor quer é liquidar os partidos e dar o poder para as organizações sociais. O que ele quer é apresentar como uma panacéia o socialismo do século XXI e para a grande maioria na Câmara dos Deputados e na Câmara dos Senadores, das quais somos representantes eleitos, isso não é assim. Nós temos que fazer o contrário de tudo isso.

Nós não estamos gostando do que está ocorrendo na Bolívia, na Venezuela e tampouco na Argentina, vamos ser honestos. Um pouco menos na Nicarágua, segundo nos parece. Podemos estar equivocados, mas os índices econômicos da Bolívia e da Venezuela estão muito pior do que antes. Então o que queremos é evitar isso, porque aqui a pobreza é extrema, temos que fazer esse país avançar. Temos que conseguir que haja indústrias, investimentos, crescimento econômico, democratizar, abrir o país, e este senhor quer exatamente o contrário...

RN: Em que países da América Latina esses planos de orientação liberal diminuíram a pobreza?

ALJ: No Chile. Que lhe parece? Não está de acordo comigo? Ou você acredita que foram os socialistas no Chile que fizeram a economia crescer. Eles não mudaram sequer a legislação trabalhista chilena. Essa legislação ainda é a de Pinochet. O que acha disso?

RN: Chama a atenção, senador, que você não mencionou a conduta pessoal do presidente Lugo e sabe que eu faço essa pergunta porque sou mulher...

ALJ: Olhe, honestamente lhe digo que sou muito prático e muito sincero. Se Lugo tivesse tido a conduta moral que teve, mas tivesse feito as reformas que foram feitas no Chile, não veria problemas. Simples assim.


Urgência da solidariedade internacional

Como se observa nesta asquerosa entrevista, as forças oligárquicas do Paraguai estão decididas a derrubar Fernando Lugo para impor “reformas modernizadoras”, nos moldes do ditador Augusto Pinochet e dos presidentes neoliberais Carlos Menem e FHC. Para elas, Honduras é o exemplo a seguir para barrar o “socialismo do século XXI”. Na avaliação destas forças antidemocráticas, de caráter fascista, o presidente Fernando Lugo coloca em risco os privilégios da oligarquia. Numa entrevista ao jornal argentino Página 12, o secretário-geral do Partido Comunista do Paraguai, Najeeb Amado, e o líder camponês Ernesto Benítez alertaram para o risco iminente do golpe.

Para eles, as recorrentes crises institucionais, forjadas pelas elites e amplificadas pela mídia, têm fragilizado o presidente eleito. Sua sustentação parlamentar também estaria declinando de modo acelerado. A ampla coalizão que apoiou Lugo se desfez. Desde o início do governo, ele enfrenta absoluto bloqueio à execução do seu programa. Propôs a reforma agrária, mas até o esforço para identificar o latifúndio improdutivo é acusado de “subversivo”. A crise institucional criada no Supremo serviu, agora, para unificar as forças oligárquicas, que partem para a ofensiva golpista.

O sítio Opera Mundi observa que a situação de Lugo é delicada. “O ex-presidente da República, Nicanor Duarte, do Partido Colorado, e o líder da UNACE, general Lino Oviedo, acusaram Lugo de estar por trás de uma manobra política. A posição é acompanhada por alguns aliados do vice-presidente, Federico Franco, que vive em constante conflito com Lugo... Alguns deputados já disseram que as forças armadas poderiam ir às ruas e outros que era possível um ‘hondurazo’... Tudo indica que Lugo, que terminou 2009 com polêmicos casos de paternidade, com relação ruim com o Congresso e sob ameaças de impeachment, deverá ter um 2010 bastante difícil”.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Casoy e Gandra: CCC e Opus Dei unidos

O “âncora” da TV Bandeirantes, Boris Casoy, resolveu assumir de vez o seu direitismo raivoso. Depois de humilhar os garis que desejaram feliz ano novo - “Que merda. Dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... Dois lixeiros... O mais baixo da escala do trabalho” – e de receber uma bateria de duras críticas, ele decidiu radicalizar as suas posições. Nesta semana, Casoy acionou o jurista Ives Gandra, notório militante da seita fundamentalista Opus Dei, para falar sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos, de autoria do ministro Paulo Vannuchi.

Logo na abertura do Jornal da Band, o âncora, que é metido a dono da verdade, dá a sua opinião tendenciosa. “O novo decreto de direitos humanos do governo é criticado pela sociedade e até por ministros de estado. A lei estabelece censura aos meios de comunicação, é contra o direito de propriedade e de liberdade religiosa. Especialistas consideram o projeto o primeiro passo para um regime ditatorial”. Casoy mente descaradamente ao tratar plano como uma imposição autoritária do presidente, já que ele será debatido no parlamento. Quanto aos tais especialistas, ele ouve somente uma “personalidade” ligada à ditadura, ao latifúndio e aos setores mais reacionários da sociedade.

Visão tendenciosa e eleitoreira

Na sequência, um narrador em off reforça a visão preconceituosa e mentirosa. “A nova lei que o presidente Lula assinou sem ler passou pelo crivo direto da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, virtual candidata do PT à presidência da República, e dos ministros da Justiça, Tarso Genro, da Comunicação, Franklin Martins, e dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi. É um emaranhado de artigos e parágrafos que muitas vezes ataca a Constituição”. O objetivo, nesta narração, é nitidamente eleitoreiro, como palanque do tucano José Serra, o candidato da mídia hegemônica.

Criado o cenário para o desgaste do governo, o repórter Sandro Barboza inicia a entrevista com “um dos mais conceituados juristas internacionais”, Ives Gandra. O “jornalista”, que também não esconde suas posições direitistas nas perguntas, apenas deixa de informar aos telespectadores que o bajulado especialista participou da campanha presidencial de Geraldo Alckmin (o tucano que é seguidor do Opus Dei) e defende tudo o que é há de mais retrógrado e conservador na sociedade brasileira. Apesar da ânsia de vômito, vale à pena conhecer a grotesca “entrevista”:

As idéias de um direitista convicto

Jornal da Band: O projeto prevê que o proprietário rural que tiver uma fazenda invadida não poderá mais recorrer ao Judiciário.

Gandra: O que eles tão pretendendo é dar direito àquele que invadir qualquer terra fazer com que uma vez que for invadido o direito de propriedade deixa de ser do proprietário, passa a ser do invasor.

JB: A lei quer evitar a divulgação de símbolos religiosos.

Gandra: Se não pode mais haver símbolos religiosos nós temos que mudar o nome da cidade de São Paulo e todas as cidades que tem nomes de santos não poderão mais ter.

JB: Será criada uma comissão para controlar o conteúdo dos meios de comunicação.

Gandra: No momento em que se elimina a liberdade de imprensa nós estamos perante efetivamente o início de uma ditadura.

JB: Um novo imposto sobre grandes fortunas seria instituído.

Gandra: É um imposto que afasta investimentos porque aquele que formou um patrimônio depois é tributado em todas as operações e ainda vai ser tributado no seu patrimônio pessoal.

JB: As prostitutas contariam com direitos trabalhistas e carteira assinada.

Gandra: Isso não é profissão. Na prática o verdadeiro direito humano é tirar essas moças de onde elas estão e dar profissões dignas a elas.

JB: Os responsáveis pelas torturas durante a ditadura militar seriam julgados. Já os guerrilheiros que também torturaram ficariam livres de qualquer punição.

Gandra: Torturador de esquerda é um santo. Torturador de direita é um demônio. É um decreto preparatório para um regime ditatorial.


O novo “comando do terror”

Com mais esta “reporcagem” no seu currículo, Boris Casoy elimina qualquer ilusão sobre a sua neutralidade e imparcialidade jornalística. O blog Cloaca News, inclusive, conseguiu descobrir a revista Cruzeiro, de 9 de novembro de 1968, que denunciou Casoy como ativista do Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Tem até a foto dele mais jovem. Intitulada “CCC ou comando do terror”, a matéria comprova que este agrupamento promoveu vários atentados terroristas nos anos 1960/1970, inclusive contra os artistas do Teatro Roda Vida e contra os estudantes da USP.

Agora, o âncora fecha o ciclo e se une ao Opus Dei para criar um novo “comando do terror”. Para quem não conhece esta seita religiosa, reproduzo trechos de três artigos de minha autoria:


O Opus Dei (do latim, Obra de Deus) foi fundado em outubro de 1928, na Espanha, pelo padre Josemaría Escrivá. O jovem sacerdote de 26 anos diz ter recebido a “iluminação divina” durante a sua clausura num mosteiro de Madri. Preocupado com o avanço das esquerdas no país, este excêntrico religioso, visto pelos amigos de batina como um “fanático e doente mental”, decidiu montar uma organização ultra-secreta para interferir nos rumos da Espanha. Segundo as suas palavras, ela seria “uma injeção intravenosa na corrente sanguínea da sociedade”, infiltrando-se em todos os poros de poder. Deveria reunir bispos e padres, mas, principalmente, membros laicos, que não usassem hábitos monásticos ou qualquer tipo de identificação.

Reconhecida oficialmente pelo Vaticano em 1947, esta seita logo se tornou um contraponto ao avanço das idéias progressistas na Igreja. Em 1962, o papa João 23 convocou o Concílio Vaticano II, que marca uma viragem na postura da Igreja, aproximando-a dos anseios populares. No seu fanatismo, Escrivá não acatou a mudança. Criticou o fim da missa rezada em latim, com os padres de costas para os fiéis, e a abolição do Index Librorum Prohibitorum, dogma obscurantista do século 16 que listava livros “perigosos” e proibia sua leitura pelos fiéis. “Este concílio, minhas filhas, é o concílio do diabo”, garantiu Escrivá para alguns seguidores, segundo relato do jornalista Emílio Corbiere no livro “Opus Dei: El totalitarismo católico”.


O poder no Vaticano

Josemaría Escrivá faleceu em 1975. Mas o Opus Dei se manteve e adquiriu maior projeção com a guinada direitista do Vaticano a partir da nomeação do papa polonês João Paulo II. Para o teólogo espanhol Juan Acosta, “a relação entre Karol Wojtyla e o Opus Dei atingiu o seu êxito nos anos 80-90, com a irresistível acessão da Obra à cúpula do Vaticano, a partir de onde interveio ativamente no processo de reestruturação da Igreja Católica sob o protagonismo do papa e a orientação do cardeal alemão Ratzinger”. Em 1982, a seita foi declarada “prelazia pessoal” – a única existente até hoje –, o que no Direito Canônico significa que ela só presta contas ao papa, que só obedece ao prelado (cargo vitalício hoje ocupado por dom Javier Echevarría) e que seus adeptos não se submetem aos bispos e dioceses, gozando de total autonomia.

O ápice do Opus Dei ocorreu em outubro de 2002, quando o seu fundador foi canonizado pelo papa numa cerimônia que reuniu 350 mil simpatizantes na Praça São Pedro, no Vaticano. A meteórica canonização de Josemaría Escrivá, que durou apenas dez anos, quando geralmente este processo demora décadas e até séculos, gerou fortes críticas de diferentes setores católicos. Muitos advertiram que o Opus Dei estava se tornando uma “igreja dentro da Igreja”. Lembraram um alerta do líder jesuíta Vladimir Ledochowshy que, num memorando ao papa, denunciou a seita pelo “desejo secreto de dominar o mundo”. Apesar da reação, o papa João Paulo II e seu principal teólogo, Joseph Ratzinger, ex-chefe da repressora Congregação para Doutrina da Fé e atual papa Beto 16, não vacilaram em dar maiores poderes ao Opus Dei.

Vários estudos garantem que esta relação privilegiada decorreu de razões políticas e econômicas. No livro “O mundo secreto do Opus Dei”, o jornalista canadense Robert Hutchinson afirma que esta organização acumula uma fortuna de 400 bilhões de dólares e que financiou o sindicato Solidariedade, na Polônia, que teve papel central na débâcle do bloco soviético nos anos 90. O complô explicaria a sólida amizade com o papa, que era polonês e um visceral anticomunista. Já Henrique Magalhães, numa excelente pesquisa na revista A Nova Democracia, confirma o anticomunismo de Wojtyla e relata que “fontes da Igreja Católica atribuem o poder da Obra a quitação da dívida do Banco Ambrosiano, fraudulentamente falido em 1982”.


O vínculo com os fascistas

Além do rigoroso fundamentalismo religioso, o Opus Dei sempre se alinhou aos setores mais direitistas e fascistas. Durante a Guerra Civil Espanhola, deflagrada em 1936, Escrivá deu ostensivo apoio ao general golpista Francisco Franco contra o governo republicano legitimamente eleito. Temendo represálias, ele se asilou na embaixada de Honduras, depois se internou num manicômio, “fingindo-se de louco”, antes de fugir para a França. Só retornou à Espanha após a vitória dos golpistas. Desde então, firmou sólidos laços com o ditador sanguinário Francisco Franco. “O Opus Dei praticamente se fundiu ao Estado espanhol, ao qual forneceu inúmeros ministros e dirigentes de órgãos governamentais”, afirma Henrique Magalhães.

Há também fortes indícios de que Josemaría Escrivá nutria simpatias por Adolf Hitler e pelo nazismo. De forma simulada, advogava as idéias racistas e defendia a violência. Na máxima 367 do livro Caminho, ele afirma que seus fiéis “são belos e inteligentes” e devem olhar aos demais como “inferiores e animais”. Na máxima 643, ensina que a meta “é ocupar cargos e ser um movimento de domínio mundial”. Na máxima 311, ele escancara: “A guerra tem uma finalidade sobrenatural... Mas temos, ao final, de amá-la, como o religioso deve amar suas disciplinas”. Em 1992, um ex-membro do Opus Dei revelou o que este havia lhe dito: “Hitler foi maltratado pela opinião pública. Jamais teria matado 6 milhões de judeus. No máximo, foram 4 milhões”. Outra numerária, Diane DiNicola, garantiu: “Escrivá, com toda certeza, era fascista”.

Escrivá até tentou negar estas relações. Mas, no seu processo de ascensão no Vaticano, ele contou com a ajuda de notórios nazistas. Como descreve a jornalista Maria Amaral, num artigo à revista Caros Amigos, “ao se mudar para Roma, ele estimulou ainda mais as acusações de ser simpático aos regimes autoritários, já que as suas primeiras vitórias no sentido de estabelecer o Opus Dei com estrutura eclesiástica capaz de abrigar leigos e ordenar sacerdotes se deram durante o pontificado do papa Pio XII, por meio do cardeal Eugenio Pacelli, responsável por controverso acordo da Igreja com Hitler”. Outro texto, assinado por um grupo de católicas peruanas, garante que a seita “recrutou adeptos para a organização fascista ‘Jovem Europa’, dirigida por militantes nazistas e com vínculos com o fascismo italiano e espanhol”.

Pouco antes de morrer, Josemaría Escrivá realizou uma “peregrinação” pela América Latina. Ele sempre considerou o continente fundamental para sua seita e para os negócios espanhóis. Na região, o Opus Dei apoiou abertamente várias ditaduras. No Chile, participou do regime terrorista de Augusto Pinochet. O principal ideólogo do ditador, Jaime Guzmá, era membro ativo da seita, assim como centenas de quadros civis e militares. Na Argentina, numerários foram nomeados ministros da ditadura. No Peru, a seita deu sustentação ao corrupto e autoritário Alberto Fujimori. No México, ajudou a eleger como presidente seu antigo aliado, Miguel de La Madri, que extinguiu a secular separação entre o Estado e a Igreja Católica.


Infiltração na mídia

Para semear as suas idéias religiosas e políticas de forma camuflada, Escrivá logo percebeu a importância estratégica dos meios de comunicação. Ele mesmo gostava de dizer que “temos de embrulhar o mundo em papel-jornal”. Para isso, contou com a ajuda da ditadura franquista para a construção da Universidade de Navarra, que possuí um orçamento anual de 240 milhões de euros. Jornalistas do mundo inteiro são formados nos cursos de pós-graduação desta instituição. O Opus Dei exerce hoje forte influência sobre a mídia. Um relatório confidencial entregue ao Vaticano em 1979 pelo sucessor de Escrivá revelou que a influência da seita se estendia por “479 universidades e escolas secundárias, 604 revistas ou jornais, 52 estações de rádio ou televisões, 38 agências de publicidade e 12 produtores e distribuidoras de filmes”.

Na América Latina, a seita controla o jornal El Observador (Uruguai) e tem peso nos jornais El Mercúrio (Chile), La Nación (Argentina) e O Estado de S.Paulo. Segundo várias denúncias, ela dirige a Sociedade Interamericana de Imprensa, braço da direita na mídia hemisférica. No Brasil, a Universidade de Navarra é comandada por Carlos Alberto di Franco, numerário e articulista do Estadão, responsável pela lavagem cerebral semanal de Geraldo Alckmin nas famosas “palestras do Morumbi”. Segundo a revista Época, seu “programa de capacitação de editores já formou mais de 200 cargos de chefia dos principais jornais do país”. O mesmo artigo confirma que “o jornalista Carlos Alberto Di Franco circula com desenvoltura nas esferas de poder, especialmente na imprensa e no círculo íntimo do governador Geraldo Alckmin”.

O veterano jornalista Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, há muito denuncia a sinistra relação do Opus Dei com a mídia nacional. Num artigo intitulado “Estranha conversão da Folha”, critica seu “visível crescimento na imprensa brasileira. A Folha de S.Paulo parecia resistir à dominação, mas capitulou”. No mesmo artigo, garante que a seita “já tomou conta da Associação Nacional de Jornais (ANJ)”, que reúne os principais monopólios da mídia do país. Para ele, a seita não visa a “salvação das almas desgarradas. É um projeto de poder, de dominação dos meios de comunicação. E um projeto desta natureza não é nem poderia ser democrático. A conversão da Folha é uma opção estratégica, política e ideológica”.


A “santa máfia”

Durante seus longos anos de atuação nos bastidores do poder, o Opus Dei constituiu uma enorme fortuna, usada para bancar seus projetos reacionários – inclusive seus planos eleitorais. Os recursos foram obtidos com a ajuda de ditadores e o uso de máquinas públicas. “O Opus Dei se infiltrou e parasitou no aparato burocrático do Estado espanhol, ocupando postos-chaves. Constituiu um império econômico graças aos favores nas largas décadas da ditadura franquista, onde vários gabinetes ministeriáveis foram ocupados integralmente por seus membros, que ditaram leis para favorecer os interesses da seita e se envolveram em vários casos de corrupção, malversação e práticas imorais”, acusa um documento de católico do Peru.

A seita também acumulou riquezas através da doação obrigatória de heranças dos numerários e do dizimo dos supernumerários e simpatizantes infiltrados em governos e corporações empresariais. Com a ofensiva neoliberal dos anos 90, a privatização das estatais virou outra fonte de receitas. Poderosas multinacionais espanholas beneficiadas por este processo, como os bancos Santander e Bilbao Biscaia, a Telefônica e empresa de petróleo Repsol, tem no seu corpo gerencial adeptos do Opus.

Para católicos mais críticos, que rotulam a seita de “santa máfia”, esta fortuna também deriva de negócios ilícitos. Conforme denuncia Henrique Magalhães, “além da dimensão religiosa e política, o Opus Dei tem uma terceira face: da sociedade secreta de cunho mafioso. Em seus estatutos secretos, redigidos em 1950 e expostos em 1986, a Obra determina que ‘os membros numerários e supernumerários saibam que devem observar sempre um prudente silêncio sobre os nomes dos outros associados e que não deverão revelar nunca a ninguém que eles próprios pertencem ao Opus Dei’. Inimiga jurada da Maçonaria, ela copia sua estrutura fechada, o que frequentemente serve para encobrir atos criminosos”.

O jornalista Emílio Corbiere cita os casos de fraude e remessa ilegal de divisas das empresas espanholas Matesa e Rumasa, em 1969, que financiaram a Universidade de Navarra. Há também a suspeita do uso de bancos espanhóis na lavagem de dinheiro do narcotráfico e da máfia russa. O Opus Dei esteve envolvido na falência fraudulenta do banco Comercial (pertencente ao jornal El Observador) e do Crédito Provincial (Argentina). Neste país, os responsáveis pela privatização da petrolífera YPF e das Aerolineas Argentinas, compradas por grupos espanhóis, foram denunciados por escândalos de corrupção, mas foram absolvidos pela Suprema Corte, dirigida por Antonio Boggiano, outro membro da Opus Dei. No ano retrasado, outro numerário do Opus Dei, o banqueiro Gianmario Roveraro, esteve envolvido na quebra da Parlamat.


“A Internacional Conservadora”

O escritor estadunidense Dan Brown, autor do best seller “O Código da Vinci”, não vacila em acusar esta seita de ser um partido de fanáticos religiosos com ramificações pelo mundo. O Opus Dei teria cerca de 80 milhões de fiéis, muitos deles em cargos-chaves em governos, na mídia e em multinacionais. Henrique Magalhães garante que a “Obra é vanguarda das tendências mais conservadoras da Igreja Católica”. Num livro feito sob encomenda pelo Opus Dei, o vaticanista John Allen confessa este poderio. Ele admite que a seita possui um patrimônio de US$ 2,8 bilhões – incluindo uma luxuosa sede de US$ 60 milhões em Manhattan – e que esta fortuna serve para manter as suas instituições de fachada, como a Heights School, em Washington, onde estudam os filhos dos congressistas do Partido Republicano de George W.Bush.

Numa reportagem que tenta limpar a barra do Opus Dei, a própria revista Superinteressante, da suspeita Editora Abril, reconhece o enorme influência política desta seita. E conclui: “No Brasil, um dos políticos mais ligados à Obra é o candidato a presidente Geraldo Alckmin, que em seus tempos de governador de São Paulo costumava assistir a palestras sobre doutrina cristã ministradas por numerários e a se confessar com um padre do Opus Dei. Alckmin, porém, nega fazer parte da ordem”. Como se observa, o candidato segue à risca um dos principais ensinamentos do fascista Josemaría Escrivá: “Acostuma-se a dizer não”.


Os tentáculos no Brasil

No Brasil, o Opus Dei fincou a sua primeira raiz em 1957, na cidade de Marília, no interior paulista, com a fundação de dois centros. Em 1961, dada à importância da filial, a seita deslocou o numerário espanhol Xavier Ayala, segundo na hierarquia. “Doutor Xavier, como gostava de ser chamado, embora fosse padre, pisou em solo brasileiro com a missão de fortalecer a ala conservadora da Igreja. Às vésperas do Concílio Vaticano II, o clero progressista da América Latina clamava pelo retorno às origens revolucionárias do cristianismo e à ‘opção pelos pobres’, fundamentos da Teologia da Libertação”, explica Marina Amaral na revista Caros Amigos.

Ainda segundo seu relato, “aos poucos, o Opus Dei foi encontrando seus aliados na direita universitária... Entre os primeiros estavam dois jovens promissores: Ives Gandra Martins e Carlos Alberto Di Franco, o primeiro simpático ao monarquismo e candidato derrotado a deputado; o segundo, um secundarista do Colégio Rio Branco, dos rotarianos do Brasil. Ives começou a freqüentar as reuniões do Opus Dei em 1963; Di Franco ‘apitou’ (pediu para entrar) em 1965. Hoje, a organização diz ter no país pouco mais de três mil membros e cerca de quarenta centros, onde moram aproximadamente seiscentos numerários”.


Crescimento na ditadura

Durante a ditadura, a seita também concentrou sua atuação no meio jurídico, o que rende frutos até hoje. O promotor aposentado e ex-deputado Hélio Bicudo revela ter sido assediado duas vezes por juízes fiéis à organização. O expoente nesta fase foi José Geraldo Rodrigues Alckmin, nomeado ministro do STF pelo ditador Garrastazu Médici em 1972, e tio do atual presidenciável. Até os anos 70, porém, o poder do Opus Dei era embrionário. Tinha quadros em posições importantes, mas sem atuação coordenada. Além disso, dividia com a Tradição, Família e Propriedade (TFP) as simpatias dos católicos de extrema direita.

Seu crescimento dependeu da benção dos generais golpistas e dos vínculos com poderosas empresas. Ives Gandra e Di Franco viraram os seus “embaixadores”, relacionando-se com donos da mídia, políticos de direita, bispos e empresários. É desta fase a construção da sua estrutura de fachada – Colégio Catamarã (SP), Casa do Moinho (Cotia) e Editora Quadrante. Ela também criou uma ONG para arrecadar fundos: OSUC (Obras Sociais, Universitárias e Culturais). Esta recebe até hoje doações do Itaú, Bradesco, GM e Citigroup. Confrontado com esta denúncia, Lizandro Carmona, da OSUC, implorou à jornalista Marina Amaral: “Pelo amor de Deus, não vá escrever que empresas como o Itaú doam dinheiro ao Opus Dei”.


Ofensiva recente na região

Na fase recente, o Opus Dei está excitado, com planos ousados para conquistar maior poder político na América Latina. Em abril de 2002, a seita participou ativamente do frustrado golpe contra o presidente Hugo Chávez, na Venezuela. Um dos seus seguidores, José Rodrigues Iturbe, foi nomeado ministro das Relações Exteriores do fugaz governo golpista. A embaixada da Espanha, governada na época pelo neo-franquista Partido Popular (PP), de José Maria Aznar – cuja esposa é do Opus Dei –, deu guarita aos seus fiéis. Outro golpista ligado à seita, Gustavo Cisneiros, é megaempresário das telecomunicações no país.

Em dezembro do ano passado, o Opus Dei assistiu a derrota do seu candidato, Joaquim Laví, ex-assessor do ditador Augusto Pinochet, à presidência do Chile. Já em maio deste ano, colheu uma nova derrota com a candidatura de Lourdes Flores, declarada numerária do partido Unidade Nacional. Em compensação, a seita comemorou a vitória do narco-terrorista Álvaro Uribe na Colômbia, que também dispôs de milhões de dólares do governo George Bush. Já no México, outro conhecido simpatizante do Opus Dei, Felipe Calderon, ex-executivo da Coca-Cola, venceu uma das eleições mais fraudulentas da história deste país.
 
Por Altamiro Borges

Fonte: Blog do Miro

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Televangelista diz que Haiti paga por fazer 'pacto com o diabo'


http://argemiroferreira.files.wordpress.com/2008/11/robertson.jpgNo programa ‘Clube700’, do canal Christian Broadcasting Network (CBN), Robertson comentou a tragédia no Haiti de forma peculiar.
‘Algo aconteceu há muito tempo no Haiti e as pessoas talvez não queriam falar sobre isso. Estavam sob domínio francês, nos tempos de Napoleão III, juntaram-se e fizeram um pacto com o diabo. Disseram: ‘Vamos servi-lo se nos libertar do Príncipe’. É uma história verdadeira. E o diabo disse: ‘Ok, está combinado’. E os franceses foram expulsos. Os haitianos revoltaram-se e conseguiram libertar-se. Mas, desde então, foram amaldiçoados com coisas atrás de coisas’.
Um porta-voz da CBN, Chris Roslan, emitiu, entretanto, um esclarecimento sobre estas declarações: ‘Os seus comentários foram baseados numa ampla discussão sobre a rebelião de escravos de 1791, liderada por Boukman Dutty, em que os escravos alegadamente teriam feito um pacto com o diabo para se livrarem dos franceses’, frisou, considerando que se trata de um assunto que tem gerado grandes discussões entre especialistas ao longo dos séculos. ‘O Dr. Robertson nunca disse que o terremoto era resultado da raiva de Deus’, vincou, acrescentando que na totalidade do vídeo, o televangelista chega a pedir para se orar pelos haitianos.
Num texto publicado no ‘The Huffington Post’, o jornalista Michael Rowe não esconde a sua incredulidade. ‘O Haiti foi o local da única revolução escrava de sucesso na história da humanidade’, recorda, apontando o dedo a Pat Robertson. ‘Enquanto mulheres gritam perante as crianças mortas, Pat Robertson preocupava-se em contar uma história sobre o fato dos haitianos estarem sofrendo uma dor inimaginável e desespero porque ‘fizeram um pacto com o Diabo’ quando queriam ser libertados por Napoleão III ou coisa assim’.
Rowe considera que deve haver um diálogo nos Estados Unidos sobre o lado corrosivo da religião, que a torna fanática. ‘É hora da América fazer uma grande reflexão sobre a indústria multi-milionária da religião (que é normalmente isenta de impostos) e perguntar se ainda quer investir em pessoas como Pat Robertson e sua corporação evangélica’, frisou, dizendo não acreditar que os milhões de seguidores do televangelista deixem de ajudar o Haiti por causa deste tipo de comentários.


Fonte: Desabafo Brasil

Ecos do porão

Quem desembarcasse no Brasil nos últimos dias e não soubesse nada de nossa história, certamente começaria a assimilar a idéia de que não houve ditadura. Que ela não matou, não seqüestrou, não torturou barbaramente homens, mulheres, crianças, religiosos, religiosas. Que não empalou pessoas, que não fez desaparecer seres humanos, que não cortou cabeças, que não queimou corpos. Que não cultivou o pau de arara, o choque elétrico, o afogamento, a cadeira do dragão, que não patrocinou monstros como Carlos Alberto Brilhante Ustra ou Sérgio Paranhos Fleury. O artigo é de Emiliano José.
Data: 12/01/2010
 




Vídeo: Trailer do filme "Cidadão Boilensen", um registro da associação corrupta entre grupos empresariais e a Operação Bandeirante, entre o aparato repressivo e as finanças, entre a ditadura militar e o grande negócio no Brasil.

Fico pensando no que foi o nazismo. No Tribunal de Nuremberg. Na justiça que se procurou fazer diante daquele genocídio. Julgou-se os assassinos, e ponto. Não os que a ele resistiram. E só o faço como alusão à situação brasileira.

Fico pensando na decisão argentina de abrir todos os arquivos confidenciais das Forças Armadas referentes ao período da ditadura militar, ocorrida entre 1976-1983. Essa abertura foi feita para subsidiar a apuração de violações aos direitos humanos durante aquele período.

E penso novamente no Brasil, no barulho que se está fazendo diante da possibilidade da criação da Comissão Nacional da Verdade, que já aconteceu na maioria dos países da América Latina que viveram também a tenebrosa experiência de ditaduras. Nesses países encara-se com naturalidade que criminosos, torturadores, assassinos sejam julgados, e muitos deles foram julgados, condenados e presos.

Quem desembarcasse no Brasil nos últimos dias e não soubesse nada de nossa história, certamente começaria a assimilar a idéia de que não houve ditadura. Que ela não matou, não seqüestrou, não torturou barbaramente homens, mulheres, crianças, religiosos, religiosas. Que não empalou pessoas, que não fez desaparecer seres humanos, que não cortou cabeças, que não queimou corpos. Que não cultivou o pau de arara, o choque elétrico, o afogamento, a cadeira do dragão, que não patrocinou monstros como Carlos Alberto Brilhante Ustra ou Sérgio Paranhos Fleury, este morto, o primeiro ainda exibindo sua arrogância, cinismo e ainda certeza da impunidade.

De repente, se não insistirmos na luta para afirmar a verdade da história, gente do nosso povo pode até acreditar na versão que querem passar de que houve apenas uma luta entre um regime legal e os que a ele se opunham.

É falso, mentiroso dizer que a Comissão Nacional da Verdade que se pretende implantar queira eliminar a Lei de Anistia. Ela pretende, se instalada, apurar todas as violações de direitos humanos ocorridas no âmbito da repressão política durante os 21 anos de ditadura.

É a forma de legalmente desencadear o processo histórico, político, ético,
criminal, como disse o ministro Vannuchi, de todos os episódios de tortura, assassinatos e desaparecimentos de opositores políticos registrados naquele período.

O que se sustenta, aqui e em todo o mundo democrático, é que a tortura é crime imprescritível, e que esse crime não pode permanecer impune. Não é à toa que o ex-ditador Pinochet, um assassino, foi detido em Londres e depois julgado em seu país.

Não se queira fazer acreditar que a Comissão Nacional da Verdade pretenda desmoralizar as Forças Armadas. Ao contrário. Pretende-se que quaisquer que sejam os cidadãos que tenham cometido o crime da tortura ou que tenham assassinado pessoas por razões políticas ou tenham feito com que desaparecessem sejam julgados por seus crimes de lesa-humanidade.

E julgamento é atribuição do Judiciário, com sua soberania e com os ritos próprios da democracia. Diz-se isso para que se diferencie dos mais de 20 anos da ditadura, onde não havia qualquer legalidade. Muitos dos nossos companheiros não chegaram a ser julgados: foram mortos de forma covarde, insista-se na palavra, covarde, na tortura brutal, cruel, e os registros históricos são vastíssimos. Não cabem neste artigo.

Assistam o filme Cidadão Boilensen. É interessante como registro da associação corrupta entre grupos empresariais e a Operação Bandeirante, entre o aparato repressivo e as finanças, entre a ditadura e o grande negócio. Puro banditismo, acobertado pelo silêncio imposto à época. E para compreender, também, parte, apenas parte, da impressionante crueldade desse aparato.

Não sei como se movimentará a sociedade brasileira nesse caso. Sei que mais de 10 mil cidadãos assinaram um manifesto, inclusive eu, defendendo que os envolvidos em crimes de tortura em nome do Estado brasileiro devem ser julgados e punidos pelos seus atos.

Estamos defendendo a civilização, a humanidade, a democracia. Não dá para acobertar crimes como o da tortura ou assassinatos e desaparecimentos de opositores políticos. Esta é a posição de quem não esquece o terrorismo da ditadura. A posição de quem defende intransigentemente a democracia. E que grita: ditadura, nunca mais!

*Jornalista, escritor, deputado federal (PT/BA)

Fonte: Carta Maior

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