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sábado, 27 de junho de 2009

Programa tucano tratou eleitor como idiota

Longe de mim querer ajudar o PSDB a encontrar um discurso para enfrentar o PT na eleição presidencial do ano que vem, mas o programa do partido ontem à noite na tevê foi de lascar. Eu esperava muito mais. Uma estratégia inovadora, criativa, uma tentativa real de começar uma virada no jogo.

Gosto de brincar de marqueteiro. Quando assisto a um desses programas partidários tento imaginar o que faria de diferente nele – ou se faria igual – se tivesse sido eu a produzi-lo.

Não peço a um tucano ou assemelhado que acredite no que direi agora porque eu também não acreditaria se ouvisse algum deles criticar o programa do adversário dizendo ser uma crítica isenta. Mas peço a vocês que me acreditem quando digo que, falando honestamente, do programa partidário tucano que vi ontem à noite, não se salvou um único fotograma.

Espantou-me a opção de insistir com os oitenta por cento da população que apóiam o presidente Lula que o governo dele é totalmente incompetente, que por culpa dele persistem problemas históricos de infra-estrutura no país e que o PAC não existe.

Desta vez, deixaram a “ética” de fora. Parece que não acreditam mais na possibilidade de vender o presidente e seu governo como “corruptos”. Preferiram passar o programa quase inteirinho vendendo a tal história de que o PAC “não existe”.

Para amparar a tese, mostraram obras inacabadas e problemas de infra-estrutura como de estradas ou de saneamento básico. Ao fim, disseram-se os pais do controle da inflação, dos genéricos e do “Bolsa Escola”. Um discurso “novinho em folha”.

A parte dessa massa esmagadoramente majoritária de brasileiros que apóia Lula e teve interesse em ver o programa – e que, presumivelmente, é reduzida, mas não porque o programa é do PSDB e sim porque é um programa político –, certamente não entendeu a estratégia tucana.

Vejam bem: o sujeito acha que o governo do país é bom, que a crise não pegou o Brasil de jeito, que ele está mais sólido economicamente, que os programas sociais funcionam bem etc. De repente, alguém diz a ele que é tudo uma droga, que nada presta. Ou seja: que ele é uma besta por acreditar que o governo é bom.

Quando as pessoas compram idéias e depois alguém chega desqualificando-as de cima a baixo sem maiores explicações, elas se sentem ofendidas. A menos que aquela idéia que compraram se mostre prejudicial a elas, claro.

O PSDB continua acreditando, pelo visto, que Lula só é popular porque faz propaganda. Seria como se hipnotizasse o eleitorado. Não reconhece mérito nenhum nele ou em seu governo. Esse pessoal deve estar cheirando ou fumando alguma coisa muito forte...

Os tucanos parecem acreditar, quando fazem críticas que contrariam a maioria esmagadora dos brasileiros e a parte mais relevante da opinião pública internacional, que é possível fazer com que o cidadão esqueça os motivos concretos que o levaram a apoiar Lula. E querem fazer isso com base na lembrança de como estava o país quando eram governo.

Isso acontece no PSDB porque é um partido que está centrado em um único projeto personalista e regional, o projeto de Fernando Henrique Cardoso, que nem é Serra, mas o resgate de sua combalida imagem diante da sociedade brasileira.

Se não fosse o peso de FHC no partido, seria muito mais fácil a missão de retomar o poder. Serra se apresentaria dizendo que seu partido não repetiria o que fez quando foi governo. Não dá para fazer isso tendo que resgatar a imagem do governo de um período de muito sofrimento para o país.

Não se pode negar que o mesmo personalismo acontece no PT, dependente de Lula ao extremo. Mas há uma diferença gritante, aí. Enquanto Lula é um descomunal ativo para o seu partido, FHC é um peso para o dele.

É claro que Serra tem imagem muito melhor do que a de FHC e isso poderia ser explorado, mas o programa tucano de ontem à noite optou por deixar de fora seu candidato inexorável a presidente. Outro erro.

O PSDB não quis falar ao país que São Paulo é essa maravilha toda e exaltar os feitos de seu governador; preferiu falar mal do governo Lula. O PSDB não optou por apresentar sua proposta; achou melhor dizer que a proposta do adversário não funciona a pessoas que, em maioria massacrante, acham que funciona.

O tom do programa foi o de estar pisoteando um cachorro morto (o governo Lula). Era como se a teoria de que esse governo é um desastre fosse facilmente assimilável por qualquer um, apesar de que em todas as pesquisas feitas nos últimos vários anos uma consistente e crescente maioria tem dito exatamente o contrário.

O ataque tucano ainda tratou de tentar criar uma realidade virtual. O país estaria paralisado, e não se recuperando como as pesquisas mostram que as pessoas acham que está. E a crise mostrada pelos tucanos seria do Brasil, não do mundo. O país estaria em crise devido à incompetência do governo.

É aí que a propaganda do PSDB mais trata o eleitor como idiota – e eu sempre digo que essa é a base da estratégia da direita e de seus jornais, revistas e tevês: eles tratam o eleitor como uma ameba intelectual.

Vejam aquele recente programa partidário do PPS na tevê que alardeou que Lula pretenderia confiscar a poupança “como fez o Collor”. Pelo menos o discurso era mais sofisticado, mas partia do mesmo princípio de que a população é composta de panacas.

No fim, mesmo uns poucos que deram ouvidos àquela sandice acabaram percebendo que não haveria confisco nenhum e voltaram à caderneta de poupança. Mesmo tendo sido um golpe melhor engendrado, golpes tendem a ser descobertos.

Querem saber? Eu estava sintonizado no Jornal Nacional quando começou o programa tucano. Quando terminou, entrou o Willian Bonner. Para mim, por sua sempre eloqüente expressão facial, ele não gostou nada, nada do que viu.

Fonte: Cidadania.com

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