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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Que pena - é virtual

Se como eu, você lamenta o infortúnio ocorrido no Iraque, quando o jornalista atirou os sapatos contra o presidente Busch, e, por muita falta de sorte não conseguiu acertá-lo, clique aqui e faça o que o jornalista não conseguiu. Apesar de ser um jogo virtual no qual o internauta pode atirar os sapatos no presidente, a quantidade de acesso será representativo do quanto existe pessoas que gostaria de fazer o que o jornalista tentou. Não conseguiu alvejá-lo, mas conseguiu algo muito mais valioso, mostrar ao mundo a ojeriza que o Busch provoca nas pessoas de paz.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Xuxização das igrejas

DESABAFO DE UM PROFESSOR DE TEOLOGIA
SOBRE "LEVITAS", "APÓSTOLOS" E OUTROS MODISMOS:

Sou um professor de Teologia em crise. Não com minha fé ou com minhas convicções, mas com a dificuldade que eu e outros colegas enfrentamos nos últimos anos diante dos novos seminaristas enviados para as faculdades de teologia evangélica. Tenho trabalhado como Professor em Seminários Evangélicos presbiterianos, batistas, da Assembléia de Deus e interdenominacionais desde 1991 e, tristemente, observo que nunca houve safras tão fracas de vocacionados como nos últimos três anos.
No início de meu ministério docente, recordo-me que os alunos chegavam aos seminários bastante preparados biblicamente, com uma visão teológica razoavelmente ampla, com conhecimentos mínimos de história do cristianismo e com uma sede intelectual muito grande por penetrar no fascinante mundo da teologia cristã. Ultimamente, porém, aqueles que se matriculam em Seminários refletem a pobreza e mediocridade teológica que tomaram conta de nossas igrejas evangélicas.
Sempre pergunto aos calouros a respeito de suas convicções em relação ao chamado e à vocação. Pois outro dia, um calouro saiu-se com a brilhante resposta: "não passei em nenhum vestibular e comecei a sentir que Deus impedira meu acesso à universidade a fim de que eu me dedicasse ao ministério". Trata-se do mais típico caso de "certeza da vocação" adquirida na ignorância.
E, invariavelmente, esses são os alunos que mais transpiram preguiça intelectual.A grande maioria dos novos vocacionados chega aos Seminários influenciada pelos modismos que grassam no mundo evangélico. Alguns se autodenominam "levitas". Outros, dizem que estão ali porque são vocacionados a serem "apóstolos".
Ultimamente qualquer pessoa que canta ou toca algum instrumento na igreja, se auto-denomina "levita". Tento fazê-los compreender que os levitas, na antiga aliança, não apenas cantavam e tocavam instrumentos no Templo, como também cuidavam da higiene e limpeza do altar dos sacrifícios (afinal, muito sangue era derramado várias vezes por dia), além de constituírem até mesmo uma espécie de "força policial" para manter a ordem nas celebrações. Porém, hoje em dia, para os "novos levitas" basta saber tocar três acordes e fazer algumas coreografias aeróbicas durante o louvor para se sentirem com autoridade até mesmo para mudar a ordem dos cultos. Outros há, que se auto-intitulam "apóstolos". Dentro de alguns dias teremos também "anjos", "arcanjos", "querubins" e "serafins". No dia em que inventarem o ministério de "semi-deus" já não precisaremos mais sequer da Bíblia. Nunca pensei que fosse escrever isso, pois as pessoas que me conhecem geralmente me chamam de "progressista". Entretanto, ultimamente, ando é muito conservador. Na verdade, "saudosista" ou "nostálgico" seriam expressões melhores.
Tenho saudades de um tempo em que havia um encadeamento lógico nos cultos evangélicos, em que os cânticos e hinos estavam distribuídos equilibradamente na ordem do culto.
Atualmente os chamados "momentos de louvor" mais se assemelham a show ensurdecedores ou de um sentimentalismo meloso. Pior: sobrepujam em tempo e importância a centralidade da Palavra e da Ceia nas Igrejas Protestantes. Muitas pessoas vão à Igreja muito mais por causa do "louvor" do que para ouvir a Palavra que regenera, orienta e exige de nós obediência. Dias atrás, na semana da Páscoa comentei com um grupo de alunos a respeito da liturgia das "sete palavras da cruz" que seria celebrada em minha Igreja na 6a feira da paixão. Alguns manifestaram desejo de participar. Eu os avisei então que se tratava de uma liturgia que dura, em média, uma hora e meia, durante a qual não é cantado nenhum hino (pelo menos na tradição de minha Igreja - Anglicana), mas onde lemos as Escrituras, oramos e meditamos nas sete palavras pronunciadas por Cristo durante a crucificação. Ao saberem disso, um deles disse: "se não houver música, não há culto".
Creio que, em parte, isso é reflexo da cultura pop, da influência da "Geração MTV", incapaz de perceber que Deus pode ser encontrado também na contemplação, meditação e no silêncio. Percebo também que alguns colegas pastores de outras igrejas freqüentemente manifestam a sensação de sentirem-se tolhidos e pressionados pelos diversos grupos de louvor. O mercado gospel cresceu muito em nosso país e, além de enriquecer os "artistas" e insuflar seus egos, passou a determinar até mesmo a "identidade" das igrejas evangélicas. Houve tempo em que um presbiteriano ou um batista sabiam dar razão de suas crenças. Atualmente, tudo parece estar se diluindo numa massa disforme. Trata-se da "xuxização" ("todo mundo batendo palma agora... todo mundo tá feliz ? tá feliz!") do mundo evangélico, liderada pelos "levitas" que aprisionam ideologicamente os ministros da Palavra. O apóstolo Paulo dizia que a Palavra não está aprisionada. Mas, em nossos dias, os ministros da Palavra, estão - cativos da cultura gospel.
Tenho a impressão de que isso tudo é, em parte, reflexo de um antigo problema: o relacionamento do mundo evangélico com a cultura chamada "secular". Amedrontados com as muitas opções que o "mundo" oferece, os pais preferem ter os filhos constantemente sob a mira dos olhos aos domingos, ainda que isso implique em modificar a identidade das Igrejas. E os pastores, reféns que são dos dízimos de onde retiram seus salários, rendem-se às conveniências, no estilo dos sacerdotes do Antigo Testamento.
Um aluno disse-me que, no dia em que os evangélicos tomarem o poder no Brasil acabarão com o carnaval, as "folias de rei", os cinemas, bares, danceterias etc. Assusta-me o fato de que o desenvolvimento dessa sub-cultura "gospel" torne o mundo evangélico tão guetizado que, se um dia, realmente os evangélicos tomarem o poder na sociedade, venham a desenvolver uma espécie de "Talibã evangélico". Tal como as estátuas do Buda no Afeganistão, o "Cristo Redentor" estará com os dias contados.
Esses jovens que passam o dia ouvindo rádios gospel e lendo textos de duvidosa qualidade teológica, de repente vêm nos Seminários uma grande oportunidade de ascensão profissional e buscam em massa os seminários. Nunca houve tanta afluência de jovens nos seminários como nos últimos anos. Em um seminário em que trabalhei (de outra denominação), os colegas diziam que a Igreja, em breve teria problemas, pois o crescimento da Igreja não era proporcional ao número de jovens que todos os anos saíam dos Seminários como bacharéis em teologia, aptos para o exercício do ministério. A preocupação dos colegas era: onde colocar todos esses novos pastores? Na minha ingenuidade, sugeri que seria uma grande oportunidade missionária: enviá-los para iniciarem novas comunidades em zonas rurais e na periferia das cidades. Foi então que um colega, bastante sábio, retrucou: "Eles não querem. Recusam-se! Querem as Igrejas grandes, já formadas e estabelecidas, sem problemas financeiros".
De fato, percebi que alguns realmente se mostravam decepcionados ao saberem que teriam que começar seu ministério em um lugar pequeno, numa comunidade pobre, fazendo cultos nos lares, cantando às vezes "à capella" e sem o apoio dos amplificadores e mesas-de-som. Na maioria dos Seminários hoje, os alunos sabem o nome de todas as bandas gospel, mas não sabem quem foi Wesley, Lutero ou Calvino.
Talvez até já tenham ouvido falar desses nomes, mas são para eles, como que personagens de um passado sem-importância e sobre o qual não vale a pena ler ou estudar.
Talvez por isso eu e outros colegas professores nos sintamos hoje em dia como que "falando para as paredes". Nem dá gosto mais preparar uma aula decente, pois na maioria das vezes temos sempre que "voltar aos rudimentos da fé" e dar aos vocacionados o leite que não recebem nas Igrejas. Várias vezes me vi tendo que mudar o rumo das aulas preparadas para falar de assuntos que antes discutíamos nas Escolas Dominicais. Não sei se isso acontece em todos os Seminários, mas em muitos lugares, o conteúdo e a profundidade dos temas discutidos pouco difere das aulas que ministrávamos na Escola Dominical para neófitos.
Sei que muitos que lerem esse desabafo, não concordarão em nada com o que eu disse. Mas não é a esses que me dirijo, e sim aos saudosistas como eu, nostálgicos de um tempo em que o cristianismo evangélico no Brasil era realmente referencial de uma religiosidade saudável, equilibrada e madura e em que a Palavra lida e proclamada valia muito mais que o último CD da moda.

De Londrina e Coordenador do Centro de Estudos Anglicanos (CEA) - Carlos Eduardo Calvani.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Que belo, Frei Betto

MEU NOME É CRISE
Frei Betto.
Há tempos não se falava tanto de mim como agora. Tudo por causa de uma crise no sistema financeiro. A África anda, também há tempos, em crise crônica - de democracia, de alimentos, de recursos; quem fala disso?Existe ameaça de crise do petróleo; governantes e empresários parecem em pânico frente à possibilidade de não poder alimentar 800 milhões de veículos automotores que rodam sobre a face da Terra.No último ano, devido ao aumento do preço dos alimentos, o número de famintos crônicos subiu de 840 milhões para 950 milhões, segundo a FAO; mas quem se preocupa em alimentar miseráveis?Meu nome deriva do grego krísis, discernir, escolher, distinguir - enfim, ter olhos críticos. Trago também familiaridade com o verbo acrisolar, purificar. Ao contrário do que supõe o senso comum, não sou, em si, negativa. Faço parte da evolução da natureza.Houve uma crise cósmica quando uma velha estrela, paradoxalmente chamada supernova, explodiu há 5 bilhões de anos; seus cacos, arremessados pelo espaço, deram origem ao sistema solar. O sol é um pedaço de supernova dotado de calor próprio. A Terra e os demais planetas, cacos incandescentes que, aos poucos, se resfriaram. Daqui a 5 bilhões de anos o sol, agonizante, também verá sua obesidade dilatada até se esfacelar nos abismos siderais.Todos nós, leitores, passamos pela crise da puberdade. Doeu ver-nos expulsos do reino da fantasia, a infância, para abraçar o da realidade! Nem todos, entretanto, fazem essa travessia sem riscos. Há adolescentes de tal modo submersos na fantasia que, frente aos indícios da idade adulta, que consiste em encarar a realidade, preferem se refugiar nas drogas. E há adultos que, desprovidos do senso de ridículo, vivem em crise de adolescência...Resulto da contradição inerente aos seres humanos. Não há quem não traga em si o seu oposto. Quantas vezes, no trânsito, o mais amável cidadão arremessa o carro sobre a faixa de pedestres; a gentil donzela enfia a mão na buzina; o aplicado estudante acelera além da conveniência! Não é fácil conciliar o modo de pensar com o modo de agir.Estou muito presente nas relações conjugais desprovidas de valores arraigados. Sobretudo quando a nudez de corpos não traduz a de espíritos e o não-dito prevalece sobre o dito. Felizmente muitos casais conseguem me superar através do diálogo, da terapia, da descoberta de que o amor é um exercício cotidiano de doação recíproca. O príncipe e a fada encantados habitam o ilusório castelo da imaginação.Agora, assusto o cassino global da especulação financeira. Acreditou-se que o capitalismo fosse inabalável, sobretudo em sua versão neoliberal religiosamente apoiada em dogmas de fé: o livre mercado, a mão invisível, a capacidade de auto-regulação, a privatização do patrimônio público etc.Dezenove anos após fazer estremecer o socialismo europeu, eis-me a gerar inquietação ao mercado. A lógica do bem-estar não lida com o imprevisto, o fracasso, o inusitado, essas coisas que decorrem de minha presença. Os governantes se apressam em tentar acalmar os ânimos como a tripulação do Titanic, enquanto a água inundava a quilha, ordenou à orquestra prosseguir a música...Tenho duas faces. Uma, traz às minhas vítimas desespero, medo, inquietação. Atinge aquelas pessoas que não acreditavam em minha existência ou me encaravam como se eu fosse uma bruxa - figura mitológica do passado que já não representa nenhuma ameaça.Minha outra face, a positiva, é a que a águia conhece aos 40 anos: as penas estão velhas, as garras desgastadas, o bico trincado. Então ela se isola durante 150 dias e arranca as penas, as garras, e quebra o bico. Espera, pacientemente, a renovação. Em seguida, voa saudável rumo a mais 30 anos de vida.Sou presença frequente na experiência da fé. Muitos, ao passar de uma fé infantil à adulta, confundem o desmoronar da primeira com a inexistência da segunda; tornam-se ateus, indiferentes ou agnósticos. Não fazem a passagem do Deus "lá em cima" para o Deus "aqui dentro" do coração. Associam fé à culpa e não ao amor.Acredito que este abalo na especulação financeira trará novos paradigmas à humanidade: menos consumismo e mais modéstia no padrão de vida; menos competição e mais solidariedade entre pessoas e empreendimentos; menos obsessão por dinheiro e mais por qualidade de vida.Todas as vezes que irrompo na história ou na vida das pessoas, trago um recado: é hora de começar de novo. Quem puder entender, entenda.

domingo, 2 de novembro de 2008

Jacuipense precisa saber



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sábado, 1 de novembro de 2008

Criando um monstro
(Karina dos Santos Cabral)


O que pode criar um monstro?
O que leva um rapaz de 22 anos a estragar a própria vida e a vida de outras duas jovens por… Nada?
Será que é índole? Talvez, a mídia? A influência da televisão? A situação social da violência?
Traumas? Raiva contida? Deficiência social ou mental? Permissividade da sociedade?
O que faz alguém achar que pode comprar armas de fogo, entrar na casa de uma família, fazer reféns, assustar e desalojar vizinhos, ocupar a polícia por mais de 100 horas e atirar em duas pessoas inocentes?
O rapaz deu a resposta: 'ela não quis falar comigo'. A garota disse não, não quero mais falar com você.
E o garoto, dizendo que ama, não aceitou um não. Seu desejo era mais importante.

Não quero ser mais um desses psicólogos de araque que infestam os programas vespertinos de televisão, que explicam tudo de maneira muito simplista e falam descontextualizadamente sobre a vida dos outros sem serem chamados.
Mas ontem, enquanto não conseguia dormir pensando nesse absurdo todo, pensei que o não da menina Eloá foi o único.
Faltaram muitos outros não's nessa história toda.
Faltou um pai e uma mãe dizerem que a filha de 12 anos NÃO podia namorar um rapaz de 19.
Faltou uma outra mãe dizer que NÃO iria sucumbir ao medo e ir lá tirar o filho do tal apartamento a puxões de orelha.
Faltou outros pais dizerem que NÃO iriam atender ao pedido de um policial maluco de deixar a filha voltar para o cativeiro de onde,
com sorte, já tinha escapado com vida.
Faltou a polícia dizer NÃO ao próprio planejamento errôneo de mandar a garota de volta pra lá.
Faltou o governo dizer NÃO ao sensacionalismo da imprensa em torno do caso, que permitiu que o tal seqüestrador conversasse e chorasse compulsivamente em todos os programas de TV que o procuraram.
Simples assim. N Ã O.
Pelo jeito, a única que disse não nessa história foi punida com uma bala na cabeça.
O mundo está carente de não's.
Vejo que cada vez mais os pais e professores morrem de medo de dizer não às crianças.
Mulheres ainda têm medo de dizer não aos maridos ( e alguns maridos, temem dizer não às esposas ).
Pessoas têm medo de dizer não aos amigos.
Noras que não conseguem dizer não às sogras, chefes que não dizem não aos subordinados, gente que não consegue dizer não aos próprios desejos. E assim são criados alguns monstros.
Talvez alguns não cheguem a seqüestrar pessoas.
Mas têm pequenos surtos quando escutam um não, seja do guarda de trânsito, do chefe, do professor, da namorada, do gerente do banco.
Essas pessoas acabam crendo que abusar é normal. E é legal.
Os pais dizem, 'não posso traumatizar meu filho'. E não é raro eu ver alguns tomando tapas de bebês com 1 ou 2 anos.
Outros gastam o que não têm em brinquedos todos os dias e festas de aniversário faraônicas para suas crias. Sem falar nos adolescentes.
Hoje em dia, é difícil ouvir alguém dizer não, você não pode bater no seu amiguinho.
Não, você não vai assistir a uma novela feita para adultos.
Não, você não vai fumar maconha enquanto for contra a lei.
Não, você não vai passar a madrugada na rua.
Não, você não vai dirigir sem carteira de habilitação.
Não, você não vai beber uma cervejinha enquanto não fizer 18 anos.
Não, essas pessoas não são companhias pra você.
Não, hoje você não vai ganhar brinquedo ou comer salgadinho e chocolate.
Não, aqui não é lugar para você ficar.
Não, você não vai faltar na escola sem estar doente.
Não, essa conversa não é pra você se meter.
Não, com isto você não vai brincar.
Não, hoje você está de castigo e não vai brincar no parque.
Crianças e adolescentes que crescem sem ouvir bons, justos e firmes NÃOS crescem sem saber que o mundo não é só deles.
E aí, no primeiro não que a vida dá ( e a vida dá muitos ) surtam. Usam drogas. Compram armas. Transam sem camisinha.
Batem em professores. Furam o pneu do carro do chefe. Chutam mendigos e prostitutas na rua. E daí por diante.
Não estou defendendo a volta da educação rígida e sem diálogo, pelo contrário.
Acredito piamente que crianças e adolescentes tratados com um amor real, sem culpa, tranqüilo e livre, conseguem perfeitamente entender uma sanção do pai ou da mãe, um tapa, um castigo, um não.
Intuem que o amor dos adultos pelas crianças não é só prazer - é também responsabilidade.
E quem ouve uns não's de vez em quando também aprende a dizê-los quando é preciso.
Acaba aprendendo que é importante dizer não a algumas pessoas que tentam abusar de nós de diversas maneiras, com respeito e firmeza, mesmo que sejam pessoas que nos amem.
O não protege, ensina e prepara.
Por mais que seja difícil, eu tento dizer não aos seres humanos que cruzam o meu caminho quando acredito que é hora - e tento respeitar também os não's que recebo.
Nem sempre consigo, mas tento.
Acredito que é aí que está a verdadeira prova de amor.
E é também aí que está a solução para a violência cada vez mais desmedida e absurda dos nossos dias.

Fonte: (recebido por email)

domingo, 26 de outubro de 2008

Sobre vitórias e derrotas

Cumpre-me informar que ainda irá demorar um tempo razoável para que vocês descubram se ganharam ou se perderam as eleições deste ano. Neste momento, só saberemos quem são os políticos que ajudamos a vencer ou que conseguimos derrotar.

Os processos eleitorais - que, no Brasil, infelizmente ainda se assemelham a disputas entre torcidas organizadas - costumam gerar nos eleitores a sensação de terem vencido ou perdido, fazendo com que se confundam com seus candidatos e partidos.

O eleitor, porém, jamais ganha ou perde nada até que seu candidato comece a governar. Aí, depois de algum tempo, ele saberá se com seu voto derrotou alguém ou apenas a si mesmo.

Será que o eleitor do presidente George Bush achou que tinha ganhado a eleição quando a vitória de seu candidato foi confirmada? Garanto que o “vitorioso” americano de quatro ou oito anos atrás descobriu agora que comemorou muito cedo.

Quantos serão os eleitores de Bush que perderam seus empregos, seus negócios, suas casas, seus carros e até amigos e família? E quantos terão se sentido vitoriosos quando as urnas anunciaram a vitória daquele que já dizem ser o pior presidente americano?

Por outro lado, quantos brasileiros que se sentiram derrotados com a vitória de Lula em 2002 ou em 2006 vêm colhendo frutos viçosos e suculentos da “derrota” eleitoral que então acharam que sofreram?

O que tento explicar é que, quando a maioria elege um político, ninguém ganha ou perde imediatamente - e não ganha nem perde sozinho. O conjunto da sociedade é que, bem depois da eleição, acaba colhendo os frutos do que plantou.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O que a mídia oficializada esconde a gente vê na mídia alternativa

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Tem gente que torce contra.

Eduardo Guimarães é uma das raras riquezas do nosso país. Confira!

Vacina anti-febre amarela

matou 8 pessoas este ano

Recebi correspondência do Ministério Público Federal informando-me, na condição de presidente do Movimento dos Sem Mídia, do andamento da representação que fizemos naquela instituição denunciando possível crime de alarma social cometido pelas Organizações Globo, pelo Grupo Folha, pelo Grupo Estado, pela Revista Veja, pelo Jornal do Brasil, pela Revista IstoÉ e pelo Jornal Correio Brasiliense em janeiro deste ano. A carta de rosto do MPF (supra reproduzida) veio acompanhada dos dados pedidos por aquele Ministério em julho deste ano ao Ministério da Saúde. Segundo informações do MS – e para meu espanto –, a situação é muito mais grave do que se suspeitava. Vale ressaltar que a mídia, que tanto noticiou o surto previsível e sazonal de febre amarela ocorrido no início deste ano, agora esconde dados que mostram que a campanha midiática denunciando suposta epidemia de febre amarela causou quase tantas mortes e adoecimentos quanto a doença em si, pois aquela campanha estimulou a sociedade a se vacinar indiscriminadamente e disso decorreu que: 1 – O Sistema de Vigilância de Eventos Adversos Pós Vacina contra Febre Amarela registrou 53 ocorrências de casos suspeitos (de adoecimento devido à vacina) 2 – Destes, 23 pacientes foram hospitalizados por conta da vacina contra a febre amarela 3 – Dentre os 23 hospitalizados por causa da vacina, 8 (oito!!) pessoas morreram. 4 – Três dessas pessoas morreram por choque anafilático. 5 – Dentre os 15 eventos adversos não confirmados, 5 foram descartados e 10 outros estão sob investigação 6 – Houve surtos de febre amarela nos anos de 1984, 1993, 1999/2000, 2003, 2007/2008 7 – O surto de 2007/2008 foi inferior a todos os outros, apesar de a vacinação ter explodido neste último surto. O material do MS prova cabalmente quanto foi atípico o comportamento da mídia neste ano apesar de que em todos os surtos anteriores houve muito mais casos de morte por febre amarela e muito menos casos de reação adversa à vacina. O Ministério Público federal deu 20 dias úteis para o Movimento dos Sem Mídia se manifestar nos autos. Pretendo começar a trabalhar já na resposta às defesas dos meios de comunicação que se manifestaram no processo e nas considerações que o Ministério Público nos facultou fazer sobre tudo que já se tem disponível em termos de evidências para a instalação de um Inquérito Civil contra os meios de comunicação supra mencionados. Reproduzo, abaixo, o relatório do Ministério da Saúde. Posteriormente publicarei a íntegra do documento.

Fonte: Cidadania.com

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quem conhece a Rádio Sisal não se surpreende!


Rádio Sisal tira do ar programa “que falava de Wagner e Lula”
“Falando com o trabalhador” é um programa de rádio conhecido na cidade de Valente, em pleno semi-árido baiano. Há 11 anos informa a população, sempre aos domingos, sobre direitos sociais e previdenciários, tipo agenda de atendimento no INSS, festas comunitárias, mensagens de familiares. Um clássico programa de interesse público. Ia ao ar sob a responsabilidade do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Valente (Straf).

A direção da Rádio Sisal comunicou dia 16 de outubro a suspensão do contrato aos diretores do Straf, Maria Madalena e Claudionor Aquino. O argumento é perturbador. Os proprietários Edvaldo de Carvalho e Carlão Barros disseram que o programa estava veiculando matérias sobre os governos Lula e Wagner e, para cúmulo do absurdo, informando e comentando os resultados das eleições municipais em Santa Bárbara, serrinha e Quixabeira – cidades em que o PT ganhou – além de Conceição do Coité e Valente.

O programa, que sempre ia ao ar às 6h30 da manhã de domingo, alcançava cerca de 60 municípios que compõem as regiões do Sisal, Vale do Jacuípe, Piemonte e Nordeste do semi-árido baiano. “Falando com o trabalhador” difundia o “Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), Programa Fome Zero/Bolsa Família e Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Milhares de trabalhadores do campo deixaram de ouvir a conhecida vinheta “A terra dá, a terra come, a terra é que produz e o povo passando fome. No Brasil, quando houver reforma agrária, nunca mais a pobreza passa fome”.

O programa agora está à procura de uma nova emissora que não faça censura política.

Procure Robinson Almeida, Leninha, que ele resolve.

Fonte: Bahia de Fato

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Morra Eloá. Viva Serra/Kassab!

Após um mês e quatro dias, volto a postar neste espaço.
Quis fazê-lo antes, porém achei melhor me conter um pouco. Julguei que estava muito exaltado após ter de suportar uma campanha eleitoral local pautada no discurso corrente do "eu sou melhor porque porque fulano(a) deu mais cheques sem fundo do que eu" além de outros argumentos e esforços para ver demonstrar quem roubou mais. Ver uma eleição municipal ser resolvida com argumentos como estes, quando se tinha outros simultaneamente, mas sem espaço por conta do barulho das torcidas do eterno BaVi da política jacuipense me convenceu de que não havia possibilidade de uma discussão racional num momento em que só a paixão tem lugar e poucos me levariam a sério. Passada a euforia da insana eleição municipal, vieram fatos de abrangência nacional tratados de forma semelhante, e como tal, não encontrei razão para comentar de imediato.
Após perceber que embora minoria, já existe alguém menos covarde que eu, que começou a opinar contrariamente à bíblia midiática, ou seja, o Código de Processo Tucano Paulistano. Aqui vou eu mais uma vez.


Eu poderia abordar com destaque nesta postagem, as vidas que foram salvas pelo gesto solidário da família da menina Eloá, ao autorizar a doação de órgãos daquela que foi sacrificada por uma tragédia, mas que por um gesto de solidariedade consegue manter pulsando seu coração, oxigenando e filtrando outro sangue, dando luz a outras pessoas, enfim possibilitando que outras sete vidas tenham prosseguimento em perfeitas condições de saúde.
Não sem reconhecer a grandeza deste gesto, devo também falar de algo que na contramão da ética e do exemplo dado pela família de Eloá, fez e continua a fazer a imprensa brasileira.
Enquanto o país chora e exporta mais uma vez para o mundo a imagem de um país que se destaca também pelo despreparo da polícia, o gesto insano de Lindemberg caiu como providencial para cobrir outro fato escandaloso ocorrido em São Paulo um dia antes da tragédia "protagonizada" por uma pessoa fora de si.
Com a ajuda da mídia, o governador José Serra, dá ao país o "veredicto" irrecorrível sobre fatos absurdos provocados e alimentados pela incompetência, indiferença e arrogância.
O fato ao qual me refiro, ocorrido um dia antes da tragédia anunciada que sacrificou Eloá, foi o incidente do enfrentamento entre policiais civis e militares em frente ao Palácio Bandeirantes. Por total irresponsabilidade, incompetência e indiferença no trato da segurança pública do Estado de São Paulo, o governador José Serra, dá prosseguimento à política de arrocho salarial e opressão ao funcionalismo público paulistano. Há 14 anos que a polícia de São Paulo não tem aumento salarial. Com tal situação, torna-se totalmente desnecessário buscar outra razão para o nascimento e o "cultivo" de grupos criminosos como o PCC que nasceu dentro dos presídios paulistanos no período em que o estado é (des)governado pelo PSDB.
Na quinta-feira passada, quando o país assistiu estupefato à guerra entre as duas polícias de São Paulo, a mídia foi de uma competência "serrenha". Logo foi buscar do governador José Serra o "veredicto" para anunciar ao país a causa daquele vergonhoso incidente. E a culpa, claro, era do PT, do PDT, da CUT e da Força Sindical. Enfim, daqueles que apóiam a candidatura de Marta Suplicy à prefeitura da capital paulistana.
Motivação política. Eis o veredicto do tribunal de um homem só, José Serra. A autoridade suprema, irrecorrível em seus veredictos aos quais a mídia interpreta como lei e lhe dá efeitos efeito de lei. Após a sentença serrana, a imprensa completa o texto da peça jurídica e já sabe quais termos finais de uma sentença e os cumpre sem penstanejar, afinal é sentença do juiz, portanto, Intime-se. Registre-se. Publique-se. Cumpra-se. Após, Arquive-se.
E como fiel cumpridora da "lei serrana" a imprensa brasileira, após o ritual de praxe, encerrou o caso.
Foi um julgamento em tribunal de um homem só. Não teve defesa, não teve testemunhas, não teve advogado ou promotor nem conselho de senteça (jurados). Bastou o entendimento monocrático do Serra e dispensou-se todas as demais vozes. Nem réu, nem vítima, nem sociedade teveram direito à palavra.
Divulgou-se a sentença e o assunto morreu, ou seja, deu-se o arquivamento do feito transitado em julgado com resolução do demérito na forma do artigo da melhor conveniência do Código de Processo Tucano Paulistano.
E como a morte de Eloá beneficiou a dupla Serra/Kassab nesta história?
Ora, com a dimensão que o caso tomou e com a comoção que causou, além de contribuir para que o povo paulistano não perceba o caos que o PSDB criou em São Paulo, não somente, mas sobretudo, na segurança pública, e principalmente não saiba quem são os principais culpados por tudo isso, ficou muito fácil distorcer tudo, ignorar o que não interessa aos interesses de José Serra (neste momento, eleger Kassab para a prefeitura Paulista, para fortalecer a candidatura de Serra à Presiencia da República em 2010) e colocar toda a culpa da incompetência de uma polícia abandonada, sem material técnico e humano adequado, atribuindo tudo isso ao acaso e principalmente ao descontrole de um criminoso inconseqüente que por ciúmes matou a ex-namorada.
Mais uma vez, uma pessoa morreu para salvar a "ordem", os status quo da elite paulistana, tal qual ocorreu com a cruxifição de Cristo, que serviu à manutenção do domínio do povo pela elite sacerdotal judaica, a única classe que tirava vantagem da dominação romana na Palestina, há 2000 anos atrás.
Poderia ainda falar dos inúmeros erros cometidos pela incompetente polícia paulistana. Mas, tentei fazer isto oralmente com quem ía encontrando, porém quase que a totalidade das pessoas com quem tratei do assunto, já havia sido intimada da sentença "serrana" pela mídia e não pude mais falar nisso, visto que o caso já transita em julgado, portanto, sem recurso.
Nem mesmo o fato de um dos maiores especialistas em segurança pública do mundo, um brasileiro que treinou a SWAT estadunidense, os seguranças do Vaticano e agentes de segurança de Israel ter declarado no Fantástico, ontem à noite, que a incompetência da polícia neste episódio o fazia sentir vergonha de ser brasileiro, teve repercussão na imprensa. Como a opinião de uma pessoa tão gabaritada como este especialista, compromete por demais o veredicto serrano, o assunto parou ali e contrariando a praxe e a lógica, não foi mais exibido em nenhum outro telejornal da Globo, a menos que eu não tenha prestado a atenção necessária, apesar dos meus esforços para tanto.
A partir daí, todas as reportagens feitas pelas TVs, enfocam apenas a frieza e o grau de periculosidade do marginal descontrolado. Os "supostos" erros da polícia que devolveu uma ex-refém menor de idade ao seqüestrador, além dos outros erros e total ausência de meios técnicos e profissionais indispensáveis à solução deste caso, deixaram de ser questionados. Afinal, repito: o processo transitou em julgado e arquivado com resolução do demérito na forma do artigo da melhor conveniência do Código de Processo Tucano Paulistano. Irrecorrível, portanto.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

América do Sul reconhece a legitimidade do governo de Evo Morales

Declaração final da Unasul

Chefes de Estado reunidos na sede do governo chileno, o Palácio La Moneda

Reproduzo, abaixo, a declaração final da reunião de cúpula da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), que teve lugar ontem à tarde em Santiago do Chile.

Os seguintes chefes de Estado participaram da reunião:

Michelle Bachelet (Chile); Cristina Fernández de Kirchner (Argentina); Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil); Álvaro Uribe (Colômbia); Rafael Correa (Equador); Fernando Lugo (Paraguai); Tabaré Vázquez (Uruguai), Hugo Chávez (Venezuela) e o presidente Evo Morales (Bolívia).

Além dos presidentes, também participaram da reunião enviados do Suriname e da Guiana, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, e o ministro das relações exteriores do Peru, José Antonio García Belaunde, que foi substituir o presidente Alan García, que não pôde viajar por conta de dispositivo legal de seu país que regula viagens de presidentes ao exterior.

Leiam a declaração final da reunião da Unasul, em que os chefes de Estado presentes adotaram as seguintes deliberações:


1.- Expressam seu mais pleno e decidido respaldo ao governo constitucional do presidente Evo Morales, cujo mandato foi ratificado por uma ampla maioria em recente referendo popular.

2.- Advertem que seus respectivos governos rechaçam energicamente e não reconhecerão qualquer situação que implique em tentativa de golpe civil, ruptura da ordem institucional que comprometa a integridade territorial da República da Bolívia

3.- De acordo com o tópico anterior, e em consideração à grave situação que afeta a república irmã da Bolívia, condenam o ataque às instalações governamentais e à Força Pública por parte de grupos que buscam a desestabilização da democracia boliviana, exigindo a pronta devolução dessas instalações como condição para o início de um processo de diálogo.

4.- Também fazem um chamado a todos os atores políticos e sociais envolvidos a que tomem as medidas necessárias para que cessem imediatamente as ações de violência, intimidação e de desacato às instituições democráticas e à ordem jurídica estabelecida.


5.- Nesse contexto, condenam firmemente o massacre de camponeses no departamento de Pando e respaldam o chamado realizado pelo governo boliviano para que uma comissão da Unasul seja constituída nesse país irmão para realizar uma investigação imparcial que permita estabelecer e esclarecer rapidamente o sucedido e formular recomendações, de maneira a garantir que o sucedido não fique impune.


6.- Instam a todos os membros da sociedade boliviana a preservarem a unidade nacional e a integridade territorial desse país, fundamentos básicos de todo Estado, e rechaçam qualquer tentativa de violar esses princípios.


7.- Fazem um chamado ao diálogo para restabelecer as condições que permitam superar a atual situação e proceder à busca de uma solução sustentável dentro do marco do pleno respeito ao estado de direito e à ordem legal vigente.


8.- Nesse sentido, os presidentes da Unasul concordam em criar uma comissão aberta a todos os seus membros, coordenada pela presidência pro tempore, para acompanhar os trabalhos dessa mesa de diálogo conduzida pelo legítimo governo da Bolívia.


9.- Criam uma comissão de apoio e assitência ao governo da Bolívia em função de seus requerimentos, incluindo recursos humanos especializados.

Comentário: O texto mostra que absolutamente todos os governos da América do Sul manifestam total confiança na versão dos fatos relatada por Evo Morales e lhe dão apoio absoluto contra seus opositores. Além disso, a declaração assume a versão do presidente da Bolívia sobre o massacre de Pando.


Fonte: cidadania.com

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Evo melhorou a Bolívia

Aos poucos, vão sendo impostas a democracia e a verdade aos seus eternos inimigos nesta parte do mundo, ou seja, aos Estados Unidos, à mídia latino-americana e, sobretudo, aos fascistas bolivianos, que tanto mal estão causando ao povo da Bolívia e à democracia de toda região ao reeditarem um passado de golpismo, de racismo e de ruptura institucional.

Facilitado pela mídia golpista daqui, a maior das mentiras que está sendo contada é a de que o governo de Evo Morales Ayma, com seu “comunismo”, estaria afastando investimentos da Bolívia e fazendo ruir a economia do país.

Nesse contexto, vários leitores deste blog vieram aqui repetir bobagens que leram na imprensa golpista tupiniquim sobre a “piora” que o governo da Bolívia promoveu no país, “afastando investimentos” etc.

A “imprensa” estimula a burrice da sociedade ao dar ampla publicidade a discursos enlatados engendrados nas redações das Folhas, Globos, Vejas e, claro, nos “Comitês Cívicos” dos nazistas da “Meia Lua” boliviana.

Essa gente nada sabe sobre a Bolívia. É provável que nem saiba qual é a capital de fato do país, que, à diferença do que se pensa, não é La Paz e, sim, Sucre; La Paz é a sede do governo boliviano. Isso não impede essas vítimas do mau jornalismo de saírem por aí repetindo as imbecilidades que foram inculcadas em suas cabeças vazias.

Diante desse quadro deprimente de emburrecimento jornalístico coletivo, vale a pena expor alguns fatos sobre os êxitos expressivos que também o governo de esquerda boliviano vem obtendo nos últimos anos, à semelhança dos êxitos que todos os governos progressistas da região vêm obtendo em maior ou menor grau.

Evo Morales foi eleito em dezembro de 2005. O país que passou a governar era, então, o mais pobre da América do Sul, com 60% dos seus 9 milhões de habitantes abaixo da linha da pobreza e 38% em extrema pobreza; desemprego de 12%, com 40% de sub-empregados; renda dos indígenas 40% inferior à renda dos não-indígenas (Fonte: Vi o Mundo)

Apesar de ter a segunda maior reserva de petróleo da América do Sul, a Bolívia ainda é o país mais pobre da região. Não foi por outra razão que Evo nacionalizou o gás e o petróleo e negociou seus preços com o Brasil e a Argentina, pois tais preços eram extremamente baixos. O gás, por exemplo, era vendido por cerca de 3 dólares o metro cúbico, apesar de o preço alternativo – por exemplo, da Rússia – ser 3, 4 vezes mais alto. (Fonte: Folha de São Paulo)

Com a nacionalização do petróleo, a Bolívia passou a lucrar 85% das exportações do produto, que dobraram de 2005 para 2006, chegando a 4,9 bilhões de dólares (Fonte: Vi o Mundo).

Mas o discurso falacioso mais comum que as vítimas da lavagem cerebral midiática gostam de alardear é o de que Evo estaria “afastando investimentos estrangeiros” com seu governo “comunista”.

É mentira. A empresa siderúrgica indiana Jindall Steel & Power, por exemplo, ganhou licitação em 2006 para a explorar a jazida de Mutún, uma das reservas de ferro mais importantes do planeta, que fica no leste da Bolívia. O investimento, até agora, soma 2,5 bilhões de dólares (Fonte: Folha On Line).

É bom informar, também, que a mina de Mutún possui reservas de 40 bilhões de toneladas de ferro, 10 bilhões de magnésio (70% das reservas mundiais) e se achava sub-explorada antes de Evo assumir (Fonte: Folha On Line) .

Outro êxito expressivo do governo da Bolívia foi na questão da dívida externa do país. A queda do endividamento boliviano, que ocorreu já no primeiro ano do governo Evo Morales (2006), decorreu da obtenção de muito maior receita do petróleo, principal fonte de divisas da Bolívia e que era vendido a preço de banana ao Brasil, certamente porque os governos brasileiros anteriores devem ter usado “argumentos” altamente convincente$ para que os governos bolivianos de então aceitassem vender-nos gás por preços tão irrisórios...

Os gráficos abaixo mostram quanto caiu a dívida externa da Bolívia a partir do governo Evo Morales, eleito em 2005 e empossado em 2006 (Fonte: Cia - The World Factbook).

Quero explicar a vocês, finalmente, que, durante a recente crise na Bolívia, dediquei-me tanto ao assunto aqui porque descobri uma coisa. Nos últimos 13 anos venho viajando quase todos os meses pela América Latina. Nesses tantos países, fiz amigos, entrei nas casas das famílias, vi as mazelas e as qualidades desses povos e países e com eles estabeleci uma ligação muito íntima. Em suma, aprendi a amar a região em que está o meu país.

Senti uma dor imensa ao ver sofrer tanto, ao ver ser chacinado por bandidos aquele povo pobre, humilde, que tantas vezes me recebeu como se eu fosse uma celebridade só por ser branco, brasileiro e por me dignar a entrar em suas casas humildes. Os bolivianos são pessoas boas, humanas, com forte senso de solidariedade, humildes ao impensável... Sinto muito por eles, sobretudo pelas vítimas dos reacionários nazistas da “Meia Lua”, uma gente desprezível que, infelizmente, conheço bem, e que explora aqueles índios e os trata como lixo.

Mas parece que as coisas melhoram graças ao apoio decidido dos governos progressistas latino-americanos – e não acreditem na imprensa golpista brasileira quando esta põe em dúvida o apoio de Lula a Evo –, que disseram em alto e bom som aos mentores do golpismo boliviano, os Estados Unidos, que não aceitariam que a potência hegemônica voltasse a promover por aqui sua “democracia” criminosa.

O mundo mudou, a América Latina muda mais do que qualquer outra parte, mas a direita latino-americana, vil, assassina, covarde, golpista e capacho dos americanos ainda não percebeu. Azar dela.


Fonte: Cidadania.com

Jornal Nacional mente sobre Unasul

Na tarde de 15 de setembro de 2008, segunda-feira, em Santiago do Chile, aconteceu uma reunião de cúpula integrada por todos os chefes de Estado da América do Sul, com exceção do presidente do Peru, Alan García.

A edição do Jornal Nacional do mesmo dia, porém, além de ter jogado quase para seu fim a cobertura do fato mais importante do momento para a América do Sul (onde fica a sede das Organizações Globo), apresentando antes uma extensa e soporífera reportagem sobre a alta do dólar (causada pelos tremores na economia americana), uma reportagem que mostrou bacanas choramingando porque as contas dos gastos que fizeram com cartão de crédito no exterior ficarão mais caras, o telejornal mentiu descaradamente sobre o motivo de o presidente do Peru ter faltado à reunião de cúpula da Unasul.

Willian Bonner, âncora do JN, afirmou que o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, estava preocupado com possibilidade que veria de o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, dar algum “show” retórico contra os Estados Unidos devido às acusações do próprio venezuelano e do presidente da Bolívia, Evo Morales, de a superpotência estar por trás do levante violento da oposição boliviana. E insinuou que o presidente peruano teria faltado ao encontro de chefes de Estado por isso.

A verdade é bem outra. Alan García não compareceu – e mandou um representante – porque no Peru é preciso autorização do Congresso para o presidente deixar o país e, assim, não houve tempo para o presidente peruano obter tal autorização.

A péssima cobertura do JN sobre a reunião da Unasul desprezou fatos “quentes” como a recusa do conclave de chefes de Estado de permitirem que os governadores revoltosos da Bolívia, mentores dos conflitos em curso naquele país, participassem do encontro em Santiago do Chile.

Segundo o porta-voz da decisão da Unasul, o subsecretário de Assuntos Latino-Americanos da Chancelaria argentina, Agustín Colombo Sierra, governadores não podem participar de uma reunião de presidentes.

A razão dessa afasia jornalística em relação à reunião de cúpula da Unasul deve-se ao fato de que ela não deve trazer boas notícias para os golpistas bolivianos e, nesse contexto, para a direita latino-americana, à qual servem as Globos daqui, de lá, de todos os países da região, igualmente infectados por essa praga midiática que teima em decidir o que você, leitor, precisa ou não saber.

Fonte: Cidadania.com

Walter Pinheiro sobe e ACM Neto nem para o segundo turno vai

Por: Oldack Miranda
Pensei que fosse facciosismo meu.

Há mais de um mês postei aqui no Bahia de Fato que ACM Neto sequer iria para o segundo turno em Salvador.

Agora leio em A Tarde (15/09), na coluna Tempo Presente, do jornalista Levi Vasconcelos, a nota intitulada “E se der Pinheiro e João?”.

Segundo Levi, “tal possibilidade passou a ganhar intensidade nos últimos dias”. É que ACM Neto (DEM) estagnou na casa dos 28,3% com uma rejeição equivalente. Imbassahy (PSDB) caiu e não há indicação de caminho de volta para o alto. João Henrique (PMDB) dá sinais de reação para cima. E Walter Pinheiro (PT) mantém sua ascensão, vertiginosa no início, e agora mais lenta, mas, sempre em frente.

No mesmo dia em A Tarde, página 12, o colunista Ricardo Noblat, foi bem mais incisivo em sua análise. Ele conclui que ACM Neto pode ficar fora do segundo turno:

“O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto, candidato do DEM a prefeito de Salvador, liderava com folga as pesquisas de intenção de voto. Até que seus principais adversários decidiram relembrar o que ele dissera sobre Lula em 2005. Da tribuna da Câmara Federal, em tom agressivo, ele ameaçou Lula com uma surra se fosse espionado pela Agência Brasileira de Inteligência. Resultado: ACM Neto pode ficar fora do segundo turno da eleição”.

Para completar, a Tribuna da Bahia divulga hoje (15) uma pesquisa do INESP. A pesquisa aponta avanço significativo do petista Walter Pinheiro e uma queda vertiginosa do tucano Imbassahy.

Na pesquisa espontânea do INESP, ACM Neto (DEM) está com 24%; João Henrique (PMDB) está com 20,4% e Walter Pinheiro emplaca 19,4% superando de vez o tucano Imbassahy que pontua apenas 9%, uma queda espantosa.

Na pesquisa estimulada, o INESP registrou 26,5% para ACM Neto (DEM), seguido por João Henrique (PMDB) com 20,4%, depois Walter Pinheiro (PT) colado com 19,9% e só depois Imbassahy com 11,7%. Como todas, a pesquisa INESP dá índices inexpressivos para Hiiiiilton 50.

Para Walter Pinheiro (PT/PSB) o melhor é um segundo turno com ACM Neto (DEM). Uma certeza de vitória.

Já uma disputa com João Henrique (PMDB) iria partir corações e envenenar o cenário na base política de Jaques Wagner.

Mas, no final do filme, Walter Pinheiro (PT) ganha.

Fonte: Bahia de Fato

domingo, 14 de setembro de 2008

A VOCAÇÃO POLÍTICA DAS LIDERANÇAS CRISTÃS

José Lisboa Moreira de Oliveira*

Há cerca de dois mil e quatrocentos anos atrás, na Grécia Antiga, o filósofo A-ristóteles definiu o ser humano como um animal político . Na sua obra A Política Aris-tóteles afirma que a pessoa humana, por natureza, é feita “para a sociedade política” . Para ele todo ser humano, se quiser realmente corresponder à própria natureza, à própria finalidade, deve engajar-se na promoção do bem-estar, do bem comum de todos os ci-dadãos .
Naturalmente, quando faz tal afirmação, Aristóteles tem presente a definição grega de política. Os gregos chamavam de “política” (em grego politiké) o compromis-so, o envolvimento, o engajamento dos cidadãos na condução do bem público, do bem comum, ou seja, do bem de todos. Aristóteles considerava a participação de todos os cidadãos livres como algo indispensável para a conservação da comunidade e define o homem de bem como sendo o cidadão, ou seja, aquele que exerce sua cidadania partici-pando das assembléias e das decisões .

1. A omissão política das lideranças cristãs

Quase vinte e quatro séculos depois da definição de Aristóteles, nos surpreen-dem a apatia e a indiferença do homem e da mulher modernos pela política. Depois de tantas lutas, de tanto sofrimento para chegarmos às conquistas democráticas, choca-nos ver boa parte da humanidade alheia ao seu próprio destino, sem nenhuma vontade de participar.
Surpreende-nos também que isso aconteça nos meios cristãos, uma vez que o amor ao próximo foi erigido por Jesus em seu novo e único mandamento: “O que eu mando é isto: amem-se uns aos outros” (Jo 15,17).
Infelizmente tudo isso acontece porque as lideranças cristãs abdicaram de sua responsabilidade de guiar e de conduzir o povo, por “bons caminhos” para “pastagens verdejantes” e “fontes tranqüilas” (cf. Sl 23,2-3), a exemplo do Mestre Jesus. No dizer de Boff os pastores, de um modo geral, perverteram a natureza do pastoreio e permiti-ram que o povo se dispersasse e fosse presa de pilantras, de mercenários e de animais selvagens. Em outras palavras, a quase totalidade das lideranças não cuida do povo, não é solidária com ele, não conhece os seus problemas, não se faz companheiro ou compa-nheira e não procura ligar o próprio destino ao destino do povo.
Uma boa parte das lideranças de hoje não é formada de autênticos pastores, mas apenas de “peões contratados” que visam lucros pessoais sem limites, tanto econômicos como de poder. Segundo Boff, a quase totalidade das lideranças de Igreja termina por utilizar o cajado contra as ovelhas, ao invés de utilizá-lo contra os lobos e mercenários . Não há como não dar razão a Boff. Os exemplos estão aí. Basta, com honestidade e sin-ceridade, dar uma olhada na Igreja para perceber como isto está acontecendo. Ainda é um verdadeiro milagre a existência de pastores, com Dom Erwin Kräutler, bispo-prelado do Xingu (PA), dispostos a, como Jesus, dar a vida pelas ovelhas (cf. Jo 10,15).
Diante dessa situação é indispensável e urgente resgatar a dimensão política da vocação das lideranças cristãs. Por liderança cristã entendo dizer todas aquelas pessoas que realizam algum tipo de serviço de coordenação e de animação nas comunidades. Mas no caso da Igreja Católica Romana trata-se, sobretudo, de recuperar a dimensão política da vocação dos bispos e dos padres, uma vez que eles são os que mais direta-mente estão à frente das comunidades.
Os pastores não podem esquecer que eles, como o Bom Pastor, precisam estar “atentos às necessidades dos mais pobres, comprometidos na defesa dos direitos dos mais fracos”, sendo “promotores da cultura da solidariedade” . E no mundo em que vivemos isso só se torna possível através da participação, com os demais cidadãos e as demais cidadãs, de todos aqueles momentos e atividades que dizem respeito à promoção do bem público, do bem de todos. Puebla, em 1979, afirmou que a fé cristã não despreza a atividade política, mas, pelo contrário, a valoriza e a tem em alta estima. Isso porque ela tinha consciência de que a dimensão política é constitutiva do ser humano e repre-senta um aspecto fundamental e relevante da convivência humana . Logo, o compro-misso político, a tarefa de construir o bem comum, é também tarefa da Igreja e de seus pastores e ministros. Aliás, diz acertadamente Puebla, a política é “uma forma de dar culto ao único Deus, dessacralizando e ao mesmo tempo consagrando o mundo a Ele” . E a liderança cristã que se recusa a participar da política, no sentido apenas explicado, deixa de cultuar o verdadeiro Deus e cai na idolatria.
O resgate da dimensão política da vocação das lideranças cristãs precisa ter co-mo referência a prática de Jesus de Nazaré, considerado pela Carta aos Hebreus “o pas-tor supremo das ovelhas por ter derramado o sangue da aliança eterna” (Hb 13,20). Po-deríamos, pois, encontrar em todos os evangelhos diretrizes sobre as quais orientar a vocação política das lideranças cristãs. Porém, por questão de brevidade, prefiro tomar um texto que me parece o mais expressivo da atuação política de Jesus. Trata-se da nar-rativa da cura do geraseno que se encontra no Evangelho de Marcos (5,1-20). Nela en-contramos indicações muito preciosas que podem nos ajudar a entender melhor essa questão . Sugiro, antes de prosseguir, que, neste instante, o leitor ou leitora tome o e-vangelho de Marcos e leia com atenção a narração da cura do geraseno.

2. Fazer um deslocamento geográfico e afetivo

A cena já começa no final do capítulo quatro (Mc 4,35-41). Jesus, depois de uma longa conversa a sós com os discípulos (Mc 4,10-34), decide atravessar o mar da Gali-léia e ir para o outro lado, para uma região pagã, a região dos gerasenos (Mc 4,35). Ele, portanto, realiza um deslocamento geográfico e afetivo. Deixa o ambiente onde vive e vai para um lugar estranho. Além de ser terra estrangeira era também terra pagã, o que para a mentalidade judaica da época significava local impuro e pecaminoso, com o qual se deveria evitar o contato. Portanto, como lembra muito bem Myers, trata-se não só de um lugar geográfico, a cidade de Gerasa, mas de um “espaço sociossimbólico”, com um significado muito especial para os leitores do evangelho de Marcos . A impureza do local vai ser reforçada pelo fato do endemoninhado viver nos sepulcros e pela presença dos porcos, animal considerado impuro pela lei judaica de então (cf. Lv 11,7-8).
De acordo com a narrativa de Marcos (4,37-38) a travessia do mar foi muito di-fícil por causa do vento forte que soprava, enchendo de água a barca e colocando em perigo a vida dos passageiros. Segundo a Bíblia Pastoral o mar agitado simboliza as nações pagãs. O medo dos discípulos reforça essa hipótese. Para Myers as travessias de mar nos evangelhos, especialmente em Marcos, funcionam como “peça de ficção”, com o objetivo de dramatizar a luta que naquele período se travava para unir, no cristianis-mo, o mundo judeu e o mundo pagão. Bravo afirma que elas são um resumo das perse-guições sofridas por Jesus e por seus discípulos em todos os tempos e lugares . Os e-vangelistas não estão preocupados em focalizar “minúcias de trânsito marítimo”, mas apenas oferecer uma leitura simbólica do que representava todo aquele esforço de uni-dade . Eles querem insistir para que o leitor do evangelho entenda perfeitamente o sig-nificado das ações de Jesus.
Estas primeiras considerações mostram claramente que a primeira atitude da di-mensão política da vocação de uma liderança cristã é o deslocamento tanto geográfico como afetivo. Não é possível ir à frente do rebanho sem sair dos ambientes de comodi-dade e de bem-estar. É indispensável um contato físico com a realidade do mundo dos pobres e excluídos, colocando-se com eles e na pele deles. Mas não basta só esse conta-to físico, pois ele pode estar cheio de pura demagogia, como é o caso de certos contatos com o povo de alguns políticos, por ocasião das eleições. Hoje, com muita freqüência, também certas lideranças cristãs, inclusive bispos e padres, usam de tal demagogia. Pi-sam na lama das periferias para depois se esconderem no luxo dos palácios episcopais e das casas paroquiais, mantidas pelo dízimo suado dos pobres. Pode-se, inclusive, ser liderança cristã na periferia sem ser social e afetivamente da periferia.
Isso significa que o deslocamento tem de ser realizado também interiormente, afetivamente, no coração do pastor, de modo que ele possa ser tomado de compaixão (Mt 9,36). Foi o que aconteceu com Jesus que, ao chegar “à outra margem” (Mc 5,1-2) foi logo dando de cara com uma situação de morte e de injustiça perversa.
No caso do geraseno, a situação era dramática. O texto, por três vezes, afirma que ele morava no cemitério, no meio dos túmulos . Considerando a sociossimbologia de que se falou antes, isso significa que a realidade das pessoas daquele local era de ausência total de vida, era de pobreza, pois “pobreza significa morte. Morte precoce e injusta” . De fato, os habitantes dos cemitérios são os mortos e dizer que aquele ho-mem, representante de todos os outros gerasenos, morava entre os túmulos significava dizer que era alguém sem vida .
Vejo como bastante desafiador esse primeiro passo, tendo presentes as atuais práticas eclesiais de formação das lideranças. De um modo geral elas são formadas lon-ge da realidade do povo sofrido e oprimido. Nos seminários e nas casas de formação, de um modo geral, os jovens e a jovens vivem longe da vida real. Recebem tudo de graça, têm tudo à disposição, não pisam no chão dos pobres e dificilmente se preocupam “com o lugar em que dormirão aqueles que não têm onde se abrigar” .
Para que as lideranças cristãs assumam, de fato, a sua vocação política, segundo o exemplo de Jesus, é fundamental rever o quanto antes a pedagogia formativa. É preci-so que elas sejam educadas para este constante deslocamento e não sejam confirmadas como lideranças enquanto não demonstrarem que realmente querem fazer a travessia para “a outra margem”.

3. Desmascarar toda forma de religiosidade alienante

Uma vez no meio dos pobres, participando com eles da vida cotidiana, a lideran-ça cristã precisa dar um outro passo significativo: perceber e desmascarar as formas de religiosidade alienantes presentes no meio do povo. No episódio da cura do geraseno chama-nos a atenção o fato de que, ao ver Jesus ainda de longe, o endemoninhado corre, cai de joelhos e proclama bem alto que Jesus é o “Filho do Deus altíssimo” (Mc 5,6-7). Um ato típico de adoração e de culto à divindade.
É surpreendente, porém, que um demônio seja capaz de adorar a Deus. Como explicar que um demônio seja capaz de um gesto de adoração e de culto? A resposta só pode ser uma: existem formas de religiosidade que não são cultos ao verdadeiro Deus, mas verdadeira ofensa à sua bondade e ao seu amor misericordioso. Mais do que divi-nas, elas são demoníacas. E são diabólicas porque se colocam contra a justiça, contra o bem de todos os seres humanos . As aparências do culto, os rituais, as celebrações pomposas, são apenas disfarces para encobrir o verdadeiro objetivo que é a exploração dos mais fracos (cf. Jr 7,1-11). Jesus, seguindo a tradição dos grandes profetas de Israel, denuncia este tipo de religiosidade (cf. Jo 2,13-22).
Sabemos que no tempo de Jesus os sumos sacerdotes eram escolhidos sob forte pressão dos romanos. Os escolhidos eram verdadeiros lacaios, ou seja, subservientes à vontade do Império Romano, e profundamente corruptos . Representado pelo Sinédrio, composto por 71 membros, formado pela aristocracia rica, o poder religioso se mantinha graças ao suborno, às intrigas, aos pactos com Roma e a outros atos de corrupção . Por esse motivo as atitudes de Jesus não só denunciam a falsidade da religião, mas atacam também o sistema político que mantinha “a pirâmide social interna de Israel” .
Ora, tudo isso nos diz que uma das tarefas das lideranças cristãs é denunciar e lutar contra toda forma de religiosidade que contribui para a manutenção das injustiças e da exclusão social. Como Jeremias, a liderança cristã precisa colocar-se “na porta do templo” e denunciar energicamente qualquer forma de religião que “ilude com palavras mentirosas que não trazem proveito nenhum” (Jr 7,8). A resistência da liderança cristã ao falso culto é fundamental, uma vez que ele produz alienação. E o ser humano “em estado de alienação, não compreende e não pode compreender” .
Infelizmente, porém, isso não acontece no momento. Por toda parte na Igreja Ca-tólica Romana, vemos lideranças cristãs, inclusive padres e bispos, aderindo a verdadei-ros cultos idolátricos, uma vez que eles são usados mais para alienar, para oferecer con-solação barata e ilusória, do que para promover a verdadeira libertação .
Hoje, o que o mundo dos pobres e excluídos precisa não é de um cristianismo genérico, vago, mas do Deus de Jesus Cristo, que caminha na história e que fica do lado dele. Um Deus em si, que fica lá nas nuvens, que não se importa com sua situação, não interessa aos oprimidos da terra e não diz absolutamente nada. A Igreja da apologética, da falta de modéstia, do Deus ato puro, distante da história, criou o ateísmo teórico e prático, o comunismo, o facismo, o nazismo e as ditaduras militares . Ou será que a Igreja Católica Romana ainda não se deu conta dessa verdade?
Portanto, cabe à liderança cristã manter sempre viva a crítica à religião alienante. E para fazer isso ela precisa viver a sua vocação “a partir do reverso da história” . Ou seja, precisa fazer o deslocamento geográfico e afetivo. Se não mantiver esta ousadia profética deixará de ser autêntica liderança e passará a ser apenas, segundo a expressão de Jesus, ladrão e assaltante. Além disso, alimentará ainda mais a idéia, surgida no am-biente da modernidade, de que a religião é inimiga da justiça, da verdade e da liberda-de . E quando não é libertadora, a religião é isso mesmo. Não há como fugir disso.

4. Identificar a verdadeira causa das injustiças e exclusões

Uma vez desmascarada toda forma de religiosidade alienante, será indispensável identificar a verdadeira causa das injustiças e das exclusões sociais. Hoje temos ele-mentos suficientes para entender que o fenômeno social da pobreza é produzido e não é um fato natural. Os pobres e excluídos são o resultado de um sistema perverso de domi-nação e de opressão . Aristóteles dizia que eles são o resultado ou de uma democracia insolente, ou de uma oligarquia violenta ou de uma tirania . No episódio do geraseno, Jesus, de imediato, procura identificar o responsável por aquela situação de morte. Faz isso perguntando ao homem qual era o seu nome (Mc 5,9).
Na Bíblia o nome revela as características e a verdadeira identidade da pessoa. Não é, como entre nós, apenas uma palavra convencional para chamar alguém. Dar no-me e chamar uma pessoa pelo nome é revelar a sua verdadeira identidade, a sua história (cf. Êx 2,22; Mt 1,23). Assim sendo, ao perguntar ao geraseno por seu nome, Jesus o-briga-o a revelar a sua verdadeira identidade, até então desconhecida. E no momento em que a identidade é revelada, o poder de dominação começa a ruir, pois ter o nome de alguém significa ter poder sobre ele.
A resposta do geraseno a Jesus é muito clara: “Meu nome é ‘Legião’, porque somos muitos” (Mc 5,9). A Legião era uma um destacamento de infantaria do exército romano formado por dez coortes e com um total de soldados que variava entre 3 e 6 mil homens. No tempo de Jesus a Palestina estava ocupada militarmente pelos romanos. Por isso a conclusão da maioria dos estudiosos da Bíblia é de que o demônio que atormen-tava o povo e o mantinha num estado de morte era o Império Romano. “Legião era o nome do exército romano, que tinha dominado o povo e o mantinha em situação de o-pressão e morte” . Balancin afirma que podemos ver aqui “uma conotação política” do problema, uma vez que as legiões romanas dominavam a região. Assim sendo, Legião, representante do Império Romano, “corporifica uma presença de exploração e morte” .
Myers tem a mesma opinião. Aliás, ele insiste em dizer que não apenas o termo “Legião”, mas uma série de expressões e de imagens, usadas no texto, são tiradas do ambiente militar. O que leva à conclusão inequívoca de que o autor do Evangelho esta-va falando claramente do Império Romano. Myers é do parecer que se possa fazer uma leitura política do Evangelho de Marcos e que em muitas afirmações o evangelista foi muito ousado, fazendo ver nas entrelinhas a sua oposição aos romanos .
Creio que no momento atual a situação não seja diferente. A pobreza e a exclu-são continuam existindo por conta dos desmandos políticos, da corrupção e da politica-gem. O sistema neoliberal é perverso e excludente, fazendo vítimas que perambulam pelas nossas cidades e campos. Gutiérrez, citando informações fornecidas pela presi-dência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), previu com clarividência profética que o século XXI seria terrível e cruel para os pobres e excluídos. Mesmo com tantos avanços científicos e tecnológicos os pobres serão cada vez mais “insignifican-tes” para o sistema, que tem o mercado como único regulador das forças econômicas . “A inveja, o egoísmo, a cobiça passam a ser motores da economia; a solidariedade e a preocupação com os mais pobres são vistas, em contrapartida, como empecilhos ao crescimento econômico...” .
Nesse cenário dramático a liderança cristã não pode, de forma alguma abdicar da sua responsabilidade de “dar nomes aos bois”, ou seja, de, como Jesus, identificar os sistemas sociais, políticos e econômicos que estão por trás da miséria e do sofrimento da grande maioria da população. Denunciar a lógica do mercado, desvelar as estruturas de pecado social que geram morte, mostrar que aumenta cada vez mais a distância entre ricos e pobres, são responsabilidades sobretudo de quem está à frente das comunidades. Gutiérrez lembra muito bem que essa foi uma bandeira de João Paulo II: denunciar a opulência do hemisfério Norte construída sobre a miséria dos pobres do hemisfério Sul .

5. Desmontar sabiamente as armadilhas do sistema injusto

Todavia, não é suficiente identificar as causas da injustiça. Isso não basta. É in-dispensável desmontar de forma inteligente e sábia as armadilhas do sistema injusto. Cabe dizer logo de início que nenhum sistema injusto se acha tal e, por isso mesmo, nunca aceita ser revisto ou desmontado. No episódio do geraseno, ele próprio pede com insistência para não sair da região (Mc 5,10). Para não perder o poder e para não deixar de dominar, o sistema é capaz de tudo, inclusive de submeter-se a alguém mais forte. Basta, por exemplo, pensar na subserviência das elites dos países pobres às grandes po-tências.
Por essa razão é necessário pensar em estratégias que sejam capazes de “afogar” o sistema e tirar dele toda força que possui. Foi o que Jesus fez. E o fez usando as bre-chas e as fragilidades que o próprio sistema oferecia. No episódio do geraseno é “Legi-ão” que pede para que Jesus o mande entrar nos porcos (Mc 5,11-12). Note-se o detalhe. Legião quer buscar um atalho para se ver livre de Jesus, mas usando do próprio Jesus para atingir seus objetivos. O Mestre de forma inteligente e sagaz atende ao pedido dos demônios, mas usando de estratégias que aniquilam de vez o sistema e realizam a liber-tação daquele homem.
Segundo Balancin a tática de Legião visava preservar seu domínio. De fato, todo sistema precisa se corporificar para ser eficaz. Para a Bíblia o corpo possibilita as ações humanas. O pedido dos demônios para entrar nos porcos tem esse significado, mas a ação de Jesus é mais forte. Ele consegue ao mesmo tempo atender ao pedido e enganar Legião. Os porcos, para a Bíblia, são símbolo do que é impuro e indigno do ser humano. Jesus, depois de identificar a imundície do sistema, faz com que esse sistema se auto-destrua, afogando-se na sua própria sujeira. “Sem corpos para agir, o poder demoníaco se esvazia, se evapora. A vitória de Jesus é completa” . Ele se faz mais forte que o sis-tema e obriga-o a voltar para o seu lugar adequado, retirando-lhe todo poder sobre as pessoas .
Aqui está, portanto, o desafio para as lideranças cristãs. Como animar e coorde-nar as comunidades, retirando-as do controle dos sistemas opressores e dominadores? Como retirar desse sistema toda possibilidade de atuar nas comunidades, dominando as pessoas? É claro, como nos mostra Jesus, que isso se faz impedindo que o sistema tenha espaços e oportunidades para agir no meio do povo. Isso se faz enganando o sistema, agindo de modo inteligente e perspicaz. Myers afirma que essa forma inteligente e sagaz se dá em primeiro lugar pelo confronto verbal e em seguida pelo exorcismo. Em primei-ro lugar é preciso enfrentar o sistema e depois exorcizá-lo. Exorcizar neste contexto significa expulsar, eliminar, tudo aquilo que causa alguma forma de exploração das pes-soas .
Porém, para fazer isso, a liderança cristã precisa ter uma mística profunda capaz de lhe dar coragem para o martírio (cf. Jo 10,11). Lideranças mercenárias jamais serão capazes de fazer isso. Pelo contrário, diante dos demônios do sistema fugirão abando-nando o rebanho (cf. Jo 10,12). Assim sendo, o grande desafio para a Igreja dos nossos tempos é aquele de formar lideranças corajosas e proféticas que não desçam a pactos com o sistema e nem fujam abandonando as pessoas quando elas mais precisam.
O grande problema do momento é que não temos pastores místicos. Temos che-fes de religiosidades alienantes, profundamente comprometidos com o dinheiro e a po-sição social. São pouquíssimas as lideranças que cultivam a mística do martírio. E como a maioria só trabalha por dinheiro e pelo prestígio, não se importa com a vida das pes-soas (cf. Jo 10,13). É urgente, pois, formar pastores que não permitam a “colonização da mente”, que ajudem a comunidade a se libertar da angústia e do medo. Lideranças com competência e suporte místico que ajudem as pessoas a conquistar a libertação definiti-va de toma forma de poderio e de dominação .

6. Realizar uma catequese libertadora

Esse processo de libertação só se dá por meio de uma educação libertadora, por meio de uma catequese que não seja apenas doutrinação, mas estímulo para uma ação incisiva. Aliás, os passos anteriores já fazem parte desse processo, uma vez que numa comunidade cristã tudo que acontece e tudo o que se realiza deve ser catequese. Por catequese entende-se o processo pedagógico comunitário que educa para uma resposta de fé coerente. Neste sentido a catequese é também vocacional, uma vez que ajuda a “vivenciar a fé como descoberta do caminho concreto de realização da vocação cristã como vocação de amor ao próximo” .
No episódio da cura do geraseno existem detalhes que revelam muito bem este aspecto de uma educação libertadora. Diz o texto: “Os homens que guardavam os por-cos saíram correndo e espalharam a notícia na cidade e nos campos. E as pessoas foram ver o que tinha acontecido. Foram até Jesus, viram o endemoninhado sentado, vestido e no seu perfeito juízo, ele que antes estava possuído pela Legião. Os que tinham presen-ciado o fato explicaram para as pessoas o que tinha acontecido com o endemoninhado e com os porcos” .
Sem dúvida alguma esse texto, como outros de Marcos, expressa o modelo de catequese da comunidade cristã primitiva. Os termos usados são típicos de um ambiente de catecumenato batismal de adultos. Antes de tudo o sair correndo anunciando a notí-cia por todos os lugares. Em seguida o deslocamento das pessoas para ir ver o que esta-va acontecendo. Em terceiro lugar a situação do que antes era possuído por Legião. E, por fim, a explicação dada pelos que tinham presenciado o fato. A peregrinação por um itinerário, o anúncio, a busca, a libertação e a explicação dos fatos são termos e atitudes que identificam a catequese na Igreja primitiva.
Esse episódio narrado por Marcos nos faz perceber que a catequese na Igreja do primeiro século, além de ser um processo sério destinado a adultos, era capaz de desper-tar a consciência crítica e de promover a libertação integral das pessoas. Isso é revelado pelo texto de duas maneiras. Em primeiro lugar pela afirmação de que os catequistas, ou seja, os anunciadores da boa-notícia da cura do geraseno são os que antes guardavam os porcos (Mc 5,14). Pela ação de Jesus, continuada no tempo pela comunidade cristã, as pessoas antes envolvidas com a sujeira, com a corrupção do poder, agora são anunci-adoras da libertação. Em segundo lugar pela afirmação de que o que era possuído por Legião agora está “sentado, vestido e no seu perfeito juízo” (Mc 5,15). Na Bíblia o estar sentado é próprio da pessoa livre. O escravo está sempre de pé para servir ao seu senhor (cf. Lc 12,37; 22,27). Estar vestido significa estar revestido de dignidade, uma vez que a nudez simboliza a perda dessa dignidade (cf. Gn 3,7; Lm 1,8; 2Cor 5,3). E, por fim, o estar no perfeito juízo não precisa de muitas explicações. Significa que aquele homem readquiriu a sua capacidade crítica, a sua consciência e está em condições de enxergar bem a realidade, de fazer discernimento (1Cor 14,20; Ef 4,14).
Portanto, uma das formas mais concretas para o exercício da dimensão política da vocação da liderança cristã é a organização e realização da catequese na comunidade. E essa tarefa cabe em primeiro lugar aos que estão à frente da comunidade, de modo particular os bispos e os padres . Mas, como já dito antes, será indispensável que esse processo catequético seja dinâmico e permanente. Uma catequese apenas ocasional, de momentos estanques e separados, não liberta. Somente uma catequese bíblica, realizada de forma permanente, em plena sintonia com os desafios da realidade, pode contribuir verdadeiramente para a libertação das pessoas . Do mesmo modo, se ela for meramente doutrinal, não leva ao compromisso político, neste caso entendido como “permanente serviço aos demais” .
Acredito que esse seja um dos principais motivos da permanência de tantas in-justiças sociais em ambientes cristãos. A falta de uma verdadeira catequese é a principal responsável por isso. Tomando como exemplo o Brasil, constatamos que no censo de 2000 realizado pelo IBGE os católicos são maioria absoluta (73,77%). Somados aos protestantes históricos e evangélicos (15,44%) chegamos a um total de 89,21% de cris-tãos. No entanto o nosso país há mais de quinhentos anos vive numa situação de injusti-ça e de exploração. A catequese não transforma uma sociedade formada na sua maioria absoluta por cristãos. Não tem incidência significativa no campo social, político, eco-nômico e cultural . Os filhos das trevas continuam sendo mais espertos do que os filhos da luz (cf. Lc 16,8). Precisamos, pois, de uma autêntica catequese, capaz de dar às pes-soas a força necessária para repudiar toda ideologia e todo sistema que atente contra a dignidade humana, seja de ordem religiosa que de ordem política .

7. Ter paciência e respeitar o caminho do povo

Sabemos, porém, que a libertação tem o seu preço. E nem sempre o povo está disposto a pagar este preço. No caso da narrativa da cura do geraseno isso fica bem vi-sível. Quando os que tinham presenciado tudo viram o que tinha acontecido com o gera-seno e com os porcos, “começaram a suplicar que Jesus fosse embora da região deles” (Mc 5,17). São os mesmos que antes tinham se enchido de entusiasmo e saído por todo canto anunciando a boa-notícia. Na concepção de Marcos são os próprios cristãos que começam a recuar e a se afastar do itinerário de fé, quando percebem que isso tem um preço. E não estão de forma alguma dispostos a pagar o preço de resgate da vida, mes-mo que isso signifique a perda de coisas que antes escravizavam. Preferem ficar com elas e continuarem escravos do sistema .
Naturalmente não estão com medo porque o geraseno ficou curado, mas estão com medo porque perderam os porcos. . Ora, como já vimos, os porcos são símbolos da impureza e da sujeira. Portanto, porcos significam falta de vida e falta de dignidade. Mas o sistema que produz tal sujeira e corrupção faz a cabeça das pessoas, de modo que elas comecem a pensar que o lixo por ele produzido é algo de valor e indispensável para a vida e a dignidade humana. Basta olhar, por exemplo, a propaganda consumista dos nossos dias. Ela associa prazer e felicidade a determinados produtos e as pessoas pas-sam a pensar que sem eles a vida não vale a pena. Por esse motivo começam a se deses-perar, a ficarem neuróticas e até a partir para a violência.
Aliás, como lembra muito bem Myers, comentando os primeiros versículos da narrativa (Mc 5,1-5), o sistema sabe muito bem como acorrentar as pessoas. E quando as pessoas são reprimidas elas terminam se voltando contra si mesmas, empregando a violência contra elas mesmas . E nisso o texto é muito claro: “Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras” (Mc 5,5). Não po-dendo vingar-se do sistema que é poderoso e bem protegido, as pessoas punem-se a si mesmas. Qualquer semelhança com a atualidade não é apenas mera coincidência.
Diante dessa realidade, a tarefa das lideranças cristãs é antes de tudo não se de-sesperar e nem se desanimar, pensando que não vale a pena comprometer-se com essa causa. Infelizmente muitas são as lideranças que desistem diante da resistência das pes-soas. É preciso entender que elas são vítimas do sistema e nem sempre se consegue mu-dar a mentalidade coletiva. Em segundo lugar é preciso ter consciência de que a semen-te foi lançada. Com o tempo ela crescerá e dará frutos. É preciso, como o agricultor, esperar pacientemente o tempo certo da colheita . Por fim, em terceiro, lugar as lide-ranças cristãs não devem impor nada ao povo e nem criticá-lo por isso. Devem saber entendê-lo. Foi o que fez Jesus. Ele “nunca se impôs pela força a ninguém, somente ao mal. Ele somente oferecia a todos o que sabia sobre Deus, o que podia fazer por eles. Por isso não resistiu a esta rejeição. Nem os criticou. Foi caminhando em direção ao barco” .

8. Não encurralar novamente as pessoas libertadas

Antes de concluir, uma última indicação que a narrativa da cura do geraseno nos oferece para a compreensão da dimensão política da vocação das lideranças cristãs. Tra-ta-se da coragem de não encurralar novamente as pessoas que foram libertadas pelo processo de educação da fé. Infelizmente este perigo existe. Muitas vezes nós fazemos um esforço enorme para ajudar as pessoas a tomarem consciência de uma determinada situação. Depois de tanto esforço, tanto sacrifício, em razão das armadilhas do sistema religioso, terminamos por amarrá-las novamente, de modo que elas, às vezes, até se tornam piores do que antes. O próprio Jesus denunciou este perigo com muita veemên-cia: “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês percorrem o mar e a terra para converter alguém, e quando conseguem, o tornam merecedor do inferno duas vezes mais do que vocês” (Mt 23,15).
No episódio da cura do geraseno choca-nos a atitude de Jesus, o qual, depois de ser rejeitado pelas pessoas, não permite que o homem que tinha sido endemoninhado siga com ele (Mc 5,18-20). Do ponto de vista da animação vocacional que é feita em nossos dias isso seria considerado um absurdo. Como não aceitar alguém para o segui-mento, depois de tanto esforço e depois de tanta rejeição? Creio que nenhum animador ou animadora vocacional seria capaz de fazer isso. No entanto, Jesus o fez. E isso tem um significado sociossimbólico muito forte.
Creio que a explicação já foi dada. Jesus não quis amarrar aquele homem. Nos primeiros séculos da Igreja os escritores cristãos, chamados de Padres da Igreja, costu-mavam dizer que, nos Evangelhos, a barca era símbolo da Igreja, da comunidade cristã. Entrar ou sair da barca era entrar ou sair da Igreja, da comunidade cristã . Portanto, a observação de Marcos é provocante. Jesus não quer aquele homem na Igreja, mas no meio da humanidade, representada pela Decápole.
Existem, pois, formas diferentes de seguir Jesus que não estão limitadas ao âm-bito dos templos e das comunidades estritamente ligadas à Igreja. Há o templo do mun-do, da humanidade, onde quem acredita em Jesus Cristo é chamado a estar presente, anunciando o amor e a misericórdia de Deus. Balancin nos recorda que a forma indicada por Jesus ao geraseno é aquela mais concreta possível: o testemunho de uma pessoa livre . Infelizmente o atual modelo de Igreja e a religiosidade melosa e alienada que domina dentro dela, contribuem para que não tenhamos o testemunho de pessoas livres. Temos gente medrosa que continua acreditando ser totalmente absurdo “afogar dois mil porcos” (Mc 5,13) para realizar a libertação de uma só pessoa. Por isso continuam ex-pulsando Jesus de seus ambientes e “matando” as pessoas com suas orações e cantos.

Conclusão: o fracasso da atual pastoral vocacional

No meu modo de entender as coisas, esse é o fracasso total da atual pastoral vo-cacional que está sendo realizada dentro da Igreja Católica Romana. Ela, de um modo geral, está reduzida a “pescaria” de pessoas para “sufocá-las” depois na mesquinhez de um catolicismo arcaico e distante do mundo real, especialmente do mundo dos pobres. Penso que Marcos, na conclusão desse episódio, propõe uma reviravolta. É preciso não permitir que pessoas livres caiam de novo nas armadilhas dos sistemas religiosos. A animação vocacional precisa estar voltada para a libertação total de pessoas, que depois possam permanecer onde estão como anunciadoras do Reino.
Hoje, salvo pouquíssimas e honrosas exceções, o que faz a pastoral vocacional é distanciar os jovens e as jovens de sua realidade. Quando se trata de vocações para o ministério ordenado e para a vida consagrada, é muito comum levá-los para bem distan-te, para casas de formação e para seminários longe do local de origem. Lá são aburgue-sados e “formados” para não mais se identificar e não mais voltar para o meio dos seus. No caso dos leigos e das leigas, eles são trancados nos templos, entretidos com rezas, e levados a esquecer o que está se passando no mundo.
Se a animação vocacional quiser ser realmente seguimento de Jesus, deverá “descer aos infernos deste mundo e comungar com a miséria, a injustiça, as lutas e as esperanças dos condenados da terra, porque deles é o Reino dos céus” . Se permanecer apenas “pescando” candidatos para serem padres e freiras poderá até encher conventos e seminários, mas dificilmente conseguirá anunciar o Reino ao mundo dos adultos.
De fato, como lembra Gutiérrez, a humanidade que atinge a “maioridade” não quer saber de uma religião que não leva adequadamente a sério as suas verdadeiras questões e problemas . Poderemos até ter as igrejas cheias, mas de gente que não pensa e que vive escravizada. E esses templos ficarão vazios quando aparecerem outras pro-postas salvadoras mais interessantes e mais tentadoras do que as atuais. Aliás, a história do fenômeno religioso do Brasil, nos últimos 30 anos, é uma prova evidente de que é possível um esvaziamento dos templos católicos.
Portanto, para ser pastor como Jesus, comprometido com a sorte do povo, a lide-rança cristã deverá escolher a sua “Galiléia” e, mesmo vivendo dentro dela, terá que ir mais além, para aqueles espaços da periferia onde a vida está seriamente ameaçada. Para tanto é indispensável que a formação de tais lideranças se dê aqui nestes lugares. Será necessário acabar com os seminários e as casas de formação e escolhermos as “ru-as de formação”, as “favelas de formação”, os “becos de formação”, as “pontes e viadu-tos de formação”. Isso porque os evangelhos nos mostram que as manifestações divinas e a voz da eleição não se dão no centro, nos lugares “chiques”, mas nas regiões sociais desprezadas onde estão as pessoas que Deus verdadeiramente escolheu (cf. Tg 2,5-6). Sem esquecer, é claro, o que Aristóteles disse a tantos séculos atrás: o ser humano “é naturalmente feito para a sociedade política”. Por isso “todos devem ser bons cidadãos. É daí que provém a bondade intrínseca do Estado” .


Notas:

* Teólogo, filósofo, escritor e professor.
Cf. VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, 27ª edição, pp. 272-273.
ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
Ibid., p. 4.
Cf. ibid., pp. 4-6.
Acerca dessas questões veja-se ibid., pp. 41-64.
Cf. BOFF, Leonardo. O Senhor é meu Pastor. Consolo divino para o desamparo humano. Rio de Janei-ro: Sextante, 2004, 3ª edição, pp. 43-50.
Texto Conclusivo da Conferência de Aparecida, nº 199.
Cf. Conclusões da Conferência de Puebla, nn. 513-514.
Ibid., nº 521.
Há um texto paralelo em Lc 8,26-39, mas prefiro comentar este texto de Marcos porque, segundo a maioria dos estudiosos da Bíblia, é a narrativa mais antiga e, portanto, a mais original. O mesmo episódio se encontra em Mt 8,28-34, sendo que nesta versão de Mateus trata-se de “dois homens possuídos pelo demônio” (Mt 8,28).
MYERS, Ched. O evangelho de São Marcos. São Paulo: Paulus, 1992, p. 237.
BRAVO, Carlos. Galiléia ano 30. Para ler o Evangelho de Marcos. São Paulo: Paulinas, 1996, pp. 51-52.
MYERS, Ched. O evangelho de São Marco, pp. 232-237.
O número “três” na Bíblia é simbólico e é usado para expressar algo que é mais do que suficiente (cf. Lc 24,21). Neste caso, ao dizer por três vezes que o geraseno morava no cemitério, Marcos entende deixar bem claro que a situação dos habitantes da região era de negação total das condições mínimas de vida.
GUTIÉRREZ, Gustavo. Onde dormirão os pobres? São Paulo: Paulus, 2003, 3ª edição, p. 31.
Convém lembrar que a expressão “homem” (em grego: antropos) no Novo Testamento não significa o indivíduo do sexo masculino, mas a humanidade ou alguém que a representa. Quando se trata do varão do sexo masculino o grego do Novo Testamento usa as expressões andrós ou anér (cf. At 8,12; 9,12; 17,12).
GUTIÉRREZ, Gustavo. Onde dormirão os pobres? , p. 8.
A palavra “diabo” (em grego: diábolos) etimologicamente significa aquilo ou aquele que divide, que espalha cizânia (cf. Mt 13,25.39).
Cf. SCHILLEBEECKX, Edward. Por uma Igreja mais humana. Identidade cristã dos ministérios. São Paulo: Paulus, 1989, pp. 24-29.
Cf. MORIN, Émile. Jesus e as estruturas de seu tempo, São Paulo: Paulus, 1981, 4ª edição, pp. 101-114.
Ibid., pp. 76-81.
PAOLI, Arturo. Testemunhas da esperança. São Paulo: Paulus, 1992, p. 11.
Cf. ibid., pp. 7-17.
Cf. ibid.,pp. 18-36.
Cf. GUTIÉRREZ, Gustavo. A força histórica dos pobres. Petrópolis: Vozes, 1981, pp. 245-313.
Cf. ibid., pp. 256-258. Veja-se também CIPRIANI, Roberto. Manual de sociologia da religião. São Paulo: Paulus, 2007; ZILLES, Urbano. Filosofia da Religião. São Paulo: Paulus, 2004, 5ª edição.
Cf. PIXLEY, Jorge; BOFF, Clodovis. Opção pelos pobres. Petrópolis: Vozes, 1986.
ARISTÓTELES, A Política, pp. 188-193.
BRAVO, Carlos. Galiléia ano 30. Para ler o Evangelho de Marcos, p. 53.
BALANCIN, Euclides Martins. Como ler o Evangelho de Marcos. Quem é Jesus? São Paulo: Paulus, 2007, 8ª edição, p. 72.
Cf. MYERS, Ched. O evangelho de São Marco, pp. 25-121.
Cf. GUTIÉRREZ, Gustavo. Onde dormirão os pobres? , pp. 19-27.
Ibid., p. 24.
Cf. Ibid., pp. 31-33.
BALANCIN, Euclides Martins. Como ler o Evangelho de Marcos, p. 72.
Cf. BRAVO, Carlos. Galiléia ano 30. Para ler o Evangelho de Marcos, pp. 53-54.
Cf. MYERS, Ched. O evangelho de São Marco, pp. 239-240.
Cf. ibid., pp. 239-241.
CNBB. Guia pedagógico de pastoral vocacional. São Paulo: Paulus, 1983, 6ª edição, p. 54.
Mc 5,14-16. Todas as citações bíblicas desse artigo são tiradas da Bíblia Pastoral da Paulus Editora.
Cf. Texto Conclusivo de Aparecida, nº 282.
Cf. ibid., nn. 295-300.
Cf. ibid., nº 299.
Cf. ibid., nº 283.
Cf. MYERS, Ched. O evangelho de São Marco, pp. 240-241.
Cf. BRAVO, Carlos. Galiléia ano 30. Para ler o Evangelho de Marcos, p. 54.
BALANCIN, Euclides Martins. Como ler o Evangelho de Marcos, pp. 72-73.
Cf. MYERS, Ched. O evangelho de São Marco, p. 240.
Cf. Tg 5,7-11. Convém notar que este texto de Tiago é colocado logo depois da sua crítica feroz aos ricos proprietários, exploradores dos pobres.
BRAVO, Carlos. Galiléia ano 30. Para ler o Evangelho de Marcos, p. 54.
Cf. FRIES, H., Modificação e evolução histórico-dogmática da imagem de Igreja, em Mysterium Salu-tis IV/2, Petrópolis: Vozes, 1975, pp. 5-16.
Cf. BALANCIN, Euclides Martins. Como ler o Evangelho de Marcos, p. 73.
GUTIÉRREZ, Gustavo. A força histórica dos pobres, p. 309.
Cf. ibid., pp. 321-324.
ARISTÓTELES, A Política, pp. 4 e 49.

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