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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

COVARDIA, INDECÊNCIA E TORPEZA


No dia 1° de dezembro de 2009, o jornal Folha de São Paulo publicou uma “Nota da Redação”, de quatro linhas, para responder a uma crítica feita pela leitora Fabiana Tambellini, de São Paulo, sobre a publicação do artigo do sr. César Benjamin (em 27/11/2009), contendo uma grave acusação contra o presidente da República. Na carta enviada ao jornal, a leitora escreve:

"É uma irresponsabilidade esta Folha publicar um artigo como o de César Benjamin, que envolve uma denúncia grave contra o presidente, sem ter feito nenhum trabalho de apuração dos fatos.Também chamam a atenção o silêncio e a ausência de posicionamento editorial do jornal. Afinal, o que a Folha pensa sobre o artigo e as informações que escolheu para publicar?".

A tímida “Nota da Redação” pretende responder tais perguntas. Ela afirma, laconicamente:

“A Folha avaliou que era de interesse público publicar o artigo. Trata-se do depoimento de uma pessoa com credibilidade, que atuou na cúpula do PT e que narrava uma conversa com o então candidato à Presidência. O texto não afirmava que o ataque havia ocorrido, mas que o candidato relatara a ação”.

Após a leitura de tal manifestação, é difícil saber o que é mais preocupante: o jornal seguir defendendo a publicação do referido artigo, motivo de indignação em amplos setores da sociedade, ou a justificativa empregada para tal decisão, a saber, a defesa do “interesse público”. Em que sentido atacar a figura e a pessoa do presidente da República, o mais alto cargo do país, com uma acusação torpe e desprovida de qualquer tipo de prova, atende ao interesse público?

O uso da noção de interesse público para justificar a publicação é um escândalo. Um escândalo redobrado pela maneira insidiosa como foi semeada a acusação: no meio de um artigo que, supostamente, analisaria o filme sobre a vida de Lula, e no meio de uma série de três páginas sobre o mesmo tempo. A discrição do espaço dedicado ao ataque já sinaliza que os editores sabiam que aquilo precisava ficar escondido, que seria escancarado demais destacar um movimento de tal natureza. Seria preciso, então, adotar a lógica da fofoca, da infâmia e da covardia. Fazer um relato rapidamente, como quem não quer nada, usando a voz de outra pessoa para semear a suspeita e a desconfiança sobre a conduta do mais alto cargo da República. Sem apresentar nenhum indício de prova, sem ouvir antes as pessoas envolvidas no relato. Tudo, segundo a Folha, em nome do interesse público.

Como bem assinalou Washington Araújo, em artigo publicado aqui na Carta Maior, “poucas vezes encontramos na grande imprensa do país um ataque tão direto ao caráter de um presidente da República e o que mais impressiona que poucas vezes tivemos refutações tão veementes quanto à fidedignidade do ataque. Um pouco mais de apuração jornalística faria cair por terra o excesso de paixão ideológica que como sarampo vive contaminando amplos setores de imprensa. Afinal, a maior parte dos protagonistas do almoço citado por Benjamin está viva, e de facílima localização. Um celular e um pouco de vontade e mais umas pitadas de amor à verdade reduziriam aquela página A-8 inteira a rodapé de coluna social... ou policial”.

Mas por que é mesmo que a Folha desprezou seu próprio manual de redação?

A Folha tem todo o direito de ter suas preferências políticas e deveria fazê-lo de modo transparente, ao invés de transformar as páginas do jornal em uma usina de espertezas e vilanias. Mas não tem nenhum direito de reivindicar o interesse público como cúmplice dessa estratégia desesperada e enlouquecida. O único objetivo do referido artigo foi atingir o caráter do presidente da República na esperança de que isso possa ter repercussão na eleição presidencial de 2010. Isso é o que o jornal não pode confessar. E, a essa altura, nem precisa, dado que já é explícito. Práticas como esta, que infelizmente estão se tornando perigosamente freqüentes na imprensa brasileira, merecem total repúdio. Isso não é jornalismo. Muito menos, defesa do interesse público. As palavras que definem melhor esse comportamento são covardia, indecência e torpeza.

Carta Maior
 

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