Pretendo utilizar este espaço para formar um banco de dados de textos já escritos há algum tempo, alguns são sérios ou sisudos, outros são humorísticos e outros ainda, como é o caso deste post, é hilário mas verdadeiro.
REZAR É BOM, O SONO É QUE ATRAPALHA.
No lar onde nasci e fui educado, meus pais tiveram o saudável hábito de nos orientar espiritualmente através de devoções diversas das quais se destaca a recitação do Terço de Nossa Senhora, em família.
Nunca, exceto em caso de enfermidade, se podia ir dormir antes da oração que religiosamente era recitada por volta das vinte horas e depois da qual todos deveriam se recolher para o despertar no dia seguinte por volta das quatro e meia, ou na melhor das hipóteses, às cinco horas da manhã do dia seguinte para uma outra oração matinal. Esta, embora cotidiana, devido ao sono e ao desejo, nunca satisfeito de permanecer na cama por mais alguns valiosíssimos minutos nunca consegui aprendê-la. Era uma seqüência de orações intermináveis que durava aproximadamente meia hora. Logo depois desta seqüência de orações, ocorria uma procissão de treze filhos e filhas que a começar pela mais velha, se dirigiam aos meus pais para receber a bênção. Depois deste ritual cada um, já conhecedor de sua função, se dirigia a ela quase sempre sem êxito em qualquer tentativa de resistência ou reclamação.
Assim começava o nosso dia e com a outra oração, a do terço, findava-se.
Nossa lida era pesada e meus pais precisavam se virar para sustentar aquele exército de filhos. Hoje, talvez se pudesse dizer: aquele time de futebol com dois reservas. No entanto, futebol lá, nunca tivera nenhuma expressão.
Certa vez, após uma semana inteira de pesado labor na enxada, estávamos cumprindo o ritual noturno no qual meu pai recitava um mistério do terço ao mesmo tempo em que cochilava perdendo o domínio sobre o pescoço que subitamente despencava para um lado e para outro numa luta interminável contra o sono e o cansaço. Também não era raro durante esta luta ouvir-se alguns estouros provocados por escapamentos de gases que ele naquele estado não conseguia contê-los. Foi então quando minha saudosa mãezinha, num estalado impulso, atira-se sobre meu pai sacudindo-lhe com força os ombros, impacientemente puxando bem o "r", como fazem os purtugueses e retrucou:
- Alonso! Ô Alonso! Ou tu reza, ou tu dorme, ou tu bufa. As três coisas de vez não pode que Deus não é doido e não vai saber o que escutar.
E ele respondeu:
- Só se for o teu Deus, Dilza,
Desta hora em diante, apesar do sono ter dado uma trégua, foi difícil terminar a oração devido o riso geral que o fato provocou.
No dia seguinte a rotina é retomada.
1 Comment:
rsrsrsrsrsrsrsrs
Acredito que foi um jeito novo de rezar.
Muita boa.
Um forte abraço meu velho.
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