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quinta-feira, 8 de maio de 2008

Mais sobre Agripino Maia e Dilma Rouseff

Para mentir ao torturador

do Blog de Eduardo Guimarães, cidadania.com

O senador pelo "Democratas" do Rio Grande do Norte José Agripino Maia, iniciou sua carreira política em 1979 no PDS, sigla em que se converteu a Arena, o partido da ditadura militar. Tinha, então, 34 anos. Era, portanto, um homem feito, que, em seu juízo perfeito, filiou-se ao partido que dava sustentação ao "regime de exceção" que ele, enquanto interrogava a ministra Dilma Rousseff, disse ter medo de que estivesse "voltando", ao insinuar que ela mente quando diz que não mandou fazer qualquer dossiê sobre os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pois disse, um dia, que "mentiu muito" àqueles que a torturaram na flor de sua mocidade, aos 19 anos.
Manchete do portal UOL veiculada no dia do fato que ora comento, dizia que Dilma "se exaltou" com a pergunta do ex-correligionário dos torturadores do regime militar. Eu não diria que ela "se exaltou". Falou com segurança e domínio do verbo, mas permitiu que a indignação, diante de tal absurdo, de tal inversão da verdade e da lógica, permeasse sua fala.
Não é fácil mentir ao torturador. Digo isso não por experiência própria, porque, graças a Deus, ao tempo em que as pessoas eram presas e torturadas por suas opiniões eu ainda era criança. Quando atingi a mocidade, os correligionários políticos de Agripino Maia ainda torturavam, mas era muito mais raro. Além disso, não me envolvi com política na mocidade. Contudo, não me faltam amigos que viveram o que viveu aquela jovem de 19 anos que teve uma coragem que muito poucos homens feitos tiveram, de mentir a torturadores.
A tortura, segundo me foi revelado por vítimas dela que conheci, faz o torturado compactuar de tal maneira com cada desejo do torturador que até pode mentir, sim, mas para satisfazê-lo. Contudo, quando o torturador quer extrair informações e não consegue, porque o torturado mente, mente muito, como Dilma declarou um dia que fez nos porões da ditadura, é preciso que a vítima tenha uma fibra, um apreço a ideais e à democracia que está ao alcance de muito poucos, repito. Sobretudo se o torturado for tão jovem quanto era a ministra.
Alguém que se uniu a um grupo político que dava sustentação a ditadores criminosos, que compactuavam com atos como os que vitimaram Dilma Rousseff e a tantos outros acusar uma das vítimas de sua cumplicidade criminosa de praticar atos que tal acusador praticou um dia, ainda que por vias tortas, deveria afrontar qualquer pessoa decente. Foi assim que me senti ao ver o vídeo acima: afrontado.
O ato de Agripino Maia tentando pôr uma de suas vítimas no lugar que ele mesmo ocupou um dia não foi só desprezível, foi revelador do tipo de gente que compõe a oposição ao governo Lula.
Mandem o Agripino Maia...
O leitor Gustavo Borges, fotógrafo do Rio, deu uma sugestão que poderia desopilar nossos maltratados fígados. Vejam:
"Eduardo, segundo a página do senado o e-mail do "Menguele" tupiniquim é jose.agripino@senador.gov.br . Escreverei uma mensagem a ele, mas acho que coletivamente haveria mais força. Use sua capacidade de liderança sobre seus leitores e aglutine as adesões. Este ato não pode passar sem Barulho"
Já mandei meu e-mail a Agripino Maia e ao PIG. Vocês deveriam fazer o mesmo. Se quiserem usar este post, sintam-se à vontade.
Quem viveu a Ditadura
Leiam o comentário da minha amiga Vera Pereira, socióloga e professora aposentada do Rio de Janeiro, cujos sentimentos diante dessa indignidade que aconteceu ontem se coadunam com os que me possuíram:
"Perfeito, Eduardo. Senti no seu texto a mesma emoção indignada que também me fez chorar aqui em casa, diante da televisão, sozinha, mas com o coração lá, em Brasília, ao lado da Dilma, e junto de tantos brasileiros e brasileiras da mesma geração da ministra, que, tenho certeza, também se emocionaram. Uma emoção que mistura a lembrança da dor - que não sofri pessoalmente, mas que muitos amigos meus, vivos, sofreram, e que outros, mortos, não puderam dizer - e a revolta contra aqueles seres abjetos que saíram das tocas, ávidos para destruir uma ministra que acreditavam poder botar novamente no pau-de-arara. E que ela reduziu à dimensão insignificante que têm diante de todo o pais, sem precisar de nenhuma outra arma a não ser a dignidade, a competência, o trabalho, a franqueza e a coragem."

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